ATENÇÃO:
ESSA SÉRIE/CREEPYPASTA É +18. CONTÉM CONTEÚDO ADULTO E/OU CHOCANTE. NÃO
É RECOMENDADO PARA MENORES DE IDADE E PESSOAS SENSÍVEIS A ESSE TIPO DE
LEITURA. LEIA COM RESPONSABILIDADE.
Os piores monstros são aqueles que vemos como heróis.
Em meus pesadelos, ainda posso sentir o ar estéril passando pelas minha bochechas nas correntes de vento frias. Ainda posso sentir o cheiro indescritível de material hospitalar misturado com o metálico fedor de sangue. Às vezes, nos momentos entre sonhar e acordar, eu posso até reconhecer os gritos de pessoas que assisti morrerem. Tem me perseguido por toda minha maioridade, e sequer sei como escapar dessa culpa, exceto talvez confessando meus pecados.
Eu fui o típico recém-graduado. Terminei a faculdade com um bacharelado em enfermagem, e sendo novo no mercado de trabalho, me inscrevi em todas as “Vagas Disponíveis” que vi, e fui rejeitado por cada uma delas em seguida. Desesperado, comecei a procurar no exterior, tentando descobrir se eu poderia transferir minhas credenciais. Encontrei algo, um emprego como cuidador em uma instituição de caridade.
O anúncio pareceu perfeito para mim. Pensando agora, aquilo deveria ter sido um sinal de perigo.
Precisa-se de ajudaInstituição para ____________Requerimento Mínimo:Bacharelado em Enfermagem ou equivalenteRemuneração a negociar
Não posso dar detalhes precisos sobre o nome da instituição, ou localização, para minha própria anonimidade e por medo de que eles encontrem isso e venham atrás de mim. Tudo que posso dizer é que se especializavam em cuidados nos países de terceiro mundo, providenciando comida e ajuda para os que estavam morrendo. Pelo menos, é o que parecia. A única coisa complicada foi que eu precisei me mudar para um desses países; isso e também tive que assinar um contrato de sigilo, com advertência de repercussão pessoal caso quebrado. Era uma caridade, gente. Não poderia estar escondendo nenhum grande segredo, certo? E como eu disse, estava desesperado naquele ponto, teria ido a qualquer lugar por um emprego. Sempre admirara Madre Teresa, de qualquer forma, e senti que era um bônus ajudar os necessitados.
Nunca os ajudamos, falando nisso.
No primeiro mês, me enviaram para o departamento de cuidados. Era um trabalho bem simples: medicar, limpar, levar ao banheiro e apenas observar os que precisavam. A maioria dos pacientes eram idosos, vivendo os últimos dias de suas vidas, ou crianças muito pequenas, adoentadas pela malária ou pela febre amarela ou qualquer coisa do tipo. Por um lado, era de se partir o coração, assistí-los partir em suas camas, a carne se juntando aos ossos enquanto eles se tornavam cadáveres. Era ainda pior quando alguma das crianças morria, o sentimento de perda realmente me atingindo quando seus pulmões afundavam em um silêncio doloroso. Por outro lado, eu estava sendo pago para fazer aquilo. Superei isso rápido: a morte veio junto com o trabalho.
Acho que perceberam isso, porque me realocaram nas cirurgias na minha quinta semana lá.
Alguma coisa na sala de cirurgia estava errada. Era muito limpa, muito perfeita, as paredes em um branco brilhante. Minha primeira paciente era uma velha e frágil mulher chamada Mei. Ela grunhia e chiava a cada fôlego, mas parecia saudável além disso. Tirei sua velha, suja roupa e a substituí pela camisola esterilizada de hospital. Debaixo das roupas, ela era magra até os ossos, seu esqueleto saltando de sua pele como se ela não comesse há semanas. Falei para que deitasse na mesa de cirurgia, então fui para a sala de observação quando o cirurgião entrou, cercado por um time pequeno empurrando um carrinho cheio de materiais pontudos.
Assisti, confuso, às enfermeiras prenderem-na na mesa com grossas tiras de couro. Próximo a mim, outro doutor observava pela janela de vidro. Olhando de lado, deve ter percebido a confusão em meu rosto.
“Pensando na anestesia? Você deve ser novo.”
“Bem, sim. Não deveria haver ao menos uma anestesia local? Qual o procedimento aqui?”
“Ha. Esqueça da anestesia. É muito cara, especialmente nestas áreas. Quanto ao procedimento... Só sente-se e assista o show.”
O cirurgião começou a trabalhar. Mei tremeu em agonia enquanto ele traçava uma longa, profunda linha pela sua barriga até a escápula. Sangue imediatamente escorreu pelo corte, descendo por sua pele escura, fazendo uma bagunça na mesa. Ele fez mais duas incisões perpendiculares do começo ao fim do corte. Esses foram muito mais bagunçados, a lâmina correndo enquanto ela agonizava em dor. As tiras de carne foram escancaradas, revelando seu interior em toda sua glória úmida. Sangue brotou da cavidade em seu peito enquanto seus pulmões respiravam pesadamente, as bolhas vermelhas explodindo silenciosamente, sujando o cirurgião com manchas carmesim. Seus gritos se tornaram ainda mais altos quando ele alcançou uma serra. Zuniu quando a lâmina alcançou seu interior, o som abafando a voz de Mei, então o bizarro barulho preencheu o quarto quando ele começou a cortar cada uma de suas costelas metodicamente. Seu corpo tremeu com espamos. Ela estava entrando em choque. Uma parte de mim queria interromper e pará-los. Outra parte de mim sabia que era tarde demais para ela.
Todos eles pararam, imóveis, e esperaram até que ela parasse de tremer. Então o doutor pegou o bisturi e delicadamente o trouxe para dentro da cavidade no peito de Mei. Assisti horrorizado enquanto ele cortava fora cada órgão; o coração, pulmões, o fígado, os rins, e por aí vai, delicadamente colocando cada sangrento pedaço de carne em um compartimento. Subitamente percebi que o eu estava assistindo. Eles estavam... eles estavam traficando seus órgãos. Isso não era caridade. Era um negócio. Um enfermeiro colocou todos os compartimentos em um carrinho refrigerado, e o levou para fora da cirurgia. Eu fiquei ali e encarei, minha mente paralisada pelo choque de tudo aquilo. O doutor que estivera assistindo comigo me deu um tapinha no ombro e saiu com uma risadinha no rosto.
A pior parte de tudo sequer foi assistir a morte dela. Foi ter que explicar para a família que ela pereceu durante a operação. Ofereci minhas condolências, as palavras queimando na minha língua como bile, e meu estômago se revirando enquanto assistia seus rostos contorcidos em tristeza e luto, a culpa esmagando meu coração. Tive que mentir para eles, dizer que os médicos incineraram seu corpo por estar muito infeccioso. Tive que vê-los acreditarem em mim, assentir à sua triste aceitação. Vendi minha alma para o diabo.
Precisava do dinheiro, o suficiente para ficar lá. Eu estive na mesma sala por incontáveis pacientes. Eu senti cada morte. Assisti enquanto eram dissecados vivos.
Provavelmente morrerei arrependido daquele ano que passe na caridade. Sei que nunca esquecerei os gritos de cada um deles, seus suspiros e preces quando perceberam que estava sendo abertos por dinheiro. Cada dólar que gastei está marcado pelo seu sangue, suas lágrimas. Meu único consolo é que nunca estive diretamente na cirurgia. Mesmo assim, me sinto sujo. Pecaminoso. Nunca serei capaz de apagar essa parte da minha vida de minha consciência. Nunca poderei contar a meus filhos qual foi meu primeiro emprego, o que eu vi, o que fiz. Me odeio por ter participado de tudo. Odeio ter fingido que éramos uma caridade.
Dizem que a rua para o inferno é pavimentada com boas intenções. Creio que estão certos.
Esse
conto foi traduzido exclusivamente para o site Creepypasta Brasil. Se
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obs: o título original da creepy, em tradução livre, seria, "Eu trabalhava para uma caridade que ajudava as pessoas desenganadas com suas mortes", simplificado para melhor aproveitamento do texto. ;)