22/09/2015

Risos

Você acorda assustado, respirando rapidamente, enquanto se recupera de um pesadelo. É o mesmo pesadelo que têm se repetido há vários dias. Toda noite, você assiste desamparado, a mesma sequência de cenas se desenvolver diante de seus olhos.

Crianças brincando em um parquinho, uma garotinha escalando em uma daquelas barras de macaco, e você tem aquela sensação doentia de que algo está para acontecer, mas você não sabe o que. Você tenta gritar para avisá-la, mas a única coisa que escapa da sua garganta é ar. Nesse momento você percebe que é tarde demais, e faz de tudo para tapa os próprios olhos enquanto a garota cai, fazendo com que um estrondo insuportável entrasse pelos seus ouvidos. 

Você observa o corpo dela jogado no chão, juntamente com o resto das crianças que há alguns minutos atrás estavam sorrindo.

E é aí que você acorda suando frio e percebendo que é apenas o mesmo pesadelo novamente. Você não se acostumou com ele até agora, e você não acha que vai se acostumar algum dia.

Ainda com sono você encara os números digitais ao lado da cama. É 01h30min na madrugada, a mesma hora dos dias anteriores. Nesse momento você já desistiu de dormir novamente e decide descer as escadas, em busca de água na cozinha, lembrando-se de que tem trabalho durante a manhã.

Quase uma semana atrás, você começou a ajudar com um projeto de organização, que estava “desmontando” uma escola antiga, inutilizada desde os anos 60.

Foi aí que – estranhamente – os pesadelos começaram.

“Ótimo,” você fala entre um gole e outro. “Como vou funcionar propriamente com apenas quatro horas de sono?”

Horas mais tarde você chega à escola, sinais óbvios de velhice e desgaste estavam estampados no prédio; plantas crescendo nas paredes, pintura descascada e uma camada densa de poeira eram as mais visíveis.

“O que aconteceu com este lugar?” Você diz enquanto caminha até a porta principal. “Uma bagunça, né?” Mike disse, parando no último degrau da escadinha que usava, e parecia estar raspando o teto, os barulhos de brocas e pistola de pregos ecoavam na parte interior do prédio.

“Então, o que eu farei hoje?” Você pergunta.

“Bom,” Mike responde ainda concentrado no seu próprio trabalho. “Você pode começar retirando o assoalho do ginásio, depois precisaremos de você para retirar os quadros negros das salas de aula.”

Você faz que “sim” com a cabeça enquanto ele te entrega uma marreta e um pé de cabra.

Enquanto você anda pelo vestuário os barulhos começam a cessar gradativamente. É quase totalmente silencioso e o barulho das ferramentas não pode ser escutado. Você encontra um canto, e decide que vai começar por lá, arrancando o assoalho. Quando alcançou metade, sentiu uma sensação esquisita, como se alguém o observasse, como se o olhar fosse tão penetrante que pudesse atravessar sua pele.

Então você fala: “Mike?”

Não há resposta, claro. Você já esperava isso, mas também esperava que houvesse uma explicação para aquele sentimento.

Você ignora o sentimento e decide continuar com o que fazia; desde que começou o trabalho aqui, nada parecia esquisito, então você chegou a conclusão de que foi apenas o silêncio que te deixou assustado, colocando alguma música para tocar no fundo.

Mas aí, assim como anteriormente, você teve a sensação de que alguém te observava. Até a música não parecia... Certa? Enquanto ela se espalhava pelo cômodo você podia ouvir um ruído ao fundo, que parecia ir e voltar.

Tirando os fones de forma agressiva das orelhas, você observa o local novamente, achando que alguém o chama, e então percebe que o barulho – que tu tinhas definido como “ruído” – é na verdade um riso, e definitivamente não vinha dos fones de ouvido.

“Olá?” Você fala enquanto enfia os fones no seu bolso da calça. “Quem está aí?”

A risada se afasta rapidamente, como se um grupo de crianças tivesse saído correndo dali. “Têm crianças aqui?” Você murmura para si mesmo, pegando o pé de cabra do assoalho em que estava enfiada e colocando-a no chão.

“Oi? Mike?” Você diz novamente, saindo do vestuário e subindo as escadas rapidamente até alcançar uma porta dupla, abrindo-as, você percebe que se encontra em um tipo de refeitório, percebendo que esse não foi o mesmo caminho que você utilizou para alcançar o ginásio.

Primeiro você checou o lugar para ver se havia ou não crianças escondidas ali, mas tudo que estava lá eram mesas velhas e armários abertos.

Novamente, você ouve a risada no final do corredor.

Você sai do refeitório e anda rapidamente atrás das risadas, mas toda vez que você parece alcançá-las, elas somem ou se afastam novamente. Quando você se vira no corredor, percebe que encontrou um lugar com uma única porta no final. A mesma era azul, combinando com alguns detalhes decorativos que descansavam no chão. Você vai até ela, fazendo de tudo para abri-la ao perceber que estava trancada.

“Mas que diabos? Para onde eles foram?” Você murmura enquanto uma mão agarra seu ombro, fazendo com que você pulasse rapidamente, virando para trás e enxergando Mike com um olhar de duvida sobre seus olhos.

“Mas que merda, cara. Você me assustou.” Você diz e Mike responde, “É eu percebi... O que você tá’ fazendo aqui? Já terminou no ginásio? Que bom, precisamos de você–”

“Não, não terminei. Ei, você sabe se alguém trouxe crianças para cá, ou algo do tipo?”

“Que eu saiba não, mas você precisa terminar com o ginásio, precisamos de ajuda com a parte elétrica também.”

Você novamente faz que “sim” com a cabeça e o segue de volta, alcançando o ginásio e colocando os fones novamente, não demora menos de dois minutos até que você volte a escutar aquelas malditas crianças novamente.

Dessa vez, parecia que a risada deles zombava você, e mesmo assim tentou te convencer de que eles eventualmente iriam embora.

Não foram.

De fato, parecia que as risadas aumentavam e ficavam irritantes cada vez mais. “O que?” Você grita para as vozes, mas as risadas não param; você joga o pé de cabra no chão novamente, sem suportar mais esses joguinhos, mas invés de andar até o barulho, você decidiu correr até ele. Cada passo que você dá perto de um armário é equivalente a um barulho insuportável dentro do mesmo.

Você podia ouvir os próprios passos enquanto descia as escadas, ainda atrás das crianças. Nesse momento você não tem ideia de qual parte do prédio você alcançou, nem para onde está indo, a única coisa que importava era seguir as risadas e alcançá-las.

Enquanto corria, percebeu que o prédio parecia mais limpo e vibrante. A pintura não estava descascando nas paredes e os armários não eram usados. Nossa, para dizer a verdade parecia que aquele lugar havia sido pintado há poucos dias. “Achei que estivessem destruindo tudo, não refazendo...” Você pensa enquanto corre, alcançando o refeitório novamente.

Até aí você acha que correu em círculos, mas a teoria logo é derrubada pelo fato de que naquele refeitório as mesas estavam arrumadas e o chão estava limpo. Alguns lugares da mesa tinham comida e suco.

Isso não fazia sentido algum, apenas alguns minutos atrás as mesas estavam quebradas e havia armários no chão.

Você para e encara tudo ali, confuso, até que a risada o desconcentrou de deus pensamentos. Assim que você começou a correr novamente, a risada cessou. Não apenas diminuiu gradativamente, simplesmente parou. Como se todas as crianças tivessem sido atingidas por um trem, arrancando os barulhos bruscamente de suas bocas.

Assim como a risada, seus passos também cessaram enquanto você olha ao redor, tentando identificar onde está.

É aí que uma risada quase inaudível sai do banheiro a sua direita, então você sorri e pensa enquanto entra no banheiro. “Ah, agora eu os achei.”

Diferente do resto da área o banheiro não estava limpo, aliás, estava o oposto disso, uma completa bagunça. A parede estava suja e alguns azulejos estavam quebrados, ou simplesmente arrancados. Você decidiu checar cada portinha do banheiro, uma por uma, mas não havia ninguém lá.

“Que diabos?” Você diz com uma voz grave, confuso. Sabia que havia escutado uma risada vinda dessa área, como não havia crianças aqui?

Você se vira e abre uma das torneiras, resolvendo lavar o rosto numa tentativa de parar com essa atitude ridícula, mas você enxerga algo no canto do espelho que te faz sufocar na própria saliva.

Havia uma garotinha, os olhos dela encarando os seus. No entanto, ela não tinha olhos, apenas marcas brancas que pareciam grandes demais para o rosto dela.

Mas não eram só os olhos... Tudo nela parecia anormal. A pele colada nos ossos, fazendo com que as juntas dela simplesmente saltassem para fora. O cabelo parecia peruca, faltando em alguns lugares, como se fosse uma boneca velha. Ela usava um velho e rasgado vestido, sujo com terra e provavelmente sangue. Os lábios dela calmamente se abriram, revelando uma porção de dentes – pontudos – formando uma risada.

Você grita e corre do banheiro, e enquanto saia você percebe que o prédio já não parece mais limpo e bonito como parecia momentos atrás.

“Que diabos você tá’ fazendo?” Mike fala frustrado, “Essa é a segunda vez que você larga o trabalho.”

“Que merda tá’ acontecendo aqui?” Você grita, exigindo uma resposta.

“Do que você está falando? Nada está acontecendo. Olha, se você não está se sentindo bem, pode ir para casa.”

“Não, estou bem.” Eu respondo. “Eu prometo que vou terminar desta vez, agora, cadê o caminho de volta?”

Mike aponta para a escada no final do corredor novamente.

“Sobe as escadas e entra a esquerda no final do corredor. Você vai encontrar a porta dupla assim que chegar lá.”

“Ei,” você diz. “Por que esse lugar fechou? Parece que todo mundo resolveu sair um dia e nunca mais voltar.”

“Bom...” Mike começou a andar o barulho dos passos invadiu o lugar. “Uma garota, estudante... Morreu aqui. Aparentemente, foi algo triste demais para os professores e alunos aguentarem e todos ficaram depressivos... Então, na esperança de apagar tudo da mente deles, se mudaram para outra escola.”

Você sentiu um frio na espinha. “Como exatamente ela morreu?”

Enquanto você caminha até a porta dupla, Mike responde. “Ela caiu de um dos brinquedos do parquinho e quebrou o pescoço.”

Você engole em seco, observando enquanto Mike começa a sair do local. “Melhor você correr, não tem muito tempo.” Ele avisa fechando a porta na saída, deixando apenas o barulho do metal no lugar.

Decidido a terminar logo, você decide se concentrar no trabalho, assim pode ir pra casa e nunca mais voltar aqui. Colocando a música novamente e continuando o trabalho, meio que esperando ouvir as risadas, mas nada aconteceu.

Até você acabar, nada aconteceu.

Enquanto dirigia para casa você começou a se questionar se tudo isso estava só na sua cabeça ou não, ou se aquele pesadelo fez com que você ficasse louco.

Sentiu-se mal ao lembrar daquilo, mas decidiu ir para a cama assim que chegou a casa, sabendo o que viria depois. Decidiu não pensar no parquinho, ou na menina, especialmente depois de hoje.

Mas a imagem do rosto dela, aquele rosto horrível... Continuou com você.

Não existe mais razão para você ficar paranoico, acabou, ponto final. Você está aqui, e ela está lá.


“Ela provavelmente nem existe,” Você fala para si mesmo, e enquanto você fecha os olhos, esperando pelo horrível pesadelo, uma risada falha ecoa diretamente da porta do seu quarto.

12 comentários:

  1. Achou q ia acabar bom?Errou feio,Errou rude

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  2. ruim e fraca e-e creepypastabrazil era melhor antigamente e.e

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  3. Você faz melhor? Não, então xiu ¬¬
    A creppy foi ótima.

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  4. -Acho que hj vou ouvir risadas na porta do meu quarto o.O-

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  5. Ela ficou boa o final ficou fraco mas ficou muito boa

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  6. Ela ficou boa o final ficou fraco mas ficou muito boa

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  7. Eu fiz a brincadeira do charlie charlie na escola e fiquei meio perturbada: Comecei a ouvir risada de criança na sala de aula, no meio da aula... risada que ninguem mais ouvia D: mas eu esqueci e passou. MAS ESSA CREEPY ME FEZ LEMBRAR, KRLH

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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