Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Parte 7
Parte 8
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Parte 7
Parte 8
Ultimamente o
assunto tem sido sonhos, então é com isso que vou continuar. Eu
lembro que Beau não me visitava sempre durante as horas em que eu
brincava. Eu constantemente sonhava com ele durante a noite, me
unindo a ele em suas aventuras ou continuando as nossas. Talvez por
isso as memórias tenham ficado tão turvas. Algumas partes são
incrivelmente vívidas, como se eu as pudesse ver com o olho da
mente. Outras mal fazem sentido e eu mal consigo entender o que está
acontecendo nelas. Enfim, a próxima história é Beau e os Apanhadores de Sonhos.
Beau observa Vox dormir, por aelur |
Rei Beau
gostava de me ver cair no sono. Ele apoiava seu queixo na minha cama
e sorria com a boca levemente aberta, os dentes brilhando com a luz
da lua. Eu falava com ele por algum tempo, mas nós tínhamos que
cochichar porque se minha mãe nos ouvisse, ela entraria no quarto
para reclamar.
Uma noite eu
falei pra ele que esperava ter um bom sonho. Ele me garantiu que eu
teria.
“Eu lhe
trago sonhos”, ele disse. “Eu posso pegar qualquer sonho de que
eu goste nos campos e trazer para você quando você dorme.” Eu
perguntei como isso era possível, e essa foi a história que ele me
contou.
Em suas
caminhadas, Rei Beau não vinha apenas ao nosso mundo para roubar
vozes. Haviam muitas coisas para ver por todo lugar e muitas coisas
para roubar para si. Em uma jornada em particular ele se viu nos
campos dos sonhos. Eles não eram campos como os que conhecemos, de
grama e flores. Era um plano cheio de névoa que nunca se dissolvia.
Por entre a névoa ele podia ver pequenos brilhos, como pequenos
relâmpagos dentro das nuvens. Conforme ele se aproximou, os brilhos
projetavam imagens na névoa, mas apenas por poucos segundos. As
cenas eram clipes de pessoas voando ou animais ou lugares. Eram
sonhos.
Beau não
estava sozinho nos campos. Conforme ele passou pela névoa, ele
encontrou estranhas criaturas. Elas sentavam nas pedras ou se
deitavam no chão encarando a névoa. Elas tinham grandes canos que
usavam para sugar os brilhos conforme apareciam. Eles caçavam os
sonhos e os comiam.
Sonhos não
são nada. Eles não tem valor ou substância. São apenas
pensamentos perdidos e a sujeira da mente. Ao menos era assim que
Beau os descrevia. Por isso, os corpos dos Apanhadores de Sonhos
estavam sempre procurando por mais, mesmo que suas mentes precisassem
apenas de sonhos doces. Eles tinham tentáculos saindo de cada um dos
poros de sua pele, raízes sempre procurando mais para sustentá-los.
Qualquer coisa que entrasse nos campos seria atacada por seus
tentáculos famintos e perfurantes.
Beau, como
sempre, não estava com medo de qualquer caçador ou sonho. Ele andou
pelo campo porque não havia uma rota alternativa e ele
definitivamente não ia voltar depois de chegar em um lugar tão
interessante. Infelizmente as raízes dos Apanhadores começaram a
notar sua presença, e logo até os Apanhadores não podiam resistir à ideia de
agarrar suas vestes e tentar arrastá-lo para o chão para si. Os Apanhadores não tinham dentes porque tudo que eles faziam era sugar
em canos. Seus olhos eram enormes, e seus narizes pareciam mais com
bicos. Beau tentou lutar contra eles, mas, contrário às faces na
caverna do Monstro do Closet, os Apanhadores não estavam presos ao
chão. Eles o sobrecarregaram em número.
Beau roubou
um dos canos e tentou mantê-los distantes, mas os tentáculos eram
pequenos e entraram em sua pele. Quando as criaturas haviam quase que
completamente arrastado-o para o campo, uma grande corneta tocou. Os Apanhadores pararam e então correram, como se Beau tivesse se tornado
venenoso. Quando eles haviam saído de sua vista, ele notou um jovem
guerreiro em um cavalo pálido.
“Você
perturbou os Apanhadores”, o guerreiro disse.
“Eles me
perturbaram primeiro”, disse Beau. “Eu estava só tentando
passar.”
“Você
precisa conquistar o direito de passagem por meu reino”, o
guerreiro respondeu. “Eu vou lhe ajudar. Posso ver que você é um
amigo da Lua.”
Beau caminhou
com o guerreiro pelo campo. Contanto que um ficasse perto do outro,
os Apanhadores os ignoravam e voltavam a sugar os sonhos. O guerreiro
tinha feições jovens e uma aparência delicada. Ele parecia tão
digno quanto o outro perto dele, mas Beau suspeitou que a névoa
tinha algo a ver com isso. O guerreiro brilhava levemente, como se as
nuvens o fizessem brilhar, e ele era feito de prata e azul pálido.
“A Lua é
minha irmã”, o guerreiro disse. “Eu cuido dos sonhos. Meu povo
os faz, e nós os mandamos para aqueles que dormem do outro lado.”
“Mas vocês
deixam os Apanhadores comê-los?” Beau perguntou.
O guerreiro
apenas deu de ombros. "É a natureza deles. Não posso
pará-los."
Beau sorriu
porque achou que aquilo era tolo. “Eu sou o Rei do Lugar Quieto.
Ninguém pode tomar o que é meu. Eu comeria a voz e vestiria a pele
de quem tentasse.”
“Então
você pode me ajudar”, o Rei dos Sonhos disse.
O Rei dos
Sonhos levou Beau a uma grande torre feita de pedra polida tão lisa
quanto gelo. Eles escalaram a torre até a câmara do Rei, onde eles
ficaram observando os vastos campos. A névoa se espalhava até onde
a vista alcançava. Havia mais que apenas Apanhadores ali. Haviam rios
profundos e estranhas criaturas em bandos. Mas ao Oeste a névoa se
tornou escura. Os fragmentos de sonhos eram irritados e mais
agitados. Os corpos de Apanhadores estavam caídos no chão e sendo
dissecados por estranhos monstros, parecidos com pássaros. Esses
abutres usavam garras para rasgar e devorar os cadáveres, procurando
por qualquer último pedaço.
“Observe”,
o Rei dos Sonhos disse e apontou para a extremidade da terra escura e
em ruínas.
Um dos
pássaros estava observando um Caçador e o Caçador apenas focava em
consumir outro sonho. O monstro voou, circulando o Caçador,
observando a situação até que mergulhou e atacou. O pássaro
arrancou os olhos do Caçador com suas garras e usou sua boca
estranha para arrancar uma bochecha. O Caçador tentou usar seus
tentáculos, mas por algum motivo eles não conseguiam entrar no
pássaro.
“São as
penas”, o Rei explicou. “Elas são muito oleosas. Os tentáculos
escorregam.”
Os gritos do
Caçador atraíram mais monstros. Logo a criatura não fazia mais
nada além de tremer e pular conforme dúzias de pássaros arrancavam
pedaços de carne. Ao redor do Caçador a terra rachou e ficou
manchada com a mesma infecção que atacava o outro lado da névoa.
Os outros Apanhadores não fizeram nada para ajudar seu amigo morto ou
salvar a si mesmos. Estavam muito ocupados com os sonhos.
“Meu irmão
fez um pacto com a Escuridão. Ele quer infectar os sonhos e mandar a
Escuridão para aqueles que dormem. Seus pesadelos vão destruir meus
campos. Eu não tenho um exército meu. Não posso pará-lo enquanto
ele controlar as minhocas.”
“Essas não
são minhocas”, Beau respondeu.
“Não
eles”, o Rei disse. “Eles se alimentam das minhocas.”
Quando ele
entrou no campo dos sonhos, Beau achou que seria fácil de passar. O
problema do Rei dos Sonhos não o importava, mesmo que a Escuridão
jamais tivesse sido uma aliada do Lugar Quieto. No entanto, uma parte
da Lua ainda estava em seu coração, e essa pequena parte nunca
permitiria que Beau simplesmente deixasse aquele lugar para que a
Escuridão a engolisse. Então ele concordou em ajudar o Rei.
Beau era
muito espero, e sabia muito sobre minhocas. “Só há uma minhoca,
mesmo que hajam muitas”, ele disse ao Rei. “Nós vamos matar a
minhoca.”
Embora Beau
não temesse nada, ele também não era tolo. Viajar pela névoa
faria dele comida para os monstros alados que viajavam em bando
procurando por comida. Sem falar que os Apanhadores certamente
tentariam devorá-lo. Sendo esperto como ele era, ele decidiu duas
coisas.
Primeiro, o
Rei dos Sonhos iria com ele porque isso era tudo culpa dele. Segundo,
eles viajariam atrás da Minhoca pelos túneis de minhoca. Fazia
sentido. O Rei dos Sonhos não ficou nada feliz com essas duas idéias
e fez um escândalo com a possibilidade de sujar suas roupas finas.
Beau não se importou nem um pouco.
O Rei dos
Sonhos levou-o para um grande buraco no chão onde as rachaduras da
terra infectada se uniam. Ao redor do buraco haviam muitos esqueletos
de Apanhadores e seus canos esquecidos, mas os pássaros haviam
abandonado aquela área em busca de terras férteis para caçar. Com
o arco do Rei e as facas, vozes, rapidez, força e muitas outras
habilidades de Beau, eles se armaram e foram em frente.
A rede de
túneis era confusa e frequentemente eles tinham que engatinhar por
espaços apertados ou partes que haviam cedido. O Rei usou luz
emprestada de sua irmã, a Lua, para guiar o caminho. Ela refletia
nas paredes do túnel e queimavam quaisquer pequenas minhocas que
poderiam causar problemas. Finalmente, eles chegaram em uma câmara
cavernosa. Era iluminada com chamas escuras e coberta com a mesma
pedra polida que a torre do Rei. Dentro dela estava um jovem
guerreiro que parecia muito com o Rei dos Sonhos, mas suas
características eram douradas e escuras. Enrolada e grossa com um
rosto sem visão estava a Minhoca. Ela era gosmenta e pulsava, e conforme
os dois observaram o guerreiro pegou uma faca e cortou dois pedaços
dela. Os pedaços caíram no chão e pulsaram. Em sua vista, duas
outras pequenas minhocas foram criadas.
“Você vê,
Rei”, disse Beau. “Há apenas uma Minhoca.”
Tendo dito
isso, ele atacou.
É claro que
o Rei dos Pesadelos não ia deixar Beau simplesmente matar sua
criatura preciosa. Ele berrou, e as duas minhocas pequenas foram
direto para Beau. Em sua corrida, elas deixaram uma trilha de gosma
venenosa que borbulhou e corroeu a pedra polida. Suas bocas abriram
bastante e atacaram os dois Reis. O Rei dos Sonhos foi rápido e
perfurou uma delas com uma flecha, prendendo-a e queimando sua pele
com a fumaça. Beau desviou da outra e soltou uma de suas vozes mais
penetrantes, que congelou a pequena minhoca no mesmo lugar e fez com
que ela encolhesse em uma esfera que se dissolveu.
O Rei dos
Sonhos preparou outra flecha e atacou a Grande Minhoca. O monstro se
ergueu e tentou se enrolar ao redor do Rei, silvando conforme as
flechas escavavam sua carne mas sem fazê-la perder a força para
lutar. Enquanto o Rei estava concentrado em salvar seu reino, Beau
prestou mais atenção no que importava, e o que importava para o Rei
dos Pesadelos era proteger uma pedra pendurada em seu pescoço. Beau
sabia disso porque ele era um grande caçador e Apanhadores podem ver
com alguém protege um prêmio. Isso, Beau decidiu, era seu alvo.
Enquanto o Rei dos Sonhos mantinha a Minhoca ocupada, Beau foi atrás
do Rei dos Pesadelos.
“Não me
importa por que você ajuda a Escuridão,” Beau disse conforme as
facas brilhavam contra a espada do Rei dos Pesadelos. “Não me
importa que você também é irmão da Lua. Essa pedra é minha. Eu a
obterei.”
O Rei dos
Pesadelos era um grande guerreiro, muito rápido, mesmo que fosse
pequeno. Mas o desespero fez com que ele hesitasse e alterasse seus
movimentos para poder proteger a pedra, e isso era algo que Beau
sabia bem. Ele soltou duas vozes nos ouvidos do seu adversário,
confundindo-o e prejudicando seu equilíbrio. Com essa oportunidade,
Beau roubou a pedra.
A Grande
Minhoca congelou, o que foi bom porque o Rei dos Sonhos já estava
quase sem flechas. As armas de prata cobriam a pele da minhoca,
queimando-a de maneira que deveria enlouquecê-la, mas Minhocas não
são criaturas inteligentes e raramente se importam com a dor. Ela
congelou e encarou Beau que percebeu que havia vencido.
“Eu posso
fazer a Minhoca comer seu irmão”, Beau disse ao Rei dos Sonhos.
O Rei dos
Pesadelos, percebendo que havia perdido, não conseguiria escapar e
não tentou.
“Não”,
suspirou o Rei dos Sonhos. “É a natureza dele.”,
Normalmente
Beau teria feito isso de qualquer forma, mas, novamente, a parte da
lua que ainda vivia em seu coração fez com que ele mandasse a
Grande Minhoca para longe, de volta para sua terra natal, sem que
nunca retornasse aos campos dos sonhos. Beau manteve o coração da
Minhoca para si e o Rei dos Pesadelos retornou para sua torre,
derrotado ao menos por algum tempo.
No entanto,
Beau não havia terminado. O irritava que o Rei dos Sonhos e os Apanhadores não fizessem nada para se defender. Ele odiava o fato dos Apanhadores tomarem o que quisessem sem pagar suas dívidas. Então
ele subiu no topo da torre do Rei dos Sonhos e rugiu em uma voz tão
poderosa que até a névoa tremeu e os sonhos silenciaram por algum
tempo.
“ESCUTEM-ME”,
ele rosnou.
Os Apanhadores escutaram.
“VOCÊS NÃO
PODEM APENAS PEGAR ESSES SONHOS. VOCÊS PRECISAM TER UM PROPÓSITO.
OLHEM.”
Ele apontou
para um dos monstros alados, circulando a névoa procurando por
alguma minhoca que houvesse sobrado e observando os Apanhadores.
“LUTEM”,
Beau ordenou.
E um dos Apanhadores arremessou seu cano para cima. Ele atravessou o coração
do monstro pássaro e o que escorreu dele era tão doce quanto o
sonho. Daquele dia em diante, o Rei dos Sonhos tinha um exército e
Beau podia pegar quaisquer sonhos que quisesse como pagamento por sua
ajuda.
E é por isso
que eu tenho bons sonhos.
Queria conhecer o Rei Beau...
ResponderExcluirTmb viu
ExcluirBom
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirL.A., você poderia, por gentileza, colocar o link pras outras partes? Eu leio pelo celular e não consigo achar onde a história começa :/
ResponderExcluirPronto. Vou tentar lembrar de colocar links nas próximas partes.
ExcluirObrigado 💙
Excluiralguém sabe me dizer qual a pronúncia correta do nome Beau?
ResponderExcluirIsso só é mencionado perto do fim da história, mas como vai demorar mais um bocado pra chegar nessa parte e como eu tenho certeza que tem mais alguém em dúvida, a pronúncia seria "bow".
Excluiraaaaa muito obrigadaaaa 💓
ExcluirMelhor creepy!! Fico contando os dias para um novo post.
ResponderExcluirQue série maravilhosa. Mal posso esperar pelo restante.
ResponderExcluirÉpica, única creepy que parece tirada dos contos-de-fadas :D
ResponderExcluirRoyal1688 Should know before picking a barrow into the mouth.
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Atualmente essa é minha série preferida! Ta sendo mt dolorosa a espera pelas proximas partes :/
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