30/01/2020

Meu Pai

É estranho pensar em como os pais dizem que se importam tanto com os filhos e simplesmente deixam eles soltos por aí. Meu pai não fazia isso, era um homem exemplar em todos os quesitos. Todos os dias de manhã, saia para trabalhar e queria a casa impecável quando voltasse. Nunca o julguei, éramos só nós dois e isso era o mínimo que eu poderia fazer em troca de ele ser um pai tão bom, que me sustentava.

Nunca tivemos televisões porque ele defendia como um meio de alienação, assim como brinquedos eram desnecessários, apenas os livros usados para meus estudos feitos em casa todo fim de semana eram meus companheiros. Eu nunca fui para a escola também, meu pai dizia que as outras crianças eram maldosas e por mais que na época eu odiasse tudo isso, hoje em dia eu compreendo e o admiro ainda mais.

Os métodos de ensino do meu pai eram tão surpreendentes que nunca foram ensinados nos livros. Todos os dias de noite, ele me levava para o quarto e me dava educação sexual, porque ele dizia que isso seria útil um dia para mim como garota. No início eu discordava, mas mais uma vez, ele estava certo.

Sempre que ele chegava, se houvesse algum resquício de pó em qualquer canto da casa, meu pai me batia sem dó nem piedade para meu aprendizado sobre organização, e isso já me custou tanto alguns dentes quebrados como fraturas pelo corpo que foram consertados por ele também. Era um médico excepcional, fazia muito bem seu trabalho e tudo era completamente organizado.


Frequentemente, Papai trazia aqueles que eu chamava de "pacientes" para nossa casa. Ele sempre arrastava esses diferentes pacientes até o porão e depois disso eu ouvia os gritos dos "tratamentos" que eram feitos, mas na época eu estranhava eles nunca saírem do porão depois dos gritos acabarem durante a madrugada. Eu era muito inocente, mas me acostumei com essa rotina e depois limpar toda a bagunça.


Porém, não era sempre que o homem mais admirável por mim se dedicava aos seus pacientes. Quando eu era uma boa menina, ele me trazia presentes que eu amava. No meu aniversário de 15 anos, ganhei um homem! Papai me disse que eu saberia exatamente o que fazer com o novo hóspede que estava amarrado e desacordado. Aparentava ter uns 20 anos, um rapaz muito bonito e foi com ele meus primeiros estudos reais em medicina. Eu tinha lido em algum livro algo sobre anestesia e questionei meu pai, mas ele disse que não era necessário nesses casos. Enquanto eu tentava o operar, o homem se contorcia e gritava de dor e como uma iniciante, me comovi e comecei a chorar por achar aquilo errado. Papai me empurrou fazendo com que eu caísse no chão e ele mesmo serrou o homem ao meio com a motoserra. Litros de sangue jorravam e eu nunca apanhei tanto quanto naquele dia, meu pai me achava fraca, me causando fraturas no crânio que ele demorou para resolver operar e dias em que eu definhava de fome na jaula do castigo.

A jaula do castigo ficava no subsolo, lá eu era submetida à choques, afogamento e era proibida de dormir. Foi onde eu passei mais tempo quando era criança para que aprendesse as coisas corretas e acabei criando uma amiguinha imaginária para não me sentir solitária. Samantha Mary e eu éramos inseparáveis e ela era idêntica à mim. A única diferença era que eu tinha uma mancha de nascença que cobria meu olho esquerdo inteiro, e ela não. De alguma maneira talvez sobrenatural, Samantha conseguiu abrir a jaula e ficou lá, dizendo pra viver a vida por nós duas e que iria se sacrificar. Depois disso, ela nunca mais apareceu e só existe em minhas memórias de infância.

Bem, nos dias de hoje eu já sou uma mulher feita e pretendo seguir os passos do maior homem da minha vida. Vou finalmente poder ter minha própria casa já que papai sumiu há alguns dias, mas antes eu precisava continuar nossa missão de purificar todos como quando fizemos com aquele homem quando eu tinha 15 anos. Aliás, era esse o intuito de tudo, não era sobre operar, e sim purificar as outras pessoas. Como todos estão se tornando tão maldosos hoje em dia, nossa missão como seres superiores é tornar todos melhores. Mas para isso, é preciso encarar o sofrimento até a vida ser valorizada e depois a morte.

Nesse momento, já é noite e estou quase pegando um garotinho que está sentado na calçada... Sorte dele que os pais são descuidados e ele está prestes à ser purificado. Peguei o pano com clorofórmio no bolso e fiz com que ele apagasse. Pro meu azar, a mãe dele estava apenas fechando o carro na rua em frente e eu acabei não percebendo. Tentei correr mas fui acertada na cabeça e desmaiei em poucos segundos, meu pai ficaria decepcionado.

Ainda estou desacordada por causa da pancada mas consigo ouvir várias vozes ao meu redor, até uma delas me chamar a atenção.

— Essa é a Jennifer Elizabeth, eu tenho certeza, reconheço essa mancha no rosto! Vocês não lembram? Ela sumiu com a irmã gêmea Samantha Mary quando criança e até hoje os pais anunciam o rosto delas na televisão...

Autora: Lilith

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu ainda quero saber como acaba a série, pensei em comprar o livro pela amazon mas tenho mta preguiça de ler em inglês

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    2. É a minha série favorita! Foi realmente minha intenção fazer lembra-la e falar da Síndrome de Estocolmo. Fico agradecida ;)

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    3. Gostei merece uns capítulos a mais.

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  2. muito boa, adoro creepy que não é totalmente irreal e sobrenatural, traz mais dessas, muito bom

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  3. PRGDL02022

    Esse tipo de creepy cria uma tensão maior do que as com monstros e demônios, não que essas sejam ruins. Os seres humanos são os monstros mais assustadores...

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