Estava enrolando algumas partes do meu cabelo entre os meus dedos e observando a rua. O movimento dos carros são tão nostálgicos... faz muito tempo que eu estou aqui e quase sempre vejo as mesmas pessoas: aquela senhora puxando o seu cachorro gordo, aquela mulher levando os seus filhos para o colégio e alguns adolescentes bêbados passando em frente ao cinema.
Só na metade do caminho você se sente culpada quando não tem certeza se trancou a porta. Aliás, eu deveria ter trazido o guarda-chuva porque parece que vai chover. O céu está muito escuro e as nuvens estão negras, como se estivessem carregadas e preparadas para estragar o dia de alguém. Contudo, até o momento, isso não é problema para mim. Espero que aquele babaca que fica preparando as pipocas não venha com suas cantadas roubadas da Internet, que são tão artificiais que apenas uma garota boba cairia em seu jogo patético. Essa tarde senti-me culpada por negar alguns trocados para o mendigo que fica no metrô, já que ele sempre estende o seu braço para mim e eu nunca tenho uma quantia para lhe entregar, mas o sujeito sempre persiste, esticando sua mão em minha direção. Cheguei à minha ocupação para trabalhar das três horas da tarde até as dez horas da noite.
Estava tão distraída que quase não percebi quando ele entrou... um homem com porte físico médio, cabelos escuros, a pele parda, roupas bem arrumadas e uma forma de caminhar estranha, como se estivesse cansado. Ele entrou e eu tive que chamar sua atenção para receber o bilhete:
— Ei, ei, otário! Eu estou falando com você! — ele estava quase entrando sem a minha permissão, até que notou a minha presença chamando sua atenção. Olhou em minha direção, ficou por alguns segundos parado e aproximou-se do vidro do caixa com um semblante engraçado, como se fosse algum retardado que estava sem entender o que estava acontecendo.
— A senhora está falando comigo? — ele perguntou como se estivesse usando um disfarce para que eu não ficasse reparando a sua presença entrando, querendo invadir de graça e assistir ao filme que, provavelmente, já estava mais que além da metade para acabar. Todavia, sua expressão facial não parecia estar debochando apesar da pergunta boba, dado que ele estava sério e o seu olhar era como se não estivesse jogando seus olhos diretamente em mim, mas como se estivesse com uma observação perdida em minha direção, da mesma forma que um cego olha em uma direção apreciando uma escuridão.
— Você precisa pagar para assistir ao filme. Não sei se sabe: já faz uma hora e alguma coisa desde que o filme das sete horas da noite começou. Se quiser participar, vai precisar pagar R$10,35 — cobrei o preço, esperando que não fosse mais um cara ciumento ou alguém drogado que não encontrasse em sua carteira a quantia baixa para entrar.
— Ah, como eu não percebi isso...? — ele disse suas palavras, olhando diretamente para o meu corpo, e eu notei que estava com um decote bem evasivo, sem notar que havia destacado tanto meu busto como se fosse algo de propósito. Fiquei observando os seus olhos em minha direção, como se fossem raios X. Sua forma escrota apreciando, como se eu não me importasse... esse cara deixou-me aos nervos!
— Quanto custa para entrar, mesmo? — mesmo com seu rosto e os seus olhos diretamente em minha direção, ele não parecia contemplar a minha pessoa atrás do vidro, até que juntou sua atenção em meus olhos e eu pude observar o quão vazias e lúgubres eram aquelas duas coisas em seu rosto, perguntando o preço do bilhete. Isso me causou um calafrio muito forte e uma sensação que nunca tive em toda a minha vida. Nesse momento, senti o seu cheiro... aquele mesmo que fica quando estou há muito tempo trancada no meu quarto e de todos os dias, quando chego e sinto aquele mesmo aroma que o corpo transmite. Dava para sentir através dos buracos que são feitos no vidro para eu conversasse com os clientes.
Repeti mais uma vez o preço da entrada e ele colocou as suas mãos dentro dos bolsos e pegou, com os papéis amassados e as moedas contadas, exatamente o mesmo preço que falei, deixando para que eu o apanhasse. A sua maneira de caminhar e o barulho que fazia com os pés fizeram com que eu ficasse com um sono ádvena. Ignorei a sua presença sombria e voltei a minha atenção para a rua, nada em comum com o que eu estou acostumada a presenciar constantemente.
Mais uma vez, estou distraída e aguardando o meu turno acabar para chegar em casa e me trancar em meu quarto. Esperando as horas passarem e pensando nos meus problemas pessoais, me assustei com duas pessoas que saíram correndo de dentro do cinema. Logo, um estampido forte foi ouvido e uma poeira escura cobriu toda a vidraça de onde eu me encontrava. Abri a porta, ouvi muitos gritos de horror e liguei para polícia, que logo chamou os socorristas preparados para esse tipo de coisa. Observando alguns feridos arrastando-se para escapar da poeira, não foi difícil de notar que acontecera uma calamidade dentro do cinema. De acordo com eles, o teto desabara por conta da negligência do dono e muitas pessoas morreram.
Nem consegui sair de frente do local, uma vez que estava aguardando notícias; mas pela cara dos beleguins agitando seus cabelos freneticamente, não era nada bom. Lembro-me das famílias entrando, pessoas velhas... e até os meus amigos, que trabalhavam na parte interior, sendo vítimas da tragédia. A memória daquele homem não sai da minha cabeça. Posso jurar que, em meio àquele tumulto, com aquelas pessoas curiosas tirando fotos para postar na Internet e compartilhar o sofrimento alheio, os repórteres querendo uma matéria boa para transmitir na televisão e ganhar audiência e aqueles jovens reclamando da falta de segurança, pude notar, afastando-se de mim, aquele mesmo sujeito com seu olhar obscuro... saindo da entrada do cinema. Não tem como esquecer aquela forma de caminhar. O esquisitão virou o seu rosto em minha direção e fez uma expressão estranha aos meus olhos, logo desaparecendo.
Apesar das mortes e do dia terrível que passei na semana retrasada, não posso colocar isso em meu caminho como se fosse mais um tormento, já que estou começando uma nova jornada em minha vida, a falta de ar é muito forte e não paro de tossir, como se ainda estivesse fumando. Preciso fixar minha cabeça à frente e esquecer os meus pensamentos negativos, mesmo que o médico tenha dito que tenho poucos dias de vida para desfrutar — mas, de acordo com as suas palavras, eu poderia durar meses combatendo meu câncer de pulmão terminal.
Autor: Sinistro
Que top, continuem com esse belo trabalho
ResponderExcluirIsso ficou ruim.
ResponderExcluirCara eu não entendi .___.
ResponderExcluirAcho que aquele homem era a morte, ela o conseguiu ver pois estava quase morrendo e ele ficou surpreso por ela ter o visto, ele estava lá pois estava aguardando aquelas pessoas morrerem
ResponderExcluirMuito bem observado!
ResponderExcluirPRGDL02022
ResponderExcluirMuito boa, gostei. Esse autor tem ótimas creepys, parabéns por mais essa!
curti essa
ResponderExcluirBoa
ResponderExcluirVocê já ouviu falar de um grande homem chamado Dr. Ajayi, ele é um lançador de feitiços, o problema que eu estava tendo no meu casamento me levou a ele. Tenho 51 anos, meu casamento já esteve em um estado desordenado, porque eu era um casamento por 15 anos sem poder conceber para meu marido; então, uma noite, ele me disse que queria o divórcio, e até saiu de casa naquela noite depois escolhendo algumas de suas coisas, implorei com ele, mas todos os meus pedidos caíram em um ouvido surdo e isso partiu meu coração porque procurei ajuda de diferentes fontes, mas nada estava funcionando para mim. Eu estava passando por uma página no Facebook quando vi uma mulher testemunhar como um lançador de feitiços chamado Dr. Ajayi a ajudava a recuperar seu homem após 5 anos de separação, seus contatos foram retirados pela senhora, eu os levei e entrei em contato com o lançador de feitiços , ele não respondeu imediatamente, mas quando finalmente me expliquei a ele e ele também me fez algumas perguntas às quais dei respostas depois da seção, ele me disse o que precisava ser feito e prometeu que meu marido voltaria para casa dentro de 72 horas, uma vez que as coisas necessárias são feitas, eu cumpri tudo o que me disseram, acredite em mim, fiquei surpresa quando meu marido voltou para casa depois de meses de separação e tampou tudo Dr. Ajayi me fez um remédio herbal, eu dei à luz meninos gêmeos, isso realmente cimenta eu e meu marido e todos os agradecimentos ao Dr. Ajayi por seus grandes poderes de feitiço, e também descobri que ele ajudou muitas outras pessoas, por isso, se você está passando por algum tipo de dificuldade no seu relacionamento e quer uma vida duradoura contato da solução Dr Ajay i o grande lançador de feitiços via WhatsApp: +2347084887094 ou e-mail: drajayi1990@gmail.com
ResponderExcluirTomar no cu... Agora tu tá em todas as creeppys com esse teu lixo de comentário?
ExcluirMuito boa, Gabriel. Gostei muito.
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