Oi Creepers, tudo bom? Hoje, com a parceria da minha página Cons Pirei!, estou trazendo mais um caso real de morte misteriosa. O texto original não é meu, eu apenas o traduzi e o adaptei. As fontes estarão lá em baixo. A leitura é um tanto longa, mas espero que gostem.
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Durante três dias quentes em Junho de 1999, ninguém ligou para Ricky McCormick. Não houveram ligações frenéticas para a polícia, ninguém notificou seu desaparecimento, nenhuma mãe ou mulher viúva apelou aos prantos para a mídia por informações ou justiça. Ninguém parecia ligar que o homem negro de 41 anos estava desaparecido, sem contar que poderia até estar morto. Ele tinha sumido e ninguém notara - e então foi encontrado em uma plantação de milho abandonada em St. Charles Country, Missouri. Quando a polícia o encontrou, seu corpo estava tão decomposto que suas digitais já haviam se desfeito.
Imediatamente a polícia suspeitou de um crime: aquele campo era um lugar comum para desovação de corpos. E um descarte após assassinato parecia uma explicação lógica para como McCormick havia parado em um milharal a 30 quilômetros de sua casa - nem sequer de ônibus ele andava. Mas também havia outras razões. Em 1993, ele ficou preso por 11 meses por uma condenação de abuso sexual de primeiro grau; mais recentemente, ele tinha ligações com tráfico de drogas. A polícia então assumiu que, por causa de seu histórico, alguém o queria morto.
Entretanto a polícia não encontrou nenhuma evidência que indicasse quem teria cometido o crime. E que talvez McCormick não teria sido assassinado de fato. O médico legista não havia encontrado nenhum ferimento de facada ou bala; talvez poderia ter sido um ferimento na cabeça, mas o corpo estava em um estado muito avançado de decomposição para que alguém tivesse certeza. “Fizemos tudo que podíamos, mas não podemos provar que tenha sido homicídio, na verdade nem conseguimos descobrir o motivo dele estar morto,” O Major de Polícia de Maryland Heights, Tom O'Connor, disse ao St. Louis Post-Dispatch em 1999.
O xerife classificou a morte de McCormick como "suspeita". Mas sem pistas ou evidências claras de um crime, não havia muito para os investigadores fazerem. Até hoje, o caso permanece aberto.
Nos 12 anos seguintes, o caso de Ricky McCormick ficou frio. Então, em março de 2011, a Unidade de Registros de Criptoanálise e Racketeering (CRRU) do FBI compartilhou duas notas que haviam sido achadas amassadas no bolso das calças jeans sujas de McCormick. As anotações pareciam ser só um monte de bobagens. Mas o FBI acredita que as letras aparentemente aleatórias, números e parênteses rabiscados em papel branco podem conter respostas para a misteriosa morte de McCormick.
A polícia encontrou as notas no corpo de McCormick e, sem saber o que fazer com elas, procurou o FBI para pedir ajuda. Por mais de uma década, o FBI não conseguiu quebrar o código de McCormick, então eles fizeram algo incomum: a agência publicamente compartilhou as anotações. "As rotas padrão de criptoanálise parecem ter atingido paredes de tijolo", disse Dan Olson, chefe da CRRU, na época. "Talvez alguém com um novo olhar possa nos ajudar com uma ideia brilhante." Foi a primeira vez que o público, incluindo a família McCormick, ouviu falar sobre essas anotações.
De certa forma, este anúncio de Olson ressuscitou McCormick - pelo menos digitalmente. Um homem com quem ninguém se importou durante seu sumiço de três dias, enquanto seu corpo se decompôs em um campo, cujo o caso provavelmente já tinha sido esquecido pela polícia, de repente se tornou uma obsessão na internet. Mas ao ressuscitar dos mortos, McCormick estava inclinado aos caprichos dos vivos. Os detetives amadores, redditors ávidos, criptógrafos de fim de semana, e teoristas da conspiração, todos se fixaram nas notas de McCormick. Em suas mãos, Ricky McCormick tornara-se diversas coisas, incluindo traficante de drogas ou esquizofrênico. Um autista, louco, e até uma criação fictícia de uma agência governamental nefasta.
Quando a Internet se cansou de Ricky McCormick, ele era todas essas coisas e nenhuma delas ao mesmo tempo. Seu código ainda não havia sido desvendado.
Não é de estranhar que o caso de McCormick movimentou a Internet. A morte misteriosa, as notas criptografadas lançadas ao público tardiamente - é uma história pronta para os teóricos da conspiração e detetives de sofá. Até hoje ele continua aparecendo em blogs, sites e fóruns por conta do fascínio em torno de suas anotações indesvendáveis.
As notas de McCormick entraram em um vortex de textos não-decifrados, que inclui o manuscrito Voynich, o disco Alberti, que inclui ilustrações surrealmente elaboradas do cosmos, o mapa do tesouro codificado Beale Papers e a carta "Dorabella". Mas as notas de McCormick também pertencem a um subgênero dos código indecifrados: os dos casos arquivados, com seus exemplos mais famosos sendo o caso de Tamam Shud (já postado lá na Cons Pirei e aqui no CPBr) e, claro, o Assassino do Zodíaco (pretendo fazer um post sobre ele no futuro, explicando melhor todo o caso).
Na verdade, quando o FBI mostrou as anotações de McCormick, o Assassino do Zodíaco não havia ainda sido esquecido pela internet. O zodíaco é o serial killer desconhecido mais notório dos Estados Unidos. Ativo no norte da Califórnia no final dos anos 60, sua verdadeira identidade ainda é calorosamente debatido na internet até hoje. Suas cartas provocativas enviadas para a mídia incluíram quatro criptogramas, apenas um dos quais foi parcialmente resolvido - por uma equipe montada por um marido e mulher que eram criptógrafos amadores, Donald e Bettye Harden.
Quase 45 anos após o último assassinato atribuído à ele, centenas de sites e blogs continuam se dedicando para tentar resolver os código do Zodíaco. Muitos dos tópicos dedicados ao Zodíaco mostram uma certa admiração. Há a implicação de que tais códigos robustos devem ser o produto de uma mente de primeira classe. McCormick, pelo contrário, não ganha tal respeito. Ao contrário do zodíaco, na vida ele era conhecido e altamente julgado: era “mal e mal” alfabetizado e sua própria mãe o descrevia como "retardado". Seu código - se é que realmente era um código - não era um desafio de assassino enviado aos jornais. Eram letras quase ilegíveis no papel, enfiado nos bolsos de sua calça jeans e recuperado apenas após sua morte. "Eles nos disseram que a única coisa em seus bolsos era um bilhete de pronto socorro", disse sua mãe ao Riverfront Times. "Agora, doze anos depois, eles voltam com essas merdas de rabiscos".
Havia uma desconexão, entre o código indestrutível e o homem derrotado. Para muitos detetives de Internet, não havia um grande background histórico para as anotações de McCormick. Ele era apenas um homem morto em um milharal. Além disso, ele era um homem morto que era pobre e negro - ele era um homem morto que tinha gerado dois filhos com uma menina com menos de 14 anos, um crime pelo qual ele serviu 11 meses na prisão. Resumindo, ele era o tipo de homem que acaba morto em um campo.
Essa avaliação dura, repetida através de muitos fóruns, dividiu a especulação amadora dos decifradores em dois pensamentos. Num deles, McCormick simplesmente não escreveu as notas: elas foram colocadas lá pelos traficantes de drogas que o empregara, como uma distração para a polícia. Em 1999, sua namorada disse à polícia que ele estava carregando drogas para Orlando; McCormick tinha feito sua mais recente viagem apenas duas semanas antes de sua morte - e, como observa o Riverfront Times, seus empregadores eram homens violentos.
A advogada mais proeminente dessa teoria é Elonka Dunin. Ela é uma criptógrafa amadora, descrita como "a criptógrafa favorita de todos" por um site de criptografias; Dan Brown nomeou um personagem em O Símbolo Perdido em sua homenagem. Dunin acredita que McCormick não tinha capacidade para criar um código aparentemente tão sofisticado. Em vez disso, ela diz, provavelmente ele serviu como um mensageiro, carregando o código entre partes desconhecidas. Mas mesmo que seja verdade, essa teoria não explica muito, como um redditor lamentou no fórum de Mistérios não resolvidos: “Não encontro explicações do porquê ele teria sido baleado e as anotações ficarem para trás. Ou o mensageiro lhe deu a mensagem e atirou nele, ou o receptor leu as mensagens e atirou nele, ou alguém o matou entre a opção A e B. Nada disto faz sentido". Se McCormick não escreveu as mensagens, então qualquer um poderia ter escrito - e isso deixa aberto para especulações correrem à solta.
Entretanto, a posição oficial do FBI em relação a esse caso é que sabemos quem é o autor das notas: "Tenho toda a confiança de dizer que foi Ricky quem escreveu as notas", disseram. "São notas escritas de um certo formato que parece que alguém escreveu para si mesmo, não para outra pessoa."
Mas então o que significam as anotações de McCormick? As teorias geralmente se concentram nos números, seguidas pela repetição das letras "NCBE". Alguns sugerem que "71", "74" e "75" podem ser referências a rodovias perto de St. Louis, enquanto outros acreditam que eles se referem à numeração de identificação de veículos (em inglês: VIN numbers), anotações sobre jogos (há uma relação significante entre sites de jogos e sites de criptografia), e ainda alguns sugerem que ele se referia à peças de carros.
Comentaristas do “Above Top Secret”, um fórum de discussão dedicado a "temas alternativos", como conspirações do governo e da Nova Ordem Mundial, oferecem interpretações bastante racistas, expondo McCormick como um traficante de drogas. Nesse universo, "NCBE" provável é uma gíria de rua para "No Cash Being Exchanged - Nenhum dinheiro sendo trocado - em tradução livre para português" ou "Nose Candy Buys Eight Ball - Nariz de doce compra Bola Oito - em tradução livre para português " ou "Nickel Bag Everyday - Niqueleira todo dia - em tradução livre para português". Não é um código real, um comentarista escreve: "Isso são abreviações escritas por um traficante analfabeto. Revela para quem ele vende, o quanto vende, uma breve descrição de como os conhece, se os reconhece ou se não os reconhece". Não existem evidências de que McCormick tenha sido nada além de uma mula, levando drogas de lá para cá. É bastante improvável que esses códigos sejam algo relacionado a tráfico de drogas.
Novamente, as teorias sobre as anotações de McCormick são muitas vezes baseadas na questão fundamental de que se um homem que não completou o ensino médio teria a capacidade de produzir criptografias sofisticadas o suficiente que ninguém, nem decifradores amadores ou até mesmo o FBI poderiam decifrar. Mas talvez as notas nem sequer sejam códigos. Alguns detetives cibernéticos veem a evidência como um caso de transtorno bipolar, esquizofrenia ou até mesmo dano cerebral. "Tendo trabalhado com pessoas que sofreram com lesões cerebrais, tenho que te dizer, isso parece muito como o tipo de jargão que eles escreviam. Podia ter um sentido perfeito em suas cabeças, mas a mensagem não era bem transmitida quando escreviam.", um comentou. Um redditor viu padrões de esquizofrenia: a escrita instável, a paranóia, a incontrolável necessidade de criptografar pensamentos e idéias aleatórias.
Talvez exista uma explicação ainda mais banal. Alguns vêem o "código" de McCormick como nada mais do que um cronograma manuscrito para sua medicações.
Este é o retrato mais simpático de Ricky McCormick, e o que mais se encaixa com o suposto "código", pelo pouco que sabemos de sua vida. Embora ele não tenha recebido um diagnóstico ou tratamento psiquiátrico oficial, após sua prisão de 1992 por agressão sexual, sua defensora pública acreditava que ele estava "sofrendo de alguma doença mental". Ela pediu um exame de saúde mental, mas McCormick foi considerado apto para julgamento - o que não sugere muito mais de que ele poderia discernir o certo do errado. Sua família, entretanto, descreveu-o de uma forma que se encaixava com um neuroatípico não diagnosticado: além de sua mãe já o ter descrito como "retardado", uma tia lembra dele como um menino isolado com uma "parede de tijolos em volta de seus pensamentos".
A resposta para suas anotações misteriosas poderão ficar para sempre somente nessa mente emparedada, que agora já se foi. Quando as anotações de McCormick reaparecem em fóruns de criminologia ou criptografia, elas geralmente desaparecem rapidamente. Não há mais muito onde procurar, não há mais pistas. E talvez haja uma razão mais profunda, mais pungente. Nick Dunning insinua em seu blog de criptografias misteriosas, escrevendo: "Mas tudo que eu realmente sinto é uma sensação de profunda tristeza - que o que estamos vendo nessas duas anotações é a vida de um pobre rapaz analfabeto que deu um passo maior que perna, e acabou caindo no processo.”
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E aí, Creepers?! Qual sua opinião em relação ao caso de Ricky McCormick? Estaria o FBI e os detetives amadores errados em relação da capacidade de Ricky, ou então realmente seria apenas a obra de uma mente perturbada? Quem matou Ricky e porque? Como ele foi parar a quilômetros de sua casa? Comenta aí!
ORIGINAL ARTICLE BY STASSA EDWARDS / TEXTO ORIGINAL DE STASSA EDWARDS:
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