Acordar no meio da noite com a bexiga prestes a estourar é uma coisa que realmente odeio. Primeiro que levantar sonolento de madrugada é uma merda, segundo, que sou uma pessoa extremamente azarada. O que isso tem a ver? Você se pergunta. Pode parecer uma conversação sem sentido, mas irei lhe explicar de uma maneira que lhe fará entender.
Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.
A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.
Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.
Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.
- Droga! - Resmunguei-
Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.
Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.
- Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.
Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta
Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros que ali tinha, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.
-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.
De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes, logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nenhum um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.
Traga o prato com um pequeno animal morto
Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções
Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso
Sem janelas, isso é muito importante
Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto
Você saberá quando funcionou
Lembre-se, cinco vezes é o suficiente
Não entre mais no cômodo depois disso
NÃO ENTRE
Agora aproveite, mate sua saudade.
Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.
Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Preferiu trancá-lo ao invés de deixá-lo descansar em paz, ele quer a sua companhia agora. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.
Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção, levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida.
Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar.
Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez.
Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.
Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.
Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo.
É uma pena, pois aquilo nunca foi ela.
Autor: Tai
Boa Creppy.
ResponderExcluirFeraa
ResponderExcluirTriste quando não se aceita a perda de alguém, gostei bastante da creepy
ResponderExcluirFicou bem dahora.
ResponderExcluirFinalmente uma creepy que não é do Sinistro, nada contra o cara, mas não sou muito fã do estilo dele (Sinistro)
ResponderExcluirFoda demais Boa creppy
ResponderExcluirAlguém lembra do nome de uma creepy onde o cara tinha uma esposa aí um assassino matava ela, ai esse cara encontrava o assassino e torturada ele, no final da creepy ele colocava um ferro de passar roupa no peito dele e dizia " quanto tempo vai demorar pra vc morrer..." aí ele dizia outra coisa no final q era o título da creepy mas eu não lembro, se alguém lembrar poderia me dizer, é uma das minhas creepypastas favoritas.
ResponderExcluirMe lembro de outra onde o cara tortura o assassino da esposa, mas no final descobre que fez isso com a pessoa errada xD
ExcluirIncrível ♡
ResponderExcluirBoa creepy.
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