Não me interpretem mal - eu odeio quando as pessoas queixam-se da "falta de realismo" no mundo do entretenimento, e eu acho que todas as crianças precisam acreditar em Papai Noel e da Fada do dente o máximo tempo quanto possível, mas ... isto é diferente.
Nos anos 80 eu conheci esse cara, Sid, que costumava cortar cenas de fitas VHS antigas. Era mais do que um hobby para ele - era praticamente toda a sua vida. Seus pais eram um pouco mais ricos do que os meus, por isso quando éramos adolescentes, eu trabalhava escravizado em um restaurante fast food enquanto ele só andava pela casa, cortando fitas. Todos os dias. Todas as noites.
Claro que, quando ficamos mais velhos, nosso passado fica um pouco mais claro, então acho que ele poderia ter tido um pouco de autismo... Ou talvez ele fosse uma pessoa com hiperatividade. Mas é claro que eu não sou nenhum expert no assunto e não estou dizendo que esse tenha sido o caso. É apenas a melhor e mais rápida maneira que eu posso pensar para explicar sua personalidade e essa obsessão com o corte de fitas, só cortando e cortando fitas.
Tudo começou quando ele viu um filme chamado “Meu Melhor Companheiro" quando criança. Por alguma razão, seus pais o deixaram assistir aquela merda. Se você não estiver familiarizado com esse filme, é o conto de um menino e seu cão. Espero não ter que dar o spoiler de um filme tão velho, mas no final, o menino tem que atirar no seu próprio cachorro, que acabou pegando raiva.
Sid não gostou disso. Seu pai fotografava e gravava casamentos, então ele mostrou a Sid como operar algumas das máquinas de filmagem... E Sid cortou o final, substituindo-o por uma cena anterior, mais feliz, como se "Meu Melhor Companheiro" de repente tivesse ficado "melhor".
Ele assistia a fita obsessivamente depois disso, quando eu o conheci, em sua adolescência. Ele me fez assistir uma vez para mostrar como ele o "consertou" e eu pude realmente imaginá-lo como um menino quando ele começou a aplaudir e torcer pelo seu próprio final.
Não quero dizer que eu era uma má influência, mas depois que eu assisti, perguntei se ele poderia fazer isso com outros filmes.
Meu maior interesse era talvez pegar um filme ou dois e colocar alguns quadros de nudez que as atrizes realmente não haviam feito... Mas não se preocupem. Eu nunca tive coragem de perguntar se ele realmente o faria. Eu só imaginava o quão seria legal. Várias vezes.
Sid me disse que sim. Ele podia "consertar" qualquer filme que quisesse. Na verdade, ele tinha feito isso com alguns outros. Ele tinha uma cópia do filme dos Caça-Fantasmas e - eu não estou zoando - cada fantasma tinha sido completamente removido. A história não fazia sentido, não havia continuidade, mas ele conseguiu fazer isso, e eu fiquei bastante impressionado.
Acho que, na época dos VHS, essas coisas pareciam mais mágicas do que parecem hoje.
Conforme o tempo passou, eu fui encorajando Sid a editar mais filmes, mas com finalidades diferentes. Ao invés de suavizar todo o material assustador como ele queria fazer, eu fiz com que ele "abrisse" sua mente, sobre as coisas incríveis que ele poderia fazer.
Em algum lugar lá fora, alguns fãs gordinhos de Star Wars do nosso colégio tinham todos os três filmes originais perfeitamente cortados e juntados, com edição de efeitos que teriam feito o próprio George Lucas gritar:
Conforme o tempo passou, eu fui encorajando Sid a editar mais filmes, mas com finalidades diferentes. Ao invés de suavizar todo o material assustador como ele queria fazer, eu fiz com que ele "abrisse" sua mente, sobre as coisas incríveis que ele poderia fazer.
Em algum lugar lá fora, alguns fãs gordinhos de Star Wars do nosso colégio tinham todos os três filmes originais perfeitamente cortados e juntados, com edição de efeitos que teriam feito o próprio George Lucas gritar:
"Não se intrometa!"
Nós cobramos vinte reais por uma única cópia, porque éramos idiotas.
Enfim, isso continuou por um tempo antes de eu perder meu interesse. Foi mais uma brincadeira para mim do que para ele. Este é o ponto onde eu comecei a trabalhar, comecei a dirigir, comecei a tomar iniciativa com as garotas locais... Enquanto ele ficava cada vez mais envolvido no corte das fitas.
Eu acho que seus favoritos eram os desenhos. Quando Os Simpsons chegou, ele ficou louco por eles.
A partir dai, suas edições não eram mais sobre consertar as coisas, mas sim "quebrá-las" de maneiras interessantes.
Nós cobramos vinte reais por uma única cópia, porque éramos idiotas.
Enfim, isso continuou por um tempo antes de eu perder meu interesse. Foi mais uma brincadeira para mim do que para ele. Este é o ponto onde eu comecei a trabalhar, comecei a dirigir, comecei a tomar iniciativa com as garotas locais... Enquanto ele ficava cada vez mais envolvido no corte das fitas.
Eu acho que seus favoritos eram os desenhos. Quando Os Simpsons chegou, ele ficou louco por eles.
A partir dai, suas edições não eram mais sobre consertar as coisas, mas sim "quebrá-las" de maneiras interessantes.
Outra coisa que ficou em minha mente foi quando ele gravou um episódio de "M * A * S * H" e editou com um velho filme sangrento de guerra. No meio da sua versão, o campo é bombardeado... Soldados invadem. Todo mundo morre. No final, ele trabalhou especificamente em congelar os rostos de cada membro do elenco. Olhos fechados.
Ele inverteu completamente os seus interesses e abraçou o que antes o assustava: Finais assustadores. Ele parecia amar coisas como, sequencias de tirar o fôlego, com um silêncio aterrador. Ele me fazia ficar quieto enquanto eu os assistia também.
Ele inverteu completamente os seus interesses e abraçou o que antes o assustava: Finais assustadores. Ele parecia amar coisas como, sequencias de tirar o fôlego, com um silêncio aterrador. Ele me fazia ficar quieto enquanto eu os assistia também.
Você pode ter ouvido falar sobre este homem misterioso chamado Banksy, que vai criando grafites interessantes e outras coisas. Em um ponto, ele entrou em uma loja de música e substituiu alguns CDs de Paris Hilton com suas próprias falsificações.
Banksy não tinha nada a ver com o Sid. A cada duas semanas, ele me contava sobre algumas lojas ou locadoras de vídeo em que ele conseguiu colocar algumas de suas fitas. Ele trocava as versões reais pelas suas versões, e então começava tudo de novo, cortando as que ele havia roubado.
Uma vez, quando eu não havia ouvido falar dele há muito tempo, passei na casa de seus pais e o encontrei na garagem. Ele montou seu próprio estúdio de cinema lá, completo e com uma prancheta de desenho.
Ele estava, na verdade, animando um conteúdo inteiramente novo.
De uma vez só, eu estava tanto encantado com sua habilidade artística que eu nunca tinha visto antes... Mas também fiquei preocupado com quando esse cara iria sair do escuro e começar a agir "normalmente", como eu.
Ele mal tirou os olhos de seus desenhos enquanto nos falamos. Lhe perguntei o que qualquer criança, agora no final da adolescência, perguntaria.
- O que diabos está errado com você?
-Hm?
- Sério, cara. Isso é loucura.
- É um trabalho. Estou trabalhando. Meu trabalho é tão importante quanto o de qualquer outra pessoa.
- Você está ao menos vendendo isso de novo, ou você está apenas os colocando em lugares? Quanto tudo isso está custando ao seu pai? "
- Eu não me importo com eles.
Olhei para o que ele estava com ilustrando com tanto fervor.
- Isso é um corpo sem cabeça? Dançando? "
- Aham, sim.
- Isso é muito pesado, cara.
- Eu sei. Esse é o objetivo.
- Eu não entendo.
- Essas fitas. Pensei que elas estavam erradas, mas com o tempo, eu descobri a verdade.
- Que é...?
- As coisas assustadoras são as corretas. Os finais felizes que são mentiras.
Ele só continuou desenhando enquanto eu estava lá. O silêncio era perturbador, e naquele momento, pude sentir o cheiro que saia dele. Não era só suor. Era uma mistura de uma bunda suja e um pano encharcado de mijo.
Eu odeio dizer isso, mas desisti dele naquela hora. É aquele momento em que você olha para alguém que você achava que conhecia, e tudo o que consegue pensar é: "Puta merda, eu nunca pensei que ele iria tão longe."
Não foi até meus 30 anos que Sid passou pela minha cabeça novamente. Eu estava procurando coisas na internet, apenas vagando sem rumo na web, quando me deparei com uma série de "lendas urbanas" sobre fitas VHS, filmes estranhos, e os episódios perdidos.
Alguns deles, eu reconheci, pois havia assistido com Sid, ou já havia o visto trabalhando com eles. Cada cena perturbadora, cada edição inacreditável... Eu acreditava na lenda, porque estive lá.
Tinham muitos outros... Desenhos do "Bob Esponja", Episódios de "Coragem, O Cão Covarde" ou qualquer outra coisa, esses foram lançados muito tempo depois de eu ter me afastado de Sid, mas o estilo era muito familiar. Mesmo os que pareciam serem sua obra, pareciam ter sido cópias do seu jeito ou tentativas de imitar seu trabalho.
Ele ainda estava fazendo isso. Meu Deus, aquilo travou minha mente.
Liguei para o número antigo do Sid, não sabendo ao certo se eu ainda o encontraria lá. Ele tocou por alguns minutos, e eu sabia que a procura era impossível. Mesmo que ele ainda vivesse com seus pais, não era provável que eles ainda vivessem na mesma casa até agora.
Ainda assim...
Decidi ir até sua antiga casa, para ver se ele ainda estava naquela garagem, cortando fitas, manipulando-as através do computador, ou qualquer coisa que ele estivesse fazendo. Quando passei pela casa, vi que o gramado havia sido coberto por um grande e volumoso mato alto. A fachada em ruínas da casa, com a sua pintura descascando ao redor das persianas, faltando telhas, e com as sarjetas cheias de lama, me diziam que ninguém vivia ali há muito tempo.
Eu vi um bilhete na porta, mas não conseguia lê-lo da rua. Talvez fosse algo que eu pudesse usar para localizar Sid e ver se ele já havia procurado a ajuda que agora percebi que eu deveria ter dado a ele.
Entrando no caminho, meus faróis iluminaram a porta da garagem. Estava sem janelas e tinha sido vandalizado com pichações de alguns babacas da rua.
O bilhete na porta, como era de se esperar, falava de um banco que agora era proprietário do imóvel.
Observo que minha "invasão" foi fortemente desencorajada, e que em um determinado momento, alguém viria para se certificar de que a casa foi "comprometida ". O que quer que isso seja.
Enquanto eu caminhava de volta para o carro, abalado, algo estava me incomodando. Eu sabia que os pais de Sid deixavam uma chave reserva sob uma pedra falsa nas escadas dos fundos, devido ao Sid ter nos trancado pra fora em diversas ocasiões.
Quando encontrei a chave, uma sensação de frio, aquele arrepio de medo, invadiu no meu estômago.
Quem se mudaria e deixar tudo num lugar como aquele? A chave era a coisa mais óbvia, mas vasos de flores e decorações de jardim ainda estavam lá. A velha bicicleta enferrujada de Sid estava encostada na casa, e tinha criado grossas listras enferrujados ao longo do revestimento de alumínio.
Eu realmente não sei o que esperava encontrar, mas usando a chave, entrei na casa.
O cheiro era forte.
Não era um cheiro pútrido, nada podre ou em decomposição... Apenas o cheiro de... Eu não sei se isso fará algum sentido para você, mas... Cheiro de eletricidade. Como a poeira queimada de uma lâmpada ou um aquecedor exalando o cheiro peculiar de metal aquecido.
Essa era a menor das minhas preocupações, no entanto, quando vi que tudo estava exatamente do mesmo jeito, desde a ultima vez que estivera lá. Tudo que a família do Sid tinha, parecia congelada no tempo. A mesa da sala de jantar onde nós todos nos sentamos em muitas ocasiões, estava coberta de poeira e tinha um rato morto cima, que já havia praticamente virado pó.
A televisão, aquela volumosa televisão de grandes dimensões, na qual todos nós nos sentávamos em volta para assistir as fitas de Sid e elogiávamos a sua criatividade, estava onde sempre esteve, exibindo silenciosamente um violento bombardeio de estática em preto e branco.
Enquanto fui andando pelos quartos, a sensação de pânico e desconforto dentro de mim só crescia. Cada fibra do meu ser gritava “CORRA... CORRA, seu idiota!”
Ainda assim, fui ai quarto de Sid. Ele agora estava vazio e em condições precárias. Seus bonecos e fitas de vídeo em branco... centenas de fitas de vídeo obsoletas e danificadas pelas infiltrações.
Quase cheguei a chama-lo, a gritar "Sid!" e esperar que ele aparecesse como se nada estivesse fora do comum.
E então, fui para o quarto de seus pais.
Lá, deitados na cama, estavam dois corpos imóveis. Gaunt. Gray. Metade havia sido infestado por pó, assim como o rato na sala de jantar.
Eu mal podia acreditar no que eu estava vendo com meus próprios olhos. Não apenas os dois corpos estavam lentamente se dissipando dentro dessa área suburbana, mas... Como ninguém havia estranhado a ausência deles? Ninguém havia descoberto aqui, até agora.
Minha mente surtou. Meu coração disparou. As únicas coisas que não se moviam eram os meus pés, que ficaram colados no local.
Sid, pensei, deve ter feito isso. Não havia maneira dos dois terem apenas se deitado uma noite e morrido de causas naturais, juntos! Sid tinha dito que não se importava com seus pais, e...
Quando foi a última vez que eu havia os visto? Deus, eu não havia os visto por dias, droga, talvez SEMANAS antes da última vez que falei com Sid...
Quando finalmente sai do quarto, peguei meu celular e comecei a discar o 190. No entanto, assim que eu o coloquei no ouvido, um ruído ensurdecedor de interferência quase me fez arremessar o objeto pra sala.
Corri para o telefone da cozinha. Guinchando estática.
Tentei o telefone da sala só para ter certeza. Estática.
Não foi até colocar o telefone na base, que eu a ouvi... Musica. Baixa, quase inaudível, que eu não havia notado antes. Parecia ser alguma melodia repetitiva, leve e feliz. Algumas flautas, talvez trombetas.
Segui a melodia animada para a porta que vai para a garagem. Pressionando meu ouvido na superfície suja da porta, vi que a música realmente vinha dali.
- Sid? - Eu chamei, mal conseguindo formar o nome com os lábios frios, dormentes - Sid, você está aí? Você está bem?
Eu tentei abrir a porta só para ver que algo ou alguém estava de alguma forma bloqueando-a do outro lado.
Estava, na verdade, já que um chute selvagem quase tirou a madeira apodrecida de suas dobradiças.
- SID? - Gritei quando a poeira baixou lentamente.
Através da neblina, eu só podia ver a luz de uma tela de televisão. As cores vibrantes. Azul, verde, amarelo...
Logo, eu vi um desenho animado passando na tela. Em seguida, os fios de prata que vinham do próprio equipamento, até alguma massa escura. Em seguida, a massa escura foi tomando, e quando meus olhos se ajustaram à iluminação estranha.
Era Sid... Ou melhor, seu corpo... não estava morto há tanto tempo como seus pais. Ele sentado em uma velha cadeira de escritório. Os fios do aparelho de televisão ligavam diretamente para o seu corpo, acabando por desaparecer em várias crostas de buracos em sua carne. Através de uma pequena abertura carcomida em suas costelas, pensei ter visto mais metal dentro.
Eu andei para o lado de Sid, com a minha mão sobre minha boca, com medo de vomitar. Seu rosto estava torcido em um hediondo, largo sorriso... suas órbitas vazias quase pareciam feliz, com uma cara de satisfeito.
- Olá! - Ouvi uma voz dissonante.
A voz era otimista. Estridente. Soou quase como Sid, mas ... diferente. Cartunesca, como a de desenho animado.
Me virei para a tela. A grama verde, o céu azul, as flores amarelas... e Sid. Uma caricatura perfeita dele! Ele caminhou ao longo do loop infinito no fundo utópico do desenho animado.
Ele acenou para mim.
- Sid... Oh Deus, Sid!
Ele... a versão cartunizada dele ... voltou sua atenção para longe de mim e continuou a passear alegremente através daquele ciclo interminável do mesmo plano de fundo. Ele passou por um arbusto. Depois passou de novo... E mais uma vez ... O mesmo passarinho, cantando alegremente, voava através do céu em uma figura interminável.
- Sid... - Balancei a cabeça, incapaz de compreender o cenário - Eu nunca deveria ter deixado você sair da realidade.
Eu pensei sobre o que Sid tinha feito com sua mãe e seu pai. Eu pensei sobre como o banco viria em breve e como tudo isso viria à tona. Assisti Sid caminhar por cerca de uma hora e meia. Após isso, eu desmaiei para nunca mais acordar, e as últimas palavras que eu ouvi de Sid, antes de me tornar um desenho animado, também foi:
"Finais felizes não existem pra ninguém. Aqui dentro, não existe um final."
Banksy não tinha nada a ver com o Sid. A cada duas semanas, ele me contava sobre algumas lojas ou locadoras de vídeo em que ele conseguiu colocar algumas de suas fitas. Ele trocava as versões reais pelas suas versões, e então começava tudo de novo, cortando as que ele havia roubado.
Uma vez, quando eu não havia ouvido falar dele há muito tempo, passei na casa de seus pais e o encontrei na garagem. Ele montou seu próprio estúdio de cinema lá, completo e com uma prancheta de desenho.
Ele estava, na verdade, animando um conteúdo inteiramente novo.
De uma vez só, eu estava tanto encantado com sua habilidade artística que eu nunca tinha visto antes... Mas também fiquei preocupado com quando esse cara iria sair do escuro e começar a agir "normalmente", como eu.
Ele mal tirou os olhos de seus desenhos enquanto nos falamos. Lhe perguntei o que qualquer criança, agora no final da adolescência, perguntaria.
- O que diabos está errado com você?
-Hm?
- Sério, cara. Isso é loucura.
- É um trabalho. Estou trabalhando. Meu trabalho é tão importante quanto o de qualquer outra pessoa.
- Você está ao menos vendendo isso de novo, ou você está apenas os colocando em lugares? Quanto tudo isso está custando ao seu pai? "
- Eu não me importo com eles.
Olhei para o que ele estava com ilustrando com tanto fervor.
- Isso é um corpo sem cabeça? Dançando? "
- Aham, sim.
- Isso é muito pesado, cara.
- Eu sei. Esse é o objetivo.
- Eu não entendo.
- Essas fitas. Pensei que elas estavam erradas, mas com o tempo, eu descobri a verdade.
- Que é...?
- As coisas assustadoras são as corretas. Os finais felizes que são mentiras.
Ele só continuou desenhando enquanto eu estava lá. O silêncio era perturbador, e naquele momento, pude sentir o cheiro que saia dele. Não era só suor. Era uma mistura de uma bunda suja e um pano encharcado de mijo.
Eu odeio dizer isso, mas desisti dele naquela hora. É aquele momento em que você olha para alguém que você achava que conhecia, e tudo o que consegue pensar é: "Puta merda, eu nunca pensei que ele iria tão longe."
Não foi até meus 30 anos que Sid passou pela minha cabeça novamente. Eu estava procurando coisas na internet, apenas vagando sem rumo na web, quando me deparei com uma série de "lendas urbanas" sobre fitas VHS, filmes estranhos, e os episódios perdidos.
Alguns deles, eu reconheci, pois havia assistido com Sid, ou já havia o visto trabalhando com eles. Cada cena perturbadora, cada edição inacreditável... Eu acreditava na lenda, porque estive lá.
Tinham muitos outros... Desenhos do "Bob Esponja", Episódios de "Coragem, O Cão Covarde" ou qualquer outra coisa, esses foram lançados muito tempo depois de eu ter me afastado de Sid, mas o estilo era muito familiar. Mesmo os que pareciam serem sua obra, pareciam ter sido cópias do seu jeito ou tentativas de imitar seu trabalho.
Ele ainda estava fazendo isso. Meu Deus, aquilo travou minha mente.
Liguei para o número antigo do Sid, não sabendo ao certo se eu ainda o encontraria lá. Ele tocou por alguns minutos, e eu sabia que a procura era impossível. Mesmo que ele ainda vivesse com seus pais, não era provável que eles ainda vivessem na mesma casa até agora.
Ainda assim...
Decidi ir até sua antiga casa, para ver se ele ainda estava naquela garagem, cortando fitas, manipulando-as através do computador, ou qualquer coisa que ele estivesse fazendo. Quando passei pela casa, vi que o gramado havia sido coberto por um grande e volumoso mato alto. A fachada em ruínas da casa, com a sua pintura descascando ao redor das persianas, faltando telhas, e com as sarjetas cheias de lama, me diziam que ninguém vivia ali há muito tempo.
Eu vi um bilhete na porta, mas não conseguia lê-lo da rua. Talvez fosse algo que eu pudesse usar para localizar Sid e ver se ele já havia procurado a ajuda que agora percebi que eu deveria ter dado a ele.
Entrando no caminho, meus faróis iluminaram a porta da garagem. Estava sem janelas e tinha sido vandalizado com pichações de alguns babacas da rua.
O bilhete na porta, como era de se esperar, falava de um banco que agora era proprietário do imóvel.
Observo que minha "invasão" foi fortemente desencorajada, e que em um determinado momento, alguém viria para se certificar de que a casa foi "comprometida ". O que quer que isso seja.
Enquanto eu caminhava de volta para o carro, abalado, algo estava me incomodando. Eu sabia que os pais de Sid deixavam uma chave reserva sob uma pedra falsa nas escadas dos fundos, devido ao Sid ter nos trancado pra fora em diversas ocasiões.
Quando encontrei a chave, uma sensação de frio, aquele arrepio de medo, invadiu no meu estômago.
Quem se mudaria e deixar tudo num lugar como aquele? A chave era a coisa mais óbvia, mas vasos de flores e decorações de jardim ainda estavam lá. A velha bicicleta enferrujada de Sid estava encostada na casa, e tinha criado grossas listras enferrujados ao longo do revestimento de alumínio.
Eu realmente não sei o que esperava encontrar, mas usando a chave, entrei na casa.
O cheiro era forte.
Não era um cheiro pútrido, nada podre ou em decomposição... Apenas o cheiro de... Eu não sei se isso fará algum sentido para você, mas... Cheiro de eletricidade. Como a poeira queimada de uma lâmpada ou um aquecedor exalando o cheiro peculiar de metal aquecido.
Essa era a menor das minhas preocupações, no entanto, quando vi que tudo estava exatamente do mesmo jeito, desde a ultima vez que estivera lá. Tudo que a família do Sid tinha, parecia congelada no tempo. A mesa da sala de jantar onde nós todos nos sentamos em muitas ocasiões, estava coberta de poeira e tinha um rato morto cima, que já havia praticamente virado pó.
A televisão, aquela volumosa televisão de grandes dimensões, na qual todos nós nos sentávamos em volta para assistir as fitas de Sid e elogiávamos a sua criatividade, estava onde sempre esteve, exibindo silenciosamente um violento bombardeio de estática em preto e branco.
Enquanto fui andando pelos quartos, a sensação de pânico e desconforto dentro de mim só crescia. Cada fibra do meu ser gritava “CORRA... CORRA, seu idiota!”
Ainda assim, fui ai quarto de Sid. Ele agora estava vazio e em condições precárias. Seus bonecos e fitas de vídeo em branco... centenas de fitas de vídeo obsoletas e danificadas pelas infiltrações.
Quase cheguei a chama-lo, a gritar "Sid!" e esperar que ele aparecesse como se nada estivesse fora do comum.
E então, fui para o quarto de seus pais.
Lá, deitados na cama, estavam dois corpos imóveis. Gaunt. Gray. Metade havia sido infestado por pó, assim como o rato na sala de jantar.
Eu mal podia acreditar no que eu estava vendo com meus próprios olhos. Não apenas os dois corpos estavam lentamente se dissipando dentro dessa área suburbana, mas... Como ninguém havia estranhado a ausência deles? Ninguém havia descoberto aqui, até agora.
Minha mente surtou. Meu coração disparou. As únicas coisas que não se moviam eram os meus pés, que ficaram colados no local.
Sid, pensei, deve ter feito isso. Não havia maneira dos dois terem apenas se deitado uma noite e morrido de causas naturais, juntos! Sid tinha dito que não se importava com seus pais, e...
Quando foi a última vez que eu havia os visto? Deus, eu não havia os visto por dias, droga, talvez SEMANAS antes da última vez que falei com Sid...
Quando finalmente sai do quarto, peguei meu celular e comecei a discar o 190. No entanto, assim que eu o coloquei no ouvido, um ruído ensurdecedor de interferência quase me fez arremessar o objeto pra sala.
Corri para o telefone da cozinha. Guinchando estática.
Tentei o telefone da sala só para ter certeza. Estática.
Não foi até colocar o telefone na base, que eu a ouvi... Musica. Baixa, quase inaudível, que eu não havia notado antes. Parecia ser alguma melodia repetitiva, leve e feliz. Algumas flautas, talvez trombetas.
Segui a melodia animada para a porta que vai para a garagem. Pressionando meu ouvido na superfície suja da porta, vi que a música realmente vinha dali.
- Sid? - Eu chamei, mal conseguindo formar o nome com os lábios frios, dormentes - Sid, você está aí? Você está bem?
Eu tentei abrir a porta só para ver que algo ou alguém estava de alguma forma bloqueando-a do outro lado.
Estava, na verdade, já que um chute selvagem quase tirou a madeira apodrecida de suas dobradiças.
- SID? - Gritei quando a poeira baixou lentamente.
Através da neblina, eu só podia ver a luz de uma tela de televisão. As cores vibrantes. Azul, verde, amarelo...
Logo, eu vi um desenho animado passando na tela. Em seguida, os fios de prata que vinham do próprio equipamento, até alguma massa escura. Em seguida, a massa escura foi tomando, e quando meus olhos se ajustaram à iluminação estranha.
Era Sid... Ou melhor, seu corpo... não estava morto há tanto tempo como seus pais. Ele sentado em uma velha cadeira de escritório. Os fios do aparelho de televisão ligavam diretamente para o seu corpo, acabando por desaparecer em várias crostas de buracos em sua carne. Através de uma pequena abertura carcomida em suas costelas, pensei ter visto mais metal dentro.
Eu andei para o lado de Sid, com a minha mão sobre minha boca, com medo de vomitar. Seu rosto estava torcido em um hediondo, largo sorriso... suas órbitas vazias quase pareciam feliz, com uma cara de satisfeito.
- Olá! - Ouvi uma voz dissonante.
A voz era otimista. Estridente. Soou quase como Sid, mas ... diferente. Cartunesca, como a de desenho animado.
Me virei para a tela. A grama verde, o céu azul, as flores amarelas... e Sid. Uma caricatura perfeita dele! Ele caminhou ao longo do loop infinito no fundo utópico do desenho animado.
Ele acenou para mim.
- Sid... Oh Deus, Sid!
Ele... a versão cartunizada dele ... voltou sua atenção para longe de mim e continuou a passear alegremente através daquele ciclo interminável do mesmo plano de fundo. Ele passou por um arbusto. Depois passou de novo... E mais uma vez ... O mesmo passarinho, cantando alegremente, voava através do céu em uma figura interminável.
- Sid... - Balancei a cabeça, incapaz de compreender o cenário - Eu nunca deveria ter deixado você sair da realidade.
Eu pensei sobre o que Sid tinha feito com sua mãe e seu pai. Eu pensei sobre como o banco viria em breve e como tudo isso viria à tona. Assisti Sid caminhar por cerca de uma hora e meia. Após isso, eu desmaiei para nunca mais acordar, e as últimas palavras que eu ouvi de Sid, antes de me tornar um desenho animado, também foi:
"Finais felizes não existem pra ninguém. Aqui dentro, não existe um final."
Fonte (fizemos algumas modificações e correções): http://sigmapasta.blogspot.com.br/2013/11/episodios-perdidos.html
Fodona essa creepy, vish tenho um amigo chamado SID
ResponderExcluirFilosofia do dia pra vocë: FUDEU A FODALIDADE FUDÊNCIA.
ExcluirObg por fuder o fudencio do comentario fodedor :)
ExcluirGostei!!
ResponderExcluirE o também confesso que ri dessa parte "devido ao Sid ter nos
trancado pra foda em diversas ocasiões."
XD
kkkkkkkkk não foi só vc cara xD
ExcluirCreepy da hora a única coisa que estrago foi o Sid entrar em um desenho no final
ResponderExcluirConheço o Sid! Nós zuavamos mt na net rsrsrsrs
ExcluirMas, serio, ele é mesmo um desenho animado...
EXISTE UM DEZENHO ANIMADO CHAMADO SID O CIÊNTISA SERA QUE ESSE SID VIRROU SID O CIENTISTA
ExcluirRi muito na parte que falo que rle tava fedendo bunda e cu sujo e mijo kkkkkkkkk
ResponderExcluirRi muito na parte que falo que rle tava fedendo bunda e cu sujo e mijo kkkkkkkkk
ResponderExcluirFoda?
ResponderExcluirCara, acho que você trocou o r por d sem querer XP
Mas enfim, Creepy muito boa, curti.
ExcluirBem louca a creepy, só num entendi bem o final... O cara virou um desenho, ou ele viu uma caricatura dele mesmo no desenho do Sid? Ele morreu? E se morreu, como ele escreveu essa Creepy? Ele morreu por causa da radiação na garagem?
ResponderExcluirOdeio quando fico confusa no final de uma creepy -_- Mas enfim, a creepy é muito boa :]
1-Ele virou um desenho e também está morto.
Excluir2-Ele escreveu essa creepy de dentro da internet.
Aaaaah Obrigada tio Illuminat
ExcluirPermissão pra criar um mangá com essa creppy?
ResponderExcluirEu acho que ia ficar foda.....
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirKkkkkkkkk
ResponderExcluirFilmes são previsíveis, se tudo não acaba bem é sempre a criança ou o casal com mulher gravida ou filho do outro lado do mundo que vive '-'
ResponderExcluirGosto de filmes de terror pelos sustos, que diga-se de passagem estão ficando cada fez mais escassos.
Eu curto os filmes principalmente os de zumbis e serial killers, mas hoje em dia não existem filmes de terror realmente bons, filmes de terror de 20 anos atrás haviam filmes realmente bons exemplos : Hallowen e o noite dos mortos vivos
ResponderExcluir*Aff meu português ta uma merda '-'
ResponderExcluir"antes de eu me tornar um desenho animado", Não use Drogas
ResponderExcluirCarai '-' em pensar que eu ia traduzir essa porra (já achei ela na wiki) e não traduzi porque fiquei com preguiça -_-'
ResponderExcluirNão concordo Agnes, todos merecem seu happy ending *-*
ResponderExcluir(Once Upon a Time na veia ;] )
Acho que a virgula antes de "também" está no lugar errado. O certo seria:
ResponderExcluir"....e as últimas palavras que eu ouvi de Sid, antes de me tornar um desenho animado também, foi"
É nois, toda vez que começamos a assistir um filme sabemos qual será o fim: tudo vai se ajeitar de algum jeito. Prefiro quando todo mundo se ferra, muito mais foda
ResponderExcluirEu sempre perfiro um final que vem mais a calhar, tipo, o cara salva o mundo e no final um fdp mata ele, isso é chato pra caraio, outro exemplo, o cara passa o filme todo sendo mal, se torna bom, e no final se torna mal de novo e dps usa o poder do mal pra fazer o bem e acaba sendo morto de uma maneira IDIOTA e sem noção, ai já é chato de novo. Por isso eu gosto de Premonição, todo mundo morre.
ResponderExcluirPS: Fabricio, Once Upon a Time <3
Os maiores clichês são aqueles filmes em que o cara apanha pra caramba mas no final, ganha força do nada e mata o vilão
ResponderExcluirque fueda *u*
ResponderExcluirOs filmes realmente estao cliches acho q o unico filme q assisti q teve um final foda foi o nevoeiro
ResponderExcluir...Fods
ResponderExcluirDE boa, a HISTÓRIA é com certeza a mais criativa que já vi. A origem dos episódios perdidos, cara que máximo! Mas agora esse resto, o final, muito tosco. Estragou. Luto por um mundo com melhores creepypastas
ResponderExcluirCoincidencia o nome do personagem ser Sid que soa quase como Syd (Syd Barrett 1946-2006) que foi um dos integrantes do Pink Floyd (bem no começo) que ficou louco por causa da pressão
ResponderExcluire do uso de drogas.
rodrigo ribeiro , você descreveu o seya ( do anime , anime saint seiya mais conhecido como cavaleiros dos zoodiaco ) perfeitamente
ResponderExcluirÉééh...Hã?
ResponderExcluirInteressante...
ResponderExcluirgostei mas alguem sabe sobre a creepy de hora de aventura
ResponderExcluiralguem sabe sobre a creep de hora de aven
ResponderExcluirEita, Kkkkk, boa, gostei muito
ResponderExcluirEsse budego de preferir o mal ao bem me lembrou "A escola do bem e do mal"
ResponderExcluirCrepper fantasma q só surgiu agora=Eu
MUITO BOA!
ResponderExcluirUma das melhores que eu já li