01/02/2018

Eu sou um cartunista

Você caminha sentindo o ar fresco, ouvindo as folhas secas estalando sob seus pés enquanto caminha para escola. É apenas uma curta caminhada da sua rua até o seu destino, para onde você vai todos os dias para aprender, assim como as outras crianças. 

No outro lado da rua, você vê três dos seus colegas de classe conversando. Você ouve o garoto loiro falar algo sobre sexo gay. Você os ignora e continua a andar. Logo, você passa por outros dois colegas de classe: um garoto e uma garota. Você não consegue lembrar o nome do garoto, era um nome bobo, como se ele mesmo tivesse criado. Convenientemente, ele fala o próprio nome quando você passa por ele. 

“Oi! Meu nome é Tenko!” ele fala para ninguém. Você o ignora também, não é nada incomum. 

Você chega à escola e senta em sua cadeira. Então percebe algo. 

Quando foi que esse lugar ficou tão ferrado? Você pensa consigo mesmo. Correndo a mão sobre as bordas de sua carteira, parece áspera e irregular. Agora que percebeu isso, todas as bordas da sala parecem serrilhadas e imperfeitas. Como não havia percebido isso antes? Todas as superfícies da sala de aula eram planas e sem detalhes. Sem sombras ou iluminação. Todas as cores parecem sem graça, como se estivessem ali apenas para preencher espaço. 

Você foca sua atenção no professor que está na frente da classe. Você jura que o rosto dele parecia completamente diferente, minutos antes. E agora seu rosto... está deformado e incompleto. Você apenas consegue ver dois pontos pretos onde os olhos dele deveriam estar. Seus colegas... quando começaram a parecer tão semelhantes uns aos outros? Você começa a perceber mais e mais detalhes. Objetos desaparecem quando você não esta olhando, os olhos dos seus colegas giram por todas as direções por alguns segundos, e suas mãos se deformam e se contorcem sem que eles percebam. Nada mais parece real. Você está sentado no centro da sala com esses loucos com corpos que se deformam e rostos vazios. O que mudou? Ou as coisas sempre foram assim? 

A ansiedade cresce. Você percebe as inconsistências. Por que todos falam como se seguissem um roteiro muito pobre? 

…o que aconteceria se você saísse do roteiro? 

Em pânico, você se levanta e corre para a porta. Quando agarra a maçaneta, ela se desintegra em sua mão, como linhas, e passa por seus dedos, como grafite. As linhas se espalham como vírus. As bordas serrilhadas das paredes transformam-se em linhas, fazendo com que as cores sem graça escorram para o chão. Você olha para os outros estudantes. As cores escorrem de seus rostos como cera, deixando nada além de vestígios cinzentos e um cheiro de carvão molhado. A classe se torna uma pasta cinzenta, uma sobra deixada por uma borracha suja. Você cai no vazio branco. 

Depois de alguns segundos, você aterrissa. Tudo é branco, como um papel novo. E então ele aparece. 

É um homem baixo, careca e gorducho, usando um fedora marrom e uma camisa azul. 

“Q-quem é você?” você gagueja para ele. 

“Eu... sou um cartunista.” 

“O que?” você se arrepia, “O que quer dizer? O que eu sou? O que aconteceu com minha classe e... com meu mundo?” 

“Você é um dos meus personagens,” ele responde, “Tenho milhares deles, e todos eles tem mente própria! Há há!” 

Você hesita, “Você… é Deus?” 

Isso o agrada. “Bom, suponho que sim. Sou um profissional.” 

Você começa a se irritar com esse homem pomposo. “Você é um cartunista horrível!” você grita, 

“Tudo estava tão errado. Tudo se desmanchou, estava terrível! Se é esse o tipo de mundo que você cria, então você não é um artista, apenas um amador!” 

“Não pedi por uma crítica...” ele murmura. 

Você sente uma dor na perna. Você olha para baixo para vê-la quebrando-se em linhas, assim como todos os seus outros membros. A cor em suas mãos cai em pedaços. Seu rosto começa a queimar com o atrito de uma borracha, e antes que possa gritar, sua boca se foi. Logo, você não é nada além de restos. 

Ele olha para os seus restos. Pegando um lápis de trás da orelha, ele fala, “Vamos tentar de novo,” e começa a criar outro personagem.

6 comentários:

  1. Além de cartunista preguiçoso, ainda não sabe ouvir críticas tsc tsc

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  2. eu e minhas teorias de que a vida eh um enorme the sims

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  3. Na hora que li os polegares estavam 3 x 3. Ficou 3 x 4. Tive que desempatar porque quando termino de ler uma creepy e a pergunta que fica é "Tá, mas e daí?" certamente não achei proveitosa. 3/10

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  4. Seria assustador mesmo se ele falasse "eu sou uma foca"

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