05/03/2019

Sonhos?

Bom, já gostaria de deixar claro que não sei porque diabos fazer isso me ajudaria... mas enfim, eu já não tenho muita escolha.

Não acredito que seja necessário me apresentar, afinal vocês tem acesso a praticamente tudo sobre mim não é mesmo? Mas vou aproveitar a liberdade que eu tenho ao escrever e vou me apresentar como Jack , eu sei, se você for um pouco esperto vai achar esse nome bem clichê, mas isso não interessa agora.

Eu sempre achei que era um adolescente normal (e ainda acho), mas a julgar pelo que vem acontecendo nos últimos meses acho que as pessoas ao meu redor não me enxergam da mesma forma. Minha mãe me trouxe para cá na esperança de que eu me libertasse dessa “maldição”, ela sempre foi muito religiosa sabe? Aquele tipo de pessoa que se amaldiçoa por faltar no culto de domingo ou por não conseguir contribuir com o seu dízimo no início do mês.

Tudo corria bem como todos os dias até que na madrugada do dia 16 de Setembro de 2016 eu tive meu primeiro sonho. No sonho, eu estava deitado em um solo úmido e arenoso, o lugar era muito frio e o ar era seco e pesado, ao meu redor eu não enxergava nada apenas o meu próprio corpo. Depois de alguns segundos naquela posição, na qual eu não conseguia me mover, eu consegui enxergar algo novo, um ser que eu não consigo descrever a sua forma sem parecer um maluco, ele simplesmente não parecia com nada, eu enxergava e sentia apenas sua presença ali, uma presença azulada e meio opaca, eu senti ela se mover ao meu redor e repousar logo acima dos meu olhos, onde ela ficou por alguns instantes até que eu conseguisse acordar. O mais estranho era que eu não sentia medo algum, mesmo se tratando de um daqueles sonhos lúcidos que dizem por ai, onde a pessoa tem a sensação de fazer parte do sonho, como se aquela fosse a realidade.

Já acordado, tentei entender o que era aquilo, qual o seu significado (se é que havia algum), levei a mão ao criado mudo e peguei meu celular, 02:18 mostrava na tela. Levantei, bebi um copo de água e voltei pra cama.

Na madrugada do dia 19 de setembro de 2016, uma segunda-feira, eu estava lá deitado no mesmo lugar, e a mesma presença me observava, porem dessa vez foi diferente, eu senti como se estivesse sendo observado não por uma só, mas por milhares delas ao meu redor, aquilo me causou um certo incômodo (Eu nunca gostei de estar sendo observado, principalmente se eu não soubesse o que estava me observando), e então eu acordei novamente, ainda era madrugada, 04:27, um pouco mais tarde, dessa vez eu não resolvi voltar pra cama, eu decidi ir tomar um banho e sair para correr, pra dar uma respirada.

Quando voltei, resolvi falar com minha mãe a respeito disso, ela claro, já veio com o seu papo de que isso era sinal de fraqueza espiritual e que eu deveria procurar ajuda com um dos líderes religiosos dela, eu ignorei e pensei “que bobagem”, já arrependido de tê-la contado. Esse que provavelmente foi o maior erro da minha vida.

No dia 22 de setembro de 2016 porém, eu sonhei com algo um pouco mais bizarro, eu estava sentado dentro de uma sala escura um tanto quanto bizarra, eu sabia que era uma sala pois eu podia sentir a parede fria na qual minhas costas estavam apoiadas, conseguia ouvir algumas vozes de pessoas no ambiente algo que começou a me deixar com uma certa dúvida se esse sonho era como aqueles anteriores. Infelizmente a dúvida desapareceu quando uma luz fraca se acendeu no topo da sala, eu estava em uma jaula, preso junto a mais oito pessoas, quatro homens, duas mulheres, uma criança e um bebê. Naquele momento uma sensação atravessou o meu corpo, dada as circunstâncias do ambiente, um lugar sujo com insetos por toda parte uma escuridão vinda do outro lado da grade, uma sensação de medo começou a tomar conta do meu corpo, medo esse que se confirmou válido quando um homem de cerca de um metro e oitenta de altura entrou dentro da sala, com duas algemas meio medievais nas mãos, ele agarrou a criança e uma mulher que parecia ser sua mãe, os dois saíram da jaula em prantos, e eu finalmente acordei daquele sonho.

Assustado, eu me levantei depressa, olhei as horas, eram 05:32, eu já estava atrasado para me arrumar para a escola, eu sei que parece cedo demais mas a minha escola ficava a sete quilômetros da minha casa, e a caminhada até lá levava cerca de uma hora e quinze minutos.

Passei a manhã inteira pensado no que havia sonhado, eu não esperava por aquele tipo de sonho, nunca tinha acontecido, por qual motivo eu sonharia com aquilo?

Mal sabia eu que aquele sonho era só uma amostra grátis do banquete que viria a seguir.

Na noite seguinte, eu tive outro sonho, se é que posso chamar assim. Eu estava na mesma jaula preso com as mesmas pessoas, com exceção apenas da mulher e seu filho, não demorou muito e o mesmo homem que havia levado os dois mais cedo retornar para buscar mais dois, dessa vez foram dois homens, eu estava ficando enjoado e minha mente me perturbava enquanto pensava o que estaria acontecendo com as pessoas que era levadas, e infelizmente minhas especulações foram respondidas quando a mulher e seu filho voltaram, os dois estavam em cacos, a mulher estava coberta de sangue e feridas, uma parte de seu couro cabeludo estava faltando provavelmente havia sido arrancado a força. E o garoto, eu comecei a chorar quando vi, ele estava com as duas pernas quebradas e um corte profundo nas costas, além de também estar com o seu corpo frágil coberto por sangue, ele estava desmaiado e sua mãe gastava o resto de suas forças chorando enquanto acaricia a cabeça do garoto encharcada em sangue.

Eu não aguentei toda aquela cena, já estava com o rosto coberto por lágrimas, até que o homem novamente retornou, dessa vez ele pegou o bebe no colo e começou a olhar em volta como se estivesse escolhendo quem iria levar consigo, acho que vocês já devem estar imaginando que ele me escolheu.

Eu levantei, implorando para que não me machucassem e principalmente não machucassem o bebê, meus pedidos foram ignorados e eu fui levado junto ao bebê para uma outra sessão daquele lugar que parecia uma prisão. Eu vou poupar vocês do que aconteceu quando chegamos lá, mas eu devo que dizer que o bebê não sobreviveu, e eu..., eu não fiquei nada bem. Eu retornei para a cela paralisado, não sabia por que aquilo estava acontecendo comigo, eu sempre fui um garoto bom, por que eu tinha sido escolhido para aquela atrocidade, eu não merecia passar por aquilo.

Eu finalmente acordei, minha cama estava completamente molhada de suor, e minha mãe parada de pé me observando. Eu comecei a chorar desesperadamente ao lembrar do que eu tinha acabado de sonhar, chorei tanto que acabei dormindo de novo.

Quando acordei... Bem, eu estava aqui em um quarto de um hospital religioso qualquer, esperando para ser transferido para a ala de tratamento psiquiátrico.

A partir daquele dia, durante todas as noites que eu me deixo pegar no sono, eu retorno para aquela realidade maldita, na qual eu nunca consigo sair, nem sequer consigo morrer. Eu já experimentei de tudo, todas as formas de causar sofrimento a uma pessoa, já foram usadas contra mim.

EU NÃO AGUENTO MAIS!!!

Eu nem sei mais o que é real!!

Já tentei de tudo, todos os métodos espirituais e científicos. Eu não sei mais o que fazer.

Eu só quero... Só quero MORRER!!

Autor: Gabriel Tupã

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