Em
um verão, quando eu era criança, meus pais me mandaram para a casa de meus avós
para passar as férias. No noroeste do Pacífico, uma pequena cidade no leste de
Mississippi, poderia muito bem ter sido um país completamente diferente. No
instante em que saí do aeroporto fiquei impressionado com a umidade opressiva,
e me convenci ali de que meus pais francamente me desprezavam.
Naturalmente,
a realidade era muito mais amável do que isso. Meus avós eram boa gente, e
felizmente eu conheci uma menina depois de alguns dias de minha chegada, e nos
tornamos grandes amigos. O nome dela era Jessie. Uma garota local com longos
cabelos loiros e olhos verdes - o primeiro par que eu já tinha encontrado. Foi
amor à primeira vista. Jessie era um ou dois anos mais velha que eu, mas isso
não importava muito para nós.
Jessie
era o motivo de eu levantar todas as manhãs - não em um sentido romântico, é
claro, mas um muito literal. Claro, meus avós foram muito hospitaleiros, mas
eles eram velhos e do sul, com uma visão de mundo tão diferente da minha quanto
poderia ser. Eles só não tinham ideia de como me entreter, e eu acho que Jessie
era tanto um alívio para eles como ela era para mim, me tirando de suas mãos
durante os dias e reduzindo um pouco a minha energia jovem sem limites.
O
lugar onde meus avós moravam era cerca de um quilômetro de um lugar chamado
Ashbury Wood, e um quilômetro eu caminhava diariamente. Eu sempre encontrava Jessie no caminho, indo pelo mesmo
caminho. Em raras ocasiões, ela já estaria na casa dos meus avós quando eu
estava saindo, e eu nunca vi onde ela morava. Isso não importava muito para
mim, porém, porque a floresta era nosso verdadeiro lar.
Ashbury
Wood não era particularmente densa, mas ela parecia continuar para sempre.
Jessie me mostrou alguns caminhos em torno dos bosques, trilhas não oficiais
para lugares interessantes como clareiras, árvores ocas, ou mesmo apenas um
lugar onde um arbusto de aparência engraçada estava crescendo. Nós contávamos
um ao outro histórias de nossas cidades natais, imaginando como que a vida
seria se um de nós vivêssemos onde o outro viveu. Sempre que fantasiava em ela
vir morar comigo, percebia um tom estranho na voz dela, mas eu nunca pensei
muito nisso.
Enquanto
as árvores eram a nossa casa e playground, nós ainda estabelecíamos limites
para nós mesmos. Se nós ficássemos muito tempo sem ver algo que Jessie
reconhecesse, imediatamente voltávamos até que estávamos em território familiar
novamente. Ela também estabeleceu limites, características importantes que não devíamos
passar por uma razão ou outra; décadas mais tarde e o único que posso lembrar é
o riacho.
O
próprio riacho não havia nada para se preocupar. Era apenas um riacho de água
que pode ter vindo até a minha cintura, com os bordas inclinadas em ambos os
lados que eram grandes, mas não intransponíveis. A primeira vez que eu o
descobri, eu imediatamente me dirigi para baixo e entrei na água, quase pronto
para atravessar para o outro lado, quando Jessie gritou atrás de mim:
"Pare!".
Eu
me virei tão graciosamente quanto um jovem rapaz poderia e olhei para ela. Ela
ficou olhando do outro lado do riacho e para a floresta do outro lado. Suas
mãos estavam fechadas em punhos e mantidas em linha reta, ao lado do corpo, e
eu me lembro de estar preocupado que ela poderia começar a chorar. Eu subi ao
lado do riacho, chegando a seu lado.
"Qual
o problema?" Perguntei.
"Precisamos
voltar." A voz de Jessie era quase um sussurro. Ela parecia apavorada, e olhando
lentamente das árvores para mim. "Nós temos que voltar."
Relutantemente,
eu concordei, mas só porque eu podia ver como a situação a estava deixando.
Como eu disse, a água em si não era tão profunda ou rápida, e não era mesmo tão
longe dentro da floresta. Na caminhada de volta eu levantei estes pontos, mas
Jessie ficou quieta, me levando a uma pequena clareira nas árvores que usávamos
como uma espécie de base para as nossas aventuras. Me sentei e Jessie olhou
para a grama por um longo momento antes de falar.
"Dois anos atrás eu tinha uma amiga chamada Emma." Suas mãos estavam enroscadas em seu colo, tremendo. "Nós costumávamos brincar nestas árvores, como você e eu fazemos. E um dia, assim como você e eu, descobrimos aquele ‘rrrio’".
Eu ri; não por causa do conteúdo da história, mas porque eu nunca tinha ouvido alguém pronunciar ‘rrrio’ antes. Sua cabeça se levantou para me olhar nos olhos e eu fiquei quieto.
"Ficamos em frente do que pareciam crianças que deviam ter a nossa idade, mas... eles não estavam bem. Naquela época havia apenas duas: uma delas, com a cabeça pendurada para o lado assim” Jessie deixou a cabeça cair para a esquerda, pendurada. "A outra era realmente minúscula, e as suas mãos e a cabeça eram ainda menores, mais finas que de um bebê.”
"Agora, eu não estou orgulhosa desta parte seguinte, mas não fomos exatamente gentis e doces com eles, se você sabe o que quero dizer." Eu balancei minha cabeça negativamente. Ela suspirou. "Nós inventamos apelidos. Provocamos, você sabe, porque eram estranhas. Emma jogava galhos às vezes." A história teve uma pausa enquanto Jessie sorria para si mesma, se lembrando de sua amiga com carinho.
"Alguma vez elas responderam?", Perguntei, trazendo-a de volta à realidade.
"Não", disse ela, balançando a cabeça. "Só ficavam ali olhando para nós e fazendo esses ruídos estranhos. Emma e eu começamos chamando-as de ‘Crianças Estranhas’. Porque, você sabe, elas eram crianças e elas com certeza eram estranhas como o cão." Corei com uma linguagem tão pesada, mas Jessie não percebeu. "Mas não importava o que fizéssemos para elas, elas nunca atravessaram o riacho. Sempre só ficavam do outro lado, olhando fixamente e rangendo. Nem sempre eram duas. Havia outras diferentes, quatro ou cinco ao todo, eu acho".
"O que aconteceu com Emma?" A direção que a história estava tomando era óbvia, e eu estava ansioso para aprender.
Jessie ficou quieta por um longo tempo, olhando para o chão e distraidamente puxando a grama debaixo dela. "Então, no começo tínhamos medo, certo? As crianças estranhas não eram normais, e nós assustávamos uns aos outros contando histórias bobas de como elas comiamm pessoas e gostavam de correr nuas, apenas coisas estúpidas. Mas com o tempo passando, tívemos cada vez menos medo deles. Chegou a um ponto em que nós estávamos de pé bem do outro lado do riacho, a ponto de eles atravessarem, mas eles nunca o fizeram.
"Um
dia, nós estávamos sentadas lá conversando, ignorando o estranho da cabeça como
se ele fosse apenas uma outra árvore, e Emma disse algo sobre ele ser muito
covarde para atravessar. Nós duas olhamos para ele, e ele apenas... saiu.
Virou-se e foi mais fundo dentro da floresta, até que, finalmente, não podíamos
vê-lo. E eu provoquei Emma, desafiando-a a seguí-lo, que ela era uma franguinha,
se ela não fosse ".
Eu estava ouvindo com plena atenção nesse momento. Para a minha cabeça infantil, este conto-de-garotas-de-terror se assemelhava a uma história de acampamento, ainda melhor pelo fato de que ocorreu a uma pequena caminhada de onde estávamos sentados.
“Juntas, nós atravessamos o lago, porque, assim como você disse, não era tão profundo. Subimos do outro lado e fomos atrás dele. Nós andamos uns duzentos metros antes de começarmos a ouvir o rangido novamente, mas de perto não soava como um rangido. Soava como um... tremido. Eles nos cercaram mais rápido do que estávamos esperando, saindo das árvores como fantasmas. Eu estava congelada de medo. Não conseguia mover nem um músculo, apenas olhava para as crianças estranhas imaginando o que iria acontecer. Então um deles, o da cabeça mole, agarrou Emma e ela gritou e só... foi como se isso me acordasse. Eu corri de lá o mais rápido que pude, praticamente pulei o riacho num pulo só, e corri todo o caminho para casa. Meus pulmões estavam queimando no momento em que eu parei e eu estava chorando muito. As pessoas tentavam saber o que havia acontecido, mas...” A voz dela tinha sumido e eu podia ver as lágrimas brotando.
“Você...?” Eu perguntei. Ela balançou a cabeça, piscando para afastar as lágrimas.
“Me senti culpada”, admitiu. “Me senti culpada por deixá-la e continuei pensando que ela voltaria para casa, que ela estava bem atrás de mim, que choraríamos por causa disso e nunca mais chegaríamos perto daquele maldito riacho.”
“Mas ela não voltou.”
Jessie balançou a cabeça de novo. “Mas ela não voltou”, repetiu. “Ela nunca voltou. Ninguém nunca nem a procurou, porque ela era órfã.Eu não disse nada então ninguém sabia que devia procurar.”
Encarando as árvores na direção do riacho, Jessie constatou: “As crianças estranhas a pegaram. Não sei o que fizeram a ela.”
“Eu... eu sinto muito.” Tentei consolá-la, sem saber o que dizer, mas Jessie já não estava prestando atenção em mim. Ela se levantou, limpou a poeira do jeans e começou a andar em direção à cidade. Eu levantei e fui atrás dela. “ Espere! O que você está fazendo?”
“Casa.”
“Casa? Mas por quê?” A ideia parecia alien para mim – Era o meio do dia, quem gostaria de ficar dentro de casa?
“Não posso ficar na floresta. Não hoje.” Ela fez uma pausa. “Você devia ir pra casa também. Nos encontraremos amanhã de manhã.”
“Mas...”
“Mas nada.” Ela parou e virou para me encarar. “Vá para casa.” Jessie começou a virar de volta, mas uma coisa lhe ocorreu: “E nunca, jamais, atravesse aquele riacho, está me ouvindo?” Eu balancei a cabeça em silêncio e ela estendeu as mãos, agarrando meus ombros e dando um firme aperto. “Diga”, ela exigiu.
“E-eu prometo nunca atravessar o riacho.” Disse timidamente. Ela me encarou nos olhos, como se procurasse em minha alma um jeito de confirmar minha sinceridade.
Passei o resto do dia na
floresta, vagando sem rumo. Parte de mim queria voltar para o riacho, mas real
ou não, a história de Jessie me deixava arrepiado de medo. Em um certo ponto eu
cheguei perto o suficiente para ver o riacho através das árvores, e eu olhava
tão fixamente quanto eu podia do outro lado. Eu queria ver um par de olhos
olhando para mim, ou ouvir o rangido que Jessie tinha falado - naquele momento
eu teria aceitado um borrão rápido entre as árvores como evidência concreta -
mas apesar da minha vontade de acreditar, nada veio para frente para se
apresentar. A margem oposta era desprovida de vida, e eu não tinha a ousadia de
investigar mais de perto.
Enquanto o céu escurecia,
comecei com relutância a longa caminhada para casa, pela a primeira vez durante
todo o verão não acompanhado. Eu pensei na história das crianças estranhas, e
quase comecei a ficar um pouco irritado com Jessie. É claro que eles não
existem! Ela inventou só para mexer comigo, e jogou em uma outra menina,
convenientemente órfã, para levar o medo para casa. Eu balancei a cabeça e ri,
pensando em como eu tinha sido bobo.
Mais tarde, no jantar, eu
comi com uma ferocidade animal. Eu não tinha percebido quão faminto eu me
tornaria, sozinho na floresta todo dia pensando, e o frango cozido da minha avó
era a coisa mais deliciosa que eu já tinha comido. Foi apenas no meu terceiro
prato que eu parei tempo suficiente para fazer-lhes uma pergunta.
"Será que vocês já
ouviram falar de alguém perdido na floresta?" Perguntei entre mordidas,
interrompendo o silêncio regular das refeições. Eles olharam um para o outro
com curiosidade, como se procurassem em sua memória coletiva.
"Não, eu acho que
não," finalmente, disse minha avó.
"Não lembro de
nada," seu marido concordou. "Por que você pergunta?"
Eu balancei a cabeça, dando
outra mordida para ganhar algum tempo para pensar em uma resposta. "Apenas
algo que eu ouvi algumas crianças falando," Eu disse a eles. "Alguns
idiotas estavam tentando assustar Jessie e me dizendo que uma menina chamada
Emma desapareceu."
De repente, os olhos de
minha avó se iluminaram com o reconhecimento. "Você sabe, eu não ouvi nada
sobre isso, mas eu me lembro de uma menina sendo aterrorizado por essas árvores."
Ela assentiu com a cabeça, pensativa sobre uma colher de milho. "Sim, foi
há alguns anos que uma menina veio aos prantos da floresta como se o próprio
diabo estivesse nos seus calcanhares, gritando e chorando. Eu não me intrometi
por causa do pai dela pedindo que as
pessoas deixassem sua filha sozinha, mas eu ouvi que a menina não ficou
bem por algumas semanas, apenas sentando em seu quarto e não falando com
ninguém." Ela estalou a língua e deu outra mordida no milho. "Só Deus
sabe o que aconteceu com essa menina, mas a algo assustador a chocou."
De repente, senti um terror
em meu estômago, como o sentimento que você começa assistindo uma gravação de
si mesmo só para ver algo terrível pairando apenas fora de sua vista, algo que
você nunca soube que estava lá. Será que isso significa que as crianças
estranhas eram reais? E se estivessem me observando enquanto eu entrava no
riacho?
"Então, você nunca
descobriu o que aconteceu?" Eu perguntei hesitante, sem saber se eu queria
a resposta. Vovó apenas balançou a cabeça, e nós três continuamos a comer em
silêncio. Vovô trouxe um jogo de beisebol que tinha visto na TV mais cedo
naquele dia e eu fingi interesse, o melhor que pude, mas eu não estava
completamente lá. Minha mente estava de volta na floresta naquele riacho,
inspecionando cada polegada quadrada de minha memória por um sinal de algo
mais.
O sono não veio fácil
naquela noite, e quando dormi tive pesadelos. Pensamentos das crianças
estranhas rastreados pela minha mente, me trazendo de volta para o riacho. Olhando
mais profundamente dentro da floresta, vi dezenas de pares de olhos olhando
para mim, lentamente balançando para frente e para trás como se estivessem
avançando para mim. Meu eu no sonho estava paralisado, incapaz de fazer
qualquer coisa, mas ver como os monstros saíram das sombras. Aquele que Jessie
havia descrito, com a cabeça mole para o lado, liderava o avanço se arrastando.
Como um grupo, as crianças estranhas rastejavam para dentro do riacho,
arrastando membros quebrados e carne dilacerada por trás deles, cada um deles
rangendo por vez para criar uma cacofonia horrível de ruído que encheu meus
ouvidos e deu à luz em minha alma, olhando fixamente os olhos famintos do líder
de cabeça mole enquanto ele estendia a mão para me arrastar para baixo!
Acordei gritando. O barulho
ainda tocou em meus ouvidos e, juntamente com o meu pânico, me fez debater
contra meus cobertores como se eles estivessem tentando me engolir. Eu caí no
chão com um baque duro. Meu avô entrou na sala e minha avó estava logo atrás
dele.
"Você está bem?"
ele berrou, ainda cheio de adrenalina, embora ele estivesse começando a
perceber que não havia ameaça. Envergonhado, chutei os lençóis de cima de mim e
me levantei.
"Sim, só um sonho
ruim", eu murmurei. Quando eu recobrei meus sentidos, eu percebi que o
barulho que eu tinha ouvido era o som das cigarras enchendo a sala,
transmitindo as suas chamadas de acasalamento para o mundo. Rindo do excesso de
zelo, meus avós me levaram lá embaixo para o café da manhã, que eu aceitei prontamente.
Naquela manhã, eu andei todo
o caminho para a floresta sem Jessie. Eu ficava na beira do caminho olhando
para trás na estrada, tentando ver a sua figura, mas ninguém estava lá.
Suspirando, eu andei todo o caminho de volta para minha casa, em seguida, para
a floresta novamente. Não havia nenhum sinal dela.
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Continua...
Muito, muito ... MUITO FODA!!!
ResponderExcluirta com cara de que vai ser foda pra caralho...!
ResponderExcluirPtm! Continua! Tem sinal de que vai ser top!
ResponderExcluirSão só duas partes, gente! Dividi pra não ficar muito longo!
ResponderExcluirQue foda velho!
ExcluirMande a segunda parte logo, pelo amor de Deus.
Krk, vei ta muito bom, manda logo a segunda parte. Putz, nunca fiquei com tanta vontade de saber o final de alguma história.
ResponderExcluirCreepy muito foda, aguardando a parte 2
ResponderExcluirKrl que foda estou ansioso pra ver a pt 2
ResponderExcluirKrl que foda estou ansioso pra ver a pt 2
ResponderExcluirEsse conto está ótimo, parabéns! Vou ler a parte 2 imediatamente e.e...
ResponderExcluirEsse conto está ótimo, parabéns! Vou ler a parte 2 imediatamente e.e...
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