18/12/2019

AVISO

Boa tarde, 

Estou fazendo essa postagem para avisar que eu, Divina, estou parando minhas atividades como tradutora do blog Creepypasta Brasil a partir de hoje. Por descuido meu, não creditei algumas histórias que traduzi do site nosleep e vários escritores, que diga-se de passagem são absurdamente talentosos e merecem todo o crédito do mundo, ficaram chateados com essa situação. Por consequência do meu ato de não creditar, vários youtubers pegaram os contos traduzidos, fizeram vídeos narrados e por isso vários autores que monetizam esse tipo de atividade, ficaram sem receber seu dinheiro. 

Meu projeto com o Creepypasta Brasil nunca foi para ganhar dinheiro em cima das traduções, tanto que não monetizamos o blog até hoje. Mas não é justo eu continuar com esse trabalho nessas condições e sem a autorização dos autores dos contos. Peço minhas sinceras desculpas para qualquer autor que se sentiu ou foi lesado pelas minhas traduções, principalmente para a Gabie Rivera, aka /u/EaPAtbp, autora do conto "Meu Sugar Daddy me pede favores estranhos" que quando entrou em contato comigo me explicou toda a situação educadamente e me fez entender a repercussão dos meus atos para esses escritores que contribuem para a comunidade do terror. 

Então é isso. Estarei retirando todas as minhas traduções do ar a partir de hoje. 

Sinto muito a todos que prejudiquei. 

Divina. 

***

I am making this post to explain that I, Divina, are stopping my activities as a translator of the blog Creepypasta Brasil from now on. To my carelessness, I did not give the proper credits to some stories that I have translated and several writers who are absolutely talented and deserve all the credit in the world, are upset about this situation. As a result of my actions of not crediting, several youtubers took those translated stories and made narrated videos and so many authors who monetize this type of activity did not receive their money.

My project with Creepypasta Brasil has never been to gain money on translations as we did not monetized the blog. But it is not fair to continue this work under these conditions and without the permission of the original authors. I sincerely apologize to any writer who has suffered or been harmed in any way by my translations, especially to Gabie Rivera, also known as /u/EaPAtbp, author of the tale "My sugar daddy asks me for weird favors" who politely explained me the situation and I understood the repercussions of my actions on these writers who contribute so much to the terror community.

Then that's it. I will be removing all my translations from today on.

I am sorry to everyone that I caused any harm.

Divina.

12/12/2019

SELEÇÃO DE ORIGINAIS 2020 - EDITORA MACÁRIA



A recém-criada Editora Macária, cujo objetivo é descobrir novos talentos da literatura brasileira contemporânea, está selecionando originais de poesia, romance e conto para serem publicados em 2020.



As instruções para envio dos textos são as seguintes:

Os interessados devem enviar suas obras literárias, inéditas, acabadas e prontas para edição, em formato digital (.doc ou .pdf), para o e-mail editoramacaria@gmail.com até o dia 01 de fevereiro de 2020. O anexo também deve contar com uma minibiografia do autor e dados básicos, como nome completo, contato e cidade de origem.




Pedimos, por gentileza, que quaisquer dúvidas sejam enviadas no e-mail já referido ou na caixa de mensagens da página.

11/12/2019

Drougos

Desde 21 de abril de 2019 foi que as coisas estranhas começaram a acontecer. Começou com a vinda do meu tio que não nos visitava há muito tempo. Quando eu era pequena, eu e ele conversávamos muito quando nos víamos. Eu sempre gostei muito dele e por isso minha mãe me levava quase todos os finais de semana em sua casa. Agora que estou mais crescida, a escola e os amigos demandam praticamente todos os fins de semana o que nos obrigou a trocar mensagens, por isso estranhei sua visita naquele dia, achei que ele iria me avisar quando viesse. Nessa visita, ele me chamou para tomar sorvete.

Sempre conversamos sobre curiosidades aleatórias, como: et's, animais fofinhos, os tipos de estrelas que tem no universo, plantas toxicas exóticas, entre outras coisas, mas dessa vez ele parecia que queria me contar sobre algo importante.

Fui toda feliz com a companhia, estava com muita saudade dele, mas achei muito estranho quando ele me deu de presente uma bíblia e uma pulseira de rosário. Ele nunca foi religioso e nunca tinha me dado nada de presente antes. Agradeci, e logo em seguida ele começou a contar umas coisas muito estranhas, sobre seres que ele denominava como “Drougos”. Contou que os “Drougos” estavam nos observando, querendo vir para cá e que era para mim rezar, porque coisas ruins iriam acontecer e apenas Deus podia nos ajudar.

Quando questionei quem eram esses “Drougos” ele falou que eu iria descobrir em breve, mas que não era para eu ficar falando em voz alta sobre o assunto porque eles veem e sabem de coisas alem do nosso entendimento, e sabem também que teriam algumas pessoas mais difíceis que as outras.

Meu tio insistiu para que eu fosse uma das pessoas mais difíceis, mas não disse como ou o que eu deveria fazer para ser assim, além das instruções sobre ler a bíblia. Achei que era um jeito que minha mãe encontrou para me fazer ficar mais religiosa, então preferi seguir a dica e comecei a dar uma lida na bíblia que tinha ganhado, para ver minha mãe um pouco mais satisfeita comigo.

Domingo, dia 20 de julho, aconteceu outra coisa estranha. Acordei as 8 horas da manhã com o som de uma música muito alta. Levantei correndo e fui até a janela para ver o que estava acontecendo na rua. Tinham muitas, mas muitas pessoas mesmo, dançando na rua, todos fazendo os mesmos passos, como se estivessem dançando uma coreografia ensaiada por muito tempo. Eram passos complexos de dança, ora em duplas, ora individual, todos sincronizados uns com os outros.

Chamei por minha mãe, mas não obtive resposta. Deduzi então que ela estava lá na rua dançando junto com todo mundo, apesar de ela não ter comentado sobre ensaio nenhum comigo. Troquei de roupa bem rápido e fui lá dançar junto porque achei aquilo tudo muito legal, e quase todos os meses tem alguma festa na rua aqui na cidade.

Abri a porta de casa e logo vi meu tio no quintal, olhando para toda aquela festança. Fui até ele e percebi que olhava a multidão com certa curiosidade. Olhei para as pessoas e notei que pareciam estar em uma espécie de transe, como se estivessem hipnotizadas.

Meu tio perguntou se eu lembrava da nossa conversa na sorveteria aquele dia e eu disse que sim. Ele disse para eu prestar atenção, pois aquele era o primeiro sinal do começo dos fatos que levariam ao fim da humanidade. Quando fui questionar ele sobre o que queria dizer com isso, ele disse que já tinha dito coisas demais e que não podia explicar, porque os Drougos vão escutar e descobrir sobre nós dois, e não quer que eles o vejam como uma ameaça potencial.

Fiquei preocupada. Perguntei como podíamos fazer para mudar o destino e meu tio me xingou dizendo para ficar quieta e não pensar naquilo que estava acontecendo. Disse para mim agir como as outras pessoas até ele pensar em algo que pudesse fazer a respeito.

E assim como começou, a música terminou repentinamente. As pessoas que estavam na rua ficaram olhando umas às outras, com um ar de confusão. Pelo jeito não sabiam como tinham chegado ali. Não vi sinal de minha mãe na rua, então voltei para dentro de casa. Encontrei ela lá dentro; estava no banheiro tomando banho com a porta aberta e usando ainda os pijamas. Quando me ouviu fechar a porta da frente, saiu do banheiro, tirou o pijama molhado e se enrolou na toalha como se nada de anormal estivesse acontecendo e quando toquei no assunto da dança e do banho estranho dela, ela disse que não sabia do que eu estava falando e que eu tinha uma imaginação muito fértil. Percebi que ela não se lembrava de nada do que tinha acontecido naquele dia. Mas coisas piores ainda aconteceram alguns dias depois.

Sábado dia 3 de agosto de 2019: Dessa vez, quando meu tio chegou em minha casa, me trouxe de presente um filhotinho de cachorro, todo branco coisa mais lindinha. Porém não pude deixar de notar como aquele filhote tinha algo estranho. Quando peguei ele no colo, percebi que tinha vários machucados em seu corpo e o filhote estava um pouco frio, mas estava com a energia de um filhote saudável brincando.

Meu tio tirou de dentro de seu bolso um estetoscópio e colocou o objeto em meus ouvidos, a outra ponta apertou suavemente no peito do animal e me pediu para prestar atenção. Não havia batimentos. Ele deveria tecnicamente estar morto, mas estava ali brincando como se nada tivesse acontecido. Depois de me mostrar isso, fez um corte nas costas do cachorro, que não demonstrou reação nenhuma, mas ao invés de sair sangue, saiu um líquido verde de dentro da ferida recente.

Fiquei chocada, não sabia o que dizer sobre isso. Titio me explicou que isso era um efeito do veneno que os Drougos haviam lançado em alguns alimentos, ele ainda não sabia quais, mas acreditava ser apenas na comida de animais, para enfraquece-los sem que percebamos. Disse que eles entendem nossos animais como confortos psicológicos e que atacando nos bichos, nos tornará vulneráveis.

Quarta-feira, 21 de agosto. Estou na cantina da escola e meus colegas estão estranhos. A conversa que está rolando é sobre uma tal viajem que todos vamos fazer. Só o que dizem é que vamos viajar de avião dia 25 de outubro e que vai ser muito legal. Quando eu pergunto o destino é que a coisa fica estranha. Uns dizem que é surpresa, outras pessoas falam que é um passeio em outro país e outros dizem que a escola ganhou um prêmio do governo.

Meu tio me mandou uma mensagem agora, dizendo para não comer nada derivado de carne, e voltar agora para casa que ele me explica quando eu chegar. Acho que tem algo a ver com o cachorro que ele me mostrou. Olhei para o cardápio da cantina e congelei: tudo era de carne hoje. Sorte a minha que eu não tinha comido nenhum pedaço da torta que eu tinha pego.

Saí de fininho da cantina, e passei escondida pela secretaria para ir para casa, por sorte ninguém me viu. No caminho de casa haviam vários pássaros mortos pelo chão, todos com aquela mesma cosa verde que vi no cachorro saindo pelo bico. Não parei para dar atenção a isso. Quando cheguei em casa, meu tio me esperava na sala junto com minha mãe, que parecia em transe falando também sobre a tal viajem. Aí eu saquei na hora que a coisa estava cada vez pior.

Meu tio trancou a porta da sala e fechou as cortinas, deixando-a toda escura, tirou minha mãe da sala e falou que agora estávamos seguros. Me contou que descobriu através de um fórum online que mais pessoas tinham conhecimento sobre os Drougos e que ele entrou em contato com o dono desse fórum que deu informações terríveis para ele.

O homem contou que eles são seres de energia que moram em júpiter, que tem poderes que os fazem saberem tudo do futuro e do passado, que podem ver e ouvir além da nossa compreensão e que os Drougos estavam com os dias contados no planeta, pois havia a ameaça de serem atingidos por um meteorito gigantesco. Entretanto, como sabiam do passado, sabiam da história da criação do homem e que estávamos poluindo e destruindo nosso mundo.

Eles então decidiram que não merecíamos mais nosso planeta e resolveram nos envenenar com uma erva chamada pelos povos amazônicos de Ayahuasca, que causa alucinações e deixa a pessoa em transe. Primeiro fizeram um teste nos animais, então descobriram que os efeitos da erva ficavam na carne dos animais infectados. Foi muito fácil para eles nos envenenarem e muito simples para um desses seres possuir um ser humano para implantar a ideia da viajem.

Os Drougos querem fazer todas as pessoas entrar em suas naves pensando que são aviões e transportá-los para seu planeta condenado, nos mandando direto para a extinção.

Fiquei chocada com tudo isso, e não sei o que fazer. Na escola falaram que temos menos de um mês para a viajem e meu tio disse que está procurando mais pessoas para criar um grupo e combater eles. Não faço ideia do plano que titio inventou, ele não pode nos contar nada por que sabe que os Drougos vão escutar, então estou apenas ajudando a recrutar mais gente.

Além dos poderes deles, sabemos que são covardes, pois estão nos manipulando para irmos por vontade própria para a morte iminente. Precisamos ser espertos para enganar aqueles que sabem de tudo. Estamos seguindo a filosofia de que todo o futuro é subjetivo e pode ser mudado pelo presente. Não sei como as coisas estão na sua cidade, mas se você souber de alguma coisa, por favor entre em contato, e não coma nem beba nada derivado de animais, pois eles estão contaminados. Nos deseje sorte e que Deus nos abençoe.

Autor: Pixel

26/11/2019

Preciso apenas deixar minha nova família feliz!

Sei que não é fácil você tentar fazer uma nova família feliz, até porque nós não nos conhecemos bem. Quando estacionei naquele casarão, no meio do nada, vi que havia outros carros e imaginei que poderia ser algum tipo de pousada. Após bater a porta, deparei-me com uma mulher e uma criança, apesar dos outros veículos, eram apenas nós três que habitavam naquele lugar. No momento em que pisei naquele local, foi aí que eu tentei formar uma família feliz, apesar dos machucados, agressões e ameaças constantes.


O meu objetivo é fazer com que todos estejam bem, essa é a minha missão aqui e não é tão fácil, dado que, a criança, aquela menina que tem nove anos, tenta sempre escapar, é agressiva e diz que eu não sou seu pai. A mulher, minha nova esposa, tem os seus momentos pacíficos, fica observando tudo como se fosse alguém aturdida assistindo um espetáculo de terror em uma platéia. Sei que eu posso manter o equilíbrio do momento e fazer com que ela continue nesse momento estável e, mesmo que eu não tenha sido pai, tentarei fazer com que a garotinha aceite de uma só vez o que está acontecendo.

Ninguém pode escapar, visto que as armadilhas estão em pontos estratégicos, não tem como você conseguir chegar até a estrada, encontrar ajuda, antes de ser capturado e levado de volta para o casarão. Dentro da floresta, ainda com os animais selvagens, você pode muito bem perder um membro do seu corpo por conta da violência daquelas máquinas. É tudo um plano que eu preciso seguir para fazer com que tenha um final feliz, preciso apenas manter aquela família equilibrada. Com todos esses acontecimentos, nos meus últimos dias, eu estou sabendo confrontar tudo da melhor forma possível. Não obstante, às vezes, saímos do nosso controle pessoal.

Já irá fazer quase três semanas que outras pessoas aparecem na mansão. Normalmente, são no máximo três indivíduos, amigos e famílias em viagem, precisando de ajuda, perdidos na região, mas eles não conseguem seguir as regras, pois tentam lutar, fugir e até a matar para sobreviver, contudo não conseguem superar o amor brutal da nossa moradia. Lembro da minha mulher dirigindo o carro e, quando ela morreu, eu tentei e estou tentando construir uma família feliz. A felicidade parece horrível quando você pensa nela muito, no entanto, faz parte desse convívio sangrento e mortal. Sei que eu pareço um monstro frio, ao descrever tudo que está acontecendo, no entanto, desde criança, eu fui criado para aprender a adaptar-me em certas situações e fazer com que tudo fique bem, mesmo dentro de uma jaula com tigres ao meu redor.

No início, não foi fácil me acostumar com a aparência daquela mulher, quando ela abriu a porta, e eu a vi. Sabia muito bem que não estava cuidando da sua fisionomia, mas não é apenas isso que lhe deixa um pouco assustadora: a sua cabeça é um pouco grande e o seu corpo é magro, apesar de carregar uma força grande, isso dificulta muito quando nós nos desentendemos e precisamos usar a força bruta. A parte que mais me incomoda é que ela não dorme, se dorme é por poucos minutos. A não ser que fique em pé, nas escadas, na porta, observando o meu quarto, olhando para a criança. Eu imagino que seja uma forma de proteger a menina ou impedir que ela escape, assim, evitar castigos severos e desnecessários. A Insônia Familiar Fatal deixa-me acordado também, e eu fico ouvindo os barulhos de lamentação da minha nova esposa e a sua respiração ofegante, mas tento não lhe arranjar mais uma forma de se sentir infeliz... As punições não são o que eu desejo.

Mesmo após quase dois meses, a menina tenta escapar, contínua dizendo que eu não sou seu pai e a sua última punição foi algo que passou dos limites até para mim, visto que ficou dois dias desacordada e recebendo tratamentos da sua mãe por conta dos ferimentos. Apesar disso, quando ela recordou, parecia mais calma e cooperativa. Eu me aproximei da cama, o meu braço esquerdo amputado já estava quase cicatrizado, e tentei carregar uma panela grande com alimentos, quase fraco. A garotinha murmurou bem baixinho no meu ouvido, que a mulher dormia. Faz muito tempo que a menina está aqui e sabe que quando a dona da casa está muito cansada acaba dormindo por poucos minutos.

Desde o momento que eu parei o meu carro aqui, precisando de ajuda porque estava perdido, foi quando o meu inferno começou. A minha esposa foi assassinada por aquela mulher, e eu tentei lutar para escapar da sua força descomunal e da sua aparência grotesca. No primeiro dia, acabei perdendo o braço em uma das armadilhas e estou aqui tentando me manter vivo e, ao menos, salvar a garotinha que não colaborava até o momento. Irei aproveitar, tentarei observar e aguardar o momento em que aquele monstro dormir porque irei esmagar o seu crânio com o martelo. Estou cansado das agressões, ameaças e ver o quanto a pobre criança sofre. O pior mesmo é você tentar carregar um sorriso no rosto, o tempo todo, e não parecer apavorado com aquele ser espectral nos observando.

Ela está na porta do quarto respirando sua respiração apavorante. Diferente dos outros dias, está mais cansada e caminha cada vez mais devagar nas madrugadas macabras e observadores. Esperarei até que apague, deixando de lado a sua guarda infernal, e pretendo destruir o seu crânio com apenas uma martelada precisa. Até que isso não aconteça, preciso apenas que minha família nova seja feliz seguindo as ordens da mulher. Tenho que me vingar por tudo que aquela criatura cruel fez comigo! De acordo com o que eu estou observando, ela não pode ficar por muito tempo segurando o sono...

Autor: Sinistro

19/11/2019

Abissais

Tento correr.

Olho para trás e as faces famintas dos inquisidores se acendem em fúria – carregam tochas e arpões, e gritam palavras que profanariam até mesmo os santos. Reúno o fôlego enquanto adentro a selva densa e corro; corro rasgando os braços em espinhos e fustigando meus pés nos pedregulhos pungentes. Abro caminho em meio aos arbustos e contorno as árvores que me serviram de refúgio e lar em tempos de outrora.

Clamo aos meus ancestrais para que uma vez mais me libertem da perseguição, e que olhem com bons olhos para mim – sei que não sou a criatura imponente que deveria ser, e que meus olhos não são agudos como os da água, e que minhas pernas não me lançam às copas das árvores num único voo majestoso. Sou frágil, mas o espírito dentro de mim se acende com fogo milenar, e a floresta não reconhece em mim a chama mística que um dia a iluminou.

Eles se aproximam e seus braços se balançam ostensivamente com suas armas improvisadas e seus gritos de ódio; o penhasco detrás de mim balança com as ondas retumbantes que o acertam. O dia já está escurecendo e o mar tem a cor escura de uma noite recém-chegada, vibrando com a energia salina da transformação e da fluidez.

Os olhos dos homens se inflamam e os seus dentes se escancaram em risos funestos quando me pressionam contra o abismo, e ao recuar, hesitante, sinto uma brisa sulfídrica me encher os pulmões ao ouvir a água gemer com vida própria – à minha frente, saídos do mar, materializam-se criaturas das profundezas abissais com pele azulada e sussurros silvosos só entendidos pela própria água; seus olhos eram negros e seus dentes serrilhados e inúmeros – as criaturas se lançam vorazes aos corpos frágeis dos perseguidores, e as suas mordidas rasgam os pescoços pulsantes e abrem buracos em suas faces contorcidas pelo medo.

Tudo cheira a sangue e enxofre e os corpos se empilham desfigurados no chão, com músculos retorcidos e espasmos borbulhantes; as entidades se arrastam em minha direção, movendo-se como as ondas em movimentos ordenados e altivos – suas mãos me tocam a testa e me sinto queimar de dentro para fora, como o núcleo de uma estrela em erupção; meus olhos se fecham, e me sinto balançar com o mar em uma dança frenética e ancestral.

Quando acordo, meu corpo está jogado nos rochedos, estraçalhado pela queda – o que me chama atenção, entretanto, é o pequeno círculo gravado em minha testa como uma ferida há muito cicatrizada. Olho para o meu corpo nas pedras e então olho para as minhas próprias mãos enquanto flutuo no mar – sou translúcido como uma miragem e meus dedos se contorcem em ângulos indizíveis; as águas infindas se abrem ao meu redor, e se movem em ressonância com os meus pensamentos. Grito, em uma voz retumbante como o eco dos abismos oceânicos, um suspiro eruptivo de um vulcão há muito soterrado pela água fria – do horizonte até o litoral, manifestam-se as criaturas abissais, curvando-se perante o novo rei.

Autor: Ceruno

12/11/2019

Noite perigosa

Eu estou com mau pressentimento e, além do mais, sozinha no metrô. Não é normal encontrar tão poucas pessoas, contudo deve ser o horário, está um pouco tarde. Sei que não é seguro uma garota ficar essa hora da noite aventurando-se sozinha, mas esperava encontrar alguns trabalhadores, pessoas que costumam passear à noite, etc. Sinto frio, está muito fria essa madrugada. O foda foi porque não trouxe o meu casaco. Não sei por que deu vontade de comer à essa hora da madrugada. Eu tinha que conseguir encontrar algo que não tivesse dentro da minha casa... Às vezes, tenho esse costume de sair para saciar a minha fome com algo diferente. Pode-se dizer que eu sou uma garota louca.

Daqui à uns minutos, chegarei em minha estação, estarei segura e salva em minha casa. O próximo ponto entraram apenas três pessoas: um casal, que foi para a parte da frente do saguão, e um homem estranho. Nesse momento, eu lembrei dos jornais falando sobre um possível assassino responsável por algumas mortes, a polícia alertou para que as pessoas não andassem sozinhas, trancassem as portas e que as crianças não falassem com estranhos. Aquele homem de fato é uma figura tenebrosa, no entanto o seu rosto é familiar. Estou com uma sensação estranha em relação àquele indivíduo, eu sinto uma atmosfera pesada saindo daquele sujeito... Espero que o próximo ponto logo chegue, onde irei sair para finalmente chegar à minha casa.

Finalmente, a minha parada chegou. Comecei a sair e notei que aquele homem estranho também estava saindo, andando no mesmo caminho que eu estou caminhando. Dobrei uma esquina, e ele dobrou também. Tenho certeza que estou sendo seguida por um estranho. Tive uma ideia, decidi pegar um táxi e, quando eu entrei no veículo, pedi para o cara dirigir por aproximadamente dez minutos, enquanto aquele homem segue o seu caminho na noite pretume. Após aproximadamente uns dez minutos dando voltas no quarteirão, eu pedi para o táxi parar em frente ao prédio onde moro, e então saí segurando minha sacola.

O porteiro estava dormindo, mas quando escutou o barulho da velha porta, despertou-se com os olhos fechando e deu uma bocejada de sono. No momento em que fechei a porta, o porteiro, com a voz cansada, deu boa noite, e eu ignorei subindo as escadas em razão de que eu tenho medo de lugares fechados, portanto não usei o elevador. É um trauma de criança, uma coisa que me aconteceu e deixou-me traumatizada. Estava na metade das escadas quando comecei a escutar passos pesados, tudo indicava que eram pisadas de um homem, por conta do som forte. Eu comecei a caminhar imaginando que poderia ser algum morador. No momento em que subia as escadas para finalmente chegar onde fica o meu quarto, notei que era aquele mesmo homem do metrô... Nesse momento, eu não sabia se corria ou gritava. Várias coisas ficaram passando em minha cabeça devido à tensão, uma delas é que fui seguida, ou aquele sujeito sabe onde eu moro.

Decidi que iria continuar caminhando, em razão de que não tem como mais voltar. O sujeito estava com as suas mãos tremendo, notei que tinha algo escondido embaixo do seu casaco e tenho uma leve impressão de que é uma faca. Enquanto estou subindo as escadas, observei uma marca vermelha em sua camisa, poderia ser sangue de alguém... Quando ele passou por perto de mim, o seu corpo esbarrou no meu e uma marca vermelha manchou a minha camisa, era sangue! Agora, um está de costa para o outro, ele continua descendo, e eu fui logo correndo para o meu quarto, trancando a porta.

Na manhã seguinte, alguns policiais bateram em minha porta, e eu abri. Os homens da lei queriam fazer algumas perguntas sobre um assassinato que havia acontecido na madrugada de hoje, eu não sabia o que estava acontecendo, até que os policiais falaram que um homem havia matado a sua ex-esposa após descobrir que ela estava se relacionando com seu irmão. A ficha logo caiu, eu sabia que aquele homem fora o responsável, contudo eu não falei nada sobre ter encontrado ele, disse apenas que não escutei barulho algum para os policiais.

Após alguns minutos tediosos dando informações aos dois bófias que estavam anotando tudo em uma caderneta pequena, foram embora deixando-me em paz. Logo em seguida, tratei de preparar o meu café... Eu demorei a noite toda para encontrar uma oportunidade de arrancar o coração de um morador de rua, ninguém se importa com eles mesmo, e estava com muita vontade de comer carne humana. Talvez nessa semana eu mate mais alguém para preparar um fígado, em razão de que não tem coisa melhor do que comer um fígado antes de dormir.

Autor: Sinistro

05/11/2019

Abissais

Tento correr.

Olho para trás e as faces famintas dos inquisidores se acendem em fúria – carregam tochas e arpões, e gritam palavras que profanariam até mesmo os santos. Reúno o fôlego enquanto adentro a selva densa e corro; corro rasgando os braços em espinhos e fustigando meus pés nos pedregulhos pungentes. Abro caminho em meio aos arbustos e contorno as árvores que me serviram de refúgio e lar em tempos de outrora.

Clamo aos meus ancestrais para que uma vez mais me libertem da perseguição, e que olhem com bons olhos para mim – sei que não sou a criatura imponente que deveria ser, e que meus olhos não são agudos como os da água, e que minhas pernas não me lançam às copas das árvores num único voo majestoso. Sou frágil, mas o espírito dentro de mim se acende com fogo milenar, e a floresta não reconhece em mim a chama mística que um dia a iluminou.

Eles se aproximam e seus braços se balançam ostensivamente com suas armas improvisadas e seus gritos de ódio; o penhasco detrás de mim balança com as ondas retumbantes que o acertam. O dia já está escurecendo e o mar tem a cor escura de uma noite recém-chegada, vibrando com a energia salina da transformação e da fluidez.

Os olhos dos homens se inflamam e os seus dentes se escancaram em risos funestos quando me pressionam contra o abismo, e ao recuar, hesitante, sinto uma brisa sulfídrica me encher os pulmões ao ouvir a água gemer com vida própria – à minha frente, saídos do mar, materializam-se criaturas das profundezas abissais com pele azulada e sussurros silvosos só entendidos pela própria água; seus olhos eram negros e seus dentes serrilhados e inúmeros – as criaturas se lançam vorazes aos corpos frágeis dos perseguidores, e as suas mordidas rasgam os pescoços pulsantes e abrem buracos em suas faces contorcidas pelo medo.

Tudo cheira a sangue e enxofre e os corpos se empilham desfigurados no chão, com músculos retorcidos e espasmos borbulhantes; as entidades se arrastam em minha direção, movendo-se como as ondas em movimentos ordenados e altivos – suas mãos me tocam a testa e me sinto queimar de dentro para fora, como o núcleo de uma estrela em erupção; meus olhos se fecham, e me sinto balançar com o mar em uma dança frenética e ancestral.

Quando acordo, meu corpo está jogado nos rochedos, estraçalhado pela queda – o que me chama atenção, entretanto, é o pequeno círculo gravado em minha testa como uma ferida há muito cicatrizada. Olho para o meu corpo nas pedras e então olho para as minhas próprias mãos enquanto flutuo no mar – sou translúcido como uma miragem e meus dedos se contorcem em ângulos indizíveis; as águas infindas se abrem ao meu redor, e se movem em ressonância com os meus pensamentos. Grito, em uma voz retumbante como o eco dos abismos oceânicos, um suspiro eruptivo de um vulcão há muito soterrado pela água fria – do horizonte até o litoral, manifestam-se as criaturas abissais, curvando-se perante o novo rei.

Autor: Ceruno

29/10/2019

A minha primeira vez foi com um homem de cinquenta e oito anos

Os meus pais estavam orgulhosos de mim, pois, quando completasse os meus treze anos, seria a minha primeira vez. Eles escolheram um homem com cinquenta e oito anos para que eu pudesse finalmente saber como é fazer aquilo. E, finalmente, esse dia chegou. Eu teria que fazer no meu aniversário, segundo os meus progenitores.

Pararam o nosso carro em uma praça onde o homem costumava ficar, este que era um galanteador local, uma pessoa que gostava de se aproveitar de garotas inocentes e, naturalmente, gostará de mim. Papai olhou para mim com sorriso de orgulho, e a mamãe disse que tudo ficaria bem, dado que eu apenas precisava fazer aquilo uma vez para poder me acostumar e não parar mais.

Me apresentei para o homem com um "bom dia", e ele ficou surpreso com a minha presença, com a minha idade e além da minha beleza juvenil. O sujeito começou a dizer o quanto tinha dinheiro, mostrou o seu carro importado e os seus relógios de ouro na mão, que era ridiculamente bizarro uma pessoa com três relógios nos braços só para mostrar que eram de luxo.

Nos levou para um bar de confiança onde vários caras como ele frequentam e ninguém ousaria abrir a boca para as coisas que presenciavam ali. Algumas vezes, ele tentou encostar em mim, no entanto eu afastava-me tentando esperar ele terminar de beber algumas garrafas de cerveja, que um dos seus subordinados trouxe. Fiquei ao seu lado mais parecendo uma filha, ou algo do tipo, diante das pessoas para que ninguém desconfiasse do que eu pretendia fazer com aquele homem.

Fiquei por horas: escutando ele dizendo o quanto eu era bonita e com as investidas indelicadas que fazia todo momento enquanto colocava copos com cerveja em sua boca. Após um certo tempo, finalmente, se cansou e não aguentava mais beber. Então disse, agarrando o meu braço, que tinha algo para me mostrar em sua casa em frente à praia. Eu acompanhei até o seu carro e vi os meus pais de longe, observando como duas corujas indiscretas.

Antes de entrar no carro importado que ainda estava com aquele cheiro de objeto novo, observei quando discretamente a mamãe acenou com a mão e com aquele olhar de boba que não tirava do rosto.

Chegamos até à casa do homem, ele nos levou até o seu quarto e começou a tirar a camisa. Pedi para ele se sentar e fechar os olhos... Quando menos esperava, enfiei um objeto pontiagudo, que tinha no meu cabelo escondido, em seu olho direito. O cara gritou, e enfiei nas suas costas, e ele me arremessou contra uma cadeira para tentar buscar ajuda, mas nada adiantava. Não tem como fugir da situação bêbado a qual encontrava-se.

O meu pai disse que a morte duraria mais tempo, pois a minha arma era tão fina quanto um alfinete, e ele antes de morrer teria múltiplas hemorragias internas por conta dos furões em seus órgãos. Estava preparada suficiente para esse cara. Quem diria que a sua casa em frente à praia, bem afastada dos olhares públicos, seria o local ideal para que ninguém escutasse os seus gritos de horror.

Além dos golpes precisos nos locais certos para que não morresse rápido e sentisse muita dor, dei golpes de lutas marciais, tudo ensinado pelos meus pais. Após uma morte extremamente cruel, dolorosa e lenta, eu fiz a minha primeira vítima. Os meus pais disseram que eu seria tão boa quanto eles ao matar minhas vítimas e tenho razão porque foi muito prazeroso saber como é ceifar uma vida.

E como eu já disse no início, "a minha primeira vez foi com um homem de cinquenta e oito anos."

Autor: Sinistro

15/10/2019

A Herança Maldita

Minha avó perdeu os pais num acidente de carro, em 1956, quando tinha 13 anos. Então teve de ir morar com os ''padrinhos'', que eram os amigos mais próximos de seus pais na época, porque eles não tinham parentes aqui no país, e vieram da Holanda para cá, em 1936. Ela nasceu em 1943. Os padrinhos carniceiros deram um jeito de ficar com toda herança que seria de minha avó, onde com 14 anos casaram-na com um parente distante deles, e depois fizeram ela rumar ao interior do Rio Grande do Sul, onde vivia.

Desde a morte dos pais ela disse ter vivido uma vida conturbada, não tinha parentes mais no mundo, constantemente era espancada pelo marido bêbado, que chegava em casa e descontava toda frustração da vida cotidiana de trabalhador de fazenda em suas costas, resmungando que ela destruiu sua vida e suas chances de ''se dar bem''. Ela me disse certa vez ter perdido todo o amor pelo mundo já muito nova, que só viveu até hoje pelo fato de acreditar que após a morte, Deus e seus pais acidentados a receberiam de braços abertos e chorando por ela ter demorado tanto para ir vê-los. Ela teve 06 filhos com um homem que nunca amou. Viveu uma vida bem miserável, enquanto apanhava isoladamente e friamente por um parente de desconhecidos que lhe tiraram tudo que essa vida poderia dar.

Meus tios e tias cresceram numa família desestruturada, com constantes brigas entre seu pai espancando sua mãe e sem poderem fazer nada ao passo em que cresciam. Meu avô viu seus filhos crescer, bebendo, e espancando a mãe deles em sua frente. Meu tio mais velho cresceu com ódio, jurando matar o pai certa vez, por todo sofrimento que ele faz passar os irmãos e ele. E o fez, ele o matou. E também se matou em seguida, no quintal da casa, com um tiro de espingarda no céu da boca, que abriu um buraco enorme e vago na sua cabeça do outro lado, depois de também matar o pai com um tiro na cabeça. Creio que ele não conseguiria viver com o fato de ter matado o próprio pai. O pai dele era um lixo de gente, um animal, e ele sabia disso. Todos sabiam disso. Todos também queriam sua morte. Mas, no fim, creio que mesmo sabendo de todas essas verdades, ele ainda amava ''aquele animal'', seu pai, que desde que nasceu, o chamou de filho. São coisas da vida.

Foi minha avó quem encontrou os corpos. Quando o fez, ela pegou o corpo do meu tio nos braços e ficou ao lado dele, até meus outros tios chegarem em casa. Ela nem sequer olhou para o corpo do marido ao chão e coberto de um sangue negro e pastoso, com um buraco aberto na cabeça e acima dos dentes. Eu não era nascido ainda, mas mais tarde minha mãe me contou que não teve coragem de ver o pai e irmão mortos. Meu outro tio viu. E ele disse que aquilo não deveria nunca ter sido visto pela minha avó. Por outra pessoa, sim, mas não por ela. Não depois de tudo que ela viveu e passou nas mãos do meu avô. Não ela, dentre todos ali...

Nenhum dos irmãos gostava de admitir, mas o filho mais velho sempre foi seu preferido, o que ela sempre cortejou mais, limpando os cabelos sujos de areia, escovando os dentes, dando banho e cuidando das unhas cheias de terra e sujeira preta. Ver o filho jogado ao chão e com um buraco na cabeça destruiu qualquer traço de sanidade que ainda havia repousando a consciência dela. Ela não disse uma palavra depois do acontecido por quase um mês. E ninguém também a viu chorar pelo caso. Mas todos sabiam que, de todos ali, era ela quem mais sofreu pelo trauma.

Ela enlouqueceu, posteriormente, ao acontecido, nunca mais voltou a ser a mesma mulher. Sofre de delírios até hoje, poucas vezes possui alguns picos de lucidez e, quando sofre, logo o perde.

Ela mora comigo e minha mãe hoje em dia. Só nós três. Meus pais se separaram depois de 06 anos de casado e decidimos ir morar ao Nordeste, em Recife. Faz mais de 03 anos que não vejo meu pai e somente nos falamos por redes sociais, vez ou outra por chats de vídeo, no Whatsapp. Apesar de tudo, gosto do meu pai, mas gosto ainda mais da minha mãe e não podia deixá-la após ter decidido ir embora do Rio Grande do Sul para esquecê-lo e ainda cuidar de uma idosa enlouquecida.

Voltando ao caso, minha avó anda pela casa de madrugada e fala sozinha (isso me assusta), fala com coisas e grita pelo meu nome dizendo que estou bisbilhotando suas conversas pela casa. Dias vão, dias vem, ela diz ver um homem todos os dias e que conversa com ele. Eu sempre pergunto quem é o homem, mas ela nunca diz quem é, só diz que ''ele não tem cara'', que há um grande buraco aberto na sua cara, pingando sangue e carne velha podre, com cheiro de queimado, como se estivesse desgastada, mas ainda mais vermelha e viva que o inferno. Logicamente, eu atribuo que ela ainda tem delírios com o filho morto, meu tio, cujo qual ela presenciou a morte. Isso não me abalava, eu não sentia medo dos delírios. O que eu passei a ter medo foi quando os delírios mais pareciam possessões demoníacas que qualquer outra coisa. Até ela começa a ficar cada vez mais perto do meu quarto, até ela arranhar a porta do quarto com suas unhas enormes que nunca deixava ninguém cortar e não falar nada, até ela incessavelmente bater na minha porta de 5 em 5 segundos e nunca responder quando eu perguntava ''Quem é?''.

Algumas vezes quando eu acordava de madrugada, ela estava sentada ao pé da cama, me olhando. Olhos desconhecidos, longínquos e assustadores, como se um demônio estivesse a espreita, esperando que eu acordasse para puxar os meus pés, olhar nos meus olhos e dizer: ''Acabou, você não vai viver. Não tem mais esperanças, hoje, vamos ao inferno'', e então começar a lentamente me carregar para debaixo da cama, onde mãos negras e podres, cheirando a enxofre e morte, me arrastaria para o fogo eterno e eu viveria sendo dilacerado pelas chamas inquietantes e infernais derretendo minha pele. Aquilo me assustou demasiadamente. Fez minha alma tremer e eu quase chutei-a na hora. Não tive coragem de falar com ela. Chamei minha mãe num grito gigantesco e pedi para que ela retirasse-a dali depressa. Então minha mãe veio e a retirou. Mas seus olhos vagos e vazios não saíram de mim em nenhum momento até que ela se deixasse sair do quarto, enquanto um sorriso sombrio e arrepiante ecoava por sobre sua boca, o que me causou uma inquietação exasperante e quase me deixou sem ar. Naquela noite, pedi para minha mãe não deixar mais que ela entrasse no meu quarto. Nem quando eu estivesse dormindo e nem nunca.

Comecei a trancar o meu quarto e conversei com minha mãe sobre isso, sobre minha avó estar mais que somente louca, sobre ela estar me assustando e sobre eu não querer mais morar com ela. Mas ela não me deu atenção, disse somente para que eu parasse de incomodar minha avó louca. Como se fosse eu quem estivesse incomodando-a. Outra noite, tive que trancar o quarto porque ela queria entrar e começou a gritar. Há noites em que ela faz silêncio, outras em que ela chama meu nome.

''John, venha aqui fora, ele quer te ver'',''John, venha aqui fora, ele quer falar com você''.

Eu sempre pergunto: ''Quem quer me ver'', mas aí ela se cala e dá uma risada macabra, e isso me assusta mais que o próprio inferno.

Outra noite eu acordei e quis ir na cozinha, ela não estava no sofá, como de costume, fui até a sala de estar, a porta da casa estava aberta, ela estava na varanda, onde há uma grande janela para um terreno vazio, cochichando sozinha, no escuro e em um ruído não traduzível. Não pareceu notar minha presença ou estava concentrada demais em sua conversa (delírio) pessoal, que nem quis me dar atenção. Me aproximei mais, mas não chamei-a, apenas estendi minha mão para tocar em seu ombro, quando, de repente, ela segura minha mão sem ao menos olhar para mim, enquanto estava de costas. Meu coração disparou e minha garganta fechou. Eu não costumava imaginar isso, mas se houvesse um momento em que mais achei que poderia morrer e/ou que ela poderia ter me matado se quisesse, seria naquele momento. Sua mão esquerda, mais fria que a de um cádaver congelado, era extremamente forte, muito forte para uma senhora débil mental, com seus generosos 1,55 de altura e seus 52 quilos. Ela segurou minha mão forte o suficiente para machucar e olhou para mim com os mesmos olhos carnívoros que me olhou ao pé da cama. Ela apontou o outro braço para o nada negro do terreno e, pela primeira vez naquela noite, eu achei que havia algo ali. Uma terceira presença que eu nunca havia notado em minha vida. Eu não conseguia vê-lo, mas sentia que estava ali, no meio da vegetação alta e escura, me observando, me querendo, até mesmo me desejando. O pavor em meu rosto era notável, minha garganta seca e o rosto pálido só conseguia olhar para o escuro vazio onde ela apontava. E eu acreditava ser melhor assim, não queria olhas naqueles olhos demoníacos dela de novo. Não centrados ao meu lado, pois sabia que se eu olhasse, era o mesmo que estar olhando para o rosto e olhos do próprio diabo querendo devorar minha alma em mordidas lentas e dolorosas. Olhar o vazio negro e assustador era mais reconfortante que isso. Em meio ao meu pavor, ela aperta minha mão mais forte e diz, com uma voz grossa e amedrontadora que nunca lhe pertenceu: ''Então, consegue ver agora? Ele está aí, bem a sua frente... E ele lhe quer, John, ele quer seu sangue e sua morte. Como ele morreu, como ele teve que morrer, você também vai... E ele, comigo, irá beber seu sangue e o de sua mãe para que assim possamos viver juntos para sempre...''. Antes de permitir que aquela voz horrível continuasse proferindo qualquer tipo de absurdo insólito, soltei meu braço do repuxe dela e corri para o meu quarto, tranquei a porta e gritei o mais alto que pude pela minha mãe. Minha mãe tinha o sono pesado, mas o nível dos meus gritos estavam tão altos que eram capazes de derrubar aquela casa. A minha avó, ou o que quer que ela fosse naquele momento, me seguiu e começou a bater na porta, gritando: ''Você não vai fugir, John, você não pode. Eu já estou aqui, ele já está aqui, é só uma questão de tempo, John, você vai morrer e a vovó vai cuidar de você, e de seu corpo, das suas entranhas e, quem sabe, dos seus pulmões. Já comeu pulmões, John? Que gosto será que os seus tem?''.

A voz ainda possuía o mesmo tom demoníaco de antes, só que, ao passo em que minha mãe acordou e se aproximou da porta do seu quarto, o grave daquela voz foi perdendo força e minha avó foi parando de falar aquelas coisas horríveis, voltando ao seu tom de fala fraco e normal, somente batendo na porta quando minha mãe finalmente sai do seu quarto e diz: ''Mamãe, já não pedi para pará-lo de o assustar?'', ela então responde: ''Me desculpe minha filha, só estava com saudades do meu neto'' e se afastou. Não ouvi nada demais até o resto daquela noite e simplesmente dormi para esquecer tudo aquilo, mas vez ou outra acordei de madrugada. Com medo. O mais simples e puro medo de ela novamente estar no pé da cama pronta para me arrastar para o inferno. Mas ela não estava.

Desde aquela noite, ela passou a cantar uma música horripilante sobre um homem deformado, que espreitava e comia crianças e adolescentes. Eu tenho 11 anos. E acredite, eu estava no meu limite. O terror que morar naquela casa tinha se tornado me fez repensar toda minha leve vida até aquele momento. Se eu soubesse que minha própria avó me causaria mais medo do que o próprio diabo encarnado, eu nunca teria vindo morar aqui com ela e minha mãe. Mas, de toda forma, não posso deixar minha mãe aqui com ela. Eu amo minha mãe. E sempre que ela terminava de cantar, parava na porta do meu quarto, batia nela, e não dizia nada, mas estava lá. Se eu abrisse a porta, ela estaria ali e eu sabia disso. Eu não podia abrir a porta pelo fato de estar com mais medo da minha avó do que do próprio diabo.

Agora eu me pergunto o que há de fato: Minha avó é louca, e tem delírios mentais pelo dor remoída da perda prematura de seu primeiro e preferido filho ou ela realmente vê esse homem com a cara destruída e despedaçada, e incorpora sua existência enquanto amedronta a minha? De certo modo, eu não queria saber...

Mas sabe, já são 12:30 e eu preciso ir para a escola.

Os acontecimentos conseguintes são os mais surreais de toda a minha vida e eu simplesmente não queria tê-los visto ou vivido. O horário que eu voltava da escola era sempre 18:30, 19:00 no máximo, geralmente quando o rapaz do transporte se atrasava por algum motivo específico, seja trânsito ou quaisquer outras coisas. Hoje, foi um desses dias de atraso. Mas o trânsito estava realmente horrível. O rapaz sempre me deixava na porta de casa, então eu descia e abria o primeiro portão com minha chave e andava até minha casa, que ficava lá no fundo, do lado de um terreno vazio enorme e assustador, com gramado alto verde-escuro e entulhos, que sempre ficava preto quando era noite.

Aquele dia, em especial, foi diferente, minha avó estava perfeitamente bem pela manhã, sem dizer ou agir estranhamente, como de costume, me deu ''Bom dia'' e serviu meu café e o da minha mãe. Nos sentamos na mesa, mas no momento vocês devem se perguntar como uma mulher louca pode servir café. De fato, minha avó era louca, mas ela conseguia inexplicavelmente ter picos de sanidade vez ou outra, conversar e até servir/fazer sua própria comida. Não era sempre, mas quando ocorria, minha mãe não gostava de interromper ela e, bem ela nunca se machucou antes fazendo isso, ou machucou alguém, então não havia problema. Ao sentarmos, ela falou pela primeira vez sobre o ocorrido com seu marido e filho, meu avô e tio. E falou de uma maneira tão lúcida e genuína que vi minha mãe ficar pálida do outro lado da mesa. Ela nunca falou sobre isso nos últimos quarenta anos. Mas não falou muito, nem entrou em detalhes, disse breves dez palavras: ''Quando vi seu irmão caído no chão, eu morri junto com ele naquele dia''. E então se calou, não disse mais que uma breve palavra naquela manhã. Ninguém se atreveu a falar nada depois disso. Minha mãe estava gélida pela surpresa, mas triste pelo dito. Eu não me atreveria a dizer nada por ser pequeno e também por ter ao menos uma noção da carga emocional que isso carrega para minha mãe. E minha avó, bem, ela simplesmente não disse mais nada por motivos óbvios. Naquela manhã, terminamos nossos cafés, nossos biscoitos e nos levantamos. Lembro de ter dado as costas para mesa quando, por sobre os ombros, escutei minha avó dizer mais algumas palavras para minha mãe: ''Você sabe que dia é hoje, não é, Layla? Foi no dia de hoje que ele morreu...''

Eu não disse nada. Só escutei, mas escutei perfeitamente, e foi isso que mais me assustou durante o dia e que me assombra agora, ao olhar para esse terreno mais negro que o tecido espacial refletindo meu medo essa noite.

Vou andando em passos vagarosos até minha casa, contando mentalmente (1,2, um, dois), ao me aproximar cada vez mais, meu peito vai se fechando num medo que corrobora o motivo de tudo: eu tenho medo de morrer! Tenho medo de saber que meu tio morreu hoje e tenho medo de saber o que aquilo que minha avó disse para minha mãe hoje significa. Então, apresso os passos, ao aproximar-me da porta, notei que ela estava entre-aberta, e então escuto aquela música demoníaca que minha avó vinha cantando dias atrás para mim. Noto que ela parece ter sentindo minha presença ali e gargalhou, uma gargalhada mais oca e dolorosa, que feliz. Empurro A PORTA e entro. De olhos fechados. Entrei em casa de olhos fechados. E então, com mais medo do que já senti na vida, abro os dois olhos lentamente...

E vejo... Cristo!

Eu vejo o próprio INFERNO! O chão da sala de estar está em uma poça gigantesca de sangue, um sangue negro e pastoso, como tinta ressecada. Está no chão e escorrendo aos meus pés. É minha mãe, morta, com um tiro de espingarda na cabeça e um buraco enorme na parte de trás do couro cabeludo. Minha avó está sentada na cadeira de balanço ao lado dela, rindo e cantarolando:

''Conte os passos, abra a porta, eu quero entrar, é o mal encarnado...
''Conte os passos, abra a porta, eu quero entrar, é o mal encarnado...
''Conte os passos, abra a porta, eu quero entrar, é o mal encarnado...

Meu coração se fecha e eu não consigo respirar. Sinto meu peito e minhas pernas pesarem, como se estivesse preso, mas mesmo assim ameaço correr e a porta nas minhas costas simplesmente bate. E então minha avó levanta, com a voz num tom tão grave, que parecia uma legião de pessoas, melhor, de demônios se expressando por ela:

''Eu disse, não disse, John? Eu disse que ele existia, disse que estava aqui, mas você acreditou em mim, John? Acreditou? Não, não é? Veja sua mãe, morta no chão agora, John, consegue ver? Em? Acredita nele agora, John? Acredita em mim, John, em?'' E então sorri um riso macabro, com suas mais de 1000 vozes em uníssono. Minha espinha arrepia. E ela continua:

''Eu sempre o vi John. E, acredite, você não vai morrer, não, não vai... Eu seria boa demais se fizesse isso, ele seria bom demais. Você deve se perguntar o porquê de tudo isso, não é? Mas não há um ''porquê'', John... O mal existe e ele se favorece dos fracos, John, quando você se mata, John, você vende sua alma ao diabo e tudo que é seu, ou foi seu, pertence ao mesmo. Mas isso não acaba aqui, não, você vai viver e vai ser o próximo hospedeiro do mal, da loucura e da desgraça, John...''

Eu quero correr para o meu quarto e me trancar, mordo a língua para quebrar a transe e vejo minha avó possuída repetir: ''Pode correr!'', e então corro em direção ao quarto, só que quando vou entrar, algo invisível esbarra em mim, que, aos poucos, deixa de ser invisível, e então um homem de terno preto e com a cara destruída pelo que parece ser um tiro de espingarda aparece diante de mim e cospe sangue morto na minha cara. E então minha avó diz:

''É ele, John, tudo começou por ele. Foi ele quem se matou e vendeu sua alma ao diabo no processo''.

Nesse momento, eu não tenho mais forças para correr, eu apenas me debulho no chão em meio ao sangue da minha mãe, o espírito vingativo e horripilante do meu tio cuspindo sangue morto em mim e minha avó possuída, me dizendo: ''Bem, está na hora de acabar, mas você não vai morrer, John...''.

Eu sei o que ela vai fazer, ela vai atirar na cara, como seu filho e como assassinou minha mãe. Então me encolho no canto da parede e abaixo minha cabeça entre as pernas. NÃO QUERO VER, NÃO QUERO VER, NÃO QUERO VER. Mas ela grita:
''Não, você vai ver, John! Foi tudo para isso, é tudo por isso! Você vai ver... Pegue-o!''

E então o homem com a cara destruída me segura pelo pescoço com uma força sobre-humana, segura meus braços e puxa meu cabelo para trás, forçando minha cabeça contra minha avó possuída, que diz:

''Acabou, John, veja! Somente veja, sua mãe morta, caída na escuridão e tomada pelo mal. Pelo diabo. Ela vai apodrecer no inferno e você não irá poder seguí-la, pois você não irá morrer, você é o próximo herdeiro da escuridão, loucura e debilidade. Quando eu acabar aqui, os delírios, os demônios e os fantasmas serão seus, todos seus, para sempre... Até que você encontre outra família para continuar o ritual de destruição e loucura com outro hospedeiro. Até lá, você vive!''

Terminando de dizer o ''você vive, a avó demoníaca ajoelhou-se ao lado da filha morta, engatilhou a espingarda e apertou contra o céu da boca, que espatifou seu cérebro do outro lado e fez carne fresca e sangue virgem do seu cérebro ecoarem pela sala. O menino agora viu a legião de demônios incorporados em sua avó saírem e adentrarem no seu corpo, todas as vozes começaram a falar ao mesmo tempo em sua mente e tudo que ele tinha ao campo de visão era o do homem de terno preto e com o buraco na cara, que simplesmente o perseguia em qualquer direção que olhasse (toda a loucura agora é sua, disse sua mente). Ele não conseguia andar, então sorriu, caiu, queria dormir e ver se tudo era um sonho, mas não conseguia. As vozes na sua cabeça repetiam incessantemente coisas negativas (você vai morrer, você é louco, louco, feio, louco, lixo, lixo) e essas degradações mentais nunca acabavam. Ele então decidiu morrer. Se arrastou em dois pés com o pingo de consciência que ainda lhe restava até o corpo morto da avó, retirou a espingarda de sua boca e por algum momento achou que seu tio morto o impediria de se matar, mas não o faz. Ele então seguiu até o lado do corpo da mãe e beijou-a no rosto. E disse:

- Isso é só um sonho, vai acabar! - Disse.

E puxou o gatilho, mas não havia balas. Ele sorriu.

- Só lhe resta o seu pai! (ecoou uma das vozes em sua mente, uma que lhe parecia com sua avó).
- Verdade! - Disse ele.

Ele então retira o celular do bolso e liga para o pai! O que se sucede aqui é, que aos poucos, a essência demoníaca que se apoderou do corpo dele vai tomando sua consciência num nível que, aquilo que existia antes, já não existiria mais em pouco tempo. Só haveria loucura, morte, escuridão. E dívida. Muita dívida.

O celular chama duas vezes, e:

- Alô, John? - Disse o pai.
- Oi, pai, sou eu! - Disse ele.
- Tudo bem com você, meu filho?
- Sim, pai! (ele não disse a verdade, o mal não permitiu)
- O que quer?
- Será que (vozes na cabeça começam a assumir) eu posso ir morar com você de novo? - Disse.
- Mas é claro, meu filho! Onde está sua mãe? - Disse o pai!
- Ela não pode falar agora! (e esse foi o último resquício de consciência do garoto)
- Vou pegar um voo e ir te buscar amanhã!
- Ok, p-p-pai! Seremos uma linda família! (e na mente do garoto somente ecoou um pensamento verdadeiro: eu quero matar você, pai, você vai MORRER!)

Autor: The Nightmare

08/10/2019

Um Pai Desesperado

Já fazem 3 meses.

Para alguns esse tempo pode durar muito. 

Mas para um pai desesperado... Dura uma eternidade.

Há exatos 3 meses, meu pequeno filho Urian saiu para brincar com seus amigos pela madrugada, escondido de mim.

Fui acordado aos gritos pelos garotos, todos dizendo que Urian havia ficado preso em uma casa a qual eles invadiram durante a noite para pregar uma peça.

Sem pensar duas vezes, fui voando até o suposto local. Ao chegar lá, encontrei meu pequeno garoto, assustado, como uma criança, sentado em um sofá-cama, rodeado de pessoas.

Tentei tirá-lo dele sem que percebessem, mas logo vi que seria inútil. Se eu quisesse salvar meu filho, teria que ficar naquela casa também e assumir o lugar como pai.

Demorei um pouco para me acostumar com os costumes estranhos e as regras a se seguir ali. Mas saber que nada seria tão difícil quanto ficar sem meu filho, me dava forças para me sustentar naquele ambiente desgostoso.

Fui forçado a levar o menino à médicos, submetê-lo a diversos exames, os quais eu sabia que não resultariam em nada.

Nenhum médico poderia resolver aquilo. Não era desse mundo.

E a medida que o tempo passava, a situação piorava. O corpo de uma criança não resistiria muito tempo.

Depois de muito insistir, foi permitido que eu chamasse um sacerdote. Chamei um, depois outro, depois outro. Chamei vários, de todos os tipos.

Inúteis! Todos com seus pózinhos e líquidos mágicos que apenas fizeram o garoto se contorcer por horas e horas enquanto eu era obrigado a assistir toda aquela tortura.

Inúteis.

Fazem exatos 3 meses que Urian saiu de casa para brincar com os amigos. Eu devia tê-lo dito que ele era novo demais para brincar dessas coisas.

Eu estou desesperado.

Por favor, ALGUÉM ME AJUDE A TIRAR MEU FILHO DE DENTRO DESSA CRIANÇA!

Autor: Lucas Queiroz

01/10/2019

Infernum

“Um gosto do inferno” ou apenas “Infernum”, era o título de um livro que teria sido escrito por uma pessoa chamada Carrie Shay. Um trecho que seria parte do livro, foi publicado no Reddit em 2008. A autora em questão, comentou que planejava publicar um livro de contos, pedindo a opinião das pessoas sobre o que achavam dos seus textos e poemas. O que se sabe de Carrie, é que a mesma era uma garota esquisita, as vezes falando sobre depressão, suicídio e assuntos mais complicados como incesto, pedofilia e outras coisas que não queremos ouvir na mesa de jantar e nem em um círculo animado de amigos.

Ao ser perguntada por alguém sobre que tipo de contos ela escrevia, a mesma disse que adorava escrever coisas para chocar o leitor, se baseando em algumas histórias japonesa obscuras que você encontra nas entranhas da internet.

"Assisti vários filmes que as pessoas consideram pesados e chocantes, porém, nunca me fizeram sentir nada. A maioria era focada no Gore, forçavam tanto para chocar o telespectador que começava a ficar ridículo. Eu queria escrever algo que os deixassem desconfortáveis, acho que a leitura tem um poder bem maior para fazer isso. Quero que eles leiam e fiquem “Meu Deus!”.

Essa foi uma de suas respostas para um dos seus poucos fãs na época. Ainda assim, nem sempre os textos e poemas de Carrie tinha temas pesados, alguns eram interessantes e abertos a interpretações. Um deles, sem um título, foi postado por ela em 2007, um ano antes dela chutar o balde de vez com “Infernum”.

“Acorde e vá para de baixo da cama
Lá fora o inferno reina
O demônios tentaram quebrar as janelas
Espere o som diminuir e depois volte a dormir
Assista a Tv pela manhã
Veja as pessoas felizes em um local distante
Sorrindo para as folhas levadas pelo vento de uma tarde de outono
Nós estamos presos
Neste canto do mundo
Os demônios estão vindo
E demônios mais poderosos estão logo atrás
Aqueles que lhe dão poder
Aqueles que lhe dão liberdade
Aqueles que falam de amor
Apenas volte a dormir
O amanhecer continua belo.”

Alguém uma vez a perguntou o motivo de usar bastante a palavra “Inferno” em suas histórias, Carrie simplesmente respondeu

"Acho que vivemos um gosto do inferno neste mundo, entende? Este lugar é terrível. Vivemos em uma espécie de demonstração e devemos tirar uma lição disso, devemos ser boas pessoas. Não tem nada de bom aqui, tudo é uma merda. Mas, ainda pode piorar. Como eu disse, esse mundo é apenas uma pequena amostra, você não quer ver o que vem a seguir. Sejam boas, crianças".

Podemos perceber que ela não tem uma visão muito otimista do mundo, algo não muito sério, quer dizer, muitas pessoas tem pensamentos extremos de como o mundo é um lugar cruel e problemático, entretanto, muitas dessas pessoas tendem a ter fiéis seguidores que concordam com tudo que elas dizem.

Ela continuou postando seus contos normalmente até agosto de 2008, quando começou a agir estranhamente, não respondendo mais seus “fãs” como antes. Notando essa mudança de humor, todos começaram a perguntar o que estava se passando, se ela estava bem, se algo tinha ocorrido. Então, ela resolveu responder.

"Em algum lugar, neste momento, uma pessoa tá sendo mantida em cativeiro. Ela está sendo torturada e estuprada. Os demônios estão arrancado suas entranhas. Como conseguimos viver sabendo que isso tá acontecendo em algum canto desta merda de mundo? Não consigo ficar bem com isso, cara. Eu odeio gente como vocês, que falam em viver a vida ao máximo, viver no limite da porra toda, que coisa mais inútil. Isso tudo é um pesadelo no qual estamos presos até finalmente acordamos. Vocês sabem muito bem quando acordaremos"

Alguns dias depois ela respondeu as pessoas uma última vez, agora falando sobre o livro. Ela não falou muito do conteúdo, apenas seu título foi dito e o seguinte trecho

“Tudo parecia um sonho distante, nada mais restava, nem lembranças, nada. A única certeza em sua mente era a morte, acompanhada de seis seres grotescos ao som de um filme dos anos 90. Não sentiria mais o calor das manhãs de verão, o único calor que sentirá é aquele que a fará brilhar por toda a floresta. Não podemos esquecer também do homem de mil faces. Ele entrará em sua residência pela madrugada e devorará sua carne”

Depois disso, Carrie não postou mais nada. Muitas discussões ocorreram até alguns usuários chegarem à conclusão que uma parte do trecho batia bastante com a descrição do assassinato real de Suzanne Capper, que ocorreu em dezembro de 1992. Já a parte do homem de mil faces, poderia ser apenas outra coisa envolvendo outro assassinato brutal? Teorias foram discutidas, mas ninguém chegou a um acordo sobre o que se tratava. Pessoas apareceram dizendo conhecer Carrie, afirmando que ela cometeu suicídio depois de delirar uma noite inteira. Outras diziam que ela apenas resolveu se concentrar em seu livro. Nada foi comprovado. Anos se passaram e não se tem nenhuma notícia de um livro com tal título escrito por essa autora, o que aumentou ainda mais as crenças em um possível suicídio. Seus poucos seguidores continuam esperando uma resposta, mas a verdade é que Carrie tornou-se apenas alguém esquecida no tempo que, ainda não explicou exatamente no que estava pensando quando resolveu tocar no assunto do "Homem de mil faces". Eu apenas passei a trancar melhor as portas de casa toda noite, por precaução.

Autor: Tai

25/09/2019

O Barulho

Eu não sei quando começou exatamente, mas eu percebi há algumas noites atrás, ainda era cedo, entre 18:30 e 19:00 da noite eu estava assistindo televisão na sala e eu ouvi esse barulho, era baixo, fazia “toc....toc” tinha um intervalo de uns 3 segundos entre um “toc” e outro. Inicialmente pensei que era meu sobrinho de 3 anos quebrando alguma coisa escondido, mas o barulho vinha da entrada da casa que estava com a luz apagada, não poderia ser meu sobrinho porque ele tem medo do escuro, eu percebi que o barulho vinha de baixo do carro então o mais provável era que fosse algum animal saltante como um gafanhoto ou um sapo que estivesse em baixo do carro tentando sair se batendo contra o fundo do carro quando saltava, minha suspeita se “confirmou” quando eu liguei a luz da garagem e olhei embaixo do carro, não vi nada, mas o barulho parou do mesmo modo como grilos param de cricrilar quando a gente se aproxima deles, e voltou quando eu desliguei a luz e sai de lá. ‘Que bicho chato!’, eu pensei.

O que me restava fazer era aumentar o volume da televisão e tentar ignorar o barulho, mas, mesmo o volume da TV estando alto ao ponto de as outras pessoas da casa reclamarem da altura, eu ainda ouvia o barulho. Como uma espécie de birra eu decidi ver o filme até o final mesmo com o barulho me perturbando, depois decidi ir para o meu quarto para me distanciar mais. Funcionou por um tempo, eu li um pouco, depois fiquei no celular até sentir sono, quando o sono veio eu apaguei a luz do quarto e dormi.

Não sei que hora da madrugada era quando acordei no meio da noite, eu não olhei porque não importava, eu só queria voltar a dormir pois tinha que acorda cedo de manhã para ir para o trabalho, mas antes que eu conseguisse, eu ouvi, era um barulho igual ao primeiro só que um pouco mais alto como se a fonte do som estivesse mais próxima, mas não podia ser o mesmo, não faria sentido se fosse, meu quarto ficava do lado do quintal que é o oposto da entrada. A janela do meu quarto fica próxima à torneira do quintal, então pensei que esse novo barulho era o resultado da agua batendo no fundo do balde quando a torneira pingava, tentei ignorar e voltar a dormir, mas o barulho apesar de não ser alto me desconcentrava, era irritante ao ponto de eu chegar a pular a janela para fechar direito a torneira e, para minha surpresa, ela não estava pingando. Voltei para dentro e conferi a pia da cozinha, a do banheiro, o chuveiro e até a caixa de descarga do vaso sanitário, nada estava pingando. Sem sucesso aparente, eu voltei para meu quarto, quando cheguei percebi que o barulho havia parado, pelo menos por enquanto. Eu deitei, peguei o cobertor, liguei o ventilador e no exato momento em que eu desliguei a luz o barulho voltou e dessa vez estava dentro do quarto.

Me veio à mente uma última explicação possível: O ventilador devia estar com uma engrenagem quebrada e esse barulho era o estalo da engrenagem. Quem já segurou um ventilador para ele não girar alguma vez só por curiosidade ou outro motivo, sabe que as engrenagens estalam quando se faz isso. O teste dessa hipótese foi o que me de assustou pela primeira vez. No momento que eu liguei a luz para examinar o ventilador, o barulho parou, o ventilador ainda estava ligado e não emitia nenhum som de estalo semelhante aos “Tocs” do barulho, e, alguns segundos depois que eu desliguei a luz ele voltou. O barulho só era ouvido no escuro. Eu lembrei que o barulho de baixo do carro parou quando eu acendi a luz da garagem, não tinha barulho quando eu estava lendo com a luz do quarto ligada, o barulho do quintal parou quando eu abri a janela para ver a torneira, quando eu fui conferir as torneiras da cozinha e do banheiro não tinha barulho porque a luz do quarto ficou ligada e o barulho voltou quando eu desliguei a luz.

Eu comecei a ficar paranoico, meu quarto tem um interruptor ao lado da cama então eu podia ligar e desligar a luz sem ter que levantar, eu comecei a fazer isso várias vezes e o resultado foi sempre o mesmo: o barulho parava quando a luz acendia e voltava quando a luz apagava. ‘Esse barulho é só um inseto que entrou no quarto quando eu abri a janela.’ Eu queria acreditar nisso. Era a única explicação lógica possível. Num instinto infantil de autopreservação eu cobri meu roto totalmente com cobertor dizendo a mim mesmo que estava fazendo aquilo para não ser picado pelo “inseto” e dormi com a luz ligada.

No dia seguinte não havia mais barulho, eu acordei tarde e não tive tempo de procurar pelo inseto, mas prometi mim mesmo que quando eu voltasse do trabalho aquele maldito bicho ganharia uma boa sapatada. Quando eu cheguei, para a satisfação da minha mãe, eu limpei todo o quarto com a intenção de encontrar o bicho que não me deixou dormir à noite, eu encontrei 4 baratas, 2 grilos e muitas traças, mas nada do inseto que fazia aquele barulho imaginei que ele fugiu enquanto eu estava no trabalho, pelo menos minha noite seria tranquila, eu imaginei.

O início da noite foi bem tranquilo, só por precaução eu deixei a luz da garagem ligada, não ouvi nada, até as 21:00, ainda era um pouco cedo para dormir, eu geralmente durmo às 22:30, mas senti sono cedo talvez por não ter dormido o suficiente na última noite, eu fui deitar fiquei mexendo no celular até estar totalmente sonolento minha intenção me forçar a dormir à noite toda sem acordar de madrugada de novo. Quando o sono veio, eu até considerei deixar a luz ligada, mas pensei que isso era besteira eu havia conferido o quarto todo de tarde e não havia nenhum bicho. Desliguei a luz e dormi.

O plano não deu muito certo, eu não consegui dormir por toda a anoite, eu acordei e ele estava lá, o mesmo barulho parecia estar dentro do quarto em algum lugar em cima do roupeiro. Eu liguei a luz e subi em uma cadeira para olhar em cima do roupeiro, mas não encontrei nada, quando a luz apagou o barulho estava em baixo da cama, depois embaixo da mesa e depois em atrás do ventilador, cada vez que eu ligava a luz o barulho mudava de lugar. Eu estava começando a ficar com medo, eu estava criando teorias sobre isso ser um fenômeno paranormal, eu tentava me convencer que não é um tipo de fantasma pois em relatos sobre fantasmas as pessoas sempre afirmam sentir presenças como se houvessem pessoas perto ou observando, eu não sentia isso, eu não sentia nenhuma presença, eu só ouvia o barulho.

Sem poder fazer nada decidi dormir ou pelo menos tentar, eu me cobri totalmente com o cobertor inclusive meu rosto e fechei os olhos e fiquei parado esperando o sono, como uma forma de tentar provar para mim mesmo de que não era nada demais aquele barulho eu decidi apagar a luz para dormir, o barulho voltou, e dessa vez estava bem em cima de mim, do outro lado do cobertor, isso me deixou nervoso, aquilo com certeza não era um inseto, eu tentei ficar imóvel mas o medo era mais forte eu comecei a tremer e surpreendente o barulho parou, por um instante eu achei que ia ser atacado pelo monstro imaginário que eu crie na minha mente, mas nada demais aconteceu, ele só recomeçou num ponto mais distante como se meu movimento tivesse feito ele se afastar.

Nesse momento eu percebi que não era exatamente a luz, era minha presença que fazia ele parar, ele se escondia quando eu procurava, era uma espécie de jogo de provocação. Seja o que for que estivesse fazendo o barulho só fazia quando estava a uma distância segura ou quando achava que eu estava dormindo. Eu me sentia como o guarda dorminhoco de uma comédia dos anos 90, quando eu mexia o barulho parava quando eu parava o barulho voltava, era como se fosse uma criança com medo de eu acordar e pegar ele no ato de uma travessura. Isso me deu uma certa coragem pois parecia que ele tinha medo de mim, mas também me preocupou pois finalmente eu me convenci de que o que fazia o barulho sabia o que estava fazendo.

Cheguei a consultar um médico psiquiatra com medo de estar tendo alucinações, mas os exames indicaram que minha saúde mental está perfeita. Cheguei a pesquisar rituais para expulsar fantasmas e criaturas sobrenaturais, mas nada funcionou, a situação só piorou, pois depois deles o barulho percebeu que eu sabia sobre ele, sabia que ele era um ser pensante, ele parou de se “esconder”, ele não espera mais a noite, nem que eu durma ou que a luz apague. O barulho agora me perturba o dia inteiro. Eu não tenho mais medo, mas mesmo assim o barulho me irrita, eu não consigo trabalhar ou dormir direito, onde quer que eu vá o barulho me acompanha. Não sei o que está fazendo ele se é um anjo, um demônio, um fantasma, um duende ou um ET. Eu só quero que esse maldito barulho pare!

Autor: Nemo

21/09/2019

03/09/2019

Infernum

“Um gosto do inferno” ou apenas “Infernum”, era o título de um livro que teria sido escrito por uma pessoa chamada Carrie Shay. Um trecho que seria parte do livro, foi publicado no Reddit em 2008. A autora em questão, comentou que planejava publicar um livro de contos, pedindo a opinião das pessoas sobre o que achavam dos seus textos e poemas. O que se sabe de Carrie, é que a mesma era uma garota esquisita, as vezes falando sobre depressão, suicídio e assuntos mais complicados como incesto, pedofilia e outras coisas que não queremos ouvir na mesa de jantar e nem em um círculo animado de amigos.

Ao ser perguntada por alguém sobre que tipo de contos ela escrevia, a mesma disse que adorava escrever coisas para chocar o leitor, se baseando em algumas histórias japonesa obscuras que você encontra nas entranhas da internet.

"Assisti vários filmes que as pessoas consideram pesados e chocantes, porém, nunca me fizeram sentir nada. A maioria era focada no Gore, forçavam tanto para chocar o telespectador que começava a ficar ridículo. Eu queria escrever algo que os deixassem desconfortáveis, acho que a leitura tem um poder bem maior para fazer isso. Quero que eles leiam e fiquem “Meu Deus!”.

Essa foi uma de suas respostas para um dos seus poucos fãs na época. Ainda assim, nem sempre os textos e poemas de Carrie tinha temas pesados, alguns eram interessantes e abertos a interpretações. Um deles, sem um título, foi postado por ela em 2007, um ano antes dela chutar o balde de vez com “Infernum”.

“Acorde e vá para de baixo da cama
Lá fora o inferno reina
O demônios tentaram quebrar as janelas
Espere o som diminuir e depois volte a dormir
Assista a Tv pela manhã
Veja as pessoas felizes em um local distante
Sorrindo para as folhas levadas pelo vento de uma tarde de outono
Nós estamos presos
Neste canto do mundo
Os demônios estão vindo
E demônios mais poderosos estão logo atrás
Aqueles que lhe dão poder
Aqueles que lhe dão liberdade
Aqueles que falam de amor
Apenas volte a dormir
O amanhecer continua belo.”


Alguém uma vez a perguntou o motivo de usar bastante a palavra “Inferno” em suas histórias, Carrie simplesmente respondeu

"Acho que vivemos um gosto do inferno neste mundo, entende? Este lugar é terrível. Vivemos em uma espécie de demonstração e devemos tirar uma lição disso, devemos ser boas pessoas. Não tem nada de bom aqui, tudo é uma merda. Mas, ainda pode piorar. Como eu disse, esse mundo é apenas uma pequena amostra, você não quer ver o que vem a seguir. Sejam boas, crianças".

Podemos perceber que ela não tem uma visão muito otimista do mundo, algo não muito sério, quer dizer, muitas pessoas tem pensamentos extremos de como o mundo é um lugar cruel e problemático, entretanto, muitas dessas pessoas tendem a ter fiéis seguidores que concordam com tudo que elas dizem.

Ela continuou postando seus contos normalmente até agosto de 2008, quando começou a agir estranhamente, não respondendo mais seus “fãs” como antes. Notando essa mudança de humor, todos começaram a perguntar o que estava se passando, se ela estava bem, se algo tinha ocorrido. Então, ela resolveu responder.

"Em algum lugar, neste momento, uma pessoa tá sendo mantida em cativeiro. Ela está sendo torturada e estuprada. Os demônios estão arrancado suas entranhas. Como conseguimos viver sabendo que isso tá acontecendo em algum canto desta merda de mundo? Não consigo ficar bem com isso, cara. Eu odeio gente como vocês, que falam em viver a vida ao máximo, viver no limite da porra toda, que coisa mais inútil. Isso tudo é um pesadelo no qual estamos presos até finalmente acordamos. Vocês sabem muito bem quando acordaremos"

Alguns dias depois ela respondeu as pessoas uma última vez, agora falando sobre o livro. Ela não falou muito do conteúdo, apenas seu título foi dito e o seguinte trecho

“Tudo parecia um sonho distante, nada mais restava, nem lembranças, nada. A única certeza em sua mente era a morte, acompanhada de seis seres grotescos ao som de um filme dos anos 90. Não sentiria mais o calor das manhãs de verão, o único calor que sentirá é aquele que a fará brilhar por toda a floresta. Não podemos esquecer também do homem das mil faces. Ele entrará em sua residência pela madrugada e devorará sua carne”

Depois disso, Carrie não postou mais nada. Muitas discussões ocorreram até alguns usuários chegarem à conclusão que uma parte do trecho batia bastante com a descrição do assassinato real de Suzanne Capper, que ocorreu em dezembro de 1992. Já a parte do homem das mil faces, poderia ser apenas outra coisa envolvendo outro assassinato brutal? Teorias foram discutidas, mas ninguém chegou a um acordo sobre o que se tratava. Pessoas apareceram dizendo conhecer Carrie, afirmando que ela cometeu suicídio depois de delirar uma noite inteira. Outras diziam que ela apenas resolveu se concentrar em seu livro. Nada foi comprovado. Anos se passaram e não se tem nenhuma notícia de um livro com tal título escrito por essa autora, o que aumentou ainda mais as crenças em um possível suicídio. Seus poucos continuam esperando uma resposta, mas a verdade é que Carrie tornou-se apenas alguém esquecida no tempo que, ainda não explicou exatamente no que estava pensando quando resolveu tocar no assunto do "Homem de mil faces". Eu apenas passei a trancar melhor as portas de casa toda noite, por precaução.

Autor: Tai