Aos poucos a bola vai se desenrolando, a pele com
aparência escamosa e negra parece não parar de se esticar, a cabeça arredondada
e as pupilas em fendas verticais revelam por completo que a criatura era uma
espécie de serpente mutante de outra dimensão, uma devoradora de mundos.
Sua boca está se
abrindo, suas presas são como duas agulhas gigantes, os ratos estão sendo
sugados juntos com seus carros, os
vidros dos prédios estão todos se quebrando, alguns prédios estão cedendo...
Ela vai engolir tudo. Não consigo me
mover diante de tamanha surrealidade.
Essa coisa já
engoliu metade dos prédios e os ratos estão se aglomerando nas tampas de
esgoto, é como se estivessem voltando às suas origens e o seu lado animal,
assim como os humanos fazem em situações extremas. Parecem bonecos voando em
direção a boca da serpente. A cada vez, ela suga com mais força.
Essa coisa é
tão grande que mal dá para ver a luz do sol. Por algum motivo, ela não está me
dando importância, é como se ela quisesse que eu assistisse a tudo isso, mas
por quê? Já não restam mais prédios, carros e ratos, somente alguns conseguiram
ir para o esgoto e continuo aqui, apenas observando as ruínas do lugar que
poderia ter sido um novo lar. Preciso voltar antes que essa coisa abra a boca
novamente e engula tudo.
Minhas pernas
tiveram um surto de adrenalina e aqui estou, de volta a esse lugar imundo.
Preciso continuar correndo, aquela coisa não pode me pegar e sei que ela virá
atrás de mim. Ela sentiu o meu cheiro, talvez nunca tenha visto alguém igual a
mim por lá: metade humano.
Aqueles ratos
estão chorando desesperados, como se realmente tivessem sido humanos a vida
toda. Nunca vi nada igual, mas infelizmente, não tenho como ajudá-los, só
preciso continuar correndo e tentar sair desse esgoto. A cada distância
percorrida, ouço os gritos, mas dessa vez, são os ratos que estão gritando.
Aquela coisa está me procurando! Minhas pernas estão começando a cansar, meus
músculos se estreitam aos poucos, logo terei uma câimbra e é isso o que ela
espera que aconteça.
Nunca corri tão
rápido. Bolt teria inveja da minha velocidade. Se meu coração não estivesse
acelerado a ponto de enfartar, eu até poderia sentir orgulho de mim mesmo, logo
eu, que sempre fui o cara que faltava às aulas de educação física na escola. Já
perdi as contas dos túneis que passei, e
não faço ideia de quanto tempo faz que estou correndo, estou exausto. Já faz
algum tempo que não ouço mais grito nenhum, apenas o som das minhas patas na
água.
Acho que
provavelmente vou virar algum tipo de experimento ao sair daqui e me expor, ou
alguém armado vai atirar em mim de tanto pavor. Se for para morrer, que seja
fora desse lugar, pelo menos. Já consigo ver uma fresta de luz a alguns metros
daqui. A liberdade está perto, deve estar escurecendo, a luz está diminuindo.
Acho que corri por muitas horas.
Enquanto me aproximo da escada, só penso na reação das pessoas ao verem
um ser como eu saindo do esgoto. Isso é o que menos importa para mim nesse
momento. Qualquer olhar maldoso não será pior do que estar aqui embaixo.
Uso as forças
que sobraram para levantar a tampa. É emocionante voltar aqui depois de tanto tempo.
Como eu já
imaginava, os carros todos param com seus faróis ligados, estão todos estáticos
com olhares focados em uma só direção, mas não estão olhando para mim.. A coisa
voltou a gritar. Ela está aqui.
Autor: Andrey D. Menezes
Revisão: Gabriela Prado
Nota do escritor: Espero que tenham gostado! Estou com projetos para o futuro, quem sabe escrever uma antologia, como já disse a vocês. Ser pisciano é complicado kk. Muitos planos, muitos sonhos. Espero que vocês comprem algo meu um dia. Obrigado por cada comentário positivo e negativo também, vocês me ajudam bastante :)
Sobre a creepy: Penso em escrever sobre a origem da criatura futuramente ou dar continuidade à creepy, mas isso vai levar um tempo. Por hora é isso :)
Sobre a creepy: Penso em escrever sobre a origem da criatura futuramente ou dar continuidade à creepy, mas isso vai levar um tempo. Por hora é isso :)