09/08/2020

Despedida


Essa foi minha primeira postagem no Creepypasta Brasil há 9 anos atrás.

É inacreditável pensar que ainda estamos por aqui. 9 anos de história, mais de 1900 histórias publicadas, mais de 20 milhões de acessos, inúmeros parceiros e amigos que conhecemos ao longo desse anos, incontáveis horas dedicadas a tradução de creepypastas do mundo inteiro e infinitos pesadelos causados em todo nosso público. Foi uma história linda, maravilhosa. Porém, todo ciclo eventualmente chega ao seu ponto final, mesmo que a gente não saiba exatamente quando.

Com a saída da Divina há alguns meses atrás, prometi para mim mesmo e para vocês que faria meu melhor para continuar com o blog, mantendo-o ativo e postando as histórias escritas por vocês. Entretanto, considerando as incontáveis mudanças na nossa vida, nossos prioridades também acabam mudando. Começamos a precisar focar no nosso trabalho, construir nosso futuro, cuidar de nossa família e de nossos entes queridos, seguir em frente, entre outras coisas. E consequentemente, acabamos não conseguindo priorizar outras coisas que gostaríamos, e eu posso afirmar que é exatamente o que tem acontecido com o blog.

Sendo bem honesto com vocês, considerando a enorme queda de acessos nos últimos meses e também pelo fato das creepypastas infelizmente não estarem mais em alta no momento, não tenho me sentido bem contribuindo dessa forma para o blog. E isso tem refletido, pois muitos de vocês também não estão satisfeitos com a fase que o blog se encontra nesse momento.

Sinceramente, meu maior desejo era voltar a traduzir como fazia antigamente. Porém, tanto por uma questão de falta de tempo quanto por problemas relacionados a direitos autorais que tivemos aqui no blog no passado, isso não é possível. E se eu não estou me dedicando como gostaria a algum projeto, sinto que estou forçando a barra e não só não agradando meu público, como não estou me agradando também. E eu acredito que por esse motivo, devo encerrar as atividades no blog permanentemente e deixa-lo descansar dessa forma e conservar toda a história que tivemos aqui.

Fiquem tranquilos, pois eu não tirarei o site do ar. O Creepypasta Brasil faz parte da minha história, então vou mante-lo ativo para sempre, sempre mantendo o domínio em dia e disponibilizando todas as creepypastas aqui no site para que todos possam reler desde o inicio até as história mais atuais escritas por fãs.

Muito obrigado de coração por todos esses anos que vocês nos acompanharam, por todo o apoio, por todas as criticas construtivas, e acima de tudo, por todos os momentos memoráveis que eu nunca vou me esquecer pelo resto da minha vida. Obrigado de todo coração para a Divina, minha parceira, minha irmã, a pessoa que mais me acompanhou durante toda essa jornada e que se manteve firme e forte até o final. Infinitos agradecimentos aos meus dois melhores amigos Alex e ao Kevin, meus brothers de coração que entraram junto comigo nesse mundo de pesadelos e me inspiraram a começar esse projeto. Agradeço imensamente também a todos os colaboradores que participaram e marcaram presença no blog com suas colaborações, traduções e histórias, e que fizeram isso com todo o amor do mundo. Vocês todos são FODAS!

Por fim, nos despedimos por aqui, meus queridos.

Por fim...

KEEP CREEPYING ❤️

08/08/2020

Um Lugar Feliz

Lembro como se fosse ontem: quando meu pai ensinou-me a brincar daquilo, ele disse apenas que nós precisávamos entrar no closet, fechar a porta e ter certeza que está escuro, fechar os olhos e pensar em um mundo completamente diferente, o contrário no qual nós estamos vivendo, um lugar que não vai ter tristeza, brigas, doenças. Basicamente, é o inverso do nosso. Papai sempre fazia isso quando dava a hora do jantar e não tinha comida na mesa, ou ele pedia para eu fazer com meu irmão mais novo, quando começava a discutir com a minha mãe.

Faz muito tempo isso, o nome do jogo era "Um Lugar Feliz". Agora, sou um adulto, casado com uma mulher um pouco mais nova. O nosso relacionamento sempre foi estável, tinha os seus altos e os seus baixos. O problema foi que, depois de muitos anos vivendo com ela, os baixos prevalecerão, deixando a nossa união uma completa desgraça. Nós não dormimos juntos mais, a única coisa que ligava o nosso casamento era o nosso filho, Daniel, que agora tem oito anos. Fomos convidados para uma festa, na casa dos vizinhos, e bebemos um pouco. No meio do efeito do álcool, dormimos juntos depois de muito tempo. Depois de uns dias, ela disse que estava grávida.

Foi uma surpresa para mim, ainda mais, sei que ela não desejava outra criança. Logo, nos primeiros exames, os médicos disseram que o nosso filho poderia ter alguns problemas de saúde. Quando ele nasceu, já tinha a certeza de que o nosso filho não duraria muito. Os médicos disseram que era um milagre ele ter nascido. Bem, foi aqui que as coisas ficaram um pouco estranhas, encontrava-me na fase de aceitação a condição do meu bebê, e as várias palavras dos médicos dizendo que ele não duraria por muito tempo. Contudo a minha esposa carregava um sorriso em seu rosto, algo naquela criança deixava a minha companheira feliz, como se ela tivesse um motivo para viver, dedicando-se cem por cento ao nosso filho.

Além dos problemas de saúde, o bebê tem que comer certos tipos de alimentos, mesmo que se alimentando bem pouco. Daniel, o meu filho mais velho, gostava muito dele. Falando dessa forma, não significa que eu despreze a minha criança, apenas é uma observação em relação a esse momento em nossas vidas. Uma das coisas que me incomodava, talvez a única, era o fato que ele não dormia... Passava a noite toda acordado, chorando, querendo atenção, e a minha mulher ficava à noite toda com ele. Carregando o nosso fruto em seus braços, passeando com aquela coisa pequena por toda a casa, a madrugada toda.

Era evidente que o nosso Daniel já não suportava mais ver aquele sofrimento. Eu tive que fazer algo para tentar confortar o meu menino mais velho: ensinei a brincadeira do Lugar Feliz. Coloquei ele dentro do closet, sentei ao seu lado, fechei a porta, disse que fechasse os olhos e pense num lugar ao contrário da nossa casa, um lugar feliz. Expliquei que deveria imaginar onde o seu irmão tem saúde, a sua mãe é feliz e não brigasse comigo. Ficamos por alguns minutos no escuro, apenas escutando a nossa respiração, quando abrir a porta, vi que o meu garoto estava sorrindo.

Parecia que tudo tinha melhorado, apenas parecia... Fui surpreendido pelos gritos da minha esposa chamando-me. Fui ao seu encontro e vi nosso filho imóvel, pálido e não respirava. Nós levamos ele ao médico, e chegando lá, disseram que, depois de muito sofrimento, finalmente morreu. A minha esposa caiu em lágrimas, e eu tentei mostrar tristeza, porém esperava por isso. Até o momento, não disse nada para o meu filho mais velho. Na hora do enterro do seu irmãozinho, foi que falei que o bebê havia morrido. Daniel ficou triste, todavia não demorou muito tempo para aceitar.

As coisas ficaram conturbadas dentro da nossa casa, pois a minha esposa ficava o tempo todo se lamentando e sempre arrumando uma desculpa para brigar comigo como se eu tivesse culpa de algo. Ela mal dava carinho ao nosso filho, parecia que nunca tivesse existido. Ela, apenas, ficava pensando naquele fruto, mesmo sabendo que ele sofreu bastante esses meses em que estava vivo, mas negou essas coisas e passou a me odiar em todos os sentidos.

Não consegui dormir essa noite, a nossa última briga foi muito feia, e precisava relaxar. Lembrei do Lugar Feliz... Entrei no closet, do quarto do meu filho, quando ele estava dormindo. Fechei os meus olhos e imaginei um lugar ao avesso. Uma vida em que nós éramos felizes. Fiquei por um bom tempo e acabei cochilando. Acordei e saí do closet. Logo, notei algo diferente: a casa estava completamente estranha... As roupas do meu corpo estavam trocadas, visto que a camiseta branca e o meu short rosa ficaram com as cores inversas. A maçaneta da porta estava no lugar errado. Comecei a caminhar em nossa casa e encontrei o meu filho, este estava de costas para mim no corredor. Quando coloquei a mão em seu ombro, mandando ele se deitar...

Olhou para mim, aquilo não era o meu filho, era uma coisa horrível, o seu rosto estava desfigurado igual aquelas pessoas no filme "O Chamado". Caí, berrando e com medo. No corredor, apareceu a minha esposa e ela estava diferente, sorria para mim. Não sabia o que estava acontecendo. Voltei para o quarto do meu filho e tranquei a porta. Sabia que tinha algo estranho, algo que tem relação com a brincadeira do Lugar Feliz. Então, entrei no closet novamente e desejei que tudo fosse um sonho, e depois, voltei para o quarto, minha criança estava dormindo e tudo parecia normal, antes era como se eu tivesse entrado em um pesadelo. Após esse dia, nunca mais pensei em brincar do Lugar Feliz e disse para o meu filho que não brincasse mais.

Lembro que cheguei em casa, entrei no meu quarto e chamei o meu filho. Daniel não respondia. Fui ao seu quarto e vi quando ele saía de dentro do guarda-roupa com a minha esposa... Ela estava sorrindo. Fiquei baralhado, e Daniel também sorria, parecendo felizes. Sabia o que estava acontecendo, e parece que aquele joguinho estranho, do meu pai, funcionou com ela... As coisas pareciam boas, até que... Bem, a minha mulher ficou completamente paranóica, dizendo que eu estava no lugar errado e que precisávamos ir para o Lugar Feliz.

Ela ficava quase todo dia dentro do closet, no quarto do meu filho, e ele, muita das vezes, estava com ela, alimentando a sua loucura que criaram. Tudo por minha culpa! Algumas vezes, dava para escutar, bem baixinho, gargalhada de um bebê, e a essa altura, dava para imaginar o quanto ela havia perdido o juizo por completo ao imitar uma criança.

Estávamos jantando, quando ela começou a repetir as coisas de sempre que "nós estávamos no lugar errado"... O sangue subiu a minha cabeça, já estava entalado com tudo isso. Larguei a colher que estava comendo a sopa, o nosso filho ficou olhando para nós, foi a primeira vez que gritei com a minha mulher, falando as coisas que ela precisava saber, dizendo que deveria aceitar a porra da morte do nosso filho. Não sei o que deu em mim. Aproximei do meu filho para pedir desculpas e algo forte bateu contra minha cabeça...

A minha esposa havia amarrado os meus braços e as minhas pernas e dizendo que tudo iria ficar bem. Ela arrastou meu corpo e o do meu filho que se encontrava desacordado, com sangue saindo da sua cabeça. Aquela mulher parecia louca, bem pior do que já estava. Um cheiro de álcool ficava pareando no ar. Ela disse que iria acabar com essa realidade errada, segundo ela, a qual nós estávamos vivendo. Como uma alucinada, arrastou o corpo do meu filho para dentro do closet e me arrastou também. Tentei lutar, no entanto nada adiantava. O cheiro forte de gasolina foi ficando pior, até que ela entrou no quarto trazendo uma pilha de gasolina, então banhou o meu filho e a mim. Não pude grita por socorro porque estava com a boca amordaçada, tentei lutar, porém nada adiantava. Ela colocou gasolina em seu próprio corpo e disse que ficaria tudo bem.

Fechou a porta do closet, o cheiro de álcool estava muito forte, deixando-me embriagado. Sentada, ao lado do meu filho e eu, minha esposa acendeu o isqueiro, e uma explosão forte... Acordei um pouco atordoado e dei um grito alto, pois ainda sentia o cheiro de gasolina. Escutei a minha mulher falando na cozinha, o sorriso do meu filho, e uma coisa estranha... Dava para ouvir também a gargalhada de uma criança nova. Aproximei da cozinha e vi a minha mulher com a pele escura, os olhos cinzas parecendo um monstro com rosto deformado. O meu filho também da mesma forma, e ela segurava uma criança... O nosso filho que havia falecido! Tentei correr, mas quando coloquei a mão na maçaneta da porta, esta encontrava-se no lugar errado...

Autor: Sinistro

07/08/2020

Alguém está dentro do corpo do meu marido

Alimento o meu gato, Nicholson, com um pouco de ração e coloco água para que ele não me incomode mais tarde. Parece que vai chover, pois a moça do jornal falou sobre uma possível tempestade que irá cair essa noite. É melhor usar dois cobertores para que eu possa dormir sossegada.

Acordei com Nicholson fazendo barulhos ao pé de minha cama. Ele parece agoniado e querendo sair pela janela, mas ela é bastante alta. Tenho que levá-lo para o lado de fora. Seus olhos estão arregalados e ele está agoniado, com o corpo tenso. Está muito assustado. Fico preocupada com o meu felino, mas quero acreditar que seja apenas vontade de fazer cocô ao lado de fora de minha casa. Quando abro a porta, ele me arranha e sai em disparada, desaparecendo em meio ao quintal. Está chovendo e a chuva é fraca; talvez continue assim a noite toda.

Vou à cozinha para preparar um pouco de chocolate quente. Costumo fazer isso quando acordo, pois isso me ajuda a relaxar e dormir novamente. Estou saboreando aquele líquido quente e delicioso, a caminho de meu quarto. Quando passei perto da escadaria, que dá para o porão, vi que tinha uma luz vindo da porta de lá. Fiquei curiosa — aproximei-me e observei que a porta estava aberta. Não costumo deixá-la destrancada por segurança própria. Quando cheguei até a porta, notei pegadas de lama: as marcas de passos estavam indo para dentro de minha casa. Fiquei um pouco assustada, mas ignorei ao mesmo tempo, fechando a porta e indo rapidamente para onde fica o meu quarto.

Quando estava perto de subir as escadas, senti um calafrio. Ao mesmo tempo, a temperatura do ambiente havia caído bruscamente. O frio foi tão grande que larguei a xícara com o chocolate no chão, deixando cair a coisa que iria me deixar com sono. Droga! Precisaria voltar à cozinha para pegar algum pano. Enquanto me dirigia novamente para perto da escada, abaixei-me para limpar o chão e, neste momento, notei algo... tinha alguém dentro de casa: era uma sombra quem me observava, escondida no escuro da sala.

Estava escuro e eu não tinha coragem de acender a luz para ver quem era. Em uma fração de segundos, um relâmpago iluminou toda a sala e, neste milésimo de segundo, observei que se tratava de meu marido. Fiquei chocada, e ao mesmo tempo amedrontada porque não poderia ser ele. Era impossível, não havia como! O seu comportamento estava diferente. Antes mesmo de que fizesse qualquer movimento em meu corpo, ele correu em minha direção como um animal atrás da presa. Para tentar defender-me, subi as escadas rapidamente. Enquanto me dirigia à cozinha, subindo as escadas com a intenção de pegar uma faca, ele agarrou meu pé e eu caí ao chão. A coisa ficou em cima de mim, tentando enforcar-me, e seus olhos estavam diferentes. Aquilo não era o meu marido, mas algo semelhante a ele!

Acertei um chute em seu estômago e ele caiu; com isso, consegui correr para a cozinha. Peguei uma faca, a mais afiada de todas, e ele rapidamente vinha em minha direção. Eu o acertei no estômago, enfiando a faca em sua barriga. A coisa olhou para a faca enquanto derramava sangue e calmamente puxou o objeto de seu estômago, jogando-o ao canto da cozinha como se nada tivesse acontecido. Agarrou o meu pescoço, pressionando-me contra a parede: vou ficando sem forças. Peguei um garfo que estava na pia e enfiei-o em seu olho. Nesse momento, a coisa me largou, deu alguns passos para trás e corri, entrando no banheiro e fechando a porta.

Está escuro e não tenho mais para onde correr. Sinto-me como um animal encurralado; estou preocupada e morrendo de medo. Aquilo que está dentro do corpo de meu marido quer me matar por algum motivo! Escutei batidas na porta do banheiro — ele está arremessando seu corpo para tentar derrubar a porta. Ficou batendo várias vezes, até que parou. Abaixei a cabeça para ver por debaixo da porta e notei que estava parado como uma estátua. Saiu, demorou alguns segundos e voltou novamente.

Eu estava com as costas encostadas à porta, pressionando meu corpo a fim de tentar dar mais forças para que a porta aguentasse as pancadas. É quando, de repente, uma batida forte faz com que a ponta de um machado atravesse a madeira. Aquela coisa, agora, estava com um machado, derrubando a porta. Afastei-me, ficando assustada ao canto da parede e vendo, a cada momento, ela quebrando mais a porta. Fez um buraco suficiente para que sua cabeça entrasse e ficou me encarando. Neste momento, senti o ódio em seus olhos: aquilo não eram olhos de uma pessoa comum. Talvez fosse um demônio! Voltou a quebrar o resto da porta para que pudesse me matar.

Aquilo não poderia ser o meu marido, pois fazia três dias que eu o matei e enterrei em meu quintal...

Autor: Sinistro

06/08/2020

Espetáculo escarlate

Os dois caíram ao mesmo tempo, foi realmente uma coisa fantástica quando os dois rolaram no chão banhando-se com a água da chuva. Foi intenso, de fato excitante, quando a violência tomou conta do momento e os gritos, chutes, arranhões, tudo se resumindo nas investidas de um psicopata querendo dominar o seu brinquedinho.

A festa de sangue começou quase no mesmo momento em que a chuva se iniciou, parecendo um espetáculo de cinema quando as gotas de água tocavam no chão e fazendo aquele barulho constante que se transformou em uma aglomeração de expressões. A mulher queria fugir e o psicopata não lhe deixava escapar. Uma faca ele carregava, e as suas mãos são uma defesa que ela usava, desesperadamente em vão. Ele agarrou o seu vestido e a jogou no chão, essa conseguiu segurar suas pernas, fazendo os dois caírem mais uma vez, repetindo o mesmo passo de uma dança nociva.

O líquido do céu ficou intenso, cada vez pior, cantando como um rádio, ao aumentar o seu volume, no mesmo momento no qual o apresentador está com saliva na boca para matar, o único presente diante do público incessante de porções de água! Desesperada, a garota boba acertou a sua cabeça, querendo parar o agressor e ele continuou e desafiador, o lobo debochado. A faca entrou no jogo, mesmo já fazendo parte bem antes, e os protagonistas sabendo da sua presença, mas ela chegou de surpresa ganhando toda atenção.

Ele sabia muito bem o quanto aquele objeto deixaria a pobre menina assustada, mas brincou levantando para o alto, e os raios, quando as nuvens encontravam-se, fizeram com que a faca brilhasse como se fosse uma explosão de faíscas. O horror contaminou todo o espetáculo, no qual estava acontecendo. Os olhos dela ficaram enormes, caiu de joelhos dizendo que não iria acontecer e não deixaria com que ele matasse, precisava proteger mais do que tudo uma vida!

Os seus lábios foram preenchidos pela sua língua carnívora e ele humilhou mais de uma vez a garota, que continuava lutando querendo chegar à estrada, controlando os seus passos, como se fosse uma corrida de pânico e medo, e ele sabia que, até lá, poderia brincar com o seu brinquedinho. Ele deu três socos no estômago da pobre coitada, que não deixou e nem expulsou um berro de agonia. Dado que queria apenas controlar a situação. Sentiu-se desafiado para cortar a perna dela, enfiando a faca bem no meio da coxa e, depois, cravando no ombro da pobre e desesperada menina. Nesse momento de selvageria, ele sentiu o líquido no seu próprio corpo quente e escorrendo de forma excitante! Abrindo a sua boca com um sorriso, após ver que conseguiu penetrar o corpo dela... Tão profundo, que fez com que a chuva gargalhasse.

O temporal estava divertindo-se com tudo o que estava acontecendo, e a menina sabia disso, a pobre infeliz, que a todo momento tenta lutar contra o assassino que quer matar. Mas ele sabe humilhar e controlar, brincar, fazer tudo o que deseja com ela, dando esperanças de escapar, fugir do seu controle, mas fica excitado com o desespero dela. Com certeza esse momento de brincar com um rato, colocando em um labirinto, o deixa poderoso e enlouquecido pelo seu próprio domínio.

Escorregou na terra molhada com a chuva, todavia, não seria mais uma brincadeira horrível do destino, há algo ali que apareceu como se fosse mais um integrante do espetáculo de sangue: entre alguns gramados, encontra-se uma barra de ferro pequena, afiada, enferrujada e ele não viu, este não percebeu, ignorou de fato o momento de controle da menina, e não esperava quando ela atinge o seu corpo, penetrando o seu estômago três vezes, o fazendo cair no chão e o espetáculo escarlate, o banho de vermelho! Ganhou uma cena inesperada. A menina ficou observando que o seu ataque foi eficaz e ele não conseguiu controlar a situação. Nesse momento excitante de euforia, com os braços esticados e um sorriso louco em sua boca por não esperar por isso, fez com que gargalhadas, entrando no espetáculo doentio, deixasse a cena junto com as gotas de sangue mais intensas!

Ele ficou reproduzindo o som da sua boca, destruindo a orquestra de fragmentos de líquidos, na verdade, amordaçando o som da chuva enquanto a menina tropeçava em suas pernas, caindo no chão molhado por conta do fluido do céu, arrastava o seu corpo, o seu vestido banhado com sangue, aproximando-se da estrada, sabendo que logo ele voltaria... mas ainda estava eufórico! Enlouquecido, excitado pela doença feroz do destino. Ela sabe que o assassino voltaria mais intenso e violento, selvagem, com certeza dessa vez não deixaria e não daria mais oportunidades para garota de escapar e fugir do seu controle. Ela só precisava encontrar ajuda antes que fosse tarde demais, precisa avisar para o primeiro motorista desavisado o que está acontecendo.

Finalmente chegou à estrada, ainda encontrava-se segurando aquele metal nas mãos, o seu vestido estava vermelho, molhado, com o pano grudado nas suas pernas e por todo seu corpo magro e a chuva, personagem da plateia sádica, por alguns segundos por conta do último ato, a última cena do espetáculo, que prometia ser tão boa quanto o início quando o carro estava aproximando-se ficou em silêncio. Uma pessoa chegaria e mudaria tudo, um homem parou diante da situação, na qual estava observando uma garota machucada.

O sujeito parou, atrás do carro estava uma criança que começou a cantar aquele som enjoativo e constante de um verme que faz poucos meses que saiu de uma barriga após atos vulgares. O homem estava assustado, preocupado, aflito, observando ela aproximando-se, o seu corpo estava machucado, de fato, não tem como negar os cortes profundos, marcas detalhadas, em locais precisos... Ele deixou sua marca, este deixou um aviso, o lobo queria que ninguém chegasse próximo... ele sabia que eles iriam observar e desejava isso, ficava excitado, com a cena, na qual as outras pessoas observavam o quanto a garota sofreu nas suas mãos!

Aflito e preocupado, aproximou-se do carro e a chuva estava iniciando devagar e silenciosa. Dando passos leves, não querendo incomodar o último ato, aquela cena final do espetáculo, no qual deixaria o público ansioso para saber o que iria acontecer. O homem pegou o seu celular, então um golpe feroz na sua barriga, mais outros nas suas costas, foram tantos que ele não esperava por isso! Afastou-se do carro, caindo longe, observou a faca e viu ele... o assassino! Apareceu tão de surpresa que o homem não sabia o que fazer diante da situação, pensou na sua criança, mas ele foi mais rápido, cortando a garganta dela e quebrando o seu pescoço após atravessar o metal decepando aquele corpo frágil.

A mulher gritou nos últimos momentos, enquanto ele estava segurando o seu corpo dizendo suas últimas palavras, nas quais não poderia fazer nada, pois estava com a faca imobilizando-a:

- Eu sinto muito, não posso mais controlar ele... - a chuva começou quase no mesmo instante que ela deu seus últimos suspiros... suas últimas palavras, entregando o seu corpo e mente para o assassino, no qual começou a gargalhar. Estava tão enlouquecido que deixou a faca cair no chão e ficou contemplando o homem sangrando, com seus olhos gritantes, observando sua criança morta. Iria brincar, não há dúvidas, com aquele homem, se diverteria e aproveitaria o ódio por ver o seu filho... Ele sabe o quanto isso é bom, gosta disso, aprecia, sente o desespero das suas vítimas e sabe que logo aparecerá mais uma pessoa para iniciar um novo espetáculo!

Autor: Sinistro

05/08/2020

Noite perigosa

Eu estou com mau pressentimento e, além do mais, sozinha no metrô. Não é normal encontrar tão poucas pessoas, contudo deve ser o horário, está um pouco tarde. Sei que não é seguro uma garota ficar essa hora da noite aventurando-se sozinha, mas esperava encontrar alguns trabalhadores, pessoas que costumam passear à noite, etc. Sinto frio, está muito fria essa madrugada. O foda foi porque não trouxe o meu casaco. Não sei por que deu vontade de comer à essa hora da madrugada. Eu tinha que conseguir encontrar algo que não tivesse dentro da minha casa... Às vezes, tenho esse costume de sair para saciar a minha fome com algo diferente. Pode-se dizer que eu sou uma garota louca.

Daqui à uns minutos, chegarei em minha estação, estarei segura e salva em minha casa. O próximo ponto entraram apenas três pessoas: um casal, que foi para a parte da frente do saguão, e um homem estranho. Nesse momento, eu lembrei dos jornais falando sobre um possível assassino responsável por algumas mortes, a polícia alertou para que as pessoas não andassem sozinhas, trancassem as portas e que as crianças não falassem com estranhos. Aquele homem de fato é uma figura tenebrosa, no entanto o seu rosto é familiar. Estou com uma sensação estranha em relação àquele indivíduo, eu sinto uma atmosfera pesada saindo daquele sujeito... Espero que o próximo ponto logo chegue, onde irei sair para finalmente chegar à minha casa.

Finalmente, a minha parada chegou. Comecei a sair e notei que aquele homem estranho também estava saindo, andando no mesmo caminho que eu estou caminhando. Dobrei uma esquina, e ele dobrou também. Tenho certeza que estou sendo seguida por um estranho. Tive uma ideia, decidi pegar um táxi e, quando eu entrei no veículo, pedi para o cara dirigir por aproximadamente dez minutos, enquanto aquele homem segue o seu caminho na noite pretume. Após aproximadamente uns dez minutos dando voltas no quarteirão, eu pedi para o táxi parar em frente ao prédio onde moro, e então saí segurando minha sacola.

O porteiro estava dormindo, mas quando escutou o barulho da velha porta, despertou-se com os olhos fechando e deu uma bocejada de sono. No momento em que fechei a porta, o porteiro, com a voz cansada, deu boa noite, e eu ignorei subindo as escadas em razão de que eu tenho medo de lugares fechados, portanto não usei o elevador. É um trauma de criança, uma coisa que me aconteceu e deixou-me traumatizada. Estava na metade das escadas quando comecei a escutar passos pesados, tudo indicava que eram pisadas de um homem, por conta do som forte. Eu comecei a caminhar imaginando que poderia ser algum morador. No momento em que subia as escadas para finalmente chegar onde fica o meu quarto, notei que era aquele mesmo homem do metrô... Nesse momento, eu não sabia se corria ou gritava. Várias coisas ficaram passando em minha cabeça devido à tensão, uma delas é que fui seguida, ou aquele sujeito sabe onde eu moro.

Decidi que iria continuar caminhando, em razão de que não tem como mais voltar. O sujeito estava com as suas mãos tremendo, notei que tinha algo escondido embaixo do seu casaco e tenho uma leve impressão de que é uma faca. Enquanto estou subindo as escadas, observei uma marca vermelha em sua camisa, poderia ser sangue de alguém... Quando ele passou por perto de mim, o seu corpo esbarrou no meu e uma marca vermelha manchou a minha camisa, era sangue! Agora, um está de costa para o outro, ele continua descendo, e eu fui logo correndo para o meu quarto, trancando a porta.

Na manhã seguinte, alguns policiais bateram em minha porta, e eu abri. Os homens da lei queriam fazer algumas perguntas sobre um assassinato que havia acontecido na madrugada de hoje, eu não sabia o que estava acontecendo, até que os policiais falaram que um homem havia matado a sua ex-esposa após descobrir que ela estava se relacionando com seu irmão. A ficha logo caiu, eu sabia que aquele homem fora o responsável, contudo eu não falei nada sobre ter encontrado ele, disse apenas que não escutei barulho algum para os policiais.

Após alguns minutos tediosos dando informações aos dois bófias que estavam anotando tudo em uma caderneta pequena, foram embora deixando-me em paz. Logo em seguida, tratei de preparar o meu café... Eu demorei a noite toda para encontrar uma oportunidade de arrancar o coração de um morador de rua, ninguém se importa com eles mesmo, e estava com muita vontade de comer carne humana. Talvez nessa semana eu mate mais alguém para preparar um fígado, em razão de que não tem coisa melhor do que comer um fígado antes de dormir.

Autor: Sinistro

04/08/2020

Pietro - Predador Psicopata

Pietro passeava pela praça, portando pente, projétil... puxou pistola — pá, pá, pá... pistoleiro, parâmetro preciso. Padeceu Pedro, Paulo, Patrícia pedindo por piedade, predador parou, pensou — prosseguiu. Porque pensamentos perversos primitivos prazerosos prosperavam.

Pietro possuía problemas pessoais, psicológicos, pânico, pólvora. Perito possessivo. Perdeu passado, presente, pais, parceiros, parentes. Para população parecia piada. Por períodos prolongados preferiu pó, psicodélicos. Presidia palavras, psicopatias, provérbios, poemas, profecias.

Presas — pescoço, peito, pulmões perfurados, parece pouco, porém paraplégicos, pirados, pulverizados. Pancadas, pauladas, pontapés potentes. Profano, perseguia padres, pastores, pagãos. Pelo príncipe pé-preto prezava, puro pacto, poder purificava.

Pessoas — prioridade pisotearem, parasitas. Por poucos prezado, pobre Pietro, plena palhaçada. Pressentimentos podres, putrefatos. Periculoso perambulava por parques. Preço pago, partiu paradigmas. promoveu pavor público, pautas pairavam principalmente pelas periferias.

Pêndulo parado, praga proliferada, perturbado, perigoso. Parábolas, profetas prometiam paz, pétalas, paraíso — patéticos persuasivos. Prantos, pêsames progredindo, paradoxo promissor, portanto predominou predador.

Autor: Vhulto

03/08/2020

Faz 5 horas que estou assistindo meu irmãozinho na TV

Eu sempre dividi um quarto com meu irmão mais novo. Mas desde que minha vó morreu há duas semanas atrás, o antigo quarto dela passou a ser meu. E depois de muito tempo, pude ter um pouco de privacidade. É realmente muito chato ter que dividir o quarto com alguém. Não me entenda mal, eu amava minha vó e fiquei muito triste com a sua morte, mas estava feliz por agora ter um quarto só para mim.

Todos os pertences que eram da vovó, retirei do cômodo e guardei tudo no porão, exceto uma antiga televisão. Eu não queria que nenhum pertence da vovó ficasse no meu novo quarto, isso me faria ter recordações dela e eu iria acabar ficando triste novamente. Questões à parte, acabei decidindo ficar com a tv, embora seja uma eletrônico antigo, sem muitos aparatos tecnológicos, seria legal poder assistir um pouco de tv no meu próprio quarto.

Faz dois dias desde que comecei a arrumar tudo no que agora seria minha fortaleza. Pintei as paredes, montei minha cama, meu guarda-roupa e deixe tudo do jeito que eu queria. Depois de um longo dia de empenho e trabalho duro, estava exausto. Fui jantar, tomei um banho e logo depois cai na cama. Alguns minutos se passaram eu não consegui dormir, logo fiquei entediado. E como não havia nada para se fazer aquela noite, resolvi assistir um pouco.

A velha televisão não possuía controle remoto, então eu teria que levantar e fazer tudo manualmente. Passei alguns minutos procurando algum canal sintonizado, mas tudo o que consegui encontrar foi estática. Era estranho, a vovó passava a maior parte do dia vendo novelas, documentários de animais e programas de culinária, mas agora nem esses canais estavam funcionando. Então, Desliguei a tv e voltei para a cama, e enquanto olhava para o teto esperando o sono chegar, eu senti a estranha sensação de está sendo observado por alguém ou alguma coisa de dentro da tv, mas não me importei, achei que era apenas coisa da minha cabeça. Mas alguns minutos se passaram e eu logo adormeci.

No dia seguinte, resolvi verificar o aparelho, tudo parecia em ordem; a antena, os cabos, nada parecia fora de lugar. Liguei a tv para fazer alguns testes, procurei por canais novamente, mas não obtive nenhum resultado. Então, desliguei a televisão e fui cuidar do meu irmãozinho. Hoje mais cedo nossos pais saíram em viagem para tentar esquecer um pouco a morte da vovó, e desde então, sou o responsável por ele. A perda de um famíliar é sempre muito difícil, e a mamãe foi a mais que ficou abalada com o acontecimento, já que a vovó era a mãe dela.

O dia se passou lentamente como de costume. Hoje eu estava indo pra cama um pouco mais tarde por causa das tarefas domésticas que agora eu tinha que fazer. Tomei um bom banho, jantei, coloquei meu irmãzinho para dormir e logo após fui para o meu quarto e desabei na cama. Deitado, encarei a tv por alguns segundos. Não pensei em me levantar para liga-lá, era provável que ela não funcionasse de novo. Ao invés disso, gastei o tempo olhando algumas mensagens no meu celular e logo depois adormeci.

Em algum momento da noite a tv se ligou sozinha, em seu volume máximo. Era primeira vez que isso teria acontecido. Acordei assustado e atordoado, sem saber o que estava acontecendo. Peguei meu celular para ver às horas e vi que eram 3:33 da manhã. Olhei para televisão e a tela estava totalmente escura, me levantei e cheguei mais perto, pude ver que o canal sintonizado era o 666. não sou do tipo de pessoa superticiosa, apenas pensei que fosse algum tipo defeito, já que o aparelho era antigo e velho. Pressionei o botão Power-Off e a televisão desligou. Então, voltei para a cama e como estava com muito sono, retornei a dormi rapidamente. O dia amanheceu e eu não sabia se o que aconteceu durante a madrugada foi real ou apenas um sonho. Não pensei muito no assunto, já que agora tenho muita coisa para resolver e não poderia perder tempo.

Parece ser um comportamento padrão dos irmãos mais novos gostar de bisbilhotar as coisas dos irmãos mais velhos. E por causa disso, sempre que eu saía do meu quarto, trancava a porta. Pode parecer exagero, mas pra mim meu quarto era como um troféu e eu gostava de tudo bem arrumado.

Mais um dia se passou e a noite chegou, e com tantos deveres domésticos que eu havia feito, estava exausto. Fui colocar meu irmão para dormi em sua cama. Hoje mais cedo na hora do jantar ele me perguntou sobre a vovó, respondi que ela estava em um lugar melhor, e que ela não poderia mais ficar com a gente. A vovó e o Júnior eram bastante próximos e eu sabia que uma hora ou outra ele iria fazer esse tipo de pergunta. Esperei algum tempo até o Júnior dormir e logo em seguida desci as escadas em direção ao meu quarto. Tudo o que eu queria era dormir um pouco, e logo que coloquei minha cabeça sobre o travesseiro dormi incrívelmente rápido.

Mais uma vez na madrugada a tv havia se ligado sozinha, e dessa vez confesso que senti um pouco de medo. O canal sintonizado ainda era o 666 e a tela era a mesma escura de antes, só que dessa vez foi diferente, ao invés de barulhos de estática, eu ouvi sussurros e gritos, como se muitas pessoas estivessem sofrendo juntas. Eu me laventei e embora estivesse tremendo em medo, tentei me acalmar dizendo a mim mesmo que isso só era algum tipo de filme que estava sendo transmitido naquele momento, mas como a tv estava com defeito, não consegueria ver as imagens, apenas ouvir o som. Rapidamente puxei o fio da tomada e a televisão se apagou.

Ainda trêmulo, voltei para minha cama e sentei-me na beirada. Foi quando a tv mesmo estando fora da tomada se ligou novamente... e eu juro que vi uma mão com grandes garras negras sair da tela como se fosse algum tipo de efeito 3D. A mão em questão parecia gesticular em minha direção, realizando um gesto que me chamava. Coloquei meu cobertor sobre a minha cabeça e fechei meus olhos com muita força, esperando acordar de um pesadelo. Passaram-se alguns segundos e o barulho dos sussurros e gritos pareciam ter sido cessados. Então, tirei o cobertor da minha cabeça e vi que a tv estava desligada. fui até o guarda-roupa para pegar um velho lençou de cama desgastado por traças, joguei o lençou sobre o velho televisor e voltei para minha cama em pânico, não consegui dormir o resto da noite.

No dia seguinte eu havia decidido que iria me me livra da velha televisão. Mas nem tudo sai como planejado. Tentei levantar, puxar e empurrar, por mais que eu tentasse a tv não se movia nem por um centímetro, era como se estivesse colada no chão ou pesasse uma tonelada. Depois de muitas tentativas a única coisa que eu poderia fazer era deixá-la no lugar de sempre e joguei o velho lençou por cima novamente. Pensei que talvez pelo fato do aparelho ser antigo, aquele poderia ser o peso normal. Mas não sei, talvez meu cérebro só estivesse tentando criar algo para acreditar. Mesmo assim sai do meu quarto aquele momento intrigado.

Fui cuidar do Júnior como já era de costume. Hoje ele acabou sofrendo um acidente. Por um descuido ele tropeçou e rolou escada abaixo. Ele chorou bastante e ficou com vários ematomas por todo o corpo. Então, tive que dar maior atenção para ele. O dia escureceu e Júnior ainda estava com cara de choro perguntando por nossos pais, que foram viajar e sobre a vovó que havia falecido. Fiquei com tamanha dó de seu estado. Então, antes que fôssemos nos preparar para dormir, resolvi mostrar ao Júnior como havia ficado meu novo quarto e também permiti que ele visse alguns dos meus quadrinhos de super-heróis.

Deixei ele sobre a minha cama, ele esfoliava às revistas em quadrinhos freneticamente. Ele estava se divertindo tanto que pareceu ter esquecido a dor e os machucados. Sai do quarto e fui para cozinha para preparar um grande prato de panquecas para o jantar, meu irmão e eu adorávamos.

Enquanto eu cozinhava, Júnior parecia estar empolgando-se bastante com os quadrinhos. Ele gritava para mim na cozinha coisas como:

“Nossa, o capitão América é incrível!”

Ele estava realmente se divertindo e logo fiquei feliz por ele. Toda criança passa por uma fase de descobertas, e parece ficar curiosa com qualquer coisa.

Tudo estava indo bem aquela noite. Eu estava quase terminando de preparar as panquecas e logo chamaria o Júnior para o jantar. Até que um momento ele gritou algo que não tinha nenhuma ligação com as revistas em quadrinhos, algo sinistro que soou como:

“Eu consigo ouvir a vovó na televisão!”

Rapidamente eu lembrei do que eu havia passado durante a madrugada. Larguei tudo o que estava fazendo na cozinha e corri em direção ao meu quarto onde eu havia o deixado. E quando estava na metade do caminho ouvi um grito do meu irmãozinho.

“AAAAA——”

O seu grito havia sido cortado no meio por alguma razão.

Cheguei no quarto ofegante, e o Júnior parecia não estava lá, notei o lençou que cobria a tv jogado pelo chão, junto com uma das minhas revistas em quadrinhos. Olhei debaixo da cama e dentro do guarda-roupa esperando encontrá-lo, mas não obtive nenhum resultado. Então eu falei:

“Pode aparecer Júnior, você ganhou!”

Nessa hora a televisão se ligou sozinha novamente e eu não acreditei no que estava vendo. Enfreguei meus olhos acreditando que aquilo não era real. Me aproximei e tive a certeza... Era ele, meu irmãozinho Júnior de alguma forma estava dentro da televisão, preso como um pequeno hamster em uma gaiola.

Já se passaram cinco horas desde que o encontrei dessa forma. Ele não para de chorar e falar que alguém o puxou para dentro da televisão. Não sei o que faço para retirá-lo de lá.

A única coisa que fiz nas últimas horas, foi assistir o meu irmãozinho preso na tv.

Autor: Vhulto

02/08/2020

Minha Infância Perturbadora

A minha vida não foi uma das melhores desde criança, pois assistia quase todo dia os meus pais brigando. Muita dessas brigas, acabavam com a mamãe chamando a polícia, e o meu pai indo passar o final de semana preso. Fora os outros poblemas, tinha que ver a minha progenitora fazendo uso de substâncias erradas para tentar fugir um pouco da realidade na qual vivia: Um casamento arranjado por causa de uma gravidez indesejada, eles faziam questão de falar isso em todas às vezes que brigavam. Apesar de algumas vezes ele falar que não queria ter tido filhos, o meu velho sempre chamou a minha atenção, não por ser um bosta ou um mau exemplo de pai de família. Era o seu comportamento estranho... Muitas vezes, quando a casa já está bem escura, e ele acreditava que todos estavam dormindo, então chegava em casa com alguns volumes nos quais trazia em cima de suas costas e levavam para o sótão.

Essa é a parte interessante... Eu passei a minha infância, até a adolescência, logo antes de completar dezoito anos e morar com os meus tios, acreditando que meu pai fosse um psicopata. Você pode se perguntar: "Como é que uma criança pode ter essas coisas na cabeça, achando que o próprio criador é algo tão horrível?". Bem, desde criança, sempre tive acesso à internet e gostava muito de assistir e ler conteúdo sobre assassinos em série. Aquilo me fascinava e deixava-me excitado para alguém tão jovem. De acordo com alguns perfis, o meu pai se enquadrava em alguns, estes: um sujeito com indícios de problemas mentais graves, sofreu abusos dos próprios pais, o cheiro de podridão que vinha do sótão, e isso sempre foi ignorado por minha mãe, e além do mais, escondendo o rosto com aquilo e levando quase todas as semanas, coisas para o sótão as quais deixavam um odor terrível em nossa casa.

Outros fatos merecem mais atenção sobre o meu papai, estes que eram bem exóticos... Eu imagino que qualquer outra criança ficaria com medo se estivessem na minha pele naquela época, por exemplo: O meu pai costumava colocar uma máscara de palhaço todas as noites nas quais aparecia com aquelas coisas dentro de casa. É isso que fechava a minha ideia de que ele era um assassino em série, criando um personagem, ou usando aquela face assustadora para não ser identificado. Algumas vezes, o meu pai quando queria agredir a minha mãe, usava aquela máscara, deixando a minha progenitora ainda mais à beira da loucura. Citando mais uma vez, ele nunca me agrediu, nunca me tocou e nem fez nada comigo, contudo olhava para mim... Em seus olhos, talvez sentindo o mesmo que eu sentia: Um vazio. O velho sempre notou que eu não tinha medo, apenas aceitava a situação na qual estava vivendo. É, isso foi o que passei quando morava em minha velha casa.

Estou quase terminando à Faculdade de Educação Física, e os meus tios falaram-me que o meu pai morreu de causas desconhecidas. Acho que faz mais ou menos dois anos que a mamãe faleceu. Com a morte do meu velho, eu fiquei um pouco triste, em razão de que, apesar de tudo, o meu pai nunca foi agressivo comigo, além de maltratar a minha mãe como se ela fosse uma mulher qualquer. O mistério estava em minha cabeça: O que o meu pai guardava todo esse tempo no sótão? Lembro que alguns conhecidos e até os meus amigos de infância desapareceram quando ainda morava com os meus pais. Não pretendia falar sobre esse detalhe peculiar, no entanto faz parte da minha história.

Nessa época, eu pedi para ficar no porão, já que não dava para escutar minha mãe chorando, e nem o meu pai fazendo barulhos estranhos no sótão todas as semanas. Sei que você está querendo saber sobre os desaparecimentos, não é mesmo? Bom, primeira pessoa que lembro foi o meu melhor amigo, este tinha um comportamento estranho... Um pouco afeminado. Meu pai não aprovava nossa amizade achando que eu iria virar uma garotinha, em poucos dias ele sumiu. A minha professora também desapareceu, esta que pegava no meu pé por conta de meio ponto e reprovando-me em algumas matérias. A vizinha, barulhenta, a senhora Yasmin costumava escutar à televisão alta e não me deixava dormir. Isso também foi o motivo para desaparecer? A última pessoa, se eu não estiver enganado, que desapareceu: Foi a ex-namorada do meu pai. Esta que traiu ele, e sempre quando o velho estava agredindo a minha mãe, tratava ela como se fosse a sua velha namorada, chamando a minha progenitora pelo nome da sua ex.

Quando perguntava o que o meu pai achava dos desaparecimentos misteriosos, ele sorria e constantemente dizia que eram coisas bobas, que ninguém iria sentir falta deles. Eu apenas concordava, com sorriso no rosto e olhando para o meu velho pai, com a mesma aparência abatida olhando para mim. Como eu disse, faz pouco tempo que o meu pai havia morrido, e todo esse tempo, eu nunca entrei no sótão para saber o que ele fazia lá. Cheguei até a minha velha casa e fui em direção ao sótão, o qual estava trancado. Peguei as chaves e entrei, deparei com um lugar bizarro: estava cheio de corpos de animais, cachorros, viados e até filhotes de vacas... Eu reconheci todos os esqueletos. Tinha um velho computador daqueles antigos no local. Achava que o cheiro de podridão seriam de corpos de vítimas do meu possível pai serial killer, mas não.

O computador não tinha segredo para abrir, encontrei vários arquivos os quais envolviam necrofilia e zoofilia. O meu pai gravava vídeos nos quais compartilhavam na internet, violando aqueles corpos, que levava para o sótão. Esse era o segredo do velhote, é um pouco frustrante... Eu acharia que conseguiria me identificar com meu pai de alguma forma, porém, aquela figura cheia de ministérios não passava de um tarado com gostos bizarros.

Não pretendia ficar na minha casa por muito tempo quando cheguei aqui, a minha intenção era matar a curiosidade e a nostalgia do lugar, apesar da minha infância perturbadora. Decidi voltar onde dormia: No porão... Bateu uma melancolia forte quando cheguei lá, a minha cama estava no mesmo local, o travesseiro e o urso de pelúcia, o guarda-roupa e as revistas de mulheres nuas, entre outras coisas de um adolescente com minha idade na época. Quando pisei no chão, senti aquela terra fofa e observei em cada lugar no qual eu enterrei as pessoas que matei: O meu melhor amigo, no canto à direita. A minha professora, próxima da minha cama. Minha vizinha, a garotinha da casa um pouco mais distante, enterrada embaixo do tapete o qual eu fazia os deveres da escola. Eu dormia todos os dias olhando para aquelas covas rasas, sentindo-me especial e poderoso.

Pensando melhor, acho que ficarei em minha velha casa, e também, acredito que vários outros corpos deixaram o meu quarto mais aconchegante como já foi em minha infância...

Autor: Sinistro

01/08/2020

Papai sempre começa a rezar quando está irritado

" Está na hora de dormir, pois já faz muito tempo que eu não apareço, e você disse que se recebesse atenção dele, iria cochilar mais cedo." - a voz ficou acolhedora, tentando falar com Arthur enquanto ele brincava com o urso de pelúcia em suas mãos. O objeto caindo aos pedaços, apenas restos de panos e um botão de camisa substituindo a órbita ocular esquerda. Todavia, aquela figura infantil causava o conforto e o sentimento especial por ter sido presenteado pelo seu pai.

" Sabe, eu não consigo... Principalmente quando a mamãe fica gritando o dia todo. Eu já havia me acostumado com os barulhos da mulher estranha do outro lado da parede, mas, no outro mês, fiquei sabendo que ela é a minha verdadeira mãe e que é uma pessoa muito especial. Isso lembrou as poucas vezes que o papai deixou a televisão aqui, e eu vi alguém falando sobre pessoas especiais." - conseguiu ouvir uma respiração impaciente, que foi logo se acalmando novamente e aparecia, nos olhos de Arthur, a mesma coisa que o seu pai fazia quando ficava irritado com alguma coisa.

" Acho que nós já falamos sobre a sua mãe e sua situação atual.... Por que ele nunca tirou você de dentro desse quarto, não recorda, além da televisão, o Sol e as pessoas livres e alegres? A luz é a única coisa que você enxerga, é tudo aquilo que as lâmpadas iluminam. O seu pai não é uma boa pessoa, e sua mãe não quer ficar e nunca desejou, desde criança, permanecer trancafiada e vítima de abusos em seu quarto. Está na hora de dormir. Sei que gosta muito quando ele aparece, não apenas para lhe dar comida e desaparecer, mas ficar contigo. Mesmo muito irritado, você fica contente quando ele começa a rezar, certo?" - Arthur começou a abraçar o urso de pelúcia e as suas pernas estavam doendo, pois as cordas não foram tiradas delas.

- Não sei não... ele parece triste. Nas outras vezes que chegava aqui e durava mais tempo chorando na cadeira e pedindo desculpas, era apenas de angústia, agora é infelicidade, com rancor. Não entendo por que ele fica com raiva quando eu o chamo de "pai". Mais de uma vez, já falou que eu era o seu filho. Foi um erro a mamãe e tudo que fez nos últimos anos... Fico triste quando ele está com cheiro forte e falando de forma estranha, sempre repetindo as mesmas declarações, quando fica cambaleando e se senta na cadeira e diz: "Eu irei pagar no abismo por tudo que fiz". Eu gosto do papai. Só fico tristonho quando ele se aborrece na ocasião em que eu o chamo de "papai". Nós temos os mesmos cabelos vermelhos." - o garoto ficou pensativo, olhando para a parede limpa e lembrando-se de coisas do passado, tudo aquilo que se resume à sua vida preso em um local com quatro paredes e uma porta.

Arthur fez amizade de forma rápida com um homem que apareceu no seu quarto, este não era como as pessoas na televisão, muito menos como seu pai ou a sua mãe, a linda e bela mulher presa em correntes e que se comporta de maneiras esquisitas para sua própria realidade. O homem sempre tentou ser legal com o garoto, disse que veio depois de anos de sofrimento e que o papai precisava padecer, em vida, antes de ir para o "Inferno", segundo suas próprias palavras, pelo crime asqueroso que fez, contrariando os versos que gosta de ler em certas noites sobre ser uma boa pessoa, e se tornando um monstro.

"Eu estou ficando com sono. Você promete que vai fazer o papai ficar mais tempo aqui comigo, rezando e cuidando de mim, enquanto eu durmo? Fico triste quando ele queima o seu corpo com água quente, machuca os seus olhos com coisas estranhas e continua falando aquelas coisas, torturando você. No entanto, pelo menos papai vai ficar aqui cuidando de mim enquanto eu estou repousando." - o garoto começou a deitar a cabeça em uma almofada velha. O colchão estava tão duro, que o seu corpo atrofiado conseguia encontrar conforto depois de anos deitado no mesmo lugar, e o homem diferente ficou feliz, muito empolgado quando ele chegou no local.

Bastou apenas o garoto dormir para os tremores começarem. Todos os móveis do local estavam caindo e as luzes explodindo uma atrás da outra, a cama ficou se movimentando como se fosse um cavalo galopando. Os gritos desafiadores do homem, o estranho que agora estava presente, começaram a se espalhar por toda a residência, cada vez mais altos e distantes. Então, nessas circunstâncias, ele apareceu.... As hesitações, tão covardes quanto aquilo que segurava nas mãos, a sua longa roupa preta e os seus cabelos brancos se resumiam na experiência de desonra. Os seus olhos observando o corpo do garoto dormindo, representavam a perversidade do que fez com a outra criança, que agora é uma mulher e gerou fruto de atos doentios contra quem nunca quis ter desejos carnais, ainda mais com problemas cognitivos.

"Eu vim aqui para tirar você desse lugar e deixar a criança em paz, sua criatura maléfica. Irei lutar pelo nome de Deus, para que você nos deixe livres do seu tormento maligno!" - o homem apontou sua arma de prata, escolheu cada versículo de escritas rabiscadas, tentou segurar aquele líquido inflamável para o corpo do homem, que olhava com seus deboches desafiadores e cortando uma gargalhada na sua boca.

"Olá, Padre Gibson! Quando você tenta falar sobre "criaturas malignas", parece uma piada para o monstro que você é de verdade, se escondendo atrás de batinas. O que vai dizer? "Que eu sou contra Deus", "um pecador", "uma coisa asquerosa para as pregações do Salvador!?". Veja você mesmo.... e diga-me, como vai conseguir me arrebatar, se o senhor é tão repugnante quanto a minha figura é para tudo que é divino!?" - o homem levantou, tirando o conforto do corpo do garoto, que está dormindo e jogando o urso de pelúcia. E, no mesmo momento, o seu corpo, se contorcendo, quebrando todos os ossos e gargalhando ao pronunciar blasfêmias.

"O Espírito de Deus flutuava sobre as águas e soprou sobre a cabeça dos homens, seja Michael meu guia e, sob meu servo, na luz e pela luz." - as mãos trêmulas do padre tentavam abrir o potinho com água benta, e a cruz cada vez ficava mais pesada nos seus membros, o medo estava dançando em seu rosto em cada movimento dos músculos faciais. Nessa ocasião, ele clamou todo ódio para o demônio. Mas, a sensação era a mesma: sabia todo julgamento e o que ele iria passar, como se todo fogo e eternidade do pecado humano estivesse lhe aguardando no segundo passo que desce.

"Na Terra, é apenas o começo que você vai encontrar após a morte. É melhor se esforçar, bem mais do que isso, se possuir fé... pelo menos uma vez na vida, sem ser esse político imundo, que apenas tenta enganar os outros! O seu pecado está atrás das paredes desse lugar, e o fruto dele permanece inocentemente, dormindo aqui. Entre nós dois, eu sou mais digno de vencer essa batalha. Então, se esforce o máximo que puder, porque o que vai acontecer lá em baixo, será tão impiedoso, mas exatamente o que você merece, Padre Gibson!"

"Seja o verbo meu alento e comentarei a estes espíritos do ar a barrar as forças somente com a vontade do meu coração e os pensamentos de minha mente, portanto te conjuro, criatura do ar, pelo Pentagrammaton e em nome do tetragrammaton, nos quais está a vontade firme e a fé reta. Amém...". -ele continuava rezando e rasgando a Bíblia em cada palavra e as suas mãos pulavam para a segunda página

- Deboche em todo momento. "Gibson, é tudo isso que você faz? Apenas fala, profere e expressa. Você precisa acreditar!" - sacrilégio se espalhando por uma eternidade em um lugar, tão apodrecidas quanto o tempo.

A criança está tão feliz por conta do período que o seu pai está presente no buraco em que adormece, apenas ouvindo os seus julgamentos, mesmo que esteja irritado, mas, pelo menos, está rezando. A sua mãe batendo a cabeça na parede em todo momento e gritando, berrando e rugindo sem parar...

Autor: Sinistro

31/07/2020

Há uma razão para todo mundo ter medo daquele homem que dirige um carro vivo

Papai não percebeu quando o homem surgiu de onde não tinha nada, no meio do estacionamento, com um capuz cobrindo o seu rosto e as mãos guardadas no casaco. Os seus passos eram tão delicados, que não dava para ouvir nada, mas, bem antes de ele nos observar, eu tinha o enxergado nos encontrando. Papai estava guardando as coisas - sacolas do supermercado - dentro do nosso carro e não sentiu o perigo. O malfeitor anunciou o assalto, latindo como um cachorro violento, e o rosto do meu pai se deformou em proporções confusas. Desorientado demais para uma situação dessa, não soube o que fazer, nunca o vi tão assustado.

Os dois adultos estavam tremendo. Certamente, era a primeira vez do assaltante ou ele estava muito nervoso dessa vez, porque quase não conseguia pronunciar as mesmas palavras. Na terceira vez, um pouco mais irritado e finalmente mostrando a arma.

E, finalmente, o meu pai dirigiu as mãos à calça, procurando nos bolsos onde estava a carteira, enquanto a sua mente parecia gritar e o seu corpo não respondia da forma que almejava, com a intenção de pegar o objeto quadrado, os cartões de créditos e algumas notas. Eu o abracei nos segundos em que o homem se aproximou, e o meu pai tropeçou um pouco para trás. Na sua cintura estava o volume do cinto para fora, e foi suficiente para o assaltante disparar o primeiro tiro, que quebrou os vidros do carro. O segundo penetrou no peito do papai e o terceiro, desajeitado, escapando enquanto ele estava em cima do seu corpo, arrancando o que almejava, acertou a minha cabeça.

Eu fiquei quase dez dias em coma, os médicos disseram que eu estive morto, mas voltei à vida graças ao sacrifício do meu pai, esse sacrifício que só entendi um pouco depois quando soube que minha mãe ficou viúva. Aquelas marcas negras nos seus olhos, além das noites mal dormidas, foi extravasando as madrugadas em lágrimas noturnas. Foi aí que ela conseguiu auxílio de alguns conhecidos e precisou se mudar para uma outra cidade, um lugar mais pequeno, afastado e calmo, longe das aglomerações. Nós chegamos em uma noite, e foi aí que tudo realmente começou... Em suspiros felizes como se nós fôssemos começar do zero.

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O carro de mudança foi suficiente para trazer nossas poucas coisas. A nova casa era bem menor do que a outra, e a vizinhança parecia morta, nenhum sinal de vida. Aproveitei o momento em que os funcionários estavam removendo as coisas e colocando na nova residência, para esticar um pouco as minhas pernas. Estava um pouco distante e observei onde nós estávamos, local bem caricato, de interior. Entediado e com sono por causa da hora tarde da noite, tentei voltar novamente, respirando esse ar bem menos poluído do que estava habituado, e dois garotos apareceram... saindo de trás de algumas tábuas que estavam separando os quintais: o primeiro era um pouco rechonchudo, com olhos azuis brilhando na noite, as maçãs do rosto rosas, e ele me encarou. O outro era baixo, cabelos espalhados, como se estivesse acabado de levar um choque; o seu sorriso foi sumindo para algo curioso. Então ele se dirigiu a mim.

"Ei, garoto, você é o novo vizinho do nosso bairro? Certamente que sim! Pois nunca te vi por aqui. A nossa cidade é pequena, e todos sabemos que uma nova família irá chegar nessa região. Você está bem?" - ele tentou parecer educado, escondendo uma peteca atrás do seu short esfarrapado, ajeitou os seus cabelos deixando ainda mais engraçado e saiu do beco escuro onde as tábuas estavam impedindo a iluminação dos poucos postes de luz na rua sem asfalto.

Fiquei tão confuso, não soube se era o sono ou aquela surpresa de encontrar outros até tão tarde da noite. Provavelmente aprontando, porque eles estavam tão surpresos quanto eu por encontrar outros também nessa madrugada, com o vento uivando sem parar. Acabamos nos cruzando de uma forma estranha, quase que chegando em uma situação importuna para as duas partes. A falta de comunicação por gestos ou assunto diante disso, foi ficando constrangedor ao ponto de ser esmagador.

"Não percebeu? É um garoto da cidade. Ele deve se achar bom demais para falar conosco! Não notou o bom tecido em suas vestes, a maneira que nos observa dos pés à cabeça? Não vamos perder o tempo com esse tipo de sujeitinho almofadinha que não sabe nem dar uma boa noite para uma cortesia!" - o garoto mais forte saiu da escuridão também. Os seus olhos pareceram abominações, como demônios, pois o azul estava faiscando com tanta intensidade que me fez ficar com medo, ao ponto de bilhar de uma forma indescritível. As minhas palavras se dobraram ainda mais na minha garganta e eu senti uma dor nesse momento. Isso nunca aconteceu em toda minha vida, talvez tenha sido ainda pior do que aquela lembrança, porque tudo se misturou em um vazio cortando por dentro.

-Nesse momento, se afastaram, dobrando suas costas e tentando parecer ainda mais despercebidos, se escondendo em todos os aglomerados de vegetações e divisões de casas. Certamente não queriam ser vistos e ignoraram a minha presença. Finalmente eu consegui, o ar ficou preso e dilacerando lentamente, porém consegui cortar como um escudo a minha situação naquele momento. "Boa noite! Seja lá o que vocês estavam fazendo, não precisam se preocupar, porque eu não vou contar. Acabei saindo de uma situação um pouco ruim e ainda estou tentando lidar com isso. Me sinto péssimo e constrangido. Amanhã eu vou precisar ir para o colégio e só queria saber como as coisas aqui funcionam."

"Ele disse que iria para o colégio". - o cara com cabelo bizarro mencionou. "Isso não é problema nosso!" - o birrento resmungou. "Ele me parece um cara legal e não podemos deixar sozinho nesse lugar, ainda mais quando se trata do dia de amanhã, é sua primeira vez..." - o grandalhão me bisbilhotou por cima dos ombros. Aqueles olhos assustadores índigos mastigaram mais uma vez a minha mente. Ajeitou a sua roupa, como o outro, e pediu desculpas.

"Não precisa levar nada para o pessoal, novato, nós estávamos jogando pedras nas vidraças de algumas casas, e isso não é uma coisa que você precisa saber. Bem, é novo e disse que iria para o colégio na manhã. Nós estudamos no mesmo lugar, até porque não existe mais nenhum outro. Temos ótimos professores, poucos alunos, mas todos bons. Creio que você conheceu os piores meninos daquele, e nós não somos o tipo que são habituados a fazer bullying ou agredir os outros. Enfim, olhando para esquerda, vai encontrar a rodovia, e lá, logo entregará o ponto de ônibus. Se atrasar vai perder a locomoção! Esse caminho até o colégio talvez chegue na metade do horário, se ficar perdido nessa região por ser alguém de fora, mas não precisa se preocupar se acordar cedo, porque..." - eles ficaram amedrontados, realmente não foi difícil de enxergar o pavor nos seus semblantes. Voltaram para a parte mais umbrosa do lugar, onde as tábuas estavam protegendo da luz, e um deles me puxou, quase me jogando no chão, e disse que o "velho lunático" está chegando.

Um Chevrolet bem antigo começou a fazer barulho, vindo de longe, com uma fumaça serpenteando e atirando como se fosse um revólver pelo cano de escape. O cheiro da morte, de dezenas de corpos em decomposição, cobriu todo lugar. Os garotos se esconderam. Então nós observamos um homem passando... sua aparência não era tão velha quanto o meu falecido pai, mas, os seus traços faciai eram realmente assustadores: o seu rosto era fino e ele parecia conversar consigo mesmo, olhos vidrados em todas as direções, cabelos pintados, para trás, como se fossem duros como concreto, e a sua pele, de alguma forma surreal, era cadavérica demais, como se ele estivesse se assustado com uma assombração.

"Disseram que a sua filha morreu em um acidente, e ele acabou ficando desequilibrado. Por qual razão vocês acham que fica conversando sozinho!? As crianças que morreram nos últimos anos, os seus ossos serviram de acessórios para o seu veículo do inferno, e todos dizem que estão vivos, pois ele traz sons de outro mundo, assombrações em desespero". - os garotos assobiaram em silêncio as mesmas palavras, enquanto aquele sujeito pavoroso passava mirando em todas as direções, algo parecido com uma alma tentando encontrar algo.

"É sempre a mesma emanação de decomposição quando passa com o seu transporte. Talvez tenha feito mais uma vítima ou são os corpos das outras em estado de decomposição nas ferragens. Existe uma boa razão para todo mundo ter medo daquele homem assustador que dirige um carro vivo nas noites obscuras.". - não paravam de cochichar escondidos e com o pescoço levantado para enxergar ao máximo possível. Eu praticamente estava sendo amordaçado por eles enquanto ficavam cochichando coisas semelhantes à lendas urbanas locais.

"Eu fui criado para saber respeitar os doentes mentais e velhos solitários! Tudo isso que vocês estão dizendo não existe! É apenas um pobre coitado sobrevivendo nesse lugar. Realmente podem julgar alguém vindo de fora? Para que tanto preconceito!? Na minha ex-vizinhança, existe um sujeito que come lixos e restos de animais, às vezes carrega os seus corpos, espalhando o aroma de defuntos!" - eu me afastei dos outros garotos, indo direto para pista, e "dei boa noite" para o carro que, imediatamente, freou. Quem estava dirigindo fixou o olhar pelo vidro e me notou parado à alguns metros de distância. Demorou alguns segundos para abrir a porta e saltou como se estivesse fugindo de um saco, caminhando como um animal de quatro patas e me agarrando de surpresa. Foi tão rápido que parecia que ele havia controlado o tempo.

"Você consegue enxergar? Eu vejo isso! Você é mau, traz coisas ruins para a vida de quem ama. É um fantasma ou não!? O que está fazendo aqui? Preciso fazer parte da próxima morte!" - o pedaço de madeira se tornou em migalhas por uma força tão bruta que o seu corpo rodopiou algumas vezes pelo impacto de súbito. O garoto gordo me levantou, puxando e arrastando, como se fosse o predador querendo se alimentar de sua vítima, e ele foi me empurrando para longe, enquanto aquele cara se levantava, apontou na nossa direção, voltou para o carro e dirigiu como se nada tivesse acontecido.

"O que deu em você, seu bunda mole!? Ele iria lhe matar e colocar o seu corpo para servir de transporte naquele carro vivo e respirando. Não vai ter tanta sorte como dessa vez... Sabe por que todos têm medo daquele açougueiro de crianças!? Sabe o que eles dizem? Em um certo acidente envolvendo uma van escolar, que acabou sendo vítima de uma ponte de madeira, afogando todos os garotos, a sua filha foi uma delas, e todos os dias, quando faz dez anos da morte, o lunático mata mais um. Todos dizem que existe uma razão bem lógica para todos ficarem longe até hoje. Você queria fazer parte disso!? Na próxima vez, não vai ser tão sortudo, porque nós dois não iremos te ajudar!" - ele estava cuspindo no meu rosto quando minha mãe apareceu e encontrou nós três assustados. Eu disse que estava tudo bem e nós estávamos brincando, porque havia feito novos amigos. Estava tão acabada quanto um zumbi, para simplesmente pegar no meu braço e me guiar, enquanto eu estava observando por cima do meu ombro aqueles garotos desaparecendo como fumaça, naquelas ruas sombrias e cobertas por vegetações.

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Fiquei por muito tempo ouvindo o sermão da minha mãe desgastada e aborrecida demais para dizer coisas concretas. Nós nem jantamos. Não me preocupei com isso. Talvez não tenha reparado que eu estava com fome e me deitei em um amontoado de panos para tentar dormir. Os meus olhos não fecharam nessas horas da madrugada, que nunca fiquei acordado até tão tarde para ouvir pancadas na janela. Vi sombra medonha do outro lado das cortinas. Esse foi o momento que qualquer garoto da minha idade gritaria por sua mãe, mas, nesse caso, não. Não queria ver aquele fantasma respirando mais uma vez esse dia, nesse caso me aproximei, liguei a lâmpada para observar aquele garoto magro... Embaixo dos seus olhos, era escuro, tão quanto o daquela mulher choramingando do outro lado da parede, e ele me disse algo que eu precisava saber.

"Estou até tão tarde aqui em razão de não conseguir dormir, eu tenho que ficar ouvindo os meus pais brigando nos outros momentos em que estão dentro de casa... Com isso, passo as noites acordado, ainda assim quero te alertar sobre aqueles boatos. Eu também não tenho medo dele, mas me assusto com as lendas. Sei que não vai fazer mal para ninguém; mesmo assim, é bom ter cuidado, pois certo tipo de superstições podem ser verdades de formas diferentes, que são interpretadas. Disseram que ele esteve morto quando se afogou para tentar salvar as crianças. Apesar dos seus esforços, a correnteza, força da natureza, foi ainda mais esmagadora quando a van foi tragada pela ponte de madeira, tornando-se mais forte. Conseguiu vida ao vomitar a água e, após esse dia, observando os corpos boiando dos estudantes e do motorista, ficou louco e agressivo. Espero que não fique tão assustado e fique um pouco mais calmo. Agora, eu preciso sair, porque está quase amanhecendo, e amanhã é dia de aula. Os meus pais já estão muito frustados com as minhas notas baixas para faltar, e vamos nos encontrar no colégio." - ele deslizou a escada das plantas, os seus dedos foram cortados pelos espinhos, mas não era suficiente para se preocupar com pequenas fissuras, e saiu correndo no meio daquele frio, com o vento absorvendo qualquer som, em todas as partes, em uma melodia avassaladora.

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Por um alguma razão, não acordei cedo o suficiente. Sacudi as minhas pernas e braços e fui direto para cozinha. Nessa manhã nublada, apenas precisei prestar atenção para um bilhete dizendo que o café estava pronto e que minha mãe não tem hora para chegar em casa, rabiscos bem diferentes da sua forma de escrever. Havia algo de errado ou esse dia começou tão bosta quanto os outros. Coloquei apenas a roupa do colégio desse lugar e fui caminhando para onde os garotos disseram que estavam a localidade, onde o micro-ônibus passa. Não fazia a mínima ideia se eu havia atrasado demais ou suficiente para aparecer pelo menos na terceira aula. A chuva começou de repente, quando eu pisei naquele lugar, e havia outros garotos tão perdidos quanto eu no horário. A presença deles foi o suficiente para eu ficar um pouco mais calmo.

Nunca senti o meu corpo tão pesado, enquanto eu aguardava nesse lugar. Os outros estavam tão silenciosos quanto eu, mas não demorou muito para observarmos aquele transporte se aproximando. Fiquei animado, e todos também. A chuva ficou tão forte quanto pedras caindo do céu, talvez eu já estivesse preocupado com outras coisas para ignorar esse clima violento. A escapatória estava chegando naquele coletivo... E as coisas boas sumiram logo quando mais um outro veículo se aproximou. No momento em que parou, nenhum de nós percebemos, tratava-se daquele cara que os garotos disseram que era um lunático. No breu da noite, imaginei criar fantasias na minha mente, que ele era uma figura fantasmagórica, com fisionomia bizarra e falando sozinho, sendo enganado pelas superstições locais. Para o meu devaneio pavoroso, durante o dia, foi como se todo pesadelo em uma noite mal dormida se tornasse real para tudo aquilo diante dos meus olhos.

Se dirigiu a mim somente, na minha direção, me mandando entrar, ao mesmo tempo que ajeitava o retrovisor para o ônibus se aproximando. Tentei ignorar ao máximo os seus berros, mas logo substituiu o tom autoritário para vocabulários maléficos, mencionando que estava com minha mãe sequestrada e, se eu não o obedecesse, iria matá-la. Nesse momento, sentindo um fantasma negro controlando o meu corpo, como uma marionete, direto para as ferragens do veículo, não pude fazer mais nada. Não existia mais ninguém para pedir ajuda, os outros garotos estavam tão arrepiados quanto eu. Finalmente, examinei os seus rostos frios, assustados, vazios, em tons mortos, para situação que nós estávamos, e não existia mais nenhuma opção além de entrar no seu carro e a porta se fechar logo em seguida.

Ele estava observando o retrovisor, enquanto os outros garotos entraram no coletivo, como se nada estivesse acontecido. O repugnante sabia muito bem que estava no controle e mais ninguém o desafiaria. Abaixou o vidro para um sorriso sujo, e os seus olhos me contemplaram. Nunca experimentei o gosto da morte como nesses segundos, dessa forma tão agonizante. Talvez tenha sido pior do que tudo que eu passei até o momento. Dezenas de possibilidades ficaram voando na minha mente, mas logo ele percebeu de uma forma como se tivesse sabendo que eu estava tramando uma forma de escapar.

"Sei que você está querendo escapar, contudo, não vai acontecer, não mesmo! Esse dia me trancaram, espancaram e esconderam naquele porão para que, embaixo dessa chuva do passado, exatamente na mesma manhã que minha filha morreu, não exista mais nenhuma morte e possam quebrar o círculo dos dez anos, mas não vai funcionar! Porque eu estou aqui, e você é tudo que eu preciso. Acharam mesmo que conseguiriam impedir mais uma criança de ser morta? Estão enganados! Você, garoto de fora, vai mudar isso! - os seus lábios inundaram qualquer tipo de esperança ou possibilidade de lutar, não existia nada além de nós dois, e o seu carro respirando, movimentando, peças oxidaladas comunicando uma com as outras. Eu desejei, pelo menos, que minha mãe estivesse bem, antes da morte imediata nas mãos daquele asqueroso.

As minhas têmporas se encolheram tanto, que minhas pestanas doeram e o freio, cortando do ferro desgastado pelo tempo, anunciou a imagem da minha casa. Eu estava na parte mais fria do dia, e a chuva finalmente escapou do outro lado. O cara estava olhando para frente e me aguardando sair, e não existia mais forças no meu corpo. Aconteceu um curto-circuito, e eu estava tão frágil quanto uma criança recém-nascida. Ele me olhou diferente e pareceu outra pessoa do outro lado. Seja lá o que fez com aquele outro sujeito, pavoroso, uma figura amedrontadora dos contos de terror da região, desapareceu para um cara com mais de trinta anos, frio e animado.

Garoto, você está seguro. Precisa sair agora e entrar na sua casa, porque me obedeceu. A sua mãe está a salva. Sei que você vê-los também. Eu os vejo desde aquele dia que sobrevivi e escapei da morte, mas não fugi dela. Consegue observar os mortos...? Todo mundo, que esteve por alguns segundos no outro lado, volta trazendo um pouco deles. Nós dois somos iguais! Aquele ônibus é o fantasma do passado, e os garotos são as vítimas! Sempre, depois de dez anos, tudo se repete. Você seria a terceira vítima, e todos me julgariam como culpado, porém quebrei o ciclo. Finalmente acabou! Não para mim, porque os fantasmas não são lendas, diferente da minha descrição apavorante em boatos." - minha mãe me recebeu logo em seguida que eu saí da lata-velha, e o tempo parou para observar que ele estava distante. A mamãe, muito desesperada, disse que havia quebrado a ponte mais uma vez por causa da inundação da tempestade, e orou pra eu estar bem.

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Em menos de dez dias, aquele cara havia sido vítima do destino e morrido dois anos depois, solitário. E nunca mais eu o vi. Mesmo assim, a tempestade voltou, a inudação feroz por sangue, mas eu não vou deixar mais nenhuma criança seguir o ciclo das mortes. Não quero ver mais desgraça na minha vida e de mais ninguém. Irei continuar ajudando os garotos, mesmo que todos me vejam como um louco por ter recebido carona do sujeito pavoroso que morreu há um tempo. Sabemos que as pessoas precisam de um monstro para odiar...

Autor: Sinistro

30/07/2020

Na sacada do prédio

Escolhi o prédio mais alto da cidade, onde teria certeza que, depois que eu subisse na parte cortando os céus, ninguém me impediria. Um homem bem vestido em locais de negócio, seria apenas mais um funcionário passando despercebido. Ninguém se preocupou quando eu entrei pela porta da frente, procurei o elevador e subi com os outros. Nem sequer olharam dentro dos meus olhos e perceberam o quanto eu estava desconsertado. Saí logo em seguida, entrei no escritório acima dos outros, coloquei, na porta, em minhas costas, uma cadeira, impossibilitando que alguém entrasse facilmente, e abri a janela.

Foi quando me aproximei da sacada e o vento tentou me empurrar para dentro, tão forte quanto uma tempestade, mas eu estava vazio por muito tempo. Examinei as movimentações embaixo, e todos pareciam formigas, estava sendo tudo mais fácil do que imaginei. Coloquei o primero pé, o outro foi arrastado logo em seguida. O Sol não estava quente o quanto me preocupei, coisas ficaram borbulhando na minha mente. Então, ouvi uma voz dentro da sala.

"Não se movimente mais. Eu sei que você é uma boa pessoa e não precisa fazer isso. Por favor, me ouça!" - tentei olhar e não tinha ninguém próximo, mas a voz estava ali e me deixou um pouco aflito. Não queria que tudo acabasse como um louco, pois sei muito bem o que estava fazendo.

"Eu não preciso? Por que não!? Quem é você, e pare de se esconder." - coloquei o segundo pé para dentro do escritório quando o vento ficou um pouco mais forte e uma aglomeração de formigas estava apontando para cima, e pude prestar atenção em um turbilhão de vozes se espalhando lá embaixo.

Tinha certeza de que não havia ninguém no momento em que tranquei a porta, porém apareceu um homem bem vestido. Certamente, responsável por esse prédio, um sujeito com os olhos frios, expressando calma e paciência. Não era a primeira vez que estava lidando com situações ao extremo, sua preocupação diante da situação era bem clara. Levantou suas mãos e parecia controlar os meus nervos da forma que tentava amenizar o que eu estava passando. Em contrapartida, aquele timbre ficava estremecendo e comunicando-se como se fosse um megafone baixo.

"Não consigo ver pessoas tristes fazendo besteira" - disse ele, com tanta aflição e desgosto no seu rosto, que me deixou um pouco comovido. Coloquei o outro pé para dentro, mas, quando ele percebeu que eu estava distante, novamente voltei para sacada, e ele parou de caminhar em minha direção. A forma lenta e calculista interrompeu a maneira que estava rastejando o seu corpo em minha direção.

Quando voltei para janela, já não estava mais soprando, e carros de polícia estavam na calçada. A porta começou a sacudir distante de nós dois, e ele recorreu a apelar falando sobre os meus filhos, a minha esposa, fixando na aliança no meu dedo e dizendo que as pessoas precisavam de mim, apesar dos momentos ruins. Eu tinha tudo que qualquer um sonha na vida: um bom emprego, crianças saudáveis e exemplares, esposa dedicada e que me amava. Observando suas palavras, me senti péssimo, como se eu nunca estivesse valorizado tudo que eu tive na vida, que foi suficiente, apenas reclamando. Sei que nem sempre conselhos conseguem preencher o vazio que alguém tem dentro da alma. Há algo absorvendo tudo de bom e, dessa vez, o homem estava no meio, bem mais próximo do que antes, da sua forma invasiva de rastejar, com as órbitas oculares quase lacrimejando em desespero, dizendo que já viu todo tipo de coisa ruim e não poderia deixar uma pessoa boa fazendo uma desgraça dessa. A maneira que dizia, parecia me conhecer talvez melhor do que eu mesmo.

Apesar dos esforços desse cara, eu estava pronto. Foi muito bom criar esperanças, ouvi palavras de alguém que se importou com os meus sentimentos e tentou saber o que eu estava passando e o que me atormenta no momento. Quando percebeu que quase o meu corpo todo estava para fora do escritório, expôs que provaria, vozes gritando em sua garganta aparentemente no último esforço restante: me pediu para fechar os olhos por um segundo, disse que era a única coisa que desejava de mim. Sentindo compaixão por seu desespero frustrante, eu o fiz.

Seja lá o que esse homem já passou, suas palavras eram como se fosse o melhor psiquiatra do mundo e tentou dizer o quanto a minha família se perderia depois que eu fizesse isso. A minha mulher não iria superar, os meus parentes não suportariam, e eu perderia tudo que construí. As pessoas lá embaixo, aumentando; crianças abaladas e sem entender, adultos chegando das suas ocupações... Seria um trauma ver um corpo destruído na calçada. Pode criar, no escuro da mente, coisas pavorosas que minha escolha errada causaria na vida dos outros, um terror chocante e verdadeiro.

A cadeira, eu já não estava mais suportando as investidas do outro lado e, antes que a porta fosse arrebentada por outras pessoas preocupadas comigo, aquele homem me salvou. Eu pude enxergar com mais atenção na minha mente todos os dias que minha companheira me recebeu com um sorriso e dizendo que me ama, os meus filhos, Naomi e Akemi, me chamando de paizão e falando o quanto sou importante. Até os meus parentes sempre me recebendo bem, apesar dos meus problemas emocionais.

Não faz sentido destruir a vida deles, e ele, batendo palma e dizendo o quanto eu fui bem, continuava atrás de mim, percebendo o quanto eu estava me afastando da janela. Por que isso se nem tenho inimigos? Não tinha nada para reclamar, sabia que poderia conseguir um tratamento. Finalmente estava fora da janela e a única coisa que eu poderia fazer, era agradecer porque o terror, onde não existe, foi criado apenas por minha mente burra. Nunca me senti tão bem comigo mesmo.

Virei minhas costas, respirando fundo e confiante. A primeira vez na vida que realmente estava feliz e aliviado para agradecer o esforço que alguém fez e tentou me ver bem, lutando ferozmente cada segundo. Um homem que em menos de segundos estava próximo do meu rosto, quase que beijando na minha boca. Agora animado, enxergando em minha direção e empurrando-me com sua mão... Segundos antes que eu ficasse distante suficiente, assobiou essas palavras, o meu rosto vendo a sacada ficando mais distante e os barulhos embaixo gritando em sincronia mais próximos.

"Não tem graça quando vocês estão tristes!"

Autor: Sinistro

29/07/2020

Sou um filho iniciante

.. e eu fiquei ali parado, me encarando, a angústia me predominando, o sangue pingando e escorrendo pelo meus dedos, sujando o chão e a minha mente.

Dez minutos, eu tinha exatos dez minutos a partir de agora.

Lavei minhas mãos, que antes estavam sujas com aquele vermelho chamativo, lavei meu rosto e me peguei parado, me encarando no espelho. Era a minha primeira vez fazendo aquilo, e o que mais me assustava era esse sorriso, esse sorriso que eu não conseguia segurar. Estava ansioso por isso há anos, eu disse a mim mesmo, deve ser comum estar sorrindo, não?

Olho para o relógio que agora dizia que eu possuía apenas dois munutos. Me apresso e caminho até o meu computador e quando meu relógio apita sei que a hora chegou. 3:09AM, o único horário que nas terças-feiras o link aparecia. Cliquei nesse link, ainda receoso, e ele me levou para uma página, cujo em seu canto inferior direito havia, em letras pretas e pequenas, a seguinte frase:

" - Anuncie aqui o que você possuí, é isso o que eles procuram."

Cliquei na frase, que abriu uma janela pedindo informações sobre dimensões e pesos dos "produtos". Três segundos agora, passou três segundos e cinco diferentes pessoas me enviaram mensagens, querendo comprar meus produtos, que agora já estão vendidos e que inviarei amanhã.

Suspirei em alívio, minha missão havia sido concluída. Em comemoração abri um vinho antigo, que estava escondido na cozinha há quantos anos mesmo?bom, estava apenas esperando ser aberto no momento certo e esse momento finalmente chegou.

Eu espero que meus filhos acreditem na mentira. Espero que eles não me façam perguntas do tipo "papai, ela se foi mesmo?", ainda dói em mim saber que tenho uma péssima sorte com as mulheres, mas não tenho culpa. Não sinto culpa. Agora sei que meus filhos estarão mais felizes, pois a dor da fome e de braços roxos, não será mais um problema.

A fita para de tocar. Quando eu gravei isso mesmo? eu me pergunto. Se gravei, por que não joguei isso fora? De qualquer forma eu não posso mais me arrepender ou voltar no tempo para apagar essa fita.

Ela sorri, e guarda a fita.

- Bom, isso já é o suficiente? Eu sei, eu sei que você apenas estava querendo proteger os seus filhos, mas essa não era a única opção, você sabe disso.

A mulher agora em minha frente está fazendo um sinal para a pessoa atrás de mim.

- Não acho que você deva voltar, se fosse apenas aquela mulher, tudo bem, mas depois a quantia foi crescendo e crescendo.. e você, novamente não se arrepende nem um pouco, não é?

Eu apenas dei um sorriso, ela era uma mulher muito esperta.

- Certo, então mandarei você de volta para baixo. Próximo!

Agora eu estou suando.. Por que começou a ficar quente? Eu não tive tempo de falar qualquer coisa e o que parece ser um elevador começou a decer. Derepente lembro que já estive aqui. Aaah - eu suspiro - é bom estar de volta, papai.

Autora: Francielly Silveira

04/07/2020

Acontecimentos estranhos em uma escola localizada no fim do mundo

Quero primeiramente deixar claro que os fatos a seguir realmente ocorreram. Não, não estou falando isso para assustar ou para parecer clichê. Tudo ocorreu em uma escola que estudei e que meus irmãos também estudaram. Minha mãe era professora da escola, ela achou mais fácil colocar meus irmãos e eu para estudar no mesmo lugar onde trabalhava. O problema mesmo era quando ela tinha que ficar até tarde, corrigindo provas. Tínhamos que ficar rodando a escola até ela terminar. A dona e diretora do lugar não se importava. Não direi o nome do colégio, o máximo que precisam saber é que o mesmo está localizado em uma região bem afastada.

Não sei ao certo quando os eventos paranormais tiveram inicio, colocarei apenas os mais famosos e aqueles que me lembro. Deixando claro também que os casos não estão em ordem, o segundo pode ter acontecido antes do primeiro e assim vai. Estou apenas relatando os que vem em minha memoria.

O primeiro caso que vou contar, ocorreu na época de provas, quando os alunos iam apenas fazer as provas e quando terminavam, poderiam ir para casa. Alguns alunos voltavam rapidamente para o lar, outros moravam longe e esperavam os pais virem buscar. Então, quando terminavam, ficavam conversando entre si ou andando pelo colégio. Uma das alunas foi até o segundo andar para pegar algo que esqueceu. Em questão de poucos minutos, um grito estridente ecoou. Uma das professoras que estava no segundo andar, corrigindo provas na salas, foi rapidamente ver o que estava acontecendo na sala de onde veio o grito. Segundo ela diz, a aluna estava encolhida, chorava desesperadamente, falando sobre uma mulher no canto da sala, que a encarava sem parar. Mesmo conversando e tentando dizer a jovem aluna que tudo estava bem, a professora contou que não duvidava da garota, pelo fato de outros casos envolvendo aquela mulher já terem sido relatados. Dias depois, ficamos sabendo que a garota teve febre e que não queria mais voltar para a escola, os pais não sabem o que ela viu, mas afirmam que aquilo realmente a traumatizou.

O segundo caso é mais conhecido e, dessa vez meu irmão também presenciou. Ocorreu no meio do ano. Os alunos de uma das salas do segundo andar estavam bagunçando enquanto a professora tentava acalmá-los, até que em um momento a porta da sala bateu. Aquilo era estranho, não tinha janelas abertas e nenhuma corrente de ar poderia ter feito a porta bater. Um dos alunos foi tentar abri-la, mas ela simplesmente não abria. Outros alunos o seguiram e resolveram se abaixar para ver por debaixo da porta. O que eles viram foi algo bem estranho, meu irmão jura até hoje que é verdade. Eram dois pés, magros e pálidos, parados bem em frente. Os alunos se assustaram e a professora não acreditou no que os garotos falavam, até ela mesma se abaixar pra ver. Meu irmão diz que naquele momento, pela primeira vez, viu a professora da sala perder a cabeça:

“Ela gritava mais que os alunos, estava apavorada”. Disse ele

Por causa da confusão e da gritaria, os outros professores e alunos saíram da sala para ver o que estava acontecendo. Assim que começou a chegar pessoas, meu irmão diz que a porta finalmente abriu misteriosamente e que até hoje ninguém sabe o que diabos foi aquilo:

“Parecia que a coisa do outro lado estava segurando a porta... Nos prendendo ali, foi bizarro”. Concluiu

O terceiro caso é algo que minha mãe me falou, segundo ela, coisas assim sempre ocorrem naquela andar e a tendencia foi só piorar com o passar do tempo. Ela conta que isso ocorreu quando ela teve que ficar sozinha no colégio corrigindo provas, aquilo já era normal para ela e contos de fantasmas não a assustavam mais:

“Eu já vi essa mulher várias vezes, nas outras salas, as vezes no corredor, eu apenas tentava ignorá-la... Quando se é mãe solteira e tem três filhos, um fantasma não parece grande coisa”. Me disse, dando uma pequena risada para logo voltar a ficar séria.

Foi isso que ocorreu novamente naquele dia, ela disse que precisava ir ao banheiro e, no caminho, viu o vulto daquela mulher passando do seu lado. Apenas ignorou como sempre fazia. Foi ao banheiro e voltou para sua sala, onde continuaria a corrigir suas provas. Ela conta que estava de olho na prova quando levantou a cabeça e...Lá estava. A mulher, estava lá, onde ficavam as últimas fileiras de carteiras escolares. A entidade parecia encará-la, mas mamãe não sabia dizer ao certo, pois os cabelos cobriam uma boa parte rosto daquela coisa:

“Pela primeira vez, senti um pouco de medo” Contou-me.

A mulher sumiu depois do que pareceu ser uma eternidade, ela concluiu sua história dizendo que isso só aconteceu daquela vez, mas as vezes, quando fica até tarde corrigindo provas, bate aquela sensação de que está sendo observada.

O quarto o caso é o que eu chamo de “gota d'água” pois foi o que fez a dona do colégio tomar uma atitude sobre os eventos. Ocorreu quando a irmã da dona da escola veio lhe fazer uma visita.. Em um certo momento ela decidiu ir ao banheiro. Tudo parecia bem, mas então, a vimos sair do banheiro tremendo e chorando. Perguntada sobre o que aconteceu, falou que quando estava de frente para o espelho, viu uma criatura pálida, bastante magra e com longos cabelos atrás dela. Vendo a gravidade da situação, a dona percebeu que teria que dar um jeito nisso. Em poucos dias, ela trouxe um padre para rezar em todas salas, banheiros e outros lugares do colégio. Não sei exatamente se as ocorrências diminuíram, pois meus irmãos e eu já não estávamos estudando lá, fiquei sabendo desse caso porque minha mãe contou. Ela ainda trabalha lá, mas não fala muito.

O quinto caso aconteceu quando eu ainda estudava lá. Esse foi um dos que assustou todos, na época eu devia ter uns dez anos. O zelador da escola era um cara conhecido por todos, sempre brincando e soltando piadas, os alunos adoravam ele. Um dia, uma das professoras chegou mais cedo e resolveu subir até o segundo andar para arrumar logo a sua sala. Chegando lá, encontrou-se com o zelador deitado no chão. Ela achou que era mais uma das brincadeiras dele e no começo até soltou algumas piadas também, isso até tocar nele e perceber que não era uma brincadeira. O zelador estava morto. O engraçado é que ele morreu na mesma sala onde tempos depois, a garota do primeiro caso, disse ter visto a tal mulher.

Autor: Tai

02/07/2020

Banheiro dos fundos

Acordar no meio da noite com a bexiga prestes a estourar é uma coisa que realmente odeio. Primeiro que levantar sonolento de madrugada é uma merda, segundo, que sou uma pessoa extremamente azarada. O que isso tem a ver? Você se pergunta. Pode parecer uma conversação sem sentido, mas irei lhe explicar de uma maneira que lhe fará entender.

Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.

A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.

Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.

Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.

- Droga! - Resmunguei-

Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.

Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.

- Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.

Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta

Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.

-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.

De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes que piorara um pouco com a volta da luz. Logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nem um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.

Traga o prato com um pequeno animal morto

Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções

Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso

Sem janelas, isso é muito importante

Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto

Você saberá quando funcionou

Lembre-se, cinco vezes é o suficiente

Não entre mais no cômodo depois disso

NÃO ENTRE

Agora aproveite, mate sua saudade.


Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.

Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.

Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção. Eu não queria levantar a cabeça para olhar quem era, mas uma estranha força parecia forçar-me a fixar quem estava em minha frente. Eu Levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida.

Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar.

Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez.

Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.

Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.

Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo.

É uma pena, pois aquilo nunca foi ela.

Autor: Tai