Escolhi o prédio mais alto da cidade, onde teria certeza que, depois que eu subisse na parte cortando os céus, ninguém me impediria. Um homem bem vestido em locais de negócio, seria apenas mais um funcionário passando despercebido. Ninguém se preocupou quando eu entrei pela porta da frente, procurei o elevador e subi com os outros. Nem sequer olharam dentro dos meus olhos e perceberam o quanto eu estava desconsertado. Saí logo em seguida, entrei no escritório acima dos outros, coloquei, na porta, em minhas costas, uma cadeira, impossibilitando que alguém entrasse facilmente, e abri a janela.
Foi quando me aproximei da sacada e o vento tentou me empurrar para dentro, tão forte quanto uma tempestade, mas eu estava vazio por muito tempo. Examinei as movimentações embaixo, e todos pareciam formigas, estava sendo tudo mais fácil do que imaginei. Coloquei o primero pé, o outro foi arrastado logo em seguida. O Sol não estava quente o quanto me preocupei, coisas ficaram borbulhando na minha mente. Então, ouvi uma voz dentro da sala.
"Não se movimente mais. Eu sei que você é uma boa pessoa e não precisa fazer isso. Por favor, me ouça!" - tentei olhar e não tinha ninguém próximo, mas a voz estava ali e me deixou um pouco aflito. Não queria que tudo acabasse como um louco, pois sei muito bem o que estava fazendo.
"Eu não preciso? Por que não!? Quem é você, e pare de se esconder." - coloquei o segundo pé para dentro do escritório quando o vento ficou um pouco mais forte e uma aglomeração de formigas estava apontando para cima, e pude prestar atenção em um turbilhão de vozes se espalhando lá embaixo.
Tinha certeza de que não havia ninguém no momento em que tranquei a porta, porém apareceu um homem bem vestido. Certamente, responsável por esse prédio, um sujeito com os olhos frios, expressando calma e paciência. Não era a primeira vez que estava lidando com situações ao extremo, sua preocupação diante da situação era bem clara. Levantou suas mãos e parecia controlar os meus nervos da forma que tentava amenizar o que eu estava passando. Em contrapartida, aquele timbre ficava estremecendo e comunicando-se como se fosse um megafone baixo.
"Não consigo ver pessoas tristes fazendo besteira" - disse ele, com tanta aflição e desgosto no seu rosto, que me deixou um pouco comovido. Coloquei o outro pé para dentro, mas, quando ele percebeu que eu estava distante, novamente voltei para sacada, e ele parou de caminhar em minha direção. A forma lenta e calculista interrompeu a maneira que estava rastejando o seu corpo em minha direção.
Quando voltei para janela, já não estava mais soprando, e carros de polícia estavam na calçada. A porta começou a sacudir distante de nós dois, e ele recorreu a apelar falando sobre os meus filhos, a minha esposa, fixando na aliança no meu dedo e dizendo que as pessoas precisavam de mim, apesar dos momentos ruins. Eu tinha tudo que qualquer um sonha na vida: um bom emprego, crianças saudáveis e exemplares, esposa dedicada e que me amava. Observando suas palavras, me senti péssimo, como se eu nunca estivesse valorizado tudo que eu tive na vida, que foi suficiente, apenas reclamando. Sei que nem sempre conselhos conseguem preencher o vazio que alguém tem dentro da alma. Há algo absorvendo tudo de bom e, dessa vez, o homem estava no meio, bem mais próximo do que antes, da sua forma invasiva de rastejar, com as órbitas oculares quase lacrimejando em desespero, dizendo que já viu todo tipo de coisa ruim e não poderia deixar uma pessoa boa fazendo uma desgraça dessa. A maneira que dizia, parecia me conhecer talvez melhor do que eu mesmo.
Apesar dos esforços desse cara, eu estava pronto. Foi muito bom criar esperanças, ouvi palavras de alguém que se importou com os meus sentimentos e tentou saber o que eu estava passando e o que me atormenta no momento. Quando percebeu que quase o meu corpo todo estava para fora do escritório, expôs que provaria, vozes gritando em sua garganta aparentemente no último esforço restante: me pediu para fechar os olhos por um segundo, disse que era a única coisa que desejava de mim. Sentindo compaixão por seu desespero frustrante, eu o fiz.
Seja lá o que esse homem já passou, suas palavras eram como se fosse o melhor psiquiatra do mundo e tentou dizer o quanto a minha família se perderia depois que eu fizesse isso. A minha mulher não iria superar, os meus parentes não suportariam, e eu perderia tudo que construí. As pessoas lá embaixo, aumentando; crianças abaladas e sem entender, adultos chegando das suas ocupações... Seria um trauma ver um corpo destruído na calçada. Pode criar, no escuro da mente, coisas pavorosas que minha escolha errada causaria na vida dos outros, um terror chocante e verdadeiro.
A cadeira, eu já não estava mais suportando as investidas do outro lado e, antes que a porta fosse arrebentada por outras pessoas preocupadas comigo, aquele homem me salvou. Eu pude enxergar com mais atenção na minha mente todos os dias que minha companheira me recebeu com um sorriso e dizendo que me ama, os meus filhos, Naomi e Akemi, me chamando de paizão e falando o quanto sou importante. Até os meus parentes sempre me recebendo bem, apesar dos meus problemas emocionais.
Não faz sentido destruir a vida deles, e ele, batendo palma e dizendo o quanto eu fui bem, continuava atrás de mim, percebendo o quanto eu estava me afastando da janela. Por que isso se nem tenho inimigos? Não tinha nada para reclamar, sabia que poderia conseguir um tratamento. Finalmente estava fora da janela e a única coisa que eu poderia fazer, era agradecer porque o terror, onde não existe, foi criado apenas por minha mente burra. Nunca me senti tão bem comigo mesmo.
Virei minhas costas, respirando fundo e confiante. A primeira vez na vida que realmente estava feliz e aliviado para agradecer o esforço que alguém fez e tentou me ver bem, lutando ferozmente cada segundo. Um homem que em menos de segundos estava próximo do meu rosto, quase que beijando na minha boca. Agora animado, enxergando em minha direção e empurrando-me com sua mão... Segundos antes que eu ficasse distante suficiente, assobiou essas palavras, o meu rosto vendo a sacada ficando mais distante e os barulhos embaixo gritando em sincronia mais próximos.
"Não tem graça quando vocês estão tristes!"
Autor: Sinistro
Caraca lkkkkk me enganou direitinho
ResponderExcluirPensei que fosse Jesus
Não entendi, alguém me explica, por favor.
ResponderExcluirCreio que seja algo para refletir.
ExcluirO espírito enganou o homem o fazendo ficar feliz e desistir do suicídio pra que então esse fantasma pudesse o empurrar da sacada, por isso ele disse a frase final "não tem graça quando vocês estão tristes" tipo não teria graça se o cara pulasse sozinho ou se qnd o monstro o jogasse ele ainda estivesse emocionalmente mal e com vontade daquilo.
Excluirque homi safado enganando os outros assim-
ResponderExcluir00:00 nasce um fodinha
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