No final dos anos 90, um estudante de jornalismo da PUC-PR,
em Curitiba, elaborou um trabalho de conclusão de curso sobre o seriado
infantil Chaves. O trabalho foi bastante elogiado pela banca avaliadora, que
exaltou a capacidade investigativa do aluno.
Esse TCC dedica um de seus capítulos ao estudo da saída de
Carlos Villágran, o Quico, da equipe do programa. Embora não apresente provas
conclusivas, o trabalho tras uma teoria intrigante sobre os motivos que o
levaram a sair.
Todos os trechos abaixo foram retirados da monografia em
questão.
No final de 1977, Carlos Villagrán, que desde o início da
série interpretava o Quico no “Chaves”, deixa a série. Os motivos reais nunca
foram oficialmente divulgados, e inúmeras hipóteses foram levantadas na
tentativa de explicar sua saída. O que é certo, é que Villagrán e Roberto Gomes
Bolaños, criador da série e intérprete do personagem-título, nunca mais
retomaram a amizade que mantinham desde o início dos anos 70.
Em 1977, quando da saída de Villagrán, o jornal mexicano “El
Universal” publicou uma matéria que explicava as razões da rusga entre
Villagrán e Bolaños. Segundo o periódico, a saída do Quico deu-se por
diferenças criativas. Durante as filmagens de um episódio piloto, que abriria a
temporada de 1978 do programa, Villagrán teria considerado o conteúdo do
programa como “repulsivo”, e deixado a equipe na seqüência. Contudo, o jornal
não dizia qual era o conteúdo do episódio em questão.
Vilagran, até hoje, recusa-se a comentar esse assunto.
Qualquer entrevista em que seja abordado esse imbróglio é imediatamente
encerrada pela equipe de assessores de Villagrán.
Supostamente, o jornal teve acesso a uma cópia do roteiro do
episódio em questão, mas não publicou nem mencionou nada acerca de seu
conteúdo. Isso seria fruto de um acordo entre a diretoria do periódico com
altos executivos da Televisa, que desembolsaram uma quantia substancial em
dinheiro para evitar a publicação deste roteiro. É dito que cópias do tal
roteiro sobreviveram, guardadas por funcionários do jornal.
O episódio piloto chegou a ser gravado, e mesmo editado,
para posterior apresentação perante os executivos da Televisa. É dito que eles
teriam ficado horrorizados com o conteúdo. Um diretor de programação, à época,
teria dito que o programa era “absolutamente impróprio para crianças, e, na
verdade, absolutamente impróprio para qualquer um”.
A gravação original deste episódio foi destruída pela
Televisa. Contudo, uma cópia clandestina foi feita por um funcionário da
emissora. Essa copia teria sido vendida para um colecionador argentino em 1996,
numa transação que teria envolvido algo em torno de 4 mil dólares.
O depoimento a seguir é um compêndio de declarações de
alguns funcionários da Televisa que, à época, foram submetidos à exibição do
programa. Todos eles pediram para não ser identificados. Poucos chegaram a ver
o episódio finalizado e editado, e alguns destes já vieram a falecer.
“A partir da temporada de 1974, o Chaves foi ganhando
destaque na programação da Televisa, e conseguindo cada vez mais sucesso junto
ao público. Bolaños, porém, artista inquieto que era, queria introduzir
mudanças no programa. Poucos sabem, mas à época, Bolaños fazia planos de
escrever roteiros de mistério e horror, e abandonar os humorísticos.
Durante a temporada de 1975, Bolaños tenta introduzir alguns
desses elementos no ‘Chaves’. Neste ano, vai ao ar o célebre episódio em que
Chaves, Quico e Chiquinha entram na casa de Dona Clotilde, e lá, descobrem que
ela era, de fato, uma bruxa. Originalmente, o roteiro previa que a incursão
deles à casa da bruxa realmente aconteceria, e a descoberta deles teria
implicações em episódios futuros. Executivos da Televisa interviram, e
impuseram o final que foi ao ar: tudo não passava de um delírio das crianças.
Ainda nesse ano, vai ao ar um episódio em que as travessuras
e trapalhadas de Chaves fazem com que vários moradores da vila comam insetos
embebidos em gasolina. O roteiro original previa um programa mais sombrio e
grotesco, mas novamente foi alterado por diretores da Televisa.
Nos dois anos seguintes, Bolaños continuou a introduzir
elementos sobrenaturais, de horror ou mistério, nos episódios do Chaves.
Episódios como aquele em que as crianças assistem um filme de terror, e a
‘saga’ dos espíritos zombeteiros são frutos dessa influência de Bolaños.
No início de 1978, Bolaños decidiu mudar radicalmente o
programa. O Chaves, a partir de então, seria um programa de comédia com
elementos de horror, mirando um público mais adulto. Mal comparando, algo
semelhante à série de filmes ‘Evil Dead’. Ele escreveu um episódio piloto nessa
linha, que chegou a ser filmado e exibido aos executivos de programação da
Telesiva. A reação foi absolutamente negativa. Os executivos vetaram
terminantemente a mudança de rumo proposta por Bolaños. Carlos Villágran, o
Quico, ficou tão horrorizado com o resultado final do episódio que deixou a
série.”
A seguir, uma sinopse do conteúdo de tão controverso
episódio. Essa sinopse foi escrita a partir de diversos depoimentos de
funcionários da Televisa que chegaram a ver o programa finalizado e editado, ou
que participaram da gravação, ou mesmo que tiveram acesso ao roteiro.
O episódio começa com Chaves brincando no pátio da vila,
indo para lá e pra cá em um patinete. Quico sai de sua casa, vê Chaves brincando
e faz expressão zangada. Vai até ele, e segura o guidon do patinete com as duas
mãos. Segue-se um diálogo:
-Chaves, quem te deu permissão para mexer nos meus
brinquedos?
-É que o patinete estava jogado alí no outro pátio e eu...
eu...
Quico fica mais zangado:
-Eu coisa nenhuma Chaves, devolve aqui meu patinete.
Ato contínuo, Quico puxa o patinete bruscamente, derrubando
o Chaves. Quico deixa o patinete no chão e ri escandalosamente. Chaves levanta,
pega do patinete, empunha-o e avança sobre Quico.
-Agora você vai ver só uma coisa, Quico!
Quico corre e grita “Mamãe!”. Neste meio tempo, Seu Madruga
sai de sua casa, e toma o patinete de Chaves, impedindo que ele acerte Quico.
Dona Florinda vem para o pátio, apressadamente.
-Mamãe, ele queria me bater com o patinete!
Dona Florinda dá um tapa em Seu Madruga. Diz:
-Vamos tesouro. Não se junte com essa gentalha.
Volta para dentro. Quico aplica o tradicional “gentalha
gentalha” em Seu Madruga, e também volta para sua casa.
Nesse momento, um primeiro plano de Seu Madruga revela que
seu nariz está sangrando. Ele tenta estancar o sangramento, sob o olhar
preocupado de Chaves, mas sem sucesso. Ambas as narinas deitam uma grande
quantdade de sangue, até que Seu Madruga cai no chão do pátio.
Corta para Quico, Chiquinha e Chaves na escada da vila. A
iluminação do cenário sugere ser noite. Os três choram muito. Em Chaves, cada
personagem possui um modo característico de chorar, mas neste momento, não.
Eles choram de forma comum, aos soluços. Esse plano dura aproximadamente 1
minuto.
Em seguida, chegam o Professor Girafales e Seu Barriga,
acompanhados de 2 policiais. Eles dirigem-se à casa de Dona Florinda. O
Professor bate na porta, ninguém atende. Ele chama:
-Dona Florinda, abra a porta por favor.
Não há resposta. O professor abre a porta, os policiais
entram, e saem com Dona Florinda algemada. Seu rosto exibe uma imensa apatia
enquanto os policiais a levam. Quico, ao ver sua mãe sendo levada,
desespera-se: tenta atacar os policiais, mas é contido por Seu Barriga. Dona
Florinda nem parece tomar conhecimento da situação, mantendo sempre a expressão
apática e o olhar vazio. Quico, seguro por Seu Barriga, chora muito e balbucia
“mamãe” algumas vezes. Depois que os policiais deixam a vila, levando Dona Florinda,
Seu Barriga tenta consolar Quico, mas ele corre para casa.
Segue-se um diálogo entre Seu Barriga e Professor Girafales:
- Que tragédia horrível tivemos aqui, Senhor Barriga.
- É verdade professor. Eu devia ter previsto que isso
acabaria acontecendo.
- Qual foi a causa da morte?
- Seu Madruga foi boxeador na juventude. Os socos que ele
levava causaram um afundamento no crânio. O tapa que a Dona Florinda deu hoje
causou um traumatismo bem nessa região. Ele teve uma hemorragia cerebral e não
resistiu.
-Uma tragédia horrível, Senhor Barriga!
-Sim.
-Quem cuidará dos preparativos do funeral?
-Eu cuido de tudo Professor. Não se preocupe. O senhor vai
ficar aqui com as crianças?
-Sim, naturalmente.
Seu Barriga deixa a vila. Professor Girafales entra na casa
de Dona Florinda.
Chiquinha e Chaves continuam sentados na escada. Agora,
pararam de chorar, apenas olham fixamente para o vazio.
Dona Clotilde sai de sua casa e vem em direção às crianças.
Ela usa uma roupa diferente do que costumamos ver, uma espécie de roupão preto
com vários símbolos bordados em vermelho e roxo.
Nesse momento, os depoimentos são contraditórios. Há quem
afirme que Dona Clotilde traz consigo um livro semelhante à uma Bíblia. Outros
dizem que a fita falha quando ela aparece, e só volta ao normal num momento
mais avançado do episódio. Uma fonte descreve que Dona Clotilde vai até a
escada e conversa, aos cochichos, com Chiquinha.
O que é consenso é o conteúdo que vem na seqüência. O pátio
da vila está vazio, a iluminação é mais tênue do que na seqüência anterior,
provavelmente sugerindo que a noite está mais avançada. Uma panorâmica pelo
cenário mostra as escadas vazias, em seguida o centro do pátio, onde está
desenhado um grande pentagrama vermelho; e em seguida Chiquinha sentada à porta
de sua casa, abraçando os joelhos. Seus pulsos estão enfaixados, e as bandagens
sujas de algo que parece ser sangue.
Então, começa a ventar no pátio. Ouvimos um estrondo, é a
porta da frente se abrindo. Corta para um reaction shot de Chiquinha: seus
olhos estão arregalados, sua boca entreaberta, uma expressão de puro horror.
Ouvimos o som de algo pegajoso. Nunca é possível ver claramente o que ou quem
entrou no pátio, mas planos breves, de no máximo 1 segundo, mostram uma figura
magra, enrolada num pano branco, deixando atrás de si um rastro de uma
substância pegajosa, aparentemente negra.
A figura aproxima-se. Novo reaction shot de Chiquinha: agora
ela sorri.
A partir daí, os depoimentos novamente tornam-se
contraditórios. Há quem afirme que a fita só apresentava estática depois dessa
cena. Outros afirmam que não, mas não souberam dizer o que acontecia depois.
Outros preferiram apenas não dizer nada.
O que é certo é que o episódio teve péssima recepção junto
aos executivos da Televisa, e que Carlos Villagran deixou o programa em
seguida. Supostamente, uma cópia do episódio existe no acervo de um
colecionador argentino, mas, procurado para este trabalho, ele negou veemente
possuí-la, e pediu para não ter o nome divulgado.
Diz-se que Bolaños pretendia desdobrar os acontecimentos
desse episódio ao longo daquela temporada do Chaves. Não se sabe exatamente o
que ele tinha em mente, mas funcionários da Televisa que tiveram acesso à
fragmentos do conteúdo, por meio de anotações que Bolaños fazia em seus
cadernos; ou mesmo em conversas com o Chesperito, dizem tratar-se de um
material absolutamente sombrio e perturbador, obviamente inadequado para um
humorístico infantil.
O conteúdo desses fragmentos, porém, permanece desconhecido.
[Creepypasta extraída do site http://www.forumchaves.com.br/]
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