02/08/2012

Experimente - O Fechar dos olhos


Encontrei elas na minha jaqueta um dia, num pacotinho com um bilhete dizendo: "Experimente". Duas cápsulas azuis.

Julguei que seria alguma brincadeira idiota dos meus amigos drogados da rua de baixo. Nós experimentamos praticamente todas as drogas acessíveis, sempre em busca da viagem mais louca, psicodélica, mais forte, intensa, demorada.

Dimetiltriptamina, Ácido, algumas merdas experimentais que um cara vendia para nós, um pouco caro demais. Essas merdas acabaram comigo... Eu viajava que eu era pó caindo do meu teto. Durou umas oito horas. Acabou. Totalmente. Comigo.

Bem, de qualquer jeito, de volta as pílulas, elas tinham um estranho 17 laranja imprimido nelas. Procurei por elas online mas não achei nada. Guardei-as no meu armário e fui dormir.

Liguei pra todos meus amigos na tarde seguinte mas nenhum deles assumiu a autoria. "Não fui eu cara." Mas eu sabia que hora ou outra eu ia descobrir.

Durante a semana seguinte inteira eu esqueci delas e nenhum de meus amigos disse nada. Ou esqueceram ou realmente não foi nenhum deles. Não estava a fim de mencionar, tínhamos nos juntado pra queimar uma erva então fomos fundo.

No dia seguinte a curiosidade me matou. Peguei o pacotinho e olhei o bilhete de novo... "Agora"... Podia jurar que havia "Experimente" escrito, mas eu estava alto quando peguei elas pela primeira vez, então não sei. Fiquei ainda mais intrigado. Olhei bem as pílulas. Me decidi. Não poderia simplesmente tomar elas, poderiam ser qualquer coisa, mas eu estava muito curioso. E se fosse a MELHOR viagem? A mais psicodélica? Conversei comigo mesmo sobre e decidi que não de novo. Mas não consegui tirar a sensação de estar perdendo algo...

Os dias seguintes foram o inferno... Fiquei gripado, me sentia mal de verdade. Efeito tardio de alguma coisa que tomei.  Dormi o dia inteiro, até acordar com meu próprio coração batendo. Meus pensamentos correram na hora para a pílula. Peguei ela. Estava praticamente chamando meu nome. E eu não tinha nada a perder. Se eu morresse, bem, que fosse. Estava quase morrendo mesmo. Ao que eu conheço, podiam muito bem ser só antibióticos.  De fato esperava que fossem só isso. Olhei pela última vez pra ela.

Engoli.

Me lembro de ter "acordado". O mundo estava em negativo. Eu estava amarrado a uma cadeira, e haviam essas luzes negras pulsantes consumindo a minha visão. Não fazia idéia do que estava acontecendo, mas não estava com medo. Estava acostumado a viagens sem sentido, mas essa era diferente. Me sentia vazio, o tempo corria ao contrário, a luz estava invertida. Essas lâmpadas negras pulsando energia através do meu cérebro, meu corpo pulsando como um coração. Não conseguia fechar meus olhos... Eu precisava dessas "luzes". Estavam escurecendo meu mundo. Meu mundo. Onde eu residi e desperdicei tempo na luz. Finalmente entendi. Eu estava na escuridão.

Comecei a ver figuras depois do que pareceu uma eternidade. Massas negras de energia rastejando até mim, de todo e qualquer ângulo. Eu os via junto com flashes. Se é que posso chamar assim. A escuridão piscava de um modo inexplicável, e a cada vez eles chegavam mais perto. Reconheci-os como amigáveis. Eles estavam ali para me libertarem da luz. Me tirar do inferno branco que todos conhecemos tão bem. Queria ir com eles. Mas não fiz nenhuma tentativa. Me concentrei nos flashes. Precisava deles para me mexer mais rápido. Para dar cabo da luz. De uma vez por todas.

OS flashes começaram a ser menos frequentes. O tempo começou a acelerar. As figuras se pararam. A luz começou a voltar.

Minhas córneas entraram em combustão assim que a viagem acabou, meu vazio me envolveu. Os flashes estavam sumindo... As figuras não mais visíveis. Finalmente fechei meus olhos. Era uma escuridão tão pálida comparada com a escuridão de verdade.

Quando re-abri meus olhos estava em minha cama. Fechei-os de novo imediatamente. Odiava a luz. Odiava nosso mundo. Só queria voltar para a cadeira. Não podia viver mais ali. Não conseguia abrir meus olhos. Pensei muito durante horas em me levantar e abrir os olhos. Não, era insuportável. Não comi. Não dormi. Eu simplesmente não. Rezei por escuridão. Não adiantou nada. Eu estava no branco de novo. O único jeito de voltar à escuridão era tomando a pílula restante. Só havia mais uma, mas eu tinha de abrir meus olhos.

Minha mente, lúcida, me dizia que havia sido só uma viagem. Me dizia para não voltar. Esquecer o abismo e voltar para a vida normal. Mas a escuridão estava contra isso. E eu também. Não queria voltar. Eu precisava voltar. Era a realização do mundo que eu precisava. Mas eu não me importava com o mundo, só com a escuridão.

Noite chegou. Finalmente abri meus olhos, não para permitir que a luz entrasse, mas para pegar a pílula. A última. E pelo que eu sabia, era a última na terra. Meu desejo por escuridão me convenceu que eu só precisava de mais uma. As figuras iam me levar dessa vez. Renegaria a luz em troca da maravilhosa escuridão. Não me importava com o que havia no escuro. Só me importava que não houvesse luz.

Meu corpo estava fraco. Meus olhos tão ajustados com a escuridão estúpida de nosso mundo. Me sentia como se estivesse olhando para o Sol. Precisava do eclipse. Peguei o pacote, e sem hesitar, engoli a cápsula. Estaria em casa logo. Fechei os olhos.

"Acordei".

Havia voltado. De novo na cadeira. O escuro era tão confortante. O tempo se movia do jeito como eu me lembrava. Meu fraco corpo energizado pelas batidas. Os flashes de escuridão, ainda mais inexplicáveis, me contavam verdades. A escuridão era verdade. Esperei pelas figuras. Estava confiante que elas me levariam dessa vez.

Finalmente eles apareceram. Os louvei. Cada flash me dava a promessa de que logo eu esqueceria a luz. Seus movimentos eram errôneos e lentos. Mas esperançosos.

Os invoquei para mais perto. Observei atentamente os flashes diminuírem sua distância da minha presença. Estavam se aproximando. Podia sentí-los. Seu pulsar, forte em meu peito.  Nossos corações batendo em harmonia com os flashes. Eles haviam chegado.

Os salvadores haviam chegado. Me cercaram. Criaturas distorcidas que transformariam meu mundo. Eles abriram meus olhos para a escuridão, e os fecharam para a luz. Seguraram minhas mãos conforme os flashes diminuíam até pararem. O tempo estava acelerando. Julguei que eles haviam me levado. Fechei meus olhos.

Quando os abri, estava em completa escuridão. Linda, estonteante e magnífica escuridão. Em cada direção, um abismo infinito sem luz. Era por isso que eu havia rezado. Era onde eu pertencia. Nunca veria a luz de novo. Abrir meus olhos para algo além de escuridão seria impossível. Estava amando.


Me levantei para andar em meu mundo descontaminado. Meu Éden obscurecido. Tropecei em algo. Algo no vácuo? Senti coisas ao redor. Esta escuridão devastadora continha algo familiar.

Meu mundo antigo. Sentia ele ao meu redor, e o que eu senti naquele momento...

Bem... Quando você for dormir e fechar os olhos na escuridão, vai me entender.

23 comentários:

  1. Quer dizer que as pilulas os deixaram Cego .-.
    Não gostei muito dessa Creepy,

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  2. As pílulas o cegaram? Por que ele queria tanto ficar na escuridão? Não entendi 100%, mas gostei do clima claustrofóbico da escuridão.

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  3. Acho que entendi o mesmo que todo mundo, a brisa só cegou o cara. Ele ficou muito chapado com os efeitos.

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  4. Gostei da ideia da creepy, acho que todo mundo já sentiu aquela sensação de.completo reconhecimento quando fecha os olhos na hora de dormir. As vezes bate aquele sentimento de sufocamento.... Você sabe que tudo está ali, mas não vê nada... Interessante pra caramba *w*

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  5. Alguem apagou a luz?(piada roubada)
    Ele fico cego, q cara mais retardado.

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  6. Seria bem feito ele ter ficado cego como em "ensaio sobre a cegueira", haha... Que cara demente!

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  7. ele ficou cego? queimou tanto e ficou tão chapado que ficou doido...

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  8. so tenho uma coisa a falar


    dorgas manolo ariariirairiariairi

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  9. Acho que deviam postar os créditos do site de onde traduziram a creepy. Sei lá, meio que valoriza o trabalho do autor. E sim, as pilulas deixaram ele cego.

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  10. "Nunca vi uma creepy assim"
    -Steve wonder

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    1. HUAUHAHUAUHHAUHAUHAUHAUHAUHAHUA, mano, tu fez meu dia com essa agr, to rindo que nem retardado

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  11. Tenho que dizer que não gosto das creeps que envolvem pessoas drogadas, a historia fica confusa (ele estava alucinando ou não?) e isso acaba tirando todo o efeito de terror...
    Porém,gostei da organização. Parágrafos bem separados tiram todo o desanimo com o tamanho do texto. Também gostei do titulo, ele revela o tema sem antecipar a historia :)

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  12. o cara fico cego e acha que só ta chapadão então?

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  13. Ele morreu de overdose. Será que ninguém entendeu?

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  14. Que mane morreu de overdose. O cara ficou cego. E eu curti um tico, não muito.

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. As pípulas o deixaram cego ou ele morreu e foi pro inferno

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