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Era noite. Muito tarde. Estava eu voltando de uma boa festa com um grupo
de amigos. Eis que ficamos cansados e decidimos nos apoiar na parede e na
calçada para descansar um pouco. O lugar era desconhecido (sinistro, aliás),
mas não nos importamos muito (estávamos exaustos mesmo). Até que um dos nossos
amigos decide se levantar e ir embora, na frente. Disse ele ter que acordar
bastante cedo e que, por algum motivo, não poderia mais ficar
vagabundando até amanhecer conosco. Nos despedimos dele e ele partiu.
Cerca de uma hora depois, também decidimos partir, afinal, todos nós
teríamos suas respectivas responsabilidades pela manhã e não poderíamos perder mais tempo ali. Ao total,
havia seis pessoas conosco (sete com nosso amigo que partiu mais
cedo). Cada vez mais que nos locomovíamos pela redondeza, eu notava o quanto
aquilo era tenebroso. A temperatura caiu e fiquei com muito frio. Fui
caminhando cada vez mais devagar e por não entender direito, mas estava com
medo de algo, repreensivo.
“Será o
frio?”, pensei.
Continuamos a
andar, até que Ana, que estava mais na frente que todo mundo, grita
desnorteada:
- Meu Deus, o
que é isso? Christian, por quê?!
Christian é o
nome do nosso amigo que saiu sozinho na frente antes de nós. Fico sem entender. O medo fica maior, mais
forte. Corro para tentar consolá-la, o mais próximo dela. Até
que chego em seu campo de visão e fico completamente gelado. Não conseguia
reagir, minhas pernas estavam bambas e meu suor, frio. Tiro Ana dali o mais
rápido possível. Peço para os meus amigos se acalmarem. Todos estão
nervosos.
Encontramos
nosso amigo completamente ensanguentado, sem duas pernas e um braço, falando em
voz deveras baixa e nos ignorando.
- “Christian’’,“Christian’’... - nós gritávamos, mas nada de ele responder...
Ele devorava
uma de suas pernas enquanto falava coisas sem sentido e de difícil compreensão.
Eu não suportei ficar olhando aquilo. Tirei Ana dali o mais rápido possível, até que
uma voz rouca e forte grita:
- Aonde pensa que vai, Isaac? Volte aqui, há algo que tenho a lhe dizer...
Minhas pernas
gelam, não quero voltar. Minha coluna se endurece. A última coisa que quero fazer é voltar
ali. Ele me chama novamente:
- O que temes,
Isaac? Ande, olhe-me novamente...
Ana segura meu
braço e diz:
- Por favor,
não volte ali.
Eu olho em
seus olhos apavorados e digo:
- Eu realmente
não quero voltar... Não quero vê-lo nesse estado novamente...
Christian sorri:
- Não queres
me ver assim? Hahaha. Isaac, não foi você quem há de me ter desejado isso? Isaac, aquilo que você mais
desejava era minha morte...
Todos olham para mim, inclusive Ana, que
larga minha mão. Christian volta a repetir:
- Não foi, seu
traidor? Olhe para mim, veja culminar em mim o seu podre desejo, veja em mim
sua mais doentia aspiração de vontade... Hahahahaha - Christian continua a
dizer:
- Isaac, hoje
eu conheci algo sublime, você me apresentou isso. Me apresentou o ódio, a dor e
o remorso. E melhor, me apresentou “aquilo”. Me espere, Isaac, eu
voltarei, lembre de minhas palavras. Isaac, quando eu voltar, você verá a face
da morte, você verá meu rosto...
Após expressar essas últimas palavras, Christian voltou a falar baixo e,
aos poucos, morreu por hemorragia.
Depois de tal
incidente, minha relação com meus colegas meio que culminou ali. Eu decidi mudar de
cidade. Fui para longe, do outro lado do país. Eu me formei e me tornei
advogado. A única com quem mantive determinado contato foi Ana. Cinco anos se passaram após
a fatídica morte de Christian. Meus amigos e eu prometemos nunca mais tocar
naquele assunto, decidimos tornar Christian parte do passado e esquecê-lo de
uma vez por toda.
“O passado está para trás”, pensei.
Mas ele nunca está, não é mesmo?
Recebo uma ligação de uma amiga que não vejo há bastante tempo, da minha
velha cidade. Era a Ana...
Ana me ligou para contar que um de nossos velhos amigos morreu: o
Arthur. Ele morreu de hemorragia após ser encontrado com braços e pernas
mutilados cerca de cinco dias atrás. Deixou escrito com sangue:
“Não há o que se fazer, o passado não PODE ser enterrado. Eu voltarei.”
–Incipt: A face da morte.
Imediatamente
eu começei a soar frio. Além de mim, Ana e Arthur, mais três colegas
testemunharam a morte de Christian outrora e ficaram cientes de suas palavras.
São eles: Débora, Milena e Eduardo (Debóra e Eduardo
eram namorados na época).
- “Eu voltarei!”, ele disse...
- “Você verá a face da
morte!”. Não há como ser
coincidência, é o Isaac!
Ana pede que eu volte a minha velha cidade, diz estar com medo. Fico apreensivo, também
estou com medo. Mas depois do que presenciamos juntos, me sinto responsável
pelo acontecido. Devo isso a ela. Cancelo todos os meus
afazeres. Pego o avião e volto ainda hoje. Instalei-me numa pequena república de
esquina. Marquei com Ana de nos encontrarmos numa antiga cantina que
frequentávamos quando mais jovens. Espero-a atencioso, há muito tempo não a
vejo. Eis que ela me cutuca pelas costas e profere:
- Olá, senhor
advogado! Quanto tempo... - disse Ana.
Respondo:
- Sim, Ana,
quanto tempo! - Ela estava linda, pensei.
- O que tens feito, minha linda? – digo.
- Ah, nada demais... Não há muito o que se fazer em cidade pequena, sabe... Eu não
tive sua sorte. – diz Ana, sorrindo.
Decido
desconversar:
- Não diga
isso, sempre soubemos que você foi brilhante...
Ela, acuada,
concorda:
- É...
O papo esfria, eis que tenho que tocar no assunto que mais temo:
- Ana, você
presenciou a morte do Arthur?
Ela segura
fortemente a minha mão, dizendo:
- Sim, eu
presenciei, Isaac! Na verdade, eu comecei a namorar o Arthur a cerca de
um ano e estava com ele em seu quarto quando ele morreu...
Eu fico pasmo,
em choque!
- Ana,
conte-me, o que houve?
- Eu não sei,
Isaac! - ela diz - Estávamos bem, passávamos todos os dias juntos e transávamos
durante a noite. Eu saí por um instante para tomar banho e quando voltei, o encontrei já morto. Após
isso gritei pelos seus pais, pois estávamos na casa deles, e eles chamaram a polícia. Já
te contei sobre a mensagem, não é?
- Sim, já
contastes... – digo.
Entro em reflexão profunda. Afinal, isso é medonho! Como pode tal cena
se repetir após cinco anos e novamente em nosso meio?! Ana interrompe meu devaneio...
- Isaac, lembra daquela banda, Incipt? – diz Ana.
- Claro que
lembro, Ana, éramos fanáticos – digo.
- Isaac, eu sei que nós nunca fomos,
aquele grupo em específico, religiosos, mas nós sabíamos da fama da Incipt quando ao fato de serem feiticeiros, satânicos que transmitiam magia, ocultismo e bruxaria
por meio de suas músicas... Isaac, quando nós ficamos bêbados, naquele dia, no show da Incipt, eu lembro que o Mr.
Crowley, vocalista da banda, nos cumprimentou e nos deu de sua própria bebida.
A todos nós, incluindo Christian. Após aquilo, lembro-me apenas de
fatidicamente estarmos todos nós, cansados, caminhando por
ruas escuras e frias, que nunca havíamos visto antes... Isaac, você se
lembra?
- Isaaac...
Isaaccc... Isaaaaaaaaaaaaaac...
- Ana, o que nós fizemos? – eu disse.
Até aquele
momento, eu realmente não lembrava-me de nada do que proferido por Ana. Talvez
tenha eu me tornado tão ressentido com aquele ocorrido, que
decidi apagar de minha memória cada traço que me remetesse aquele dia, que me
remetesse à culpa pela morte do Isaac. Ana realmente tem razão: nós bebemos do copo do
Crowley. Logo após, todos nós cantamos “A face da morte”, a música
mais famosa da Incipt. A amaldiçoada música que jurava fazer com que todos
os seus desejos podres se realizassem. E eu desejei, desejei mais que do que
minha própria morte naquela noite, desejei a morte de todos os seis, TODOS OS
MALDITOS SEIS QUE SEMPRE ME HUMILHARAM. Sim, eu me lembro agora:
“A face da
morte
Vamos, basta
pedir, a morte acalenta o suspiro do sofrimento.
Não tenha medo, rápido, peça... A morte
aguarda o suspiro que cessa.
Acaricie sua chance, abrace teu desejo,
conheça na morte o mais doce desejo.
Se coragem é o que te falta, deixe com ela
toda avidez covarde, dê para ela o que tanto suplica, imprime nela vontade. Dá
a ela a mais sublime vontade, vontade de vida, característica inerente à morte.
Não há morte, sem vida.
Mas muito bem, esteja ciente, o desejante é
também pendente.
Fara com que uns conheçam o fim ao pedir, mas
é o rosto daqueles que pediu, que verás no fim."
Eu não sou um
monstro, mas não estava mais disposto a ser somente capacho. Sim, eu pedi com todas
as minhas forças a morte dos seis, mais fortemente ainda a do Christian, aquele
maldito. Eu sempre fui o excluído do grupo, aliás, eu nem fazia mesmo parte
dele. Eu era um incluso sem graça que somente servia de capacho. Porém, eu
sempre aguentei os insultos e exclusão pela Ana. Eu sempre amei a Ana, apesar
de nunca ter tido coragem de dizê-la. E não poderia mesmo, não depois daquele
incidente. Eu contei ao Christian, momentos antes de ir ao show, que a amava e,
mesmo assim, durante o show, ele beija-a e sorri para mim.
Coincidentemente toca: “A face da morte” e num culminar de raiva eu desejo a
morte de todos.”
Logo após recuperar todas as lembranças, sou novamente indagado por Ana:
- Isaac, você se lembra?
Respondo-a:
- Sim, eu
lembro!
Ana diz:
- Ótimo!
Posteriormente,
fui acertado na cabeça pelas costas, desmaiando. Acordo desnorteado, num
quarto abandonado que desconheço. Tento recuperar um pouco de minha visão, que estava
embaraçada. Na minha frente, encontrava-se somente uma TV fora do ar
e um sonzinho que tocava uma música familiar. Escuto passos bem fortes vindos
de fora do quarto, a porta estava trancada. Eis que uma voz macabra ecoa de
debaixo do meu colchão, eu não posso me mexer, estou amarrado pelos braços e
pernas. A voz fica mais alta e rouca, me assusto, tenho medo, fecho meus olhos.
A voz ordena-me:
- Psiiiiu!
Abra teus olhos...
- Não! – digo.
A voz sorri:
- Hahahaha. O
que temes? – pergunta, e fica mais
forte - Vamos, abra! Veja o resultado do teu pedido, veja, olhe para
mim, o consumar de sua vontade... Abra os olhos, covarde!
Eu abro... Era
a Ana... Após vê-la em tal estado, meu ímpeto se quebrou por completo. Digo, eu
já sabia que iria morrer ali. Ela anunciava-me o meu desejo, como eu amaldiçoei
todos naquela noite enquanto cuspia sangue e mais sangue. Os passos ficam mais
rápidos. Alguém bate na porta. A TV dá sinal; era uma câmera. Há cinco
pessoas do lado de fora do quarto. Ana pronuncia-se:
- Oh, eles chegaram, Isaac?!
- “ELES”,
quem? – pergunto.
Ana sorri,
dizendo:
- Andem, respondam a ele quem são vocês!
Tudo fica em
silêncio por um instante. Até que vozes trêmulas e roucas se anunciam aos
poucos, profanando nomes:
- Débora!
- Milena!
- Arthur!
- Eduardo
- CHRISTIANNN!
- E eu, Anna!
- Cá estamos nós, Isaac, os amaldiçoados por
você. Todos nós pagamos pelo seu insolente pedido e alimentamos os malditos
bruxos da Incipt. Mas sabe, Isaac, podes me dizer qual a
parte boa, apesar de tudo? Lembra-se da letra da fatídica “Face da morte”?
Relembremos um trecho e, uma vez mais, juntos, cantemos. O volume do som
aumenta:
“Mas muito bem, esteja ciente, o desejante é também pendente.
Fara com que uns conheçam o fim ao pedir, mas
é o rosto daqueles que pediu, que verás no fim.”
Todas as vozes
demoníacas expressaram o trecho num onírico coro, avisando-me da morte eminente. Quando
terminaram, Ana, ensanguentada, disse:
- Vamos agora,
entrem! O desejante é também pendente! Fará com que uns conheçam o fim ao
pedir, mas é o rosto daqueles que pediu, que verás no FIM...
Autor: Uraharaki Suki
Revisão: Gabriela Prado