A minha condenação venho na forma de uma garrafa...
Não, não é como você está pensando.
Quando eu era um garoto, meu melhor amigo morava perto de um pequeno aterro sanitário – um ótimo lugar para crianças se aventurarem.
O lugar era cheio de mistério e descobertas excitantes, e se você encontrasse algo legal, ninguém se importaria se você o pegasse. Bom, ninguém exceto os seus pais. A única exceção era a mãe do meu amigo; a maioria de seus pratos e panelas foram tirados daquele aterro. Eu não aprovava isso.
Um dia, eu estava naquele aterro, desmantelando um carro com alguns amigos. Alguns estavam interessados nas peças, mas eu só queria quebrar coisas. Quando retiramos todo o motor, passamos para o interior do carro. Embaixo de um dos bancos encontramos uma pequena garrafa, cheia com um tipo de liquido verde e borbulhante.
Naquela época, a curiosidade sempre superava a higiene. Eu a destampei e cheirei. O cheiro era agradável, como menta, e um pouco floral. Um dos garotos, Jackie, me desafiou a beber aquilo. Era um desafio em dobro, ou seja, seu eu bebesse, ele também beberia. Eu tive que aceitar.
O gosto também era agradável, e me aqueceu da cabeça aos pés. Meu corpo foi tomado por um estranho e agradável formigamento. Nada mais aconteceu, não até aquela noite.
O primeiro efeito foi que eu não conseguia dormir. Eu nem precisava dormir mesmo. Já estava bem agitado
O segundo efeito veio um mês depois. Comecei a tossir coisas. Eu estava brincando sozinho na floresta e comecei a tossir sangue. Não apenas sangue, mas também pedaços de carne... Então comecei a vomitar. O meu intestino delgado saia da minha boca como uma grande cobra enquanto eu estava ajoelhado ali no chão, tremendo, chorando, e lutando para respirar. Eu estava literalmente vomitando minhas tripas.
Todos os meus órgãos pareciam mover-se para acomodar meus pulmões. Meu coração parecia prestes a sair pela minha boca. Eu estava sangrando tanto, que se não tivesse abandonado minhas roupas elas estariam completamente tingidas de vermelho agora. Mais tarde, os policiais encontrariam minhas roupas e procurariam por mim, um desaparecido que nunca mais achariam.
Porém, eu não me sentia vazio quando todo o processo estava terminado. Novos órgãos já tinham crescido dentro de mim. Eu podia senti-los, vesículas e espirais brotando do nada.
Finalmente, o terceiro efeito. Dois meses depois, comecei a ansiar por água, uma grande quantidade dela. Não posso explicar a sensação de sede que me tomou, mas posso afirmar que sentia uma sede desesperada. Durante uma noite, saí do moinho abandonado onde estava escondido e me arrastei até encontrar um pântano. A água enlameada e cheia de insetos parecia como um lar para mim agora. Fiquei submerso, repousando com apenas meu olhos para fora, assistindo aos peixes e salamandras serem comidos pelas garças; fiquei por bastante tempo naquela posição, esperando por minha caça.
Tenho certeza
que você já sabe qual foi o quarto efeito...
Estou digitando esse relato no celular da minha última vítima.
Ela estava deliciosa.
E cheirava como melões frescos