Dirigi para casa, após um longo dia de trabalho, é trabalho ruim, mas da para me manter com ele. Minhas horas de trabalho são sempre insanas, eu geralmente trabalho de doze a quatorze horas. Eu moro em um desses apartamentos de dois andares que poderia ser facilmente confundido com um desses motéis de beira de estrada.
Parei meu carro no estacionamento próximo a entrada do meu quarto.
De alguma forma, eu estava mais cansado que o habitual, e queria apenas largar minha mala no chão e cair em minha cama.
Peguei minhas chaves e destranquei a porta para o meu quarto. Lá dentro, tranquei a porta atrás de mim, larguei minha mala no chão e comecei a me despir. Já estava pronto para dar adeus àquele dia.
Andei pelo meu apartamento pensando em meus planos para o trabalho no dia seguinte, mas parei quando vi a minha gloriosa e confortável cama. É uma cama de solteiro, com moldura de madeira, o colchão era composto por algodão e fios egípcio. Não era luxuosa, mas dava pro gasto.
Pulei na cama, abraçando o leve e fofo travesseiro, que mais parecia uma nuvem. As luzes do meu apartamento estavam apagadas, e minha coberta tapava o meu rosto, bloqueando todas as luzes que entravam pela janela. Lentamente comecei a cair no sono, quando algo me impediu.
Um leve toque na sola do meu pé esquerdo, parecia com o toque de uma leve brisa, uma pequena baforada de ar. Não dei muita atenção, já estava tarde e imaginei que seria apenas uma corrente de ar que tinha entrado por alguma janela que esqueci de fechar. Mais uma vez voltei ao estado de dormência. De repente, a leve brisa na sola do meu pé esquerdo tornou-se uma leve batida. Sacudi o pé e o recolhi para baixo da coberta. Talvez tenha sido apenas um sinal do sistema nervoso. O que quer que fosse eu resolveria pela manhã.
O cobertor ficou muito abafado para o meu pé, e comecei a me sentir incomodado com a posição em que estava deitado, então virei para o outro lado e pus o pé outra vez para fora do cobertor. Assim que me acomodei na nova posição, a leve batida na sola do meu pé esquerdo tornou-se um rápido, mas fraco, tapa. Pensei que fosse apenas coisa da minha imaginação, já que ainda não tinha dormido, então o ignorei.
Enquanto a noite passava, o vento uivava lá fora, e com a coberta cobrindo o meu rosto, eu não sabia como estava o clima lá fora, e eu também não dava muita importância. Eu só queria dormir, e se abrisse os olhos para dar uma olhada lá fora, correria o risco de não conseguir dormir. Lentamente, voltei a entrar no estado de dormência, mas dessa vez, os fracos tapas na sola do meu pé esquerdo, tornaram-se mais forte, e dessa vez eu acordei completamente.
Tem alguém em meu quarto? O que ele quer de mim? Eu só queria dormir. Meus olhos estavam arregalados, o cobertor continuava cobrindo o meu rosto, Eu temia ver quem ou o que estava batendo em meu pé, e temia que ele também me visse. Puxei meu pé de volta para baixo do cobertor e me encolhi mais. Tentei não entrar em pânico, já que isso denunciaria que eu estava acordado.
Depois de um tempo, o vento lá fora enfraqueceu, e tudo ficou em silêncio. Pensei que o que estava batendo em meu pé já tivesse partido, então pus o pé para fora do cobertor outra vez, e assim que o fiz, o vento lá fora irrompeu de modo muito barulhento, assim como uma TV que é abruptamente retirada do mudo. As batidas em meu pé tornaram-se mais esmagadoras, e eu realmente sentia a coisa que batia em meu pé, assim como a dor. O toque que eu sentia em meu pé, não era de pele humana ou de um objeto de metal, era o próprio ar.
Permaneci deitado e paralisado de medo, eu ainda não queria tirar o coberto do meu rosto, ou fazer qualquer tipo de barulho. Eu só queria dormir, mas com a força crescente das batidas em meu pé, eu sabia o que viria a seguir, e temia por isso.
O vento uivava cada vez mais alto, as árvores lá fora farfalhavam e balançavam, com fortes sons de estalo, como se estivessem retirando suas raízes da terra e começando a andar. Apertei minha mandíbula o mais forte que pude, agarrei firme o meu cobertor e tentei mantê-lo cobrindo o meu rosto, na esperança de amenizar a dor que eu logo sentiria. Foi rápido. Um poderoso movimento, o vento bateu, não na sola do meu pé esquerdo, mas sim no meu tornozelo esquerdo.
*Clack* meu pé esquerdo foi deslocado. Rolei de dor. O vento lá fora silenciou-se instantaneamente, os estalos das árvores desapareceram. Meus olhos arregalados encaravam o meu pé esquerdo. Ele estava completamente deslocado. Pedaços de ossos saltavam para fora, e sangue escorria através da pela rasgada. Como os planos de ignorar já tinha fracassado, olhei para o pé da minha cama para ver quem era o torturador que tinha feito isso comigo...
E não havia ninguém. O único som que eu ouvia era a calma brisa lá fora.