25/07/2014

Creepypasta dos Fãs: Segurança

-Mãe, você está bem? - A garota tirou os olhos dos carros que passavam pela rua, e voltou o foco para a mulher ao seu lado direito, que acariciava o estômago com uma das mãos.

-Hmm? Ah, não foi nada... -A mais velha pareceu pensar um pouco, antes de voltar a falar. -A verdade é que eu não gosto dessa rua. Ela me deixa um tanto nauseada.

-Como assim?

-Bem, eu devia ter uns 17 anos, assim como você. -Ela levantou os olhos e pôs a mão sobre o queixo, buscando memórias antigas. -Sempre que voltava do colégio, precisava passar por essa rua, bem nessa sinaleira pra chegar em casa. -E apontou para a sinaleira um pouco há frente das duas, que se encontrava aberta para o trânsito dos automóveis.

A mulher olhou vagamente para a faixa de pedestres, e continuou:

-O sinal estava verde, e o movimento de carros era tão baixo quanto o de hoje em dia. Além de mim haviam provavelmente mais umas cinco pessoas, diferente de agora que só tem nós duas. O sinal mudou, e uma moça passou por mim rapidamente. Porém, não deu mais que três passos largos.

A garota olha curiosa para a mãe, silenciosamente esperando a continuação.

-Ela foi atropelada. Ao que parece, o motorista teve um infarto, e consequente disso o caminhão que ele dirigia perdeu o controle. Ele passou tão próximo de mim que eu pude sentir o vento, e o sangue daquela mulher espirrando no meu rosto. A única coisa que consegui fazer foi virar o pescoço para o lado, e constatar os pedaços dela, que tinham se espalhado para todos os lados pela força do impacto. - E ela suspirou pesadamente, franzindo o cenho e desviando o olhar do da filha.- É um tanto vergonhoso de admitir, mas parte de mim ficou aliviada naquele momento, sabe? A única coisa que me veio a cabeça ao ver aquele corpo destroçado foi “Antes ela do que eu”.

-Que horrível, mãe. -A menor balançou a cabeça. -Quero dizer, dá para entender o seu lado, mas ainda é algo horrível.

-Eu sei. Foi mais ou menos isso o que me disse um rapaz que também estava para atravessar a faixa naquela hora. Ele apenas me encarou com uma expressão de repulsa e disse com uma voz fria “Que coisa horrível de se pensar.” -E ela deu um sorriso desajeitado.- Acho até que tive sorte... Outra pessoa provavelmente teria me batido. Mas, veja bem, acho que as pessoas são assim mesmo... Se for egoísmo colocar a própria segurança a frente da empatia, então acho que sou egoísta. -E ela fez um rápido cafuné na filha, mesmo sabendo do quanto isso constrangia a menor.- Mas o tempo passa, e as coisas mudam. Acredito que comecei a ser mais empática desde o dia em que você nasceu. - E ela deu um sorriso para a filha.

O sinal para os pedestres abriu e a garota, constrangida, não tardou em se mover. Mas não deu mais que três passos largos, antes do caminhão passar por cima dela.

Ao sentir o vento respingar sangue sobre ela, a mãe apenas pode virar o pescoço, incrédula, encarando os pedaços de sua filha espalhados pela rua. E ela só pode pensar uma coisa:

“Porque ela, e não eu?”

-Ah, na verdade, era para ser você. - E ela olhou rapidamente para trás, apenas para encontrar o mesmo rapaz daquele dia, com as mesmas roupas e de igual aparência, como se o tempo e a velhice não tivessem efeitos sobre ele. -Mas, eu pensei um pouco, e cheguei a conclusão de que... - Ele a encarou com seus olhos pretos, e dessa vez, em um sorriso rasgado, sua voz soou morbidamente irônica:

“Antes ela do que você, certo”?



Autor: HYY

8 comentários: