Olá, meu nome é Seth. Estou escrevendo essa carta, a engarrafando, e a jogando pelo córrego próximo da minha casa. Escrever me ajuda a manter a sanidade. Com sorte, alguém que continuar lendo isso, virá me salvar.
Tudo começou ha um mês. Eu estava em meu escritório, no porão, assistindo Mystery Science Theater 3000 no computador. O telefone tocou ao meu lado, mas eu não dei atenção.
Nunca era para mim; e nas raras vezes, era o meu irmão, e enquanto conversávamos, o meu sobrinho sempre pegava o telefone para tentar falar comigo também. A minha mãe gritou lá de cima que o telefonema era para mim. Sim, eu ainda vivo com meus pais. Pode rir. De qualquer forma, eu atendi.
“Alô?” falei, prestando mais atenção para as palhaçadas que o robô fazia na tela do computador.
“Começou.” A voz soava como um choramingo, um apelo. Eu não reconhecia a voz.
“O que?” Perguntei, imaginando quem poderia estar ligando.
“Eles vieram. Não tenho muito tempo, Jeff; você me pediu que ligasse se o que fizemos desse errado.”
Agora, um pouco preocupado, falei, “Acho que você ligou para o número errado. Aqui é o Seth, não Jeff.”
“NÃO SAIA DE CASA!” A pessoa gritou. Completamente apavorado, bati o telefone. Deveria ser algum trote, mas não foi engraçado. Aturdido, resolvi deixar para lá.
Mais tarde, acabei de assistir e desliguei as luzes para subir as escadas. Estava muito escuro, mas eu já sabia o caminho. Porém, dessa vez a escuridão parecia um pouco mais opressiva. Tentei ignorar a sensação e subi as escadas. Enquanto passava pela sala de estar, arrisquei uma olhada pela janela. Havia pessoas lá fora, andando ou algo assim. Olhei meu relógio e ele marcava 3:00 AM. “Que estranho,” murmurei. Cambaleei para o meu quarto e me preparei para dormir.
Eu fui um tolo naquela noite. Se eu tivesse percebido o que tinha visto, teria me poupado do terror e saído de casa.
Na manha seguinte, a TV estava ligada no noticiário. O que era estranho, pois o meu pai sempre deixava nos esportes antes de sairmos para o trabalho. Mas eu nem dei muita atenção, enquanto puxava uma gravata e seguia para o banheiro. Uma estranha sensação rastejava em minhas entranhas enquanto eu cumpria minha rotina matinal. Eu sempre tinha que lutar pelo banheiro, mas hoje não havia nenhum som pela casa. Dei uma olhada na sala e percebi que a porta da frente estava aberta, mas a porta de vidro que levava para a rua ainda estava fechada. Tudo estava silencioso. Olhei para fora e vi as mesmas pessoas que tinha visto na noite passada.
Abri a porta.
Imediatamente, seus rostos se viraram em minha direção. Recuei e voltei para dentro o mais rápido que pude, sentindo algo agarrar meu tornozelo. Seus rostos mostravam olhares inexpressivos e suas bocas estavam levemente boquiabertas e pingando sangue. Olhei para baixo e vi um deles na varanda, retraindo os braços. Ele tinha tentado me agarrar. Com uma estonteante sensação de horror, reconheci o meu irmãozinho.
Batendo a porta, tranquei e corri de volta para a sala. A televisão anunciava uma doença que estava se espalhando pelo sul do Canadá, atravessando para os EUA. Desliguei a TV e chamei por alguém que ainda estivesse em casa.
Sem respostas...
E assim começou a minha solitária existência. As notícias continuaram por alguns dias antes de cessarem. Os jornalistas mantiveram o mesmo erro estúpido: voltavam para casa todas as noites. A eletricidade ainda estava sendo distribuída; acho que alguém continuava trabalhando na usina. Ou talvez apenas a Nova Inglaterra havia sido tomada; Eu não sei. A internet também tinha caído, o que era irritante.
Enquanto as noticias ainda eram transmitidas, eles os chamavam de zumbis. Eu achava que realmente eram zumbis, pois eles não faziam muitas coisas e estavam definitivamente mortos; eles andavam até suas pernas apodrecerem, então se arrastavam ate literalmente caírem aos pedaços. Porém, enquanto tinham pernas eles eram rápidos. Foi como tinham pego a minha família, eu suponho. E o carro de policia que tinha vindo à procura de sobrevivente... não era algo legal de se ver todas as manhãs.
Eles tinham virado o meu carro, então eu estava preso. Mais um policial veio. Eles não precisavam de comida, então nem acabaram de comer o pobre policial. Mas o desmembraram; por isso ele não pôde se levantar para se juntar a eles. Porém, eu podia vê-lo rangendo os dentes, infrutiferamente.
Por quase uma semana, o cara no rádio falava que estavam caindo aos pedaços, então tudo o que precisaríamos fazer seria esperar que se desintegrassem por completo. Então ele ficou impaciente e saiu. Ninguém passou noticias pelo rádio por duas semanas.
Porém, estou encrencado. Não há mais comida em casa. Não posso esperar que todos caiam mortos outra vez. Fiz algumas expedições para o armazém. Sorte que eu tinha uma coleção de espadas.
Eles eram muito lentos para me pegarem enquanto eu corria, mas estavam em grande número, o que me assustava as vezes. Da última vez, eles quase me pegaram. Enquanto voltava, quebrei a porta que dava para a rua; agora o frio se infiltra na casa todas as noites e nesse mesmo momento posso ver um deles de pé na varanda, a menos de dois metros de onde estou escrevendo essa carta.
Você estará seguro dentro de casa. Não me pergunte os motivos que os fazem evitar de tentar entrar. Seja qual for o motivo, é o que me mantém vivo. Infelizmente, eles parecem saber que há alguém vivendo dentro da casa. Não me pergunte como; esse carinha na varanda nem tem mais os olhos. Talvez possam ouvir batimentos cardíacos, ou sentir o cheiro de suor... ou sangue.
Passei alguns dias pondo nomes neles. Alguns rostos eu já reconhecia. Era sempre o mesmo grupo rondando por aqui pelas ultimas semanas, e a quantidade vai diminuindo conforme vão se deteriorando. Porém, eles nunca vão embora. Lá fora, havia 79 deles que um dia já foram homens e 63 que já foram mulheres.
Uma vez, apenas para ver o que aconteceria, atirei na cabeça de um deles, com uma calibre 12. Apenas para ver se aquela coisa de “atire sempre na cabeça dos zumbis” era realmente verdade. Então, agora tem 79 deles que um dia já foram homens, 62 que já foram mulheres, e 1 que já foi uma mulher e decidiu continuar de pé mesmo perdendo 80% da cabeça. E eu estou com uma bala a menos.
Então eles esperam… e eu estou enlouquecendo. Falo constantemente comigo mesmo e comi um animal empalhado na noite passada. O algodão não desceu tão fácil, mas me sinto bem por ter algo no estômago. Não há arvores frutíferas por perto e, de qualquer forma, estamos em Novembro. A água está ficando escassa. A distribuição foi interrompida há oito dias; com sorte, enchi uma banheira e cada garrafa que pude encontrar antes da interrupção.
Ah, que ótimo. Agora as lâmpadas piscam e fazem uns zumbidos. Me pergunto se a energia também será interrompida.
...
Bom, isso não foi legal. Totalmente sem energia por quatro dias. Já tentou dormir no escuro sabendo que há criaturas lá fora que o mataria e o tornaria um deles na primeira chance que tivessem? Provavelmente, já que essas coisas parecem estar por todos os lugares.
Nota: já mencionei sobre Herschel, o cara em minha varanda?
Uma de suas pernas caiu, e agora ele fica sentado cheirando ela. Graças a Deus por eles terem perdido quase todas as funções cerebrais. Estou bastante certo de que as almas não estejam sendo mantidas em cativeiro dentro dessas coisas, e que continuam funcionando apenas com a função de tentar espalhar essa doença (ou o que seja) o máximo que puderem.
Não sei se você já percebeu, mas os animais parecem não ser afetados. Isso já é um pequeno conforto. É claro que eles morrem se comerem algum infectado, mas não se levantam depois de mortos.
Estranho, né? Estou ficando com fome e desesperado. Talvez… talvez eu pudesse carregar a .22 e atirar em algum esquilo lá fora. Mas como eu poderia ir pega-lo?
Por um lado, estou otimista por saber que você ainda está por aí, seja lá quem for. A energia não poderia ter voltado se não houvesse pessoas trabalhando para restaura a ordem. Estou me sentindo sortudo; hora de pegar uma espada e ir jogar essa mensagem no córrego. Talvez toda essa coisa já esteja acabando.
Talvez…
Mas por outro lado, se essa coisa já está chegando ao fim...
Por que hoje há rostos novos lá fora?