10/05/2016

Apenas Um Pequeno Pedido

Não consigo me lembrar da última vez que me senti normal. Eu continuo seguindo a vida tentando entender o que é que existe de tão diferente no meu material genético que me faz ser tão esquisito perto das outras pessoas ao meu redor; tento viver a vida sendo eu mesmo, mas às vezes só isso não é suficiente... Meu desejo por normalidade me deixa louco.

Em outras vezes só quero morrer, acabar com tudo, cometer suicídio, mas não consigo me convencer a realmente fazer isso.

Então, eu abraço a minha tristeza e tento aceitar a vida de forma banal.

Eu estava voltando da escola um dia, revoltado por causa das minhas notas miseráveis e porque uma garota que eu gostava havia me dispensado – algo que eu já estou bastante familiarizado agora – quando uma força estupenda me tirou do chão, empurrando-me até a parede de concreto mais próxima, fazendo todo o ar sair dos meus pulmões de uma só vez  e lágrimas se acumularem em meus olhos. Olhei para cima enquanto as mesmas lágrimas escorriam pelo meu rosto e vi uma sombra, sorrindo para mim com os dentes mais brancos que já vi na vida. Temi aquilo por alguns segundos, mas assim que minha visão se tornou nítida, percebi que era ninguém menos que Flash McCormick, um garoto punk que parecia não se cansar de irritar e agredir qualquer um ao redor dele.

“O que a menininha faz aqui sozinha?”

Não respondi porque a pergunta era imbecil demais, e foi isso que eu o disse, fazendo seu sorriso se transformar em feição de malícia e desprezo, levantando o punho pronto para me atacar novamente.

Naquele momento, o Sr, Johnson – vice-diretor da escola – puxou o garoto para longe de mim, prometendo suspensão ou algum castigo que nunca adiantaria, me deixando sozinho, machucado e golpeado; minha cabeça doía e eu aceitei o fato de ser uma concussão, considerando a força que havia atingido a parede.

Continuei o caminho de casa sozinho, não surpreso pelo fato dos meus pais não falarem absolutamente nada sobre o meu estado; subi para o meu quarto e simplesmente cai na cama. Os lençóis roxos me davam conforto e eu podia sentir o sono tentando me puxar, mas antes de dormir, pedi com todo meu coração.

Pra qualquer divindade que esteja escutando, eu tenho apenas um pequeno pedido. Protejam-me daqueles que me machucam e punam os cruéis pelo que eles já fizeram.

Contente com meu único pedido aceitei o sono que invadia meu corpo calmamente, entrando em um mundo de sonhos, cheio de desejos atendidos e realizações. Dormi melhor naquela, do que em qualquer outra noite da minha vida.

Quando acordei, algo esquisito pairava no meu quarto; como se toda atmosfera do sonho houvesse sido destruída e substituída por algo sinistro e macabro.

Entendi meu incomodo assim que olhei para a porta e vi a face sorridente de Flash pregada nela. Eu queria gritar, mas não conseguia fazer nenhum tipo de barulho enquanto encarava aquilo.

Lentamente, minha feição de espanto se torna um sorriso, um sorriso que eu não conseguia controlar, eu não queria sorrir mas não consigo evitar; aquele merda estava finalmente morto.

Minha mente se torna um redemoinho de pensamentos, tento entender quem poderia ter feito aquilo, e quem se prestaria ao trabalho de prender aquilo na minha porta. Não pode ter sido o Sr. Johnson, e com certeza não foram meus pais; meus olhos alcançam o céu e eu entendo tudo, murmurando a palavra “Obrigado”.

No dia seguinte na escola, ninguém parece saber onde Flash estava.

Senti-me feliz e finalmente livre dele, enquanto outros pareciam preocupados e tristes. No entanto, eu não me importava muito. Eu estava bastante contente com o fato de que ele não iria aparecer mais.

Todo mundo notou algo em mim, e as pessoas realmente vieram falar comigo sobre; minha autoconfiança estava aparecendo e eles finalmente perceberam o quão legal eu era.

Alguns meses se passaram e a vida estava boa. Eu tinha um novo grupo de amigos, peguei a namorada do Flash e minhas notas estavam finalmente melhorando. Eu estava plenamente feliz pela primeira vez na vida.

Um dia, eu estava na lanchonete e havia um garoto sentado não muito longe de mim, me encarando, e começando a me irritar de verdade. Comecei a andar na direção dele e sentei-me ao seu lado. “Ei, porque você não tira a porra de uma foto? Aposto que vai durar mais.”

Ele me encarou de forma tímida e expressou seu desejo de ser como eu, de ter amigos, de ser feliz. Eu dei risada no seu rosto antes de jogar a comida dele no chão e saí de lá sorrindo enquanto meus amigos se juntavam a mim e davam risada do otário.

Enquanto eu deixava a escola naquele dia, me senti mal pelo que eu havia feito, pelo tormento que havia causado àquele garoto. Eu nem sequer sabia seu nome, não podia ligar e pedir desculpa e não consegui encontrá-lo no meio da multidão enquanto os alunos saiam da escola, então, teria que me desculpar no dia seguinte.

Naquela noite, Derrick Glover chegou em casa aflito após ter sofrido bullying do garoto que ele admirava; ele pensou e choramingou sobre aquilo por o que parecia uma eternidade até se sentir bem novamente.


Antes de dormir, ele suplicou. “Pra qualquer divindade que esteja escutando, eu tenho apenas um pequeno pedido...



15 comentários:

  1. Um ciclo infinito de desejos e morte...

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  2. Curti demais, vou narrá-la em meu canal :)

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  3. Curti demais, vou narrá-la em meu canal :)

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  4. O sonho do oprimido é se tornar o opressor, não é mesmo?

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    1. Na verdade não é algo consciente, o oprimido e em sua maioria os homens oprimidos tem muito inconscientemente a vontade de recuperar o poder que lhe foi tirado no passado, é algo da psique humana•

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Lecal como eles pensansavam da mesma forma
    ....

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  7. Prefiro acreditar que ele pediu para que a divindade perdoasse o carinha lá .

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  8. "tentando entender o que é que existe de tão diferente no meu material genético que me faz ser tão esquisito perto das outras pessoas ao meu redor" vamo se abraçar amigo :')

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