Papai não percebeu quando o homem surgiu de onde não tinha nada, no meio do estacionamento, com um capuz cobrindo o seu rosto e as mãos guardadas no casaco. Os seus passos eram tão delicados, que não dava para ouvir nada, mas, bem antes de ele nos observar, eu tinha o enxergado nos encontrando. Papai estava guardando as coisas - sacolas do supermercado - dentro do nosso carro e não sentiu o perigo. O malfeitor anunciou o assalto, latindo como um cachorro violento, e o rosto do meu pai se deformou em proporções confusas. Desorientado demais para uma situação dessa, não soube o que fazer, nunca o vi tão assustado.
Os dois adultos estavam tremendo. Certamente, era a primeira vez do assaltante ou ele estava muito nervoso dessa vez, porque quase não conseguia pronunciar as mesmas palavras. Na terceira vez, um pouco mais irritado e finalmente mostrando a arma.
E, finalmente, o meu pai dirigiu as mãos à calça, procurando nos bolsos onde estava a carteira, enquanto a sua mente parecia gritar e o seu corpo não respondia da forma que almejava, com a intenção de pegar o objeto quadrado, os cartões de créditos e algumas notas. Eu o abracei nos segundos em que o homem se aproximou, e o meu pai tropeçou um pouco para trás. Na sua cintura estava o volume do cinto para fora, e foi suficiente para o assaltante disparar o primeiro tiro, que quebrou os vidros do carro. O segundo penetrou no peito do papai e o terceiro, desajeitado, escapando enquanto ele estava em cima do seu corpo, arrancando o que almejava, acertou a minha cabeça.
Eu fiquei quase dez dias em coma, os médicos disseram que eu estive morto, mas voltei à vida graças ao sacrifício do meu pai, esse sacrifício que só entendi um pouco depois quando soube que minha mãe ficou viúva. Aquelas marcas negras nos seus olhos, além das noites mal dormidas, foi extravasando as madrugadas em lágrimas noturnas. Foi aí que ela conseguiu auxílio de alguns conhecidos e precisou se mudar para uma outra cidade, um lugar mais pequeno, afastado e calmo, longe das aglomerações. Nós chegamos em uma noite, e foi aí que tudo realmente começou... Em suspiros felizes como se nós fôssemos começar do zero.
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O carro de mudança foi suficiente para trazer nossas poucas coisas. A nova casa era bem menor do que a outra, e a vizinhança parecia morta, nenhum sinal de vida. Aproveitei o momento em que os funcionários estavam removendo as coisas e colocando na nova residência, para esticar um pouco as minhas pernas. Estava um pouco distante e observei onde nós estávamos, local bem caricato, de interior. Entediado e com sono por causa da hora tarde da noite, tentei voltar novamente, respirando esse ar bem menos poluído do que estava habituado, e dois garotos apareceram... saindo de trás de algumas tábuas que estavam separando os quintais: o primeiro era um pouco rechonchudo, com olhos azuis brilhando na noite, as maçãs do rosto rosas, e ele me encarou. O outro era baixo, cabelos espalhados, como se estivesse acabado de levar um choque; o seu sorriso foi sumindo para algo curioso. Então ele se dirigiu a mim.
"Ei, garoto, você é o novo vizinho do nosso bairro? Certamente que sim! Pois nunca te vi por aqui. A nossa cidade é pequena, e todos sabemos que uma nova família irá chegar nessa região. Você está bem?" - ele tentou parecer educado, escondendo uma peteca atrás do seu short esfarrapado, ajeitou os seus cabelos deixando ainda mais engraçado e saiu do beco escuro onde as tábuas estavam impedindo a iluminação dos poucos postes de luz na rua sem asfalto.
Fiquei tão confuso, não soube se era o sono ou aquela surpresa de encontrar outros até tão tarde da noite. Provavelmente aprontando, porque eles estavam tão surpresos quanto eu por encontrar outros também nessa madrugada, com o vento uivando sem parar. Acabamos nos cruzando de uma forma estranha, quase que chegando em uma situação importuna para as duas partes. A falta de comunicação por gestos ou assunto diante disso, foi ficando constrangedor ao ponto de ser esmagador.
"Não percebeu? É um garoto da cidade. Ele deve se achar bom demais para falar conosco! Não notou o bom tecido em suas vestes, a maneira que nos observa dos pés à cabeça? Não vamos perder o tempo com esse tipo de sujeitinho almofadinha que não sabe nem dar uma boa noite para uma cortesia!" - o garoto mais forte saiu da escuridão também. Os seus olhos pareceram abominações, como demônios, pois o azul estava faiscando com tanta intensidade que me fez ficar com medo, ao ponto de bilhar de uma forma indescritível. As minhas palavras se dobraram ainda mais na minha garganta e eu senti uma dor nesse momento. Isso nunca aconteceu em toda minha vida, talvez tenha sido ainda pior do que aquela lembrança, porque tudo se misturou em um vazio cortando por dentro.
-Nesse momento, se afastaram, dobrando suas costas e tentando parecer ainda mais despercebidos, se escondendo em todos os aglomerados de vegetações e divisões de casas. Certamente não queriam ser vistos e ignoraram a minha presença. Finalmente eu consegui, o ar ficou preso e dilacerando lentamente, porém consegui cortar como um escudo a minha situação naquele momento. "Boa noite! Seja lá o que vocês estavam fazendo, não precisam se preocupar, porque eu não vou contar. Acabei saindo de uma situação um pouco ruim e ainda estou tentando lidar com isso. Me sinto péssimo e constrangido. Amanhã eu vou precisar ir para o colégio e só queria saber como as coisas aqui funcionam."
"Ele disse que iria para o colégio". - o cara com cabelo bizarro mencionou. "Isso não é problema nosso!" - o birrento resmungou. "Ele me parece um cara legal e não podemos deixar sozinho nesse lugar, ainda mais quando se trata do dia de amanhã, é sua primeira vez..." - o grandalhão me bisbilhotou por cima dos ombros. Aqueles olhos assustadores índigos mastigaram mais uma vez a minha mente. Ajeitou a sua roupa, como o outro, e pediu desculpas.
"Não precisa levar nada para o pessoal, novato, nós estávamos jogando pedras nas vidraças de algumas casas, e isso não é uma coisa que você precisa saber. Bem, é novo e disse que iria para o colégio na manhã. Nós estudamos no mesmo lugar, até porque não existe mais nenhum outro. Temos ótimos professores, poucos alunos, mas todos bons. Creio que você conheceu os piores meninos daquele, e nós não somos o tipo que são habituados a fazer bullying ou agredir os outros. Enfim, olhando para esquerda, vai encontrar a rodovia, e lá, logo entregará o ponto de ônibus. Se atrasar vai perder a locomoção! Esse caminho até o colégio talvez chegue na metade do horário, se ficar perdido nessa região por ser alguém de fora, mas não precisa se preocupar se acordar cedo, porque..." - eles ficaram amedrontados, realmente não foi difícil de enxergar o pavor nos seus semblantes. Voltaram para a parte mais umbrosa do lugar, onde as tábuas estavam protegendo da luz, e um deles me puxou, quase me jogando no chão, e disse que o "velho lunático" está chegando.
Um Chevrolet bem antigo começou a fazer barulho, vindo de longe, com uma fumaça serpenteando e atirando como se fosse um revólver pelo cano de escape. O cheiro da morte, de dezenas de corpos em decomposição, cobriu todo lugar. Os garotos se esconderam. Então nós observamos um homem passando... sua aparência não era tão velha quanto o meu falecido pai, mas, os seus traços faciai eram realmente assustadores: o seu rosto era fino e ele parecia conversar consigo mesmo, olhos vidrados em todas as direções, cabelos pintados, para trás, como se fossem duros como concreto, e a sua pele, de alguma forma surreal, era cadavérica demais, como se ele estivesse se assustado com uma assombração.
"Disseram que a sua filha morreu em um acidente, e ele acabou ficando desequilibrado. Por qual razão vocês acham que fica conversando sozinho!? As crianças que morreram nos últimos anos, os seus ossos serviram de acessórios para o seu veículo do inferno, e todos dizem que estão vivos, pois ele traz sons de outro mundo, assombrações em desespero". - os garotos assobiaram em silêncio as mesmas palavras, enquanto aquele sujeito pavoroso passava mirando em todas as direções, algo parecido com uma alma tentando encontrar algo.
"É sempre a mesma emanação de decomposição quando passa com o seu transporte. Talvez tenha feito mais uma vítima ou são os corpos das outras em estado de decomposição nas ferragens. Existe uma boa razão para todo mundo ter medo daquele homem assustador que dirige um carro vivo nas noites obscuras.". - não paravam de cochichar escondidos e com o pescoço levantado para enxergar ao máximo possível. Eu praticamente estava sendo amordaçado por eles enquanto ficavam cochichando coisas semelhantes à lendas urbanas locais.
"Eu fui criado para saber respeitar os doentes mentais e velhos solitários! Tudo isso que vocês estão dizendo não existe! É apenas um pobre coitado sobrevivendo nesse lugar. Realmente podem julgar alguém vindo de fora? Para que tanto preconceito!? Na minha ex-vizinhança, existe um sujeito que come lixos e restos de animais, às vezes carrega os seus corpos, espalhando o aroma de defuntos!" - eu me afastei dos outros garotos, indo direto para pista, e "dei boa noite" para o carro que, imediatamente, freou. Quem estava dirigindo fixou o olhar pelo vidro e me notou parado à alguns metros de distância. Demorou alguns segundos para abrir a porta e saltou como se estivesse fugindo de um saco, caminhando como um animal de quatro patas e me agarrando de surpresa. Foi tão rápido que parecia que ele havia controlado o tempo.
"Você consegue enxergar? Eu vejo isso! Você é mau, traz coisas ruins para a vida de quem ama. É um fantasma ou não!? O que está fazendo aqui? Preciso fazer parte da próxima morte!" - o pedaço de madeira se tornou em migalhas por uma força tão bruta que o seu corpo rodopiou algumas vezes pelo impacto de súbito. O garoto gordo me levantou, puxando e arrastando, como se fosse o predador querendo se alimentar de sua vítima, e ele foi me empurrando para longe, enquanto aquele cara se levantava, apontou na nossa direção, voltou para o carro e dirigiu como se nada tivesse acontecido.
"O que deu em você, seu bunda mole!? Ele iria lhe matar e colocar o seu corpo para servir de transporte naquele carro vivo e respirando. Não vai ter tanta sorte como dessa vez... Sabe por que todos têm medo daquele açougueiro de crianças!? Sabe o que eles dizem? Em um certo acidente envolvendo uma van escolar, que acabou sendo vítima de uma ponte de madeira, afogando todos os garotos, a sua filha foi uma delas, e todos os dias, quando faz dez anos da morte, o lunático mata mais um. Todos dizem que existe uma razão bem lógica para todos ficarem longe até hoje. Você queria fazer parte disso!? Na próxima vez, não vai ser tão sortudo, porque nós dois não iremos te ajudar!" - ele estava cuspindo no meu rosto quando minha mãe apareceu e encontrou nós três assustados. Eu disse que estava tudo bem e nós estávamos brincando, porque havia feito novos amigos. Estava tão acabada quanto um zumbi, para simplesmente pegar no meu braço e me guiar, enquanto eu estava observando por cima do meu ombro aqueles garotos desaparecendo como fumaça, naquelas ruas sombrias e cobertas por vegetações.
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Fiquei por muito tempo ouvindo o sermão da minha mãe desgastada e aborrecida demais para dizer coisas concretas. Nós nem jantamos. Não me preocupei com isso. Talvez não tenha reparado que eu estava com fome e me deitei em um amontoado de panos para tentar dormir. Os meus olhos não fecharam nessas horas da madrugada, que nunca fiquei acordado até tão tarde para ouvir pancadas na janela. Vi sombra medonha do outro lado das cortinas. Esse foi o momento que qualquer garoto da minha idade gritaria por sua mãe, mas, nesse caso, não. Não queria ver aquele fantasma respirando mais uma vez esse dia, nesse caso me aproximei, liguei a lâmpada para observar aquele garoto magro... Embaixo dos seus olhos, era escuro, tão quanto o daquela mulher choramingando do outro lado da parede, e ele me disse algo que eu precisava saber.
"Estou até tão tarde aqui em razão de não conseguir dormir, eu tenho que ficar ouvindo os meus pais brigando nos outros momentos em que estão dentro de casa... Com isso, passo as noites acordado, ainda assim quero te alertar sobre aqueles boatos. Eu também não tenho medo dele, mas me assusto com as lendas. Sei que não vai fazer mal para ninguém; mesmo assim, é bom ter cuidado, pois certo tipo de superstições podem ser verdades de formas diferentes, que são interpretadas. Disseram que ele esteve morto quando se afogou para tentar salvar as crianças. Apesar dos seus esforços, a correnteza, força da natureza, foi ainda mais esmagadora quando a van foi tragada pela ponte de madeira, tornando-se mais forte. Conseguiu vida ao vomitar a água e, após esse dia, observando os corpos boiando dos estudantes e do motorista, ficou louco e agressivo. Espero que não fique tão assustado e fique um pouco mais calmo. Agora, eu preciso sair, porque está quase amanhecendo, e amanhã é dia de aula. Os meus pais já estão muito frustados com as minhas notas baixas para faltar, e vamos nos encontrar no colégio." - ele deslizou a escada das plantas, os seus dedos foram cortados pelos espinhos, mas não era suficiente para se preocupar com pequenas fissuras, e saiu correndo no meio daquele frio, com o vento absorvendo qualquer som, em todas as partes, em uma melodia avassaladora.
_____________________________
Por um alguma razão, não acordei cedo o suficiente. Sacudi as minhas pernas e braços e fui direto para cozinha. Nessa manhã nublada, apenas precisei prestar atenção para um bilhete dizendo que o café estava pronto e que minha mãe não tem hora para chegar em casa, rabiscos bem diferentes da sua forma de escrever. Havia algo de errado ou esse dia começou tão bosta quanto os outros. Coloquei apenas a roupa do colégio desse lugar e fui caminhando para onde os garotos disseram que estavam a localidade, onde o micro-ônibus passa. Não fazia a mínima ideia se eu havia atrasado demais ou suficiente para aparecer pelo menos na terceira aula. A chuva começou de repente, quando eu pisei naquele lugar, e havia outros garotos tão perdidos quanto eu no horário. A presença deles foi o suficiente para eu ficar um pouco mais calmo.
Nunca senti o meu corpo tão pesado, enquanto eu aguardava nesse lugar. Os outros estavam tão silenciosos quanto eu, mas não demorou muito para observarmos aquele transporte se aproximando. Fiquei animado, e todos também. A chuva ficou tão forte quanto pedras caindo do céu, talvez eu já estivesse preocupado com outras coisas para ignorar esse clima violento. A escapatória estava chegando naquele coletivo... E as coisas boas sumiram logo quando mais um outro veículo se aproximou. No momento em que parou, nenhum de nós percebemos, tratava-se daquele cara que os garotos disseram que era um lunático. No breu da noite, imaginei criar fantasias na minha mente, que ele era uma figura fantasmagórica, com fisionomia bizarra e falando sozinho, sendo enganado pelas superstições locais. Para o meu devaneio pavoroso, durante o dia, foi como se todo pesadelo em uma noite mal dormida se tornasse real para tudo aquilo diante dos meus olhos.
Se dirigiu a mim somente, na minha direção, me mandando entrar, ao mesmo tempo que ajeitava o retrovisor para o ônibus se aproximando. Tentei ignorar ao máximo os seus berros, mas logo substituiu o tom autoritário para vocabulários maléficos, mencionando que estava com minha mãe sequestrada e, se eu não o obedecesse, iria matá-la. Nesse momento, sentindo um fantasma negro controlando o meu corpo, como uma marionete, direto para as ferragens do veículo, não pude fazer mais nada. Não existia mais ninguém para pedir ajuda, os outros garotos estavam tão arrepiados quanto eu. Finalmente, examinei os seus rostos frios, assustados, vazios, em tons mortos, para situação que nós estávamos, e não existia mais nenhuma opção além de entrar no seu carro e a porta se fechar logo em seguida.
Ele estava observando o retrovisor, enquanto os outros garotos entraram no coletivo, como se nada estivesse acontecido. O repugnante sabia muito bem que estava no controle e mais ninguém o desafiaria. Abaixou o vidro para um sorriso sujo, e os seus olhos me contemplaram. Nunca experimentei o gosto da morte como nesses segundos, dessa forma tão agonizante. Talvez tenha sido pior do que tudo que eu passei até o momento. Dezenas de possibilidades ficaram voando na minha mente, mas logo ele percebeu de uma forma como se tivesse sabendo que eu estava tramando uma forma de escapar.
"Sei que você está querendo escapar, contudo, não vai acontecer, não mesmo! Esse dia me trancaram, espancaram e esconderam naquele porão para que, embaixo dessa chuva do passado, exatamente na mesma manhã que minha filha morreu, não exista mais nenhuma morte e possam quebrar o círculo dos dez anos, mas não vai funcionar! Porque eu estou aqui, e você é tudo que eu preciso. Acharam mesmo que conseguiriam impedir mais uma criança de ser morta? Estão enganados! Você, garoto de fora, vai mudar isso! - os seus lábios inundaram qualquer tipo de esperança ou possibilidade de lutar, não existia nada além de nós dois, e o seu carro respirando, movimentando, peças oxidaladas comunicando uma com as outras. Eu desejei, pelo menos, que minha mãe estivesse bem, antes da morte imediata nas mãos daquele asqueroso.
As minhas têmporas se encolheram tanto, que minhas pestanas doeram e o freio, cortando do ferro desgastado pelo tempo, anunciou a imagem da minha casa. Eu estava na parte mais fria do dia, e a chuva finalmente escapou do outro lado. O cara estava olhando para frente e me aguardando sair, e não existia mais forças no meu corpo. Aconteceu um curto-circuito, e eu estava tão frágil quanto uma criança recém-nascida. Ele me olhou diferente e pareceu outra pessoa do outro lado. Seja lá o que fez com aquele outro sujeito, pavoroso, uma figura amedrontadora dos contos de terror da região, desapareceu para um cara com mais de trinta anos, frio e animado.
Garoto, você está seguro. Precisa sair agora e entrar na sua casa, porque me obedeceu. A sua mãe está a salva. Sei que você vê-los também. Eu os vejo desde aquele dia que sobrevivi e escapei da morte, mas não fugi dela. Consegue observar os mortos...? Todo mundo, que esteve por alguns segundos no outro lado, volta trazendo um pouco deles. Nós dois somos iguais! Aquele ônibus é o fantasma do passado, e os garotos são as vítimas! Sempre, depois de dez anos, tudo se repete. Você seria a terceira vítima, e todos me julgariam como culpado, porém quebrei o ciclo. Finalmente acabou! Não para mim, porque os fantasmas não são lendas, diferente da minha descrição apavorante em boatos." - minha mãe me recebeu logo em seguida que eu saí da lata-velha, e o tempo parou para observar que ele estava distante. A mamãe, muito desesperada, disse que havia quebrado a ponte mais uma vez por causa da inundação da tempestade, e orou pra eu estar bem.
_____________________________
Em menos de dez dias, aquele cara havia sido vítima do destino e morrido dois anos depois, solitário. E nunca mais eu o vi. Mesmo assim, a tempestade voltou, a inudação feroz por sangue, mas eu não vou deixar mais nenhuma criança seguir o ciclo das mortes. Não quero ver mais desgraça na minha vida e de mais ninguém. Irei continuar ajudando os garotos, mesmo que todos me vejam como um louco por ter recebido carona do sujeito pavoroso que morreu há um tempo. Sabemos que as pessoas precisam de um monstro para odiar...
Autor: Sinistro
31/07/2020
30/07/2020
Na sacada do prédio
Escolhi o prédio mais alto da cidade, onde teria certeza que, depois que eu subisse na parte cortando os céus, ninguém me impediria. Um homem bem vestido em locais de negócio, seria apenas mais um funcionário passando despercebido. Ninguém se preocupou quando eu entrei pela porta da frente, procurei o elevador e subi com os outros. Nem sequer olharam dentro dos meus olhos e perceberam o quanto eu estava desconsertado. Saí logo em seguida, entrei no escritório acima dos outros, coloquei, na porta, em minhas costas, uma cadeira, impossibilitando que alguém entrasse facilmente, e abri a janela.
Foi quando me aproximei da sacada e o vento tentou me empurrar para dentro, tão forte quanto uma tempestade, mas eu estava vazio por muito tempo. Examinei as movimentações embaixo, e todos pareciam formigas, estava sendo tudo mais fácil do que imaginei. Coloquei o primero pé, o outro foi arrastado logo em seguida. O Sol não estava quente o quanto me preocupei, coisas ficaram borbulhando na minha mente. Então, ouvi uma voz dentro da sala.
"Não se movimente mais. Eu sei que você é uma boa pessoa e não precisa fazer isso. Por favor, me ouça!" - tentei olhar e não tinha ninguém próximo, mas a voz estava ali e me deixou um pouco aflito. Não queria que tudo acabasse como um louco, pois sei muito bem o que estava fazendo.
"Eu não preciso? Por que não!? Quem é você, e pare de se esconder." - coloquei o segundo pé para dentro do escritório quando o vento ficou um pouco mais forte e uma aglomeração de formigas estava apontando para cima, e pude prestar atenção em um turbilhão de vozes se espalhando lá embaixo.
Tinha certeza de que não havia ninguém no momento em que tranquei a porta, porém apareceu um homem bem vestido. Certamente, responsável por esse prédio, um sujeito com os olhos frios, expressando calma e paciência. Não era a primeira vez que estava lidando com situações ao extremo, sua preocupação diante da situação era bem clara. Levantou suas mãos e parecia controlar os meus nervos da forma que tentava amenizar o que eu estava passando. Em contrapartida, aquele timbre ficava estremecendo e comunicando-se como se fosse um megafone baixo.
"Não consigo ver pessoas tristes fazendo besteira" - disse ele, com tanta aflição e desgosto no seu rosto, que me deixou um pouco comovido. Coloquei o outro pé para dentro, mas, quando ele percebeu que eu estava distante, novamente voltei para sacada, e ele parou de caminhar em minha direção. A forma lenta e calculista interrompeu a maneira que estava rastejando o seu corpo em minha direção.
Quando voltei para janela, já não estava mais soprando, e carros de polícia estavam na calçada. A porta começou a sacudir distante de nós dois, e ele recorreu a apelar falando sobre os meus filhos, a minha esposa, fixando na aliança no meu dedo e dizendo que as pessoas precisavam de mim, apesar dos momentos ruins. Eu tinha tudo que qualquer um sonha na vida: um bom emprego, crianças saudáveis e exemplares, esposa dedicada e que me amava. Observando suas palavras, me senti péssimo, como se eu nunca estivesse valorizado tudo que eu tive na vida, que foi suficiente, apenas reclamando. Sei que nem sempre conselhos conseguem preencher o vazio que alguém tem dentro da alma. Há algo absorvendo tudo de bom e, dessa vez, o homem estava no meio, bem mais próximo do que antes, da sua forma invasiva de rastejar, com as órbitas oculares quase lacrimejando em desespero, dizendo que já viu todo tipo de coisa ruim e não poderia deixar uma pessoa boa fazendo uma desgraça dessa. A maneira que dizia, parecia me conhecer talvez melhor do que eu mesmo.
Apesar dos esforços desse cara, eu estava pronto. Foi muito bom criar esperanças, ouvi palavras de alguém que se importou com os meus sentimentos e tentou saber o que eu estava passando e o que me atormenta no momento. Quando percebeu que quase o meu corpo todo estava para fora do escritório, expôs que provaria, vozes gritando em sua garganta aparentemente no último esforço restante: me pediu para fechar os olhos por um segundo, disse que era a única coisa que desejava de mim. Sentindo compaixão por seu desespero frustrante, eu o fiz.
Seja lá o que esse homem já passou, suas palavras eram como se fosse o melhor psiquiatra do mundo e tentou dizer o quanto a minha família se perderia depois que eu fizesse isso. A minha mulher não iria superar, os meus parentes não suportariam, e eu perderia tudo que construí. As pessoas lá embaixo, aumentando; crianças abaladas e sem entender, adultos chegando das suas ocupações... Seria um trauma ver um corpo destruído na calçada. Pode criar, no escuro da mente, coisas pavorosas que minha escolha errada causaria na vida dos outros, um terror chocante e verdadeiro.
A cadeira, eu já não estava mais suportando as investidas do outro lado e, antes que a porta fosse arrebentada por outras pessoas preocupadas comigo, aquele homem me salvou. Eu pude enxergar com mais atenção na minha mente todos os dias que minha companheira me recebeu com um sorriso e dizendo que me ama, os meus filhos, Naomi e Akemi, me chamando de paizão e falando o quanto sou importante. Até os meus parentes sempre me recebendo bem, apesar dos meus problemas emocionais.
Não faz sentido destruir a vida deles, e ele, batendo palma e dizendo o quanto eu fui bem, continuava atrás de mim, percebendo o quanto eu estava me afastando da janela. Por que isso se nem tenho inimigos? Não tinha nada para reclamar, sabia que poderia conseguir um tratamento. Finalmente estava fora da janela e a única coisa que eu poderia fazer, era agradecer porque o terror, onde não existe, foi criado apenas por minha mente burra. Nunca me senti tão bem comigo mesmo.
Virei minhas costas, respirando fundo e confiante. A primeira vez na vida que realmente estava feliz e aliviado para agradecer o esforço que alguém fez e tentou me ver bem, lutando ferozmente cada segundo. Um homem que em menos de segundos estava próximo do meu rosto, quase que beijando na minha boca. Agora animado, enxergando em minha direção e empurrando-me com sua mão... Segundos antes que eu ficasse distante suficiente, assobiou essas palavras, o meu rosto vendo a sacada ficando mais distante e os barulhos embaixo gritando em sincronia mais próximos.
"Não tem graça quando vocês estão tristes!"
Autor: Sinistro
Foi quando me aproximei da sacada e o vento tentou me empurrar para dentro, tão forte quanto uma tempestade, mas eu estava vazio por muito tempo. Examinei as movimentações embaixo, e todos pareciam formigas, estava sendo tudo mais fácil do que imaginei. Coloquei o primero pé, o outro foi arrastado logo em seguida. O Sol não estava quente o quanto me preocupei, coisas ficaram borbulhando na minha mente. Então, ouvi uma voz dentro da sala.
"Não se movimente mais. Eu sei que você é uma boa pessoa e não precisa fazer isso. Por favor, me ouça!" - tentei olhar e não tinha ninguém próximo, mas a voz estava ali e me deixou um pouco aflito. Não queria que tudo acabasse como um louco, pois sei muito bem o que estava fazendo.
"Eu não preciso? Por que não!? Quem é você, e pare de se esconder." - coloquei o segundo pé para dentro do escritório quando o vento ficou um pouco mais forte e uma aglomeração de formigas estava apontando para cima, e pude prestar atenção em um turbilhão de vozes se espalhando lá embaixo.
Tinha certeza de que não havia ninguém no momento em que tranquei a porta, porém apareceu um homem bem vestido. Certamente, responsável por esse prédio, um sujeito com os olhos frios, expressando calma e paciência. Não era a primeira vez que estava lidando com situações ao extremo, sua preocupação diante da situação era bem clara. Levantou suas mãos e parecia controlar os meus nervos da forma que tentava amenizar o que eu estava passando. Em contrapartida, aquele timbre ficava estremecendo e comunicando-se como se fosse um megafone baixo.
"Não consigo ver pessoas tristes fazendo besteira" - disse ele, com tanta aflição e desgosto no seu rosto, que me deixou um pouco comovido. Coloquei o outro pé para dentro, mas, quando ele percebeu que eu estava distante, novamente voltei para sacada, e ele parou de caminhar em minha direção. A forma lenta e calculista interrompeu a maneira que estava rastejando o seu corpo em minha direção.
Quando voltei para janela, já não estava mais soprando, e carros de polícia estavam na calçada. A porta começou a sacudir distante de nós dois, e ele recorreu a apelar falando sobre os meus filhos, a minha esposa, fixando na aliança no meu dedo e dizendo que as pessoas precisavam de mim, apesar dos momentos ruins. Eu tinha tudo que qualquer um sonha na vida: um bom emprego, crianças saudáveis e exemplares, esposa dedicada e que me amava. Observando suas palavras, me senti péssimo, como se eu nunca estivesse valorizado tudo que eu tive na vida, que foi suficiente, apenas reclamando. Sei que nem sempre conselhos conseguem preencher o vazio que alguém tem dentro da alma. Há algo absorvendo tudo de bom e, dessa vez, o homem estava no meio, bem mais próximo do que antes, da sua forma invasiva de rastejar, com as órbitas oculares quase lacrimejando em desespero, dizendo que já viu todo tipo de coisa ruim e não poderia deixar uma pessoa boa fazendo uma desgraça dessa. A maneira que dizia, parecia me conhecer talvez melhor do que eu mesmo.
Apesar dos esforços desse cara, eu estava pronto. Foi muito bom criar esperanças, ouvi palavras de alguém que se importou com os meus sentimentos e tentou saber o que eu estava passando e o que me atormenta no momento. Quando percebeu que quase o meu corpo todo estava para fora do escritório, expôs que provaria, vozes gritando em sua garganta aparentemente no último esforço restante: me pediu para fechar os olhos por um segundo, disse que era a única coisa que desejava de mim. Sentindo compaixão por seu desespero frustrante, eu o fiz.
Seja lá o que esse homem já passou, suas palavras eram como se fosse o melhor psiquiatra do mundo e tentou dizer o quanto a minha família se perderia depois que eu fizesse isso. A minha mulher não iria superar, os meus parentes não suportariam, e eu perderia tudo que construí. As pessoas lá embaixo, aumentando; crianças abaladas e sem entender, adultos chegando das suas ocupações... Seria um trauma ver um corpo destruído na calçada. Pode criar, no escuro da mente, coisas pavorosas que minha escolha errada causaria na vida dos outros, um terror chocante e verdadeiro.
A cadeira, eu já não estava mais suportando as investidas do outro lado e, antes que a porta fosse arrebentada por outras pessoas preocupadas comigo, aquele homem me salvou. Eu pude enxergar com mais atenção na minha mente todos os dias que minha companheira me recebeu com um sorriso e dizendo que me ama, os meus filhos, Naomi e Akemi, me chamando de paizão e falando o quanto sou importante. Até os meus parentes sempre me recebendo bem, apesar dos meus problemas emocionais.
Não faz sentido destruir a vida deles, e ele, batendo palma e dizendo o quanto eu fui bem, continuava atrás de mim, percebendo o quanto eu estava me afastando da janela. Por que isso se nem tenho inimigos? Não tinha nada para reclamar, sabia que poderia conseguir um tratamento. Finalmente estava fora da janela e a única coisa que eu poderia fazer, era agradecer porque o terror, onde não existe, foi criado apenas por minha mente burra. Nunca me senti tão bem comigo mesmo.
Virei minhas costas, respirando fundo e confiante. A primeira vez na vida que realmente estava feliz e aliviado para agradecer o esforço que alguém fez e tentou me ver bem, lutando ferozmente cada segundo. Um homem que em menos de segundos estava próximo do meu rosto, quase que beijando na minha boca. Agora animado, enxergando em minha direção e empurrando-me com sua mão... Segundos antes que eu ficasse distante suficiente, assobiou essas palavras, o meu rosto vendo a sacada ficando mais distante e os barulhos embaixo gritando em sincronia mais próximos.
"Não tem graça quando vocês estão tristes!"
Autor: Sinistro
29/07/2020
Sou um filho iniciante
.. e eu fiquei ali parado, me encarando, a angústia me predominando, o sangue pingando e escorrendo pelo meus dedos, sujando o chão e a minha mente.
Dez minutos, eu tinha exatos dez minutos a partir de agora.
Lavei minhas mãos, que antes estavam sujas com aquele vermelho chamativo, lavei meu rosto e me peguei parado, me encarando no espelho. Era a minha primeira vez fazendo aquilo, e o que mais me assustava era esse sorriso, esse sorriso que eu não conseguia segurar. Estava ansioso por isso há anos, eu disse a mim mesmo, deve ser comum estar sorrindo, não?
Olho para o relógio que agora dizia que eu possuía apenas dois munutos. Me apresso e caminho até o meu computador e quando meu relógio apita sei que a hora chegou. 3:09AM, o único horário que nas terças-feiras o link aparecia. Cliquei nesse link, ainda receoso, e ele me levou para uma página, cujo em seu canto inferior direito havia, em letras pretas e pequenas, a seguinte frase:
" - Anuncie aqui o que você possuí, é isso o que eles procuram."
Cliquei na frase, que abriu uma janela pedindo informações sobre dimensões e pesos dos "produtos". Três segundos agora, passou três segundos e cinco diferentes pessoas me enviaram mensagens, querendo comprar meus produtos, que agora já estão vendidos e que inviarei amanhã.
Suspirei em alívio, minha missão havia sido concluída. Em comemoração abri um vinho antigo, que estava escondido na cozinha há quantos anos mesmo?bom, estava apenas esperando ser aberto no momento certo e esse momento finalmente chegou.
Eu espero que meus filhos acreditem na mentira. Espero que eles não me façam perguntas do tipo "papai, ela se foi mesmo?", ainda dói em mim saber que tenho uma péssima sorte com as mulheres, mas não tenho culpa. Não sinto culpa. Agora sei que meus filhos estarão mais felizes, pois a dor da fome e de braços roxos, não será mais um problema.
A fita para de tocar. Quando eu gravei isso mesmo? eu me pergunto. Se gravei, por que não joguei isso fora? De qualquer forma eu não posso mais me arrepender ou voltar no tempo para apagar essa fita.
Ela sorri, e guarda a fita.
- Bom, isso já é o suficiente? Eu sei, eu sei que você apenas estava querendo proteger os seus filhos, mas essa não era a única opção, você sabe disso.
A mulher agora em minha frente está fazendo um sinal para a pessoa atrás de mim.
- Não acho que você deva voltar, se fosse apenas aquela mulher, tudo bem, mas depois a quantia foi crescendo e crescendo.. e você, novamente não se arrepende nem um pouco, não é?
Eu apenas dei um sorriso, ela era uma mulher muito esperta.
- Certo, então mandarei você de volta para baixo. Próximo!
Agora eu estou suando.. Por que começou a ficar quente? Eu não tive tempo de falar qualquer coisa e o que parece ser um elevador começou a decer. Derepente lembro que já estive aqui. Aaah - eu suspiro - é bom estar de volta, papai.
Autora: Francielly Silveira
Dez minutos, eu tinha exatos dez minutos a partir de agora.
Lavei minhas mãos, que antes estavam sujas com aquele vermelho chamativo, lavei meu rosto e me peguei parado, me encarando no espelho. Era a minha primeira vez fazendo aquilo, e o que mais me assustava era esse sorriso, esse sorriso que eu não conseguia segurar. Estava ansioso por isso há anos, eu disse a mim mesmo, deve ser comum estar sorrindo, não?
Olho para o relógio que agora dizia que eu possuía apenas dois munutos. Me apresso e caminho até o meu computador e quando meu relógio apita sei que a hora chegou. 3:09AM, o único horário que nas terças-feiras o link aparecia. Cliquei nesse link, ainda receoso, e ele me levou para uma página, cujo em seu canto inferior direito havia, em letras pretas e pequenas, a seguinte frase:
" - Anuncie aqui o que você possuí, é isso o que eles procuram."
Cliquei na frase, que abriu uma janela pedindo informações sobre dimensões e pesos dos "produtos". Três segundos agora, passou três segundos e cinco diferentes pessoas me enviaram mensagens, querendo comprar meus produtos, que agora já estão vendidos e que inviarei amanhã.
Suspirei em alívio, minha missão havia sido concluída. Em comemoração abri um vinho antigo, que estava escondido na cozinha há quantos anos mesmo?bom, estava apenas esperando ser aberto no momento certo e esse momento finalmente chegou.
Eu espero que meus filhos acreditem na mentira. Espero que eles não me façam perguntas do tipo "papai, ela se foi mesmo?", ainda dói em mim saber que tenho uma péssima sorte com as mulheres, mas não tenho culpa. Não sinto culpa. Agora sei que meus filhos estarão mais felizes, pois a dor da fome e de braços roxos, não será mais um problema.
A fita para de tocar. Quando eu gravei isso mesmo? eu me pergunto. Se gravei, por que não joguei isso fora? De qualquer forma eu não posso mais me arrepender ou voltar no tempo para apagar essa fita.
Ela sorri, e guarda a fita.
- Bom, isso já é o suficiente? Eu sei, eu sei que você apenas estava querendo proteger os seus filhos, mas essa não era a única opção, você sabe disso.
A mulher agora em minha frente está fazendo um sinal para a pessoa atrás de mim.
- Não acho que você deva voltar, se fosse apenas aquela mulher, tudo bem, mas depois a quantia foi crescendo e crescendo.. e você, novamente não se arrepende nem um pouco, não é?
Eu apenas dei um sorriso, ela era uma mulher muito esperta.
- Certo, então mandarei você de volta para baixo. Próximo!
Agora eu estou suando.. Por que começou a ficar quente? Eu não tive tempo de falar qualquer coisa e o que parece ser um elevador começou a decer. Derepente lembro que já estive aqui. Aaah - eu suspiro - é bom estar de volta, papai.
Autora: Francielly Silveira
04/07/2020
Acontecimentos estranhos em uma escola localizada no fim do mundo
Quero primeiramente deixar claro que os fatos a seguir realmente ocorreram. Não, não estou falando isso para assustar ou para parecer clichê. Tudo ocorreu em uma escola que estudei e que meus irmãos também estudaram. Minha mãe era professora da escola, ela achou mais fácil colocar meus irmãos e eu para estudar no mesmo lugar onde trabalhava. O problema mesmo era quando ela tinha que ficar até tarde, corrigindo provas. Tínhamos que ficar rodando a escola até ela terminar. A dona e diretora do lugar não se importava. Não direi o nome do colégio, o máximo que precisam saber é que o mesmo está localizado em uma região bem afastada.
Não sei ao certo quando os eventos paranormais tiveram inicio, colocarei apenas os mais famosos e aqueles que me lembro. Deixando claro também que os casos não estão em ordem, o segundo pode ter acontecido antes do primeiro e assim vai. Estou apenas relatando os que vem em minha memoria.
O primeiro caso que vou contar, ocorreu na época de provas, quando os alunos iam apenas fazer as provas e quando terminavam, poderiam ir para casa. Alguns alunos voltavam rapidamente para o lar, outros moravam longe e esperavam os pais virem buscar. Então, quando terminavam, ficavam conversando entre si ou andando pelo colégio. Uma das alunas foi até o segundo andar para pegar algo que esqueceu. Em questão de poucos minutos, um grito estridente ecoou. Uma das professoras que estava no segundo andar, corrigindo provas na salas, foi rapidamente ver o que estava acontecendo na sala de onde veio o grito. Segundo ela diz, a aluna estava encolhida, chorava desesperadamente, falando sobre uma mulher no canto da sala, que a encarava sem parar. Mesmo conversando e tentando dizer a jovem aluna que tudo estava bem, a professora contou que não duvidava da garota, pelo fato de outros casos envolvendo aquela mulher já terem sido relatados. Dias depois, ficamos sabendo que a garota teve febre e que não queria mais voltar para a escola, os pais não sabem o que ela viu, mas afirmam que aquilo realmente a traumatizou.
O segundo caso é mais conhecido e, dessa vez meu irmão também presenciou. Ocorreu no meio do ano. Os alunos de uma das salas do segundo andar estavam bagunçando enquanto a professora tentava acalmá-los, até que em um momento a porta da sala bateu. Aquilo era estranho, não tinha janelas abertas e nenhuma corrente de ar poderia ter feito a porta bater. Um dos alunos foi tentar abri-la, mas ela simplesmente não abria. Outros alunos o seguiram e resolveram se abaixar para ver por debaixo da porta. O que eles viram foi algo bem estranho, meu irmão jura até hoje que é verdade. Eram dois pés, magros e pálidos, parados bem em frente. Os alunos se assustaram e a professora não acreditou no que os garotos falavam, até ela mesma se abaixar pra ver. Meu irmão diz que naquele momento, pela primeira vez, viu a professora da sala perder a cabeça:
“Ela gritava mais que os alunos, estava apavorada”. Disse ele
Por causa da confusão e da gritaria, os outros professores e alunos saíram da sala para ver o que estava acontecendo. Assim que começou a chegar pessoas, meu irmão diz que a porta finalmente abriu misteriosamente e que até hoje ninguém sabe o que diabos foi aquilo:
“Parecia que a coisa do outro lado estava segurando a porta... Nos prendendo ali, foi bizarro”. Concluiu
O terceiro caso é algo que minha mãe me falou, segundo ela, coisas assim sempre ocorrem naquela andar e a tendencia foi só piorar com o passar do tempo. Ela conta que isso ocorreu quando ela teve que ficar sozinha no colégio corrigindo provas, aquilo já era normal para ela e contos de fantasmas não a assustavam mais:
“Eu já vi essa mulher várias vezes, nas outras salas, as vezes no corredor, eu apenas tentava ignorá-la... Quando se é mãe solteira e tem três filhos, um fantasma não parece grande coisa”. Me disse, dando uma pequena risada para logo voltar a ficar séria.
Foi isso que ocorreu novamente naquele dia, ela disse que precisava ir ao banheiro e, no caminho, viu o vulto daquela mulher passando do seu lado. Apenas ignorou como sempre fazia. Foi ao banheiro e voltou para sua sala, onde continuaria a corrigir suas provas. Ela conta que estava de olho na prova quando levantou a cabeça e...Lá estava. A mulher, estava lá, onde ficavam as últimas fileiras de carteiras escolares. A entidade parecia encará-la, mas mamãe não sabia dizer ao certo, pois os cabelos cobriam uma boa parte rosto daquela coisa:
“Pela primeira vez, senti um pouco de medo” Contou-me.
A mulher sumiu depois do que pareceu ser uma eternidade, ela concluiu sua história dizendo que isso só aconteceu daquela vez, mas as vezes, quando fica até tarde corrigindo provas, bate aquela sensação de que está sendo observada.
O quarto o caso é o que eu chamo de “gota d'água” pois foi o que fez a dona do colégio tomar uma atitude sobre os eventos. Ocorreu quando a irmã da dona da escola veio lhe fazer uma visita.. Em um certo momento ela decidiu ir ao banheiro. Tudo parecia bem, mas então, a vimos sair do banheiro tremendo e chorando. Perguntada sobre o que aconteceu, falou que quando estava de frente para o espelho, viu uma criatura pálida, bastante magra e com longos cabelos atrás dela. Vendo a gravidade da situação, a dona percebeu que teria que dar um jeito nisso. Em poucos dias, ela trouxe um padre para rezar em todas salas, banheiros e outros lugares do colégio. Não sei exatamente se as ocorrências diminuíram, pois meus irmãos e eu já não estávamos estudando lá, fiquei sabendo desse caso porque minha mãe contou. Ela ainda trabalha lá, mas não fala muito.
O quinto caso aconteceu quando eu ainda estudava lá. Esse foi um dos que assustou todos, na época eu devia ter uns dez anos. O zelador da escola era um cara conhecido por todos, sempre brincando e soltando piadas, os alunos adoravam ele. Um dia, uma das professoras chegou mais cedo e resolveu subir até o segundo andar para arrumar logo a sua sala. Chegando lá, encontrou-se com o zelador deitado no chão. Ela achou que era mais uma das brincadeiras dele e no começo até soltou algumas piadas também, isso até tocar nele e perceber que não era uma brincadeira. O zelador estava morto. O engraçado é que ele morreu na mesma sala onde tempos depois, a garota do primeiro caso, disse ter visto a tal mulher.
Autor: Tai
Não sei ao certo quando os eventos paranormais tiveram inicio, colocarei apenas os mais famosos e aqueles que me lembro. Deixando claro também que os casos não estão em ordem, o segundo pode ter acontecido antes do primeiro e assim vai. Estou apenas relatando os que vem em minha memoria.
O primeiro caso que vou contar, ocorreu na época de provas, quando os alunos iam apenas fazer as provas e quando terminavam, poderiam ir para casa. Alguns alunos voltavam rapidamente para o lar, outros moravam longe e esperavam os pais virem buscar. Então, quando terminavam, ficavam conversando entre si ou andando pelo colégio. Uma das alunas foi até o segundo andar para pegar algo que esqueceu. Em questão de poucos minutos, um grito estridente ecoou. Uma das professoras que estava no segundo andar, corrigindo provas na salas, foi rapidamente ver o que estava acontecendo na sala de onde veio o grito. Segundo ela diz, a aluna estava encolhida, chorava desesperadamente, falando sobre uma mulher no canto da sala, que a encarava sem parar. Mesmo conversando e tentando dizer a jovem aluna que tudo estava bem, a professora contou que não duvidava da garota, pelo fato de outros casos envolvendo aquela mulher já terem sido relatados. Dias depois, ficamos sabendo que a garota teve febre e que não queria mais voltar para a escola, os pais não sabem o que ela viu, mas afirmam que aquilo realmente a traumatizou.
O segundo caso é mais conhecido e, dessa vez meu irmão também presenciou. Ocorreu no meio do ano. Os alunos de uma das salas do segundo andar estavam bagunçando enquanto a professora tentava acalmá-los, até que em um momento a porta da sala bateu. Aquilo era estranho, não tinha janelas abertas e nenhuma corrente de ar poderia ter feito a porta bater. Um dos alunos foi tentar abri-la, mas ela simplesmente não abria. Outros alunos o seguiram e resolveram se abaixar para ver por debaixo da porta. O que eles viram foi algo bem estranho, meu irmão jura até hoje que é verdade. Eram dois pés, magros e pálidos, parados bem em frente. Os alunos se assustaram e a professora não acreditou no que os garotos falavam, até ela mesma se abaixar pra ver. Meu irmão diz que naquele momento, pela primeira vez, viu a professora da sala perder a cabeça:
“Ela gritava mais que os alunos, estava apavorada”. Disse ele
Por causa da confusão e da gritaria, os outros professores e alunos saíram da sala para ver o que estava acontecendo. Assim que começou a chegar pessoas, meu irmão diz que a porta finalmente abriu misteriosamente e que até hoje ninguém sabe o que diabos foi aquilo:
“Parecia que a coisa do outro lado estava segurando a porta... Nos prendendo ali, foi bizarro”. Concluiu
O terceiro caso é algo que minha mãe me falou, segundo ela, coisas assim sempre ocorrem naquela andar e a tendencia foi só piorar com o passar do tempo. Ela conta que isso ocorreu quando ela teve que ficar sozinha no colégio corrigindo provas, aquilo já era normal para ela e contos de fantasmas não a assustavam mais:
“Eu já vi essa mulher várias vezes, nas outras salas, as vezes no corredor, eu apenas tentava ignorá-la... Quando se é mãe solteira e tem três filhos, um fantasma não parece grande coisa”. Me disse, dando uma pequena risada para logo voltar a ficar séria.
Foi isso que ocorreu novamente naquele dia, ela disse que precisava ir ao banheiro e, no caminho, viu o vulto daquela mulher passando do seu lado. Apenas ignorou como sempre fazia. Foi ao banheiro e voltou para sua sala, onde continuaria a corrigir suas provas. Ela conta que estava de olho na prova quando levantou a cabeça e...Lá estava. A mulher, estava lá, onde ficavam as últimas fileiras de carteiras escolares. A entidade parecia encará-la, mas mamãe não sabia dizer ao certo, pois os cabelos cobriam uma boa parte rosto daquela coisa:
“Pela primeira vez, senti um pouco de medo” Contou-me.
A mulher sumiu depois do que pareceu ser uma eternidade, ela concluiu sua história dizendo que isso só aconteceu daquela vez, mas as vezes, quando fica até tarde corrigindo provas, bate aquela sensação de que está sendo observada.
O quarto o caso é o que eu chamo de “gota d'água” pois foi o que fez a dona do colégio tomar uma atitude sobre os eventos. Ocorreu quando a irmã da dona da escola veio lhe fazer uma visita.. Em um certo momento ela decidiu ir ao banheiro. Tudo parecia bem, mas então, a vimos sair do banheiro tremendo e chorando. Perguntada sobre o que aconteceu, falou que quando estava de frente para o espelho, viu uma criatura pálida, bastante magra e com longos cabelos atrás dela. Vendo a gravidade da situação, a dona percebeu que teria que dar um jeito nisso. Em poucos dias, ela trouxe um padre para rezar em todas salas, banheiros e outros lugares do colégio. Não sei exatamente se as ocorrências diminuíram, pois meus irmãos e eu já não estávamos estudando lá, fiquei sabendo desse caso porque minha mãe contou. Ela ainda trabalha lá, mas não fala muito.
O quinto caso aconteceu quando eu ainda estudava lá. Esse foi um dos que assustou todos, na época eu devia ter uns dez anos. O zelador da escola era um cara conhecido por todos, sempre brincando e soltando piadas, os alunos adoravam ele. Um dia, uma das professoras chegou mais cedo e resolveu subir até o segundo andar para arrumar logo a sua sala. Chegando lá, encontrou-se com o zelador deitado no chão. Ela achou que era mais uma das brincadeiras dele e no começo até soltou algumas piadas também, isso até tocar nele e perceber que não era uma brincadeira. O zelador estava morto. O engraçado é que ele morreu na mesma sala onde tempos depois, a garota do primeiro caso, disse ter visto a tal mulher.
Autor: Tai
02/07/2020
Banheiro dos fundos
Acordar no meio da noite com a bexiga prestes a estourar é uma coisa que realmente odeio. Primeiro que levantar sonolento de madrugada é uma merda, segundo, que sou uma pessoa extremamente azarada. O que isso tem a ver? Você se pergunta. Pode parecer uma conversação sem sentido, mas irei lhe explicar de uma maneira que lhe fará entender.
Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.
A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.
Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.
Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.
- Droga! - Resmunguei-
Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.
Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.
- Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.
Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta
Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.
-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.
De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes que piorara um pouco com a volta da luz. Logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nem um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.
Traga o prato com um pequeno animal morto
Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções
Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso
Sem janelas, isso é muito importante
Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto
Você saberá quando funcionou
Lembre-se, cinco vezes é o suficiente
Não entre mais no cômodo depois disso
NÃO ENTRE
Agora aproveite, mate sua saudade.
Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.
Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.
Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção. Eu não queria levantar a cabeça para olhar quem era, mas uma estranha força parecia forçar-me a fixar quem estava em minha frente. Eu Levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida.
Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar.
Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez.
Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.
Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.
Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo.
É uma pena, pois aquilo nunca foi ela.
Autor: Tai
Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.
A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.
Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.
Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.
- Droga! - Resmunguei-
Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.
Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.
- Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.
Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta
Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.
-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.
De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes que piorara um pouco com a volta da luz. Logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nem um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.
Traga o prato com um pequeno animal morto
Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções
Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso
Sem janelas, isso é muito importante
Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto
Você saberá quando funcionou
Lembre-se, cinco vezes é o suficiente
Não entre mais no cômodo depois disso
NÃO ENTRE
Agora aproveite, mate sua saudade.
Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.
Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.
Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção. Eu não queria levantar a cabeça para olhar quem era, mas uma estranha força parecia forçar-me a fixar quem estava em minha frente. Eu Levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida.
Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar.
Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez.
Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.
Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.
Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo.
É uma pena, pois aquilo nunca foi ela.
Autor: Tai
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