O relincho do albino garanhão era gritante a cada relâmpago na noite chuvosa, era possível ver o seu cansaço após andar horas da noite sobre um terreno lamacento, chegando a cobrir quase até os jarretes e joelhos.
A tempestade piorava, estava ensopado o pobre Duque, queixava-se e amaldiçoava a horrível chuva e a si mesmo, pois se perdera da trilha da floresta, lembrando-se das palavras de seu irmão: “Cuidado com a floresta, andarás nela a noite, e não sabe os perigos que ela guarda. Siga sempre em frente, e jamais olhe para trás”.
O vento era cortante, seu corpo tremia escutando o barulho insuportável do bater dos dentes dentro de sua boca, mesmo com roupas e casacos grossos, sentia o peito gélido e levemente molhado, e com ânsia apertava contra o peito uma pequena bolsa de couro, rezando para que a única muda de roupa, que permanecia encoberta de um pequeno lençol, permanecessem enxutas.
-Deus! Por que fizestes isto comigo? O que fiz para provocar tal ira? Eu que sempre fui um fiel servo teu. Ajuda-me, por favor, não me abandonas!
E em suplicas cobertas pelo pranto ele voltou a seguir em frente, as lágrimas caiam esquentando seu rosto enquanto o corpo começava a adormecer, mexia-se pouco, as pernas estavam repletas de câimbras, e sentia o corpo encurvar para frente até encostar parte do abdômen no lombo do garanhão, enquanto olhava para baixo com os olhos já doloridos e pesados.
Lutava contra o frio, o sono e o suposto abandono. Já não aguentando mais o peso extra das roupas ensopadas, deitou-se sobre o dorso do animal, colocando uma das mãos entre a longa crina do cavalo com a triste esperança que aquilo lhe traria um pouco de calor.
E por um instante o garanhão parou, tentando suportar o próprio peso, o Duque levantou o corpo lentamente, abrindo os olhos já inchados pelas inúmeras lágrimas, e tossia, já sabendo que deveria ter contraído algum resfriado ou gripe.
-Céus, será que estou louco? – Disse o Duque descendo do cavalo e encostando a palma da mão na pequena porta de carvalho, sorriu por um instante à frente da singela cabana, olhou para os lados e colocou o garanhão em um local que parecia ser um pequeno estabulo, indo em direção à porta logo após amarrar as rédeas em um fino pilar.
Empurrou a porta suavemente, vendo-a abrir com um leve rangido. Com dificuldade, observou o interior simples em que iria passar a noite. A cabana era mobilhada apenas com uma cama e pequeno móvel e uma mesa redonda com algumas poucas cadeiras, era muito diferente de tudo que já viu e de todo o conforto a que era acostumado, mas na situação na qual estava ele agradeceu com um sorriso nos lábios e uma lágrima no rosto.
Procurou no móvel e acendeu sobre a mesa a única e pequena vela que achara, tirou as roupas molhadas que usava e colocou-as nas cadeiras com a esperança que secassem até a aurora. Seu corpo estava gélido e úmido, pegou a bolsa de couro e dela retirou o lençol que encobria as únicas roupas enxutas. Secou-se e vestiu-se com uma fina e simples roupa de linho branco, deitando-se na cama coberto pelo lençol e dormindo profundamente tomado pelo cansaço.
Por um instante, um imenso clarão encheu por completo a cabana, seguido pelos relinchos incessantes do cavalo fundidos aos trovões. Sentou-se ofegante, encostando-se à parede, sentiu o brilho daqueles olhos pesando sobre si e enfraqueceu como se sua alma estivesse sendo sugada de seu corpo.
-Quem és tu? Mostre-se, por favor, saia dessas sombras em que se esconde. – Lentamente saiu de onde estava, e o Duque olhou para ela maravilhado.
Calou-se então o mundo, nada mais importava. Um tímido raio de luz da Lua tocava suavemente o escuro interior da cabana, no centro da bela visão, entre delicados grãos de poeira que pairavam no ar, estava a bela jovem de longos e loiros cabelos que cintilavam como ouro, fundidos ao brilho pálido de sua pele e seus olhos, tão azuis e profundos quanto o mais belo mar de verão.
Passo a passo, lentamente a moça chegava cada vez mais perto, arrastando tão suavemente seus pés no chão, que o som mais se parecia com o farfalhar das folhas caídas de outono. Chegando à frente da cama, ajoelhou-se. Mantinha-se tão silenciosa quanto uma pluma caída ao chão, e seu belo olhar estava fixado nos olhos do Duque, que mais parecia estar encantado com tanta beleza.
-Quem és tu bela dama? Como veio parar aqui nesta noite tão chuvosa.
-Sou apenas uma serva, alteza, mandada pelo meu senhor para servi-lo.
Dito isto, a jovem e bela dama subia lentamente a cama, tocando delicadamente as pernas do Duque com a ponta dos dedos, enquanto ambos fixavam o olhar um no outro tão intensamente quanto dois raios que iam em direção ao chão. “Céus, como ela está quente”, pensava o Duque enquanto sedia a única sanidade que lhe restava, entregando-se àquele desejo ardente.
Naquela noite, entre incessantes relâmpagos e trovões, eram os sons dos beijos, tapas, gemidos e sussurros que predominavam na cabana, combinadas com as palavras imundas de ambos e a fervente libido que escorria no suor fundido dos dois corpos unidos por um encontro inesperado.
Ao fim, a jovem dama sentou-se na beirada da cama. O Duque, que permanecia deitado mais próximo à parede, ria, respirava ofegante como estivesse ainda sendo consumido pela libido, extasiado pela mistura de prazer e cansaço.
-Deus! – Gritou ele – Obrigado por pores esta cabana em meu caminho!
Novamente, a cabana encheu-se com a claridade de um raio, o garanhão, após incessantes relinchos de pavor e medo, soltou-se de suas rédeas e fugiu, desaparecendo entre as densas árvores da floresta. O Duque irado, gritou, rogou inúmeras pragas e por um instante silenciou.
-Deus? – Disse a dama – Não foi ele quem pôs esta cabana em teu caminho.
Ele sentou-se, apoiou um dos braços na perna, que estava dobrada à sua frente, e esfregou o rosto com a mão. Parou, fixou o olhar nela, e sem precisar pensar muito, logo perguntou:
-Então me diga quem pôs isto em meu caminho?
Levantou-se, e permanecendo de costas, riu um riso macabro, enchendo qualquer alma viva com o pavor. Mais um clarão encheu a cabana e ele viu as marcas e o negro sangue que escorria de suas costas.
Gritou, ordenou que ela o respondesse e perguntou inúmeras vezes, já com voz tremula e a alma repleta de pavor, quem ela era, e o que queria com ele. Cada palavra lhe causava mais e mais risos.
E tudo parou, a floresta e o céu se calaram fazendo um silêncio tão profundo e cortante, que parecia que o tempo havia se congelado. O medo crescia, e o suspense tomava de conta o seu interior. O pobre Duque, tomado pelo o horror, tentava controlar seu corpo que se tremia, e tentando resgatar a coragem e a lucidez, ele tentava voltar a falar.
-Sua bruxa! Responda-me agora criatura maldita, quem tu és? E quem colocou esta cabana em meu caminho?
Ela se virou. Os longos cabelos haviam se transformado em pó, a pele caíra, restando apenas músculos necrosados banhados por larvas que caiam com simples movimentos, e os olhos enegreceram e afundaram, como se não existissem mais. E com um sorriso seco, olhou para ele dizendo:
-O Diabo.
Escrito/Enviado por: Larissa M.
A tempestade piorava, estava ensopado o pobre Duque, queixava-se e amaldiçoava a horrível chuva e a si mesmo, pois se perdera da trilha da floresta, lembrando-se das palavras de seu irmão: “Cuidado com a floresta, andarás nela a noite, e não sabe os perigos que ela guarda. Siga sempre em frente, e jamais olhe para trás”.
O vento era cortante, seu corpo tremia escutando o barulho insuportável do bater dos dentes dentro de sua boca, mesmo com roupas e casacos grossos, sentia o peito gélido e levemente molhado, e com ânsia apertava contra o peito uma pequena bolsa de couro, rezando para que a única muda de roupa, que permanecia encoberta de um pequeno lençol, permanecessem enxutas.
-Deus! Por que fizestes isto comigo? O que fiz para provocar tal ira? Eu que sempre fui um fiel servo teu. Ajuda-me, por favor, não me abandonas!
E em suplicas cobertas pelo pranto ele voltou a seguir em frente, as lágrimas caiam esquentando seu rosto enquanto o corpo começava a adormecer, mexia-se pouco, as pernas estavam repletas de câimbras, e sentia o corpo encurvar para frente até encostar parte do abdômen no lombo do garanhão, enquanto olhava para baixo com os olhos já doloridos e pesados.
Lutava contra o frio, o sono e o suposto abandono. Já não aguentando mais o peso extra das roupas ensopadas, deitou-se sobre o dorso do animal, colocando uma das mãos entre a longa crina do cavalo com a triste esperança que aquilo lhe traria um pouco de calor.
E por um instante o garanhão parou, tentando suportar o próprio peso, o Duque levantou o corpo lentamente, abrindo os olhos já inchados pelas inúmeras lágrimas, e tossia, já sabendo que deveria ter contraído algum resfriado ou gripe.
-Céus, será que estou louco? – Disse o Duque descendo do cavalo e encostando a palma da mão na pequena porta de carvalho, sorriu por um instante à frente da singela cabana, olhou para os lados e colocou o garanhão em um local que parecia ser um pequeno estabulo, indo em direção à porta logo após amarrar as rédeas em um fino pilar.
Empurrou a porta suavemente, vendo-a abrir com um leve rangido. Com dificuldade, observou o interior simples em que iria passar a noite. A cabana era mobilhada apenas com uma cama e pequeno móvel e uma mesa redonda com algumas poucas cadeiras, era muito diferente de tudo que já viu e de todo o conforto a que era acostumado, mas na situação na qual estava ele agradeceu com um sorriso nos lábios e uma lágrima no rosto.
Procurou no móvel e acendeu sobre a mesa a única e pequena vela que achara, tirou as roupas molhadas que usava e colocou-as nas cadeiras com a esperança que secassem até a aurora. Seu corpo estava gélido e úmido, pegou a bolsa de couro e dela retirou o lençol que encobria as únicas roupas enxutas. Secou-se e vestiu-se com uma fina e simples roupa de linho branco, deitando-se na cama coberto pelo lençol e dormindo profundamente tomado pelo cansaço.
Por um instante, um imenso clarão encheu por completo a cabana, seguido pelos relinchos incessantes do cavalo fundidos aos trovões. Sentou-se ofegante, encostando-se à parede, sentiu o brilho daqueles olhos pesando sobre si e enfraqueceu como se sua alma estivesse sendo sugada de seu corpo.
-Quem és tu? Mostre-se, por favor, saia dessas sombras em que se esconde. – Lentamente saiu de onde estava, e o Duque olhou para ela maravilhado.
Calou-se então o mundo, nada mais importava. Um tímido raio de luz da Lua tocava suavemente o escuro interior da cabana, no centro da bela visão, entre delicados grãos de poeira que pairavam no ar, estava a bela jovem de longos e loiros cabelos que cintilavam como ouro, fundidos ao brilho pálido de sua pele e seus olhos, tão azuis e profundos quanto o mais belo mar de verão.
Passo a passo, lentamente a moça chegava cada vez mais perto, arrastando tão suavemente seus pés no chão, que o som mais se parecia com o farfalhar das folhas caídas de outono. Chegando à frente da cama, ajoelhou-se. Mantinha-se tão silenciosa quanto uma pluma caída ao chão, e seu belo olhar estava fixado nos olhos do Duque, que mais parecia estar encantado com tanta beleza.
-Quem és tu bela dama? Como veio parar aqui nesta noite tão chuvosa.
-Sou apenas uma serva, alteza, mandada pelo meu senhor para servi-lo.
Dito isto, a jovem e bela dama subia lentamente a cama, tocando delicadamente as pernas do Duque com a ponta dos dedos, enquanto ambos fixavam o olhar um no outro tão intensamente quanto dois raios que iam em direção ao chão. “Céus, como ela está quente”, pensava o Duque enquanto sedia a única sanidade que lhe restava, entregando-se àquele desejo ardente.
Naquela noite, entre incessantes relâmpagos e trovões, eram os sons dos beijos, tapas, gemidos e sussurros que predominavam na cabana, combinadas com as palavras imundas de ambos e a fervente libido que escorria no suor fundido dos dois corpos unidos por um encontro inesperado.
Ao fim, a jovem dama sentou-se na beirada da cama. O Duque, que permanecia deitado mais próximo à parede, ria, respirava ofegante como estivesse ainda sendo consumido pela libido, extasiado pela mistura de prazer e cansaço.
-Deus! – Gritou ele – Obrigado por pores esta cabana em meu caminho!
Novamente, a cabana encheu-se com a claridade de um raio, o garanhão, após incessantes relinchos de pavor e medo, soltou-se de suas rédeas e fugiu, desaparecendo entre as densas árvores da floresta. O Duque irado, gritou, rogou inúmeras pragas e por um instante silenciou.
-Deus? – Disse a dama – Não foi ele quem pôs esta cabana em teu caminho.
Ele sentou-se, apoiou um dos braços na perna, que estava dobrada à sua frente, e esfregou o rosto com a mão. Parou, fixou o olhar nela, e sem precisar pensar muito, logo perguntou:
-Então me diga quem pôs isto em meu caminho?
Levantou-se, e permanecendo de costas, riu um riso macabro, enchendo qualquer alma viva com o pavor. Mais um clarão encheu a cabana e ele viu as marcas e o negro sangue que escorria de suas costas.
Gritou, ordenou que ela o respondesse e perguntou inúmeras vezes, já com voz tremula e a alma repleta de pavor, quem ela era, e o que queria com ele. Cada palavra lhe causava mais e mais risos.
E tudo parou, a floresta e o céu se calaram fazendo um silêncio tão profundo e cortante, que parecia que o tempo havia se congelado. O medo crescia, e o suspense tomava de conta o seu interior. O pobre Duque, tomado pelo o horror, tentava controlar seu corpo que se tremia, e tentando resgatar a coragem e a lucidez, ele tentava voltar a falar.
-Sua bruxa! Responda-me agora criatura maldita, quem tu és? E quem colocou esta cabana em meu caminho?
Ela se virou. Os longos cabelos haviam se transformado em pó, a pele caíra, restando apenas músculos necrosados banhados por larvas que caiam com simples movimentos, e os olhos enegreceram e afundaram, como se não existissem mais. E com um sorriso seco, olhou para ele dizendo:
-O Diabo.
Escrito/Enviado por: Larissa M.