Para quem não leu ainda, segue os links :
PARTE - IV & V
Peço desculpas por ter falhado na última semana, para compensar venho lhes trazer duas partes de uma única vez.
Aproveitem.
Cruz espalhou sobre a mesa que montamos diversos boletins de
ocorrência, cartazes entre outros registros de pessoas desaparecidas que de
maneira alguma vieram a público qualquer tipo de informação, como se a polícia
(surpreendentemente) fosse preguiçosa e não estivesse afim de fazer o seu
trabalho (quem imaginaria tal situação?). Mas não era o caso, simplesmente não
era prioridade de nenhuma maneira, foram instruídos a não investir nesse tipo
de caso e era alarmante a quantidade de gente que não retornava aos seus lares.
Dentre 70,80 faces eu mesma cheguei a reconhecer umas 9, ainda que não soubesse
o nome de quatro.
Frank nos apresentou um plano de logística de uma
terceirizada da Infestatio, a Contaminio, e a distribuição de mercadoria não
fazia sentido algum, era como se andassem em círculos e círculos sem ter
realmente um destino fixo, excluindo os grandes mercados que estocavam o veneno.
Apresentava ser algo bem confuso tanto é que se fosse para colocar no lápis a quantidade
produzida era IMPOSSÍVEL de se equiparar ao que estava disponível no mercado...
Digamos que para cada setecentos frascos comprados por uma grande rede de
mercados produzíamos simplesmente TRÊS MIL. A conta, a distribuição, a
mão-de-obra, a logística, a necessidade, não batia. Assim como produção x
lucro, então qual era o propósito?
Para corroborar com os fatos, Sara, através de planilhas e
cálculos do setor de estratégia mostrava que o déficit era enorme, nos últimos
dezessete meses a Infestatio não lucrou um único centavo, muito pelo contrário.
Apenas aumentava a produção de um produto que saía mas não estava disponível no
mercado, gastava-se sem retorno... Os dados não estavam incorretos, eram
sóbrios e verdadeiros. O que mais chamava a atenção era o custo em instalações
que não eram usadas, não eram futuras fábricas, era algo que já exigia um certo
tipo de manutenção e parecia operante mas sem localização exata, tudo muito
nebuloso.
Marta sorriu e mostrou sua contribuição, um complexo e
gigante mapa apontava estruturas recentemente construídas nos esgotos da
cidade, aparentemente fazia alguns anos que as operações haviam começado, pouco
antes da própria Companhia se instalar em nossa cidade. Era bem feito, bem planejado, de longe bem
melhor que o plano diretor de onde morávamos, era invejável, uma verdadeira
fortaleza subterrânea. Parecia de certa maneira ter sido construída tendo um
ponto central como base, como se quisessem proteger algo que se encontrasse
nessa marcação em específico, como uma câmara impenetrável.
Nos olhávamos como se alguém entre nós possuísse qualquer
tipo de opinião, especulação ou algo útil que pudesse ser trazido para a mesa
de debate... Nada ocorria.
Foi então que conectei o laptop na televisão e pedi
que todos prestassem atenção.
O vídeo era curto, pouco iluminado, mas apesar do mistério que o envolvia falava por si
próprio.
Um rato na verdade uma ratazana, surgiu do nada. Ficou
bípede e aguardou uns 45 segundos até que uma outra sombra, bem mais baixa e
contida se aproximou do ser postando-se ao seu lado direito, ergueu a parte
frontal do corpo, talvez quatro de suas oito pernas, realmente parecia ser uma
aranha.
Algo parecido com uma barata, com o tamanho de um pombo que residia em uma praça populada de idosos, abriu suas enormes asas e
ficou ao lado esquerdo do Rato.
Em poucos segundos a casa foi infestada, por
criaturas rastejantes, vermes e asquerosas. De maneira coordenada, num consciente coletivo
escancararam as portas dos armários, geladeira e reserva de remédios de
Veronica (Sim os remédios também) e trabalharam operariamente para carregar
suprimentos para fora de casa, apenas aqueles que iriam passar sem problemas
através de buracos e vãos abertos em sua residência (especificamente para
isso).
Essa era a explicação plausível do sumiço dos alimentos nas casas de
tantas famílias, estava ali, por mais improvável e ridículo que parecesse, era
isso... Como absorver? Como trazer tal
informação para o racional? Era o que todos tentavam entender, mesmo assistindo
aquela apresentação, exigia muito custo para realmente acreditar nela, como convencer desconhecidos ?
Decidindo ignorar o que acabara de ver nesse instante Frank
começou: - São celas, obviamente seremos colocados em uma prisão subterrânea, é
isso.
Cruz: - Porra... Mas que porra... Preciso tomar alguma
coisa, me dá alguma coisa pra beber Veronica, por favor... Sério.- E se
debulhou em lágrimas.
Sara: - Teremos tempo para nos organizarmos, transmitir um
comunicado e fazer com que as pessoas entendam.
Veronica deu sua opinião: -Para que as pessoas acreditem
devemos mostrar os dados que reunimos, o vídeo, trocar experiência, como vamos
organizar todas essas pessoas? - Levantando para pegar e oferecer uma garrafa
de Whisky ao seu colega, mas fazendo menção com que passasse a todos.
Marta matou o jogo: - Fomos e estamos sendo observados, se
formos agir tem que ser já, não podemos voltar para a Infestatio... Estão nos
observando!
Sara com a face distorcida completou: - Sim, a própria Kaba
me procurou, ela sabe que percebemos algo, e isso se deu tão rapidamente, não
podemos perder tempo.
- Você se encontrou com ela em pessoa? - Perguntou Veronica.
A moça positivou a sentença.
- No dia seguinte a nossa reunião certo? Comigo foi a
câmera...
Cruz e Frank se olharem e pensaram na "pesagem" e
procedimentos que passaram, assentiram com a cabeça, sem precisar deixar
explícito que também tiveram "experiências".
- Sim, com ela em carne e osso com toda a sua presença
esmagadora...
Ela explicou como se deu o encontro e Marta questionou se
havia algo de "diferente" ou "relevante" do qual pudessem
se basear. Sara acessou as gravações de segurança e apresentou o encontro entre
as duas. Algo chamou a atenção de todos, o leve toque dos dedos delicados de
Kaba no colar que usava com o mesmo símbolo da Companhia.
Parecia algo valioso, não de maneira monetária ou
sentimental, mas algo essencial, algo cabal.
Sara isolou tal símbolo e disparou de maneira geral uma
busca na internet, os resultados eram um tanto quanto desencontrados mas a
maioria ( e os mais precisos) apontavam para uma imagem de adoração, de cunho
religioso, sem origem aparente mas praticado por diversas civilizações em
diversos pontos espalhados no globo sem conexão alguma entre eles, de como foi
pregado, como a informação viajou tão longe sem os devidos meios de comunicação,
a participação em livros de história era de todo suprimida.
Civilizações como Maia, Khmer,Rapa Nui, Harappa, Olmecas
entre outras adoravam, temiam ou cultuavam tal símbolo. Não funcionava como nos filmes, uma simples
definição do problema norteando os carentes de informação. Mas a pesquisa em si
tinha uma constante... Uma constante aterrorizadora.
Todo o misticismo, toda a prática, toda a religiosidade,
toda a crendice, lenda, costumes, ditados indicava o seguinte:
Deusa da Pestilência.
Deusa das Pragas.
Deusa da Morte.
Doença.
Sofrimento.
Desamparo.
Deusa dos Ratos.
O ícone, em pinturas rupestres, tablaturas, estátuas,
papiros era sempre de um corpo feminino esguio, no que havia de mais detalhado,
uma silhueta de traços finos. As versões
eram múltiplas, montada em um rato gigante, com asas de inseto, com patas de
aracnídeo, dependia da região e século.
Diversas associações e ligações históricas foram feitas como
A Praga de Justiniano, A Peste Negra, A Grande Praga de Londres, Grande Peste
em Marselha, Praga de Moscou, Terceira Pandemia entre outros.
A esperança era uma peça cilíndrica esperando o momento de
se encaixar em um quebra-cabeça exclusivamente retangular. Tinha tanta força
quanto um palito de fósforo úmido esperando o momento de incendiar um oceano
inteiro.
Cinco pessoas, desnutridas, desacreditadas, desmotivadas e
cansadas contra um ser sagrado, uma deidade, com todas as letras, Kaba,a
Propagadora do Fim.
Cruz, já embriagado ironizou : - JÁ SEI! Vamos matar todos
esses bichos e Essa Mulher com um inseticida, conheço a marca perfeita!
Todos deram ao menos um sorriso amarelo, não pela piada mas
sim pela atitude do colega em desespero.
De link em link, fórum em fórum, Sara foi descendo as
camadas anônimas e profundas da internet, "A internet além da
internet". Chegaram a um pequeno grupo de fanáticos como aquelas pessoas
que pactuam em qualquer situação a ideia do "fim do mundo" 1999/2000/2012/Vinda
de um novo Papa/Asteroide/Estrela Cadente/Alinhamento planetário, parecia tão idiota quanto...
A
"Contritio".
Já que tudo estava fodido, não viram empecilhos nessa
empreitada, combinaram próximo a um complexo de moradias populares que nunca
foi a frente então eram abandonadas . Eles com dados relevantes, o grupo
acolhedor com uma possível solução. Se prepararam e se acomodaram no carro e
esperaram Marta dar a partida, encaravam as ruas melancólicas com grande pesar
enquanto a imaginação borbulhava de maneira negativa.
Exceto cruz, que estava tão
alterado, mas tão alterado que a única preocupação que sua mente permitia
exercer era não errar (ainda que cantada "mentalmente") a letra de
Disturbed - I'm Alive.
O que seria um silêncio constrangedor, foi dominado pelo
guerreiro que cantava e interpretava a música isolada em seu fone de ouvido,
dando direito a guitarra imaginária, bateria flutuante, maestria com as mãos e
um leve sotaque na letra...
Precisavam se mover naquele mesmíssimo dia, não haveria
outra chance, provavelmente seriam "silenciados" antes que pudessem
arquitetar qualquer tipo de investida ou maior comoção na vizinhança. Seu Nêmesis estava bem adiantado, dificilmente
seriam capazes de contornar uma Mulher como Kaba. Apostariam no tudo ou nada.
Dificilmente, se colocado de maneira extremamente humilde,
seria impossível enganar uma Mulher como a Kaba.
A verdade é que se deparariam com
algo parecido a campos de concentração, algo
arcaico e carregado de péssimas memórias , exatamente como isso, algo
inimaginável nos tempos modernos, algo que a muito ficou para trás...
Prisões
subterrâneas para conter boa parte da raça humana, qual seria o intuito de nos
encarcerar eu não sabia dizer, mas de certa maneira eu possuía um leve palpite,
não queria fomentá-lo mas sabia que deveria expô-lo, algo que deveríamos nos
preparar, eram elas duas suposições.
Primeira, seríamos como
escravos para novas espécies ou velhas só que mutadas.
Segundo, seríamos como
alimento para novas espécies ou velhas só que mutadas.
De qualquer jeito
estaríamos fodidos, por completo.
Escravizada ou Devorada?
Faltando quatro quadras para o destino, Marta teve que
desviar e frear por conta de uma criança que quase fora atropelada por nós. Seu
corpo caiu inerte na calçada, de fato não sabíamos se havia se acidentado ou
não, ela desceu desesperada para acudir o pequeno. Ao chegar bem perto
cambaleou e caiu dura, assim que saímos do carro para averiguar a situação
fomos impedidos por homens inteiramente trajados de preto.
Frank derrubou dois
deles usando apenas a palma de suas mãos bem direcionadas no pescoço e nuca
antes de ser nocauteado, Frank dormia.
Sara ficou dura no banco em que se
encontrava.
Eu consegui morder o braço do captor que me segurava, pisar em seu
pé e empurrá-lo de lado, assim que me livrei comecei a correr...
A última coisa que me lembro foi uma estocada, uma picada bruta
na altura da panturrilha esquerda... Apesar de ter sido atingida na perna, caí
aterrissando com o busto no chão de terra, lembro de abrir a boca pra respirar
melhor e acabei tragando a poeira alaranjada do solo, incapaz de me mover e tudo ficou escuro.
Algo como uma bolsinha... Não era uma bolsa... Parecia algo
escorrido e sem vida, me fez lembrar de uma toupeira e ri sozinha. Recobrei a
consciência mas a visão era turva, embaçada e péssima. Tentei entender o que
era aquilo...
Eram bolas! SIM! BOLAS!
Já não bastava a situação ser ruim o suficiente acordei com
um par de testículos com distância de três centímetros da minha testa... Apesar
de furiosa, por conta de ser e meio que ainda se encontrar drogada uma parte de mim achou aquilo muito hilário.
"ha-ha a Bela adormecida é acordada com um beijo, eu com um par de bolas,
muito bom, muito engraçado ha-ha" ironicamente em minha mente.
Estávamos nós cinco pelados em uma sala sem nada em volta,
apenas o chão de tapume totalmente branco.
Assim que dei por mim e me levantei a porta se destrancou,
uma mulher que possuía uma franja rente as sobrancelhas veio se desculpando e
me oferecendo as mudas de roupas que trajava antes de serem arrancadas de mim.
-Foi necessário, tínhamos que ter certeza de quem vocês
eram, sabe?
Apesar de toda a minha indignação, eu compreendi por
completo, em tão pouco tempo, a Infestatio tomou consciência que estávamos
cutucando por aí, quem garantiria que não fossemos agentes da empresa para
conter qualquer tipo de resistência?
- Sim, eu entendo... O Frank não vai gostar nada disso, detesta ser tocado. (Um comentário idiota proveniente de uma consciência ainda alterada).
- É assim que agem, aqueles prestes a se envolver em uma guerra. Estando você pronta ou não.
Disse uma voz distante no corredor.
Viemos a conhecer a Contritio, que talvez a luz no fim do túnel.
Poderiam não ser responsável pela solução, mas absolutamente eram responsáveis pelo último suspiro da humanidade.
O que é aquele treco branco no meio da página?
ResponderExcluirQual é a do espaço branco?
ResponderExcluirE nossa muito boa essa serie você devia investir na carreira de escritor Thiago.
Essa série que você ta escrevendo é ótima, Tiago! Só tenho elogios.
ResponderExcluirParabéns pela série Thiago
ResponderExcluirFico mais ansiosa a cada capítulo
ResponderExcluirMuito boa a parte branca deve simbolizar o lugar onde eles estão.
ResponderExcluirO narrador é a personagem Verônica ou é em terceira pessoa? Me parece confuso
ResponderExcluirO que eu entendi foi que a Veronica é a narradora mesmo... Está meio confuso!
ExcluirTa maravilhosa. Só n entendi o treco branco tbm kk 🙆🏻
ResponderExcluirow, eu sei q a série terminou há uma cota já, mas quando tu for escrever cuida com a narração, se for mudar de narrador tenta deixar explícito com alguma divisão ou sei lá pq fica bem confuso, e pra não ficar divagando mt...
ResponderExcluirno mais adoray, tu é criativo e gosto das tuas ideias pra creepy~~