Ok, então, vou começar isso com uma daquelas coisas que os
escritores fazem – quando eles te dizem que o que estão escrevendo é puramente
verdade – mas realmente não importa se você vai acreditar ou não. Ninguém
acredita.
Eu só quero deixar escrito, caso eu consiga me convencer de
que não foi real e caso haja alguém por aí que vá me levar a serio.
Eu comecei a faculdade no outono, e tive que me mudar pra
outro estado, um pouco distante do dos meus pais. E tudo aconteceu normalmente,
eu acho. Eu sentia falta dos meus amigos, e até dos meus pais – depois de um
tempo – mas eu tentei me focar e só prestar atenção nas aulas. Eu tenho dois
irmãos mais velhos – um é advogado e o outro está fazendo faculdade de direito.
Os dois foram os melhores de suas respectivas turmas e começaram a ganhar
dinheiro antes mesmo de sair da faculdade. Sendo a caçula e a única mulher, eu
sempre tive um padrão pra alcançar, e eu ficaria insatisfeita se fosse a única
entre eles que não tivesse uma carreira. Então, eu consegui um trabalho no
campus e me comprometi à só tirar notas 10.
Então, como você pode imaginar, eu não dormia muito. Me
acostumei a ficar acordada durante a noite terminando relatórios e atividades
pelo menos uma vez na semana. Minha colega de quarto era acostumada a levantar
ás 5:30 da manhã (Ela trabalhava no primeiro turno do café do campus) e me
encontrar na cama, encarando o notebook e terminando alguma atividade do dia
anterior.
Ficar acordada durante a noite não era um problema para
minha colega de quarto, ela dormia com as luzes ligadas de qualquer jeito.
Nosso dormitório era supostamente “assombrado” e as garotas ficavam realmente
assustadas a noite.
Em uma das minhas primeiras semanas aqui, um cara da turma
avançada me contou sobre isso numa festa.
“Ah, sim... Eu lembro de ouvir sobre isso: Alguma garota
daquele dormitório se matou no chuveiro ano passado,” Ele explicou. “Tipo,
tirou as lâminas do Gillette e começou a se cortar, e não só os pulsos, eu ouvi
que ela se cortou toda nos braços e nas pernas. Cortes gigantescos desde a
virilha até o pé e me disseram que tinha quase uma poça de sangue no lugar que
ela se matou. No entanto, nunca acharam as lâminas...”
Nesse momento seu amigo (bêbado) se meteu na conversa, “É,
porque o fantasma dela guardou. Então é bom você não encontrá-la no chuveiro se
não ela vai cortar você também!”
Eu não dei ouvidos... Primeiro: O mais sóbrio dos dois ficou
tentando colocar a mão na minha perna e pelo que eu entendi, ele parecia
preocupado, e se caso eu estivesse muito assustada, poderia passar a noite no
dormitório dele.
Segundo: As lâminas de uma Gillette são realmente cortantes,
mas muito pequenas. Eu não achava que poderia tirar tanto sangue de alguém. E
se essa parte foi invenção, não duvido que o resto também seja.
Eu sabia que o assunto principal era verdade – o suicídio,
quero dizer. Vários dos nossos colegas de classe nos disseram o que aconteceu,
porque eles eram do mesmo andar no ano anterior. A garota que achou o corpo
largou a faculdade (provavelmente traumatizada) e os funcionários não deram
nenhum outro detalhe, então, o que algum de nós poderia dizer é que: Houve um
suicídio, foi no chuveiro e tinha muito sangue – no entanto, ainda duvido que
tenha sido uma poça.
De qualquer forma, ninguém mais ficaria no terceiro andar –
onde se passou o acontecido – depois daquele ano, então, o andar e os chuveiros
de lá estavam sempre escuros e vazios. As pessoas eram frequentemente
desafiadas a passar noites lá, e jogar aquela merda de Ouija, mas nenhum deles
era burro o suficiente pra tentar tomar banho lá.
Exceto por mim. Mas em meu crédito, não foi por causa de um
desafio idiota.
Era a semana final do meu segundo semestre e eu estava mais
ocupada com os deveres do que o normal. Pra minha sorte, o dia seguinte era o
último de aula e eu tinha que terminar apenas mais um relatório. Eu fiquei
acordada a noite toda pra terminar e dormi durante apenas algumas horas na
noite anterior, e porque o efeito da cafeína passa em algum momento, estava
ficando difícil manter os olhos abertos. Mas eu precisava de uma boa nota, e
outra parte de mim queria ficar acordada pra ver até quando eu poderia durar.
Peguei-me quase dormindo na minha mesa, queixo apoiado nas
mãos pela qüinquagésima vez, olhei para o meu relógio e depois para o notebook,
eram 05h00 da manhã – eu ainda tinha tempo até a primeira aula, e tudo que eu
precisava fazer era escrever mais algumas frases e a conclusão.
Uma parada rápida não ia me atrasar tanto, e eu precisava de
um banho. Então, peguei minha toalha, meu roupão e minhas coisas de banho,
saindo do quarto um momento depois e fechando a porta lentamente, tentando não
acordar minha colega de quarto. Ela tinha apenas mais meia hora de sono antes
de levantar.
Quando cheguei aos chuveiros, não fiquei surpresa de
perceber que um deles já estava ligado. Eram as últimas semanas, afinal, e eu
não era a única no meu andar que tinha passado a noite acordada. Ainda esfregando
meus olhos, liguei o chuveiro e um jato de água gelada me atingiu na cabeça. Eu
fiquei lá por alguns minutos congelantes, tentando esperar a água ficar quente,
mas não ficou.
A água quente
provavelmente acabou, pensei, por um
momento realmente chocada por causa da minha colega de dormitório, que estava
tomando banho na água fria. Vesti o roupão novamente e enquanto saia do
chuveiro percebi que todas as cortinas estavam abertas e o último chuveiro
estava derramando água no chão.
Então, sem água quente porque alguém foi burro o suficiente
pra sair e deixar um dos chuveiros ligado.
Minha irritação não ofuscou a minha vontade de ficar limpa,
então, eu fui até o terceiro andar, tentando não pensar no que eu realmente
estava fazendo. Todos no dormitório tinham uma chave específica para o seu
respectivo andar, e por um momento me perguntei se isso seria necessário, mas
como eu esperava, o terceiro andar estava destrancado. Mas que bela
segurança...
Eu observei o espelho enquanto entrava e havia alguns desenhos
que lembravam grafites de rua, eu estava na dúvida se esse andar realmente
teria água quente, ou até mesmo só ÁGUA. Liguei o chuveiro e assim que percebi
a água caindo tentei me afastar, encostando-me na parede, mas isso não impediu
que a água me atingisse no ombro. Estava marrom e gelada, mas eu esperei, até
que a cor simplesmente desapareceu e a temperatura da água ficou aceitável –
não completamente morna – mas aceitável.
Eu não vou mentir, estava assustada lá dentro. Não
horrorizada – não acreditava em fantasmas desde os cinco anos de idade – mas
definitivamente assustada.
Havia um estranho cheiro metálico lá... O encanamento daqui deve estar uma porcaria, só pode ser isso que está
fedendo a ferrugem... Tentei me convencer, mesmo que uma voz na minha
cabeça tentasse gritar “sangue”
Eu decidi terminar meu banho o mais rápido possível e sair
de lá assim que acabasse.
Mas quando terminei de lavar o cabelo, comecei a me sentir
melhor. O tempo estava começando a esquentar e pensei em usar shorts, então,
por que não passar mais alguns minutos raspando a perna? Meu trabalho estava
quase pronto, eu só iria para a aula em duas horas e a única coisa que estava
realmente me assustando lá, era o barulho no chuveiro – havia culpado o
encanamento novamente –.
Enquanto eu passava a Gillette nas pernas, comecei a pensar
nas provas finais e o quanto eu queria tirar 10, mas mesmo assim, algumas das
minhas notas estavam medianas.
Acho que não me concentrar foi o que me fez esquecer a
Gillette e me cortar... Foi apenas um pequeno corte, nada que eu já não
estivesse acostumada, mas a dor inesperada me fez derrubar a lâmina, e enquanto
eu me abaixava pra pegar, notei algo.
Havia algo no ralo, e não parecia um bolo de cabelo ou algum
objeto, era alguma outra coisa. Era do tamanho de um punho pequeno, como se
fosse de criança, e era branco feito neve, o que deixava ainda mais óbvio
alguns pêlos que estavam por cima. Por um momento pensei em mármore, ou...
Qualquer outro tipo de pedra?
Em um momento de curiosidade – ou simplesmente burrice – me
ajoelhei e tentei observar mais de perto, começando a cutucar o que parecia
pêlo e tentando me convencer que era algum colar que alguém havia deixado cair
lá dentro.
Antes mesmo de abrir o ralo, eu podia ver a coisa se mexendo...
Joguei a telinha pro lado com uma sensação de triunfo e
então a coisa começou a sair e vir na minha direção, parecia se mexer com a
própria força e eu podia ver algumas marcas abaixo da superfície pálida...
Pareciam ossos?
Como?
Senti o medo crescer em mim e comecei a levantar, caminhando
pra trás, mas minha incapacidade de acreditar em fantasmas não me deixou
correr.
Enquanto a coisa começou a sair de lá, eu percebi que ela
começou a se ‘abrir’. Não sei como descrever isso de outra maneira. Quatro
dedos começaram a se abrir e revelar o que pareciam ser roxas marcas de
violência. Um lado estava melado, com algo que parecia pus saindo de um lugar
onde supostamente deveria estar localizado um... Dedão?!
Eu arregalei os olhos assim que percebi que realmente era
uma mão. A palma, não era muito maior do que a de uma criança, mas cada dedo
parecia ter mais de 20 centímetros cada, com juntas machucadas e no final dos
dedos, uma unha.
Na verdade, a palavra ‘garra’ pode definir melhor o que
aquilo era. Algumas estavam quebradas, deixando apenas a metade, mas as que não
estavam, eram imensas, fazendo os dedos da coisa parecessem ainda maiores. Elas
eram grotescas e sujas, mas não deixavam de lembrar lâminas afiadas nem por um
momento.
Agora, durante todo o tempo que levei pra observar isso, eu
não me importava mais se eu estava acreditando em fantasmas e o quão infantil
isso soaria, ou se eu estava sem roupa e minha perna ainda estava completamente
coberta de creme de barbear. Eu ia sair dali.
Comecei a andar pra trás, e usei uma das minhas mãos para
abrir a cortina do chuveiro, mas estava tudo muito escorregadio e não demorou
muito até que eu batesse minha bunda no chão. Quando eu caí, meu tornozelo
encostou-se à mão da coisa, era gelada e macia, como algo que você deixa muito
tempo dentro da geladeira. Os dedos se mexeram com o contato.
Fiquei de joelhos e por um momento pensei que pudesse me
arrastar para fora, mas enquanto eu tentava, eu senti os dedos se agarrarem em
mim. Senti uma dor horrível e quase insuportável quando as unhas da coisa se
fincaram em mim.
Eu olhei pra trás e por um momento parecia que a coisa ainda
estava tentando sair, milímetro por milímetro, de dentro do ralo. Eu podia ver
as marcas dos ossos abaixo da pele pálida e o começo do cotovelo, mas não
parava de segurar meu tornozelo, e eu não podia evitar as gotas de sangue que
começaram a cair cada vez que as unhas entravam mais em minha pele. Tentei puxar minha perna na direção do meu
corpo, mas isso fez com que a coisa segurasse minha perna com ainda mais força,
senti outra unha entrando em minha perna e a dor mais insuportável de todas
quando ele conseguiu alcançar meu osso. O barulho de “encanamento” estava de
volta e a coisa ainda parecia tentar sair do ralo.
Foi a minha colega de quarto que me salvou – ela e o
trabalho no café que ela tanto odeia. Ela disse que achou estranho acordar e
não me encontrar, mas que o fato do meu notebook estar ligado a fez pensar que
eu estava tomando banho. Ela percebeu também que eu havia levado as coisas de
banho, mas quando foi aos chuveiros do nosso andar, não havia ninguém lá.
Então, mesmo sem acreditar que eu estaria lá, ela checou o terceiro andar.
Os paramédicos disseram que eu fiquei inconsciente por pelo
menos 20 minutos; e havia perdido muito sangue. Quando eles me acharam, eu
estava com vários arranhões e cortes no meu quadril e nas minhas pernas. Havia
alguns cortes pequenos – mas a grande maioria foi profunda e grande –.
A área pior foi no meu joelho esquerdo, os médicos passaram
horas tentando ajeitar.
Eles me perguntaram se eu havia utilizado algum tipo de
droga ilícita, e eu disse á eles – sinceramente – que não. Então, eles
continuaram me perguntando se eu tinha certeza pelo menos umas dez vezes, e
depois mandaram um psiquiatra conversar comigo.
Eu estava bastante dopada por causa dos remédios pra dor,
mas ainda assim, levei alguns dias pra conseguir conversar com a minha
psiquiatra normalmente. Ela me disse que nada além do normal foi encontrado nos
chuveiros além de mim – nua e sangrando no chão –. Ela disse que as alucinações
são sintomas normais de quem fica muito tempo sem dormir.
“Mas então, como consegui estes cortes?” Eu perguntei.
Ela não tornou as coisas mais fáceis pra mim, “Você fez isso
em si mesma, querida. Você estava estressada e cansada, você não é a primeira
estudante a ter um colapso durante as provas finais.”
Bom, eu estou começando a acreditar no que ela disse sobre
as alucinações, mas eu sei que não foi uma alucinação que me deu esses cortes.
Eu não tinha nada afiado ou grande o suficiente pra me cortar desse jeito – nem
nos chuveiros, nem no meu quarto, nem em lugar nenhum. Eles acham que eu joguei
minha lâmina fora, mas quando eu perguntei á minha colega de quarto, ela disse
que estava lá, do meu lado, exatamente onde eu havia deixado, e sem um pingo de
sangue.
E esse é o motivo pelo qual eu decidi deixar isso aqui para
outras pessoas verem, eu sei que o que eu lembro não faz sentido e deveria ser
impossível, mas eu não iria me sentir bem ficando em silêncio sobre isso. Eu
quero que as pessoas saibam: Não acho que aquela garota tirou a própria vida no chuveiro ano passado... Acho que alguma outra coisa a matou.
Gostei da Creepy pq foi bem detalhada
ResponderExcluirMuito boa e detalhada 9/10 (não e tão assustadora assim =] )
ResponderExcluirN curti n tem aquele tcham no final
ResponderExcluirGostei, ficou bem feita o/
ResponderExcluirhttp://refugioterror.blogspot.com.br/
Fico legal mas muito cliche
ResponderExcluirBoa mais não tão boa e.e 8/10
ResponderExcluirLegal! Gosto desse estilo de creepy!
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