14/04/2020

Eu só quero que isso acabe!

O meu maior sonho foi ser arqueólogo, apesar de fazer parte de uma descendência de classe média alta, com posições importantes no trabalho e guiando nossa família para os status mais altos. Diferente dos meus irmãos, sempre quis ter algo simples na minha vida e, como o filho mais novo, consegui seguir os meus próprios passos. Estava feliz com pouco, saboreando meu próprio suor e sem receber apoio de ninguém. Ao longo dos anos, fiz descobertas importantes no deserto do Saara, vestígios de ruínas congeladas no Polo Norte e até peças indígenas pelo Brasil. O que nos encontramos, nessa última vez, seria um passo importante, nos traria fama e reconhecimento. Em mais um trabalho duro, descobrimos uma espécie de tumba ou cemitério Maia bem conservado e enterrado dos olhos curiosos.

Nas paredes, esqueletos mumificados pareciam segurar o local e proteger com seus rostos entortados. No centro, havia uma espécie de sepulcro com um esboço ainda mais velho e aparentando ser algum tipo de líder. Então, vimos algo nas suas mãos: seus dedos pareciam prender, como se aquele objeto desejasse escapar. Foi algo estranho para todos nós, porque aquela representação, de alguma entidade ou ídolo daquela época, nas suas costas, havia uma descrição em uma linguagem que parecia misturar outras. Estávamos felizes, pois éramos apenas uma equipe de 4 pessoas: a garota que trabalhava nas traduções, o cara que usava máquinas pesadas, eu reconhecendo a origem das coisas e o nosso companheiro, que financiava tudo e carregando o mesmo amor que nós estávamos tendo ali.

Infelizmente as coisas não estavam boas para mim há um bom tempo. Tentei não compartilhar a minha fraqueza, a falta de apetite, os vômitos constantes e aquela sensação mordaz no meu abdômen. O médico falou ser câncer de estômago. Eu estava tomando os remédios e lutando silenciosamente. Meus companheiros, arqueólogos, não sabiam, mas minha aparência cada vez ficando pior e era visível para todos. Tentei ocultar, o máximo que podia, o tormento que eu estava sentindo. Quando descobri o infortúnio, naquele mesmo período, não queria ficar fazendo tratamento e sofrendo com agulhas e luzes passando pelo meu corpo, porque sabia que a maioria das pessoas com um tumor maligno morrem. Apesar das consequências, tentei aguentar o máximo e sofrer aos poucos.

A nossa companheira levou a pequena estátua a sua biblioteca para tentar traduzir as palavras e parecia difícil, e nós estávamos aguardando. Não iríamos expor o que havíamos achado. Infelizmente recebemos uma notícia assustadora: ela havia sido morta pouco tempo depois que finalmente encontrou seus pais, o seu sonho de muito tempo. Disseram que eles eram criminosos e mataram a garota por acidente.

Naquele mesmo período, o objeto caiu nas mãos do cara que trabalhava com máquinas pesadas. Sei que ele foi pessoalmente a biblioteca da nossa amiga para recuperar o artefato arqueológico. Disse que deveríamos nos reunir em um local específico, mas, quando estava transportando, segundo informações dos seus parentes, havia surtado porque ficava dizendo que sua filha morta, há cinco anos atrás, havia voltado a vida e estava lhe atormentando.

Nós não estávamos no mesmo local, como eu já disse, éramos uma equipe pequena, saboreando os nossos sonhos. Nem tudo de bom vem de graça, uma vez que já havíamos perdido mais duas pessoas próximas e amigos de longo tempo. Nesse mesmo instante, sabia que não podia mais contar com o cara que pagava tudo, ele poderia simplesmente recuperar o objeto e ficar para si mesmo. Mal conseguia sair do lugar, estava desnutrido, porque a comida parecia cortar a minha garganta e entra no meu estômago como ácido. Quanto mais eu tentava me alimentar com líquidos, náuseas e dores me atormentavam. Supreendentemente, recebi uma ligação do meu companheiro dizendo que havia algo que deveríamos lidar. Tentou explicar que havia ganhado na loteria, apesar de ser rico, almejava ser mais abastado e ser melhor do que os seus parentescos. Foi uma surpresa para mim, a notícia foi anunciada nos jornais. Então, ele disse que deixaria comigo a descoberta para que eu trabalhasse enquanto saboreava o seu sucesso.

Mas as coisas não ficaram por aí, tudo de ruim tem a tendência de ficar pior. Ouvi notícias que se espalharam por todas as publicações, enquanto eu estava podre e desgastando em cima do sofá, o meu companheiro, o ganhador da mega-sena, havia sido sequestrado. Disseram que partes do seu corpo foram espalhadas para os membros da família, com a intenção de ganhar ou pegar toda a fortuna, mas ele nunca teve contato com os seus parentes. Imaginei que não abriria a boca. Não demorou muito para receber notícias do seu assassinato. O que sobrou do seu corpo foi encontrado em um lixo, porém, antes disso, em suas anotações, desejou que eu poderia ficar com o objeto. Recebi e levei para minha casa. A estátua, mesmo assustadora, parecia atraente porque não havia nada mais horripilante do que aquilo que estava alimentando-se do meu corpo, lentamente e causando muito sofrimento.

É claro que eu precisava de tradutores e uma equipe que ajudasse a lidar com isso. Há dois dias, o médico falou que eu não duraria um mês. Não existia nada além do fracasso, o fedor de podridão me consumindo, além da magreza e a fome. Deixei uma noite para examinar a representação de algum tipo de ídolo, coloquei os meus dedos em todas as partes e um tipo de dispositivo foi anunciado... A fumaça da poeira se juntou para mostrar uma figura, algum tipo de animal, ou algo do tipo, usando acessórios nos seus membros iguais a objetos decorativos. Ele anunciou que, por ter encontrado a estátua, receberia um prêmio e faltava apenas eu. Naturalmente, fiquei chocado e apavorado. A manifestação, ou seja lá o que for aquilo, disse que concederia qualquer desejo, mas as consequências seriam graves. Eu não tinha certeza se estava alucinando ou criando fantasias duvidosas na minha mente. Apesar de todas às circunstâncias, a tentação foi maior do que qualquer coisa.

Ele ficou ansioso e logo depois disse que eu precisava ser inteligente, porque tudo era uma faca de dois gumes. Um turbilhão de coisas passaram na minha mente cansada. Algo estava sendo formado, imaginei que não duraria muito e que eu deveria viver mais. Sou um rapaz jovem, bom, nunca fiz mal para ninguém. Sei que não posso simplesmente morrer em um mês. Suspirei para a figura diante de mim, que parecia brilhar como um arco-íris vivo. Continuou com a sua definição apavorante de um genuíno observador. Cuspi ferozmente que eu não queria morrer cedo, deveria continuar vivo. Então ele estalou os seus dedos, e um vapor quente e relaxante cobriu toda a sala, e eu abracei o véu acolhedor...

Tenho certeza que havia passado uma semana ou meses, senti as janelas escurecendo e amanhecendo. Havia decorrido muitos dias, e continuo vivo. As dores cada vez sendo mais sufocantes e parecendo o Inferno. Eles dizem que você se acostuma com a agonia com o passar dos segundos, contudo, nesse caso não, porque sempre é pior. A cama ficou fria e grossa, estava sentindo todo o tormento e a única coisa, depois de muito tempo que eu suspirava em todas às noites, era que eu morresse. Nessa angústia e tortura, não adiantava... Sei que minha família esteve ali por pena ou compaixão, observando e sussurrando que fariam de tudo para que eu acordasse. Os médicos expressaram que estavam surpresos porque o meu estado de câncer de estômago parecia muito avançado, mas sobrevivi, mesmo após o coma inexplicável. Só sei que permaneci respirando sobre máquinas. O problema é porque estava sentindo toda a degeneração e cada vez piorando, só quero morrer e as máquinas não deixam...

Autor: Sinistro

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